Não existe, formalmente, esta categoria: maratonistas não
africanos. Na prática, porém, a superioridade dos atletas nascidos na África,
especialmente na região nordeste, mas não só, tem deixado os atletas de lá em
um patamar muito acima dos demais.
Estatísticas ajudam a mostrar essa diferença: as sessenta
melhores marcas na maratona nos 120 anos de história dessa prova são TODAS de
corredores africanos, notadamente quenianos e etíopes.
Aparece na lista uma
bandeirinha dos EUA, mas é para Khalid Kannouchi, marroquino de nascimento –ele
também aparece ao lado de bandeira do Marrocos, com marca obtida quando ainda
não tinha a nacionalidade norte-americana.
Vai daí que, apesar de não existir formalmente a categoria
dos não africanos na maratona, ela existe na prática. Há os quenianos, os
etíopes, um marroquino ou outro, e o resto do mundo. Portanto é sempre curioso
dar uma olhada a quantas anda esse “resto”, em que as marcas não se movimentam
muito nem são tão expressivas.
Houve movimento no último fim de semana. No domingo, 3 de
dezembro, o norueguês SONDRE NORDSTAD MOEN estabeleceu a nova MELHOR MARCA DA MARATONA para não
africanos. Oficialmente, é o novo recordista europeu da distância, derrubando marca do turco Kaan Ozbilen (2h06min10) --se fosse somente isso, porém, nem valia
comentar aqui.
O moleque ---ele tem 26 anos apenas—deu um banho de paciência,
garra, determinação. Mostrou que é possível manter um ritmo forte mesmo no
apagar das luzes, nos quilômetros finais da corrida. E mostrou isso derrotando
quenianos e deixando para trás o ex-campeão olímpico Stephen Kiprotich (ouro em
Londres-2012).
A prova de Fukuoka seguiu o roteiro já conhecido das grandes
maratonas: os coelhos carregaram a elite até o km 30 e daí o pau quebrou.
Os marcadores de ritmo (coelho) tinha feito um bom trabalho,
ainda que nada muito feroz: na marca do quilômetro 30, a previsão de final era
de 2h06min45, um ritmo bem confortável para atletas de elite. Tanto é assim que
havia seis corredores no pelotão da frente.
Daí o queniano baseado na Japão Badan Karoki, tido como o
favorito, resolveu tomar as rédeas do processo e disparou. O norueguês, que já
havia corrido a meia maratona em 59min47
durante sua preparação para Fukuoka, não afinou e saiu parelho com Karoki.
Os dois queimaram o chão
do km 30 ao 35, chegando à marca do 35 com ritmo que previa o final da maratona
em 2h06min16 (trinta segundos mais rápido do que a previsão no km 30).
Era pouco para Moen, que
ainda cozinhou o galo, mais foi acelerando aos poucos, se é que dá para usar
essa expressão para o ritmo dos dois maratonistas. Quando viu que o queniano
não chegava junto, o norueguês se entusiasmou e mandou o maior chocolate: fez o
km 37 em 2min53!!! Falando assim, talvez não dê para perceber a velocidade do
cara. Mas preste atenção: se mantivesse esse ritmo pela prova toda, terminaria
a maratona em 2h01min47!!!!, recorde interplanetário megahiper...
Foi o suficiente para
despachar o Karoki, que já estava botando a língua de fora, tanto é que
terminou em quarto lugar. Moen deu uma afrouxadinha, só para descansar,
voltando ao ritmo que mantivera no km 35. E entrou para a história da maratona
ao se tornar o primeiro não africano a completar a prova em menos de duas horas
e seis minutos. Cravou 2h05min48.
Ele quebra um “recorde”
que já durava dezenove anos e era de quem??? Do brasileiríssimo Ronaldo da Costa (foto),
primeiro homem da história, africano ou não africano, a correr uma maratona com
ritmo inferior a três minutos por quilômetro: ele cravou 2h06min05 em Berlim em
1998.
A marca de Moen ocupa a
62ª colocação na lista dos melhores tempos da maratona na história; a de
Ronaldinho caiu para o 76º lugar. Os dois são os únicos não africanos no
ranking até o 95º posto.
Moen passa ao Hall da
Fama em seu país, que deu ao mundo a maravilhosa GRETE WAITZ, nove vezes campeã
da maratona de Nova York, prematuramente morta aos 57 anos, em 2011, vítima de
câncer.
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