Uma jabuticabeira carregada, carregadinha, carregadinha de
minúsculas frutinhas verdes, redondinhas como só elaszinhas, agarradinhas aos
galhos mirrados me recebe quando chego à praça, o destino de hoje no segundo
dia de minha sequência de oito corridas em homenagem ao aniversário de oitenta
anos de Carlos Lamarca.
Plantada numa área que, na manhã de hoje, não recebia muita
luz, a árvore está com mais jeito de arbusto superdimensionado, mas é linda,
convidativa como soem ser as jabuticabeiras. É uma espécie de arauto do que vem
pela frente, uma bela horta e campos abertos para caminhadas, exercícios ou
simplesmente estar, calado, meditando, olhando para o fim do mundo sem nada
ver.
Pensando na visão de mundo de Lamarca, escolhi hoje como
destino um território paulistano que homenageia uma das grandes comunistas de
nossa história. A praça que comento tem como madrinha Dolores Ibárruri, a
ardente líder da luta contra o fascismo na Espanha, combatente no que chamam de
Guerra Civil Espanhola, mas foi sim uma reação do povo ao golpe desfechado
contra a democracia por Franco e seus asseclas.
LA PASIONARIA, como ela mesma se apelidou ainda nos verdes
anos de sua juventude, atuou durante muitos anos como jornalista, escrevendo no
“Mundo Obrero”, o órgão oficial do Partido Comunista da Espanha naquela época
(seu primeiro artigo foi publicado em 1918).
Sobre ela, reproduzo a seguir trecho de pequena biografia publicada
pelo jornal “A Verdade” (clique AQUI para ler o texto completo).
“Em 1931, cai a Monarquia. Espanha Republicana. Dolores vai
para a Constituinte, eleita pelo Partido Comunista nas Astúrias. Em 1934,
visita Moscou, conhece Stálin e preside o I Congresso das Mulheres Comunistas
da Espanha. Espanha no coração/No coração de Neruda,/No vosso e em meu
coração./Espanha da liberdade,/Não a Espanha da opressão./Espanha republicana:/
A Espanha de Franco, não!”
A Frente Popular de Esquerda vence as eleições, mas a direita
não aceita a perda de poder e se lança à guerra para restaurar a monarquia. O
verão de 1936 marca o início da guerra. São três anos de luta com mais de 400 mil
mortes. Dolores escreve, discursa, anima os combatentes nas frentes de batalha.
Comunista, ela defende conventos de freiras e religiosos da sanha anticlerical
de setores anarquistas da Frente. Amada e admirada, ela é a heroína da
República e todos (as) vibram ao ouvir seus slogans: “Antes morrer de pé que
viver de joelhos!”, “Os fascistas não passarão!”, “É melhor ser a viúva de um
herói, que a mulher de um covarde!”.
A divisão interna da Frente Popular Republicana (Comunistas
x trotskistas x anarquistas) facilita a vitória das forças franquistas, que
contam com apoio total dos nazistas alemães. No ano de 1939, Dolores, como
tantos outros comunistas, partem para Moscou.
Foram 38 anos de exílio, durante os quais, a revolucionária
não descansou. Atuou com Dimitrov na Internacional Comunista (III
Internacional), visitou países socialistas, foi eleita, em 1942,
secretária-geral do PCE e, em 1960, sua presidenta.
SI! SI! SI! DOLORES A
MADRID
Com este grito, a multidão emocionada e entusiástica,
recebeu Dolores de volta à pátria, em 1977, um ano após a morte de Franco, num
momento de transição democrática. A velha revolucionária se aproximava dos 82
anos, mas não se aposentou. Foi novamente eleita para a Assembleia
Constituinte, participou de vários eventos, escreveu suas memórias “O único
Caminho”. “Quem não a segue?/Nunca ao
vento deu uma bandeira mais paixão/ não ardeu mais intensamente um coração”.
Morreu no dia 12 de novembro de 1989, aos 93 anos. No seu
enterro, diante da multidão chorosa, Julio Anguita falou para ela: “…Dizem,
Dolores, que morreste! Que asneira! Vives em cada um dos que te amam, e são
tantos! Comunista exemplar, és de todos: de todos que levantam o punho, de todo
o povo; tu ensinaste que o Partido não se organiza para si próprio, mas para
todos os oprimidos. Que exemplo para mulheres e homens, mulher cheia de ternura
e de firmeza. Fecha os olhos e sonha com o teu povo! Dorme, companheira
Ibárruri! Repousa, camarada Pasionaria.”
A praça que homenageia a líder basca fica na zona oeste de
São Paulo, encarapitada em uma das colinas paulistas –por isso mesmo, foi
organizada em platôs e é cheia de escadas que levam de um andar a outro do
terreno.
A tal horta é cuidada pelos moradores da região, que se revezam
para aguar as plantas e fazer outras tarefas de manutenção –saiba mais sobre o
trabalho deles CLICANDO AQUI.
A praça é minha velha conhecida. Não é boa para correr, por
causa das pirambeiras, mas é um ótimo terreno para exercícios de força,
exatamente por causa das pirambeiras e escadarias. Já por várias vezes escrevi
sobre ela, como neste texto que você pode conferir CLICANDO AQUI.
Hoje, como já é praxe nesta série de corridas em homenagem a
Lamarca, fiz uma breve transmissão ao vivo apresentando a praça (veja abaixo).
Tive a satisfação de contar, na audiência, com o grande, insuperável RONALDO DA
COSTA, o mineirim que em 1998 não apenas quebrou o recorde mundial da maratona
como também festejou dando uma estrela no asfalto. Há dez anos, fiz uma
entrevista com ele –você pode ler ou reler o texto CLICANDO AQUI (o link não é
direto, tem de rolar a página até chegar à entrevista com Ronaldo).
Aliás, eu tenho procurado (não sei se estou conseguindo) melhorar
minhas habilidades tanto na realização de vídeos ao vivo, como o que você
acabou de assistir, quanto na captação de imagens e edição de clipes, ainda que
usando programas rudimentares.
Veja, por exemplo, o material que produzi sobre a
participação da estupenda jornalista Eleonora de Lucena na Semana Nacional pela
Democratização da Comunicação. Ela falou durante mesa redonda sobre Mídia e
Crise no Brasil, realizada ontem e organizada pelo Centro de Estudos da Mídia
Alternativa Barão de Itararé. Vale a pena conferir as reflexões de Eleonora.
É que temos para hoje.
VAMO QUE VAMO!!!
Percurso de 17 de outubro de 2017, segundo dia da série de
oito corridas em homenagem aos oitenta anos do nascimento de Carlos Lamarca
6,92 quilômetros percorridos em 1h32min10
Percurso acumulado no projeto 60M60A
2.235,47 quilômetros percorridos em 396h52min07
PS.: A Eleonora também participa de ato em homenagem a Lamarca na próxima segunda-feira, 23 de outubro. Saiba mais sobre o evento conferindo o cartaz abaixo.
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