Fazia muito tempo que eu não participava de uma corrida
aqui em São Paulo. Pois hoje lavei a égua, como se diz lá no Rio Grande do Sul:
estive entre os cerca de cinco mil corredores que transformaram em uma grande
festa o Troféu da Independência, prova realizada no bairro do Ipiranga, pertinho
do local onde, em 1822, Dom Pedro lançou o grito, a palavra de ordem que ainda
hoje ecoa em nossos corações e mentes: “Independência ou morte!”.
Para mim, foi uma corrida alegre, divertida. Encontrei
muitos amigos da antiga e tive a satisfação de conversar com leitores aqui do
blog. Acima de tudo, porém, foi um momento de reflexão sobre a situação que
vive nosso país, jogado na escravidão pelo grupo de golpistas que assaltaram o
poder, sequestraram a democracia e venderam as riquezas nacionais.
Uma situação semelhante à que vivia o Brasil Colônia,
oprimido pelo império da época. Talvez pior, pois hoje os brasileiros temos
memória de tempos de liberdade e de democracia, tempos de orgulho nacional e de
construção de um país que caminhava para transformar em verdade verdadeira as
palavras do Hino da Independência: “Do universo entre as nações resplandece a do Brasil”.
Os golpistas do
Planalto e seus asseclas e acólitos espalhados por governos outros de nossa
pátria se esmeram em tentar destruir não apenas as conquistas e realizações de
nosso povo mas também os símbolos de luta e as casas de devoção ao país.
Exemplo disto é
o abandono em que se encontra o Museu do Ipiranga, situação denunciada por um
grupo de corredores que participaram da prova de hoje. Integrantes da turma “Amigos
do Parque da Independência”, eles carregavam cartazes com imagem do museu e os
dizeres: “Socorro, não me abandonem!”.
Cheguei a fazer
uma breve entrevista com um dos integrantes do grupo, mas, por incompetência minha
ao operar a gravação, o registro foi perdido. Mas não há de ser nada, faço uso
das palavras do historiador Laurentino Gomes para caracterizar a situação do
Museu da Independência, fechado para reformas cuja conclusão é prometida para
meados da próxima década:
“O edifício, que
acaba de comemorar 120 anos de inauguração, está caindo aos pedaços. No salão
nobre, cuja parede principal ostenta o quadro Independência ou Morte, do
paraibano Pedro Américo, o teto descolou-se e ameaçava cair sobre os
visitantes. O forro de salas vizinhas está prestes a desabar por causa da
infiltração de água da chuva. A pintura de vários ambientes se encontra rachada
e apresenta mofo. As portas, com fechaduras antigas, emperram. Manchas de
sujeira cobrem tanto um busto do marechal Floriano Peixoto, o segundo
presidente da República, no subsolo, como um espelho que pertenceu à marquesa
de Santos, amante do imperador Pedro I, em uma sala da torre leste do 1º andar.
Uma carruagem do século XIX, no térreo, está com a forração rasgada em vários
pontos. Na fachada do edifício, trechos sem reboco deixam os tijolos à mostra.
Na parte dos fundos, onde bate menos sol, a tinta descascou e as paredes foram
tomadas pelo musgo. O estado de abandono é uma ameaça ao precioso acervo,
composto de 150 mil peças, uma biblioteca com mais de 100 mil volumes e um
centro de documentação com 40 mil papéis e manuscritos.” (texto publicado em
Veja SP).
O fato é que,
segundo me contaram os corredores-manifestantes, pouco se sabe, oficialmente,
sobre as supostas reformas. Texto publicado na Folha no ano passado diz que,
até então, tinham sido realizados apenas trabalhos de estaqueamento para evitar
que as pares ruíssem. Os custos, estimados inicialmente em R$ 21 milhões, já
tinham saltado para R$ 100 milhões, mas nada de as verbas serem liberadas...
Por tudo isso, é
elogiável a ação dos corredores que aproveitaram o Troféu da Independência para
denunciar o descaso com que os governantes tratam nossos símbolos, a própria
história da Pátria.
Falando nisso,
recebi pelas redes sociais um curto vídeo comemorativo ao Sete de Setembro,
produzido pelo Partido Comunista do Brasil. Como achei bacaninha, fica AQUI olink para você também assistir ao filmezinho.
Registro também
a realização, na manhã de hoje, do GRITO DOS EXCLUÍDOS, manifestação de âmbito nacional; em São Paulo, a marcha reuniu cerca de 10 mil pessoas.
Foto: Jornalistas Livres |
Com o lema “por direito e democracia, a luta
é todo o dia”, a manifestação seguiu da avenida paulista até o Monumento às
Bandeiras, na região do Ibirapuera.
Em entrevista
aos Jornalistas Livres, Raimundo Bonfim, coordenador da Central de Movimentos
Populares, que realiza a manifestação, alerta: “A atual situação de desemprego,
miséria e exclusão social é mais grave do que em 1994, quando foi realizada a
primeira edição do Grito dos Excluídos”.
E assim concluo
a edição de hoje, mais uma caminhada de meu percurso que mira totalizar, ao
longo deste ano, distância equivalente à de sessenta maratonas. Foi a forma que
encontrei para festejar com você a chega de meus sessenta anos, momento em que
oficialmente me integro à comunidade de velhos do Brasil.
O projeto está
andando bem. Se tudo correr de acordo com o esperado, amanhã totalizo neste ano
distância equivalente à de 45 maratonas (1.899 quilômetros). Apesar de dores
eventuais, dedos quebrados e outros perrengues de menor monta, estou bem e com
saúde. Sigo lento, mas sigo.
VAMO QUE VAMO!!!
Percurso de Sete
de Setembro de 2017
16,13 km
percorridos em 2h47min37
Percurso acumulado
no projeto 60M60A
1.889,42 km
percorridos em 336h39min11
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