4.12.17

Norueguês derruba marca de Ronaldo da Costa e crava novo recorde de não africanos na maratona

Não existe, formalmente, esta categoria: maratonistas não africanos. Na prática, porém, a superioridade dos atletas nascidos na África, especialmente na região nordeste, mas não só, tem deixado os atletas de lá em um patamar muito acima dos demais.
Estatísticas ajudam a mostrar essa diferença: as sessenta melhores marcas na maratona nos 120 anos de história dessa prova são TODAS de corredores africanos, notadamente quenianos e etíopes.
Aparece na lista uma bandeirinha dos EUA, mas é para Khalid Kannouchi, marroquino de nascimento –ele também aparece ao lado de bandeira do Marrocos, com marca obtida quando ainda não tinha a nacionalidade norte-americana.
Vai daí que, apesar de não existir formalmente a categoria dos não africanos na maratona, ela existe na prática. Há os quenianos, os etíopes, um marroquino ou outro, e o resto do mundo. Portanto é sempre curioso dar uma olhada a quantas anda esse “resto”, em que as marcas não se movimentam muito nem são tão expressivas.
Houve movimento no último fim de semana. No domingo, 3 de dezembro, o norueguês SONDRE NORDSTAD MOEN estabeleceu a nova MELHOR MARCA DA MARATONA para não africanos. Oficialmente, é o novo recordista europeu da distância, derrubando marca do turco Kaan Ozbilen (2h06min10)  --se fosse somente isso, porém, nem valia comentar aqui.


O moleque ---ele tem 26 anos apenas—deu um banho de paciência, garra, determinação. Mostrou que é possível manter um ritmo forte mesmo no apagar das luzes, nos quilômetros finais da corrida. E mostrou isso derrotando quenianos e deixando para trás o ex-campeão olímpico Stephen Kiprotich (ouro em Londres-2012).
A prova de Fukuoka seguiu o roteiro já conhecido das grandes maratonas: os coelhos carregaram a elite até o km 30 e daí o pau quebrou.
Os marcadores de ritmo (coelho) tinha feito um bom trabalho, ainda que nada muito feroz: na marca do quilômetro 30, a previsão de final era de 2h06min45, um ritmo bem confortável para atletas de elite. Tanto é assim que havia seis corredores no pelotão da frente.
Daí o queniano baseado na Japão Badan Karoki, tido como o favorito, resolveu tomar as rédeas do processo e disparou. O norueguês, que já havia corrido a meia maratona em 59min47  durante sua preparação para Fukuoka, não afinou e saiu parelho com Karoki.
Os dois queimaram o chão do km 30 ao 35, chegando à marca do 35 com ritmo que previa o final da maratona em 2h06min16 (trinta segundos mais rápido do que a previsão no km 30).
Era pouco para Moen, que ainda cozinhou o galo, mais foi acelerando aos poucos, se é que dá para usar essa expressão para o ritmo dos dois maratonistas. Quando viu que o queniano não chegava junto, o norueguês se entusiasmou e mandou o maior chocolate: fez o km 37 em 2min53!!! Falando assim, talvez não dê para perceber a velocidade do cara. Mas preste atenção: se mantivesse esse ritmo pela prova toda, terminaria a maratona em 2h01min47!!!!, recorde interplanetário megahiper...
Foi o suficiente para despachar o Karoki, que já estava botando a língua de fora, tanto é que terminou em quarto lugar. Moen deu uma afrouxadinha, só para descansar, voltando ao ritmo que mantivera no km 35. E entrou para a história da maratona ao se tornar o primeiro não africano a completar a prova em menos de duas horas e seis minutos. Cravou 2h05min48.
Ele quebra um “recorde” que já durava dezenove anos e era de quem??? Do brasileiríssimo Ronaldo da Costa (foto), primeiro homem da história, africano ou não africano, a correr uma maratona com ritmo inferior a três minutos por quilômetro: ele cravou 2h06min05 em Berlim em 1998.


A marca de Moen ocupa a 62ª colocação na lista dos melhores tempos da maratona na história; a de Ronaldinho caiu para o 76º lugar. Os dois são os únicos não africanos no ranking até o 95º posto.

Moen passa ao Hall da Fama em seu país, que deu ao mundo a maravilhosa GRETE WAITZ, nove vezes campeã da maratona de Nova York, prematuramente morta aos 57 anos, em 2011, vítima de câncer.


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