Hoje é dia de descanso,
depois de um treino forte ontem à tarde, em que rodei mais de dez quilômetros,
muitos deles em ritmo de corrida de verdade. Já completei distância equivalente
ao percurso de mais de 17 maratonas; aos poucos, vou reduzindo o espaço que me
separa do destino final, os 2.532 quilômetros totalizados neste ano.
Quarta-feira, em geral,
é dia de caminhada para mim. Na semana passada, levantei cedo e fui encontrar
velhos, gente de meia idade e jovens que praticam atividade física no parque da
Água Branca, na zona oeste de São Paulo.
Eles participam do
programa Exercício e Coração, um projeto do povo da Educação Física da USP
(Universidade de São Paulo) que vem rolando desde o início do século, segundo
me contou o coordenador da atividade, o mestrando Bruno Modesto.
Trata-se de um programa
de alongamento e exercícios leves para o pessoal “acordar” o corpo, ficar mais
disposto e enfrentar o dia com mais alegria, entusiasmo e energia.
Dá resultado, segundo
me conta dona Georgina, uma auxiliar de enfermagem aposentada que está prestes
a fazer 73 anos. Ela sofre de artrite reumatoide, que a faz sofrer muito. Mas
garante: “Não fico em casa por causa de dor”, afirmando que o exercício se
tornou uma necessidade na sua vida.
Dona Georgina era uma
das mais de trinta pessoas que acompanhavam a terceira aula do dia na
quarta-feira passada. As aulas acontecem três vezes por semana, nos dias “pares”
–segunda, quarta e sexta), em três horários: 7h, 8h e 9h. Não é preciso pagar
nem fazer inscrição. Basta ser maior de idade, comparecer no horário e
acompanhar as prescrições.
Em geral, há mais gente
veterana da vida, maiores de sessenta anos, aposentados, mas também encontrei
senhoras com bebê e gente mais jovem participando. As orientações são dadas por
um professor, em geral secundado por um ou dois auxiliares, até porque é
difícil a voz de comando chegar a todo mundo, pois os “alunos” ficam
posicionados ao longo de baias de quase um quarteirão.
Levanta perna,
movimenta braço, sacode o quadril são algumas da brincadeiras que envolvem a
turma; às vezes, como aconteceu na aula que eu acompanhei, os professores
fornecem algum equipamento para auxiliar –ou dificultar, tornar mais exigente--
o exercício.
Coisa simples, como uma
faixa de borracha que serve como resistência ao movimento, possibilitando a
realização de exercícios de força.
Apesar de ser tudo
muito simples, os exercícios são bastante eficientes. Não só contribuem para a
pessoa deixar o sedentarismo como funcionam até como “remédio”, como me disse o
professor Jonaldo, que gravou breve entrevista em vídeo.
Os professores orientam
a turma a fazer, depois ou antes das aulas, caminhadas leves ou mesmo corrida.
Dona Rosa é uma que não deixa de fazer suas corridinhas, e costuma comparecer
ao parque mesmo em dias de folga das aulas para movimentar o corpo: “Me faz bem”,
diz ela, afirmando: “Não troco isso por nada”.
Além das aulas, os
orientadores do projeto Exercício e Coração também realizam avaliação física
com interessados. Como as aulas, a avaliação física é gratuita. Quem se
interessar, recebe ainda um programa de treinamento para fazer sozinho –caminhadas
ou corridas leves estão entre as sugestões.
Eu conversei mais
detidamente com o Bruno Modesto, que é educador físico, tem trinta anos e,
quando não está dando aulas ou monitorando atividades do projeto, se enfronha
no processo de escrita da dissertação para finalizar seu mestrado. O tema é
fácil de imaginar: resultados do programa Exercício e Coração.
“O mestrado é na área
de ciências”, ele me conta. E prossegue:
“É
análise da efetividade dessa intervenção populacional que a gente propõe aqui
nesse parque, que já existe desde 2001. É uma análise de 15 anos de projeto.
Esse é um tema central, com outros desdobramentos, objetivos específicos.”
Bacharel em esporte
pela USP, Modesto conta que o projeto Exercício e Coração foi criado pela
professora Cláudia Lúcia de Moraes Forjaz em 2001. “O projeto nasceu com o
objetivo de fornecer para a população que frequenta o parque, população adulta,
orientação para prática segura de atividade física buscando melhora da saúde e
qualidade de vida, melhora ou manutenção. Público-alvo: a gente atende adultos,
mas é uma característica muito forte desse Parque a maior frequência de idosos.
A gente atende em grande maioria pessoas idosas, mas não exclusivamente idosos,
é aberto para qualquer adulto.”
Bruno fala também sobre
a triagem e orientação específica para treinamento (não é obrigatório para quem
faz apenas alongamento):
“Além das aulas, nós
atendemos aqui no Espaço do Idoso, fazemos uma avaliação de saúde e da aptidão
física do indivíduo. É uma triagem de risco para saber se você pode ou não
praticar a atividade física, e orientar a respeito disso. Fazemos uma avaliação
de saúde, com entrevistas, testes e medições. Depois disso dá para como está a
sua aptidão física, comparado a outros pares, da sua faixa etária e gênero.
Como você está? Como é que está a sua força de braço? Força das pernas. Força
abdominal. Flexibilidade de ombro. Flexibilidade lombar. A partir desse quadro geral que a gente tem da
sua saúde, fazemos a prescrição individualizada do exercício.”
Com a prescrição, cada
um realiza os exercícios –corrida, caminhada—como pode e quando lhe aprouver.
Seguindo as planilhas direitinho, os resultados são claros, como demonstram
vários estudos científicos já realizados com base no público que frequenta o
programa.
Antes de ser solto no
mundo com sua planilha, cada aluno tem um acompanhamento básico, como nos conta
Bruno Modesto:
Cada aluno tem um
acompanhamento
“Nosso objetivo é que
você ganhe autonomia para fazer por conta, por ser um projeto populacional, nós
prescrevemos a atividade física, individualmente, porém não supervisionamos. Depois
dessa avaliação toda, a pessoa ganha três aulas acompanhadas para aprender a
fazer o exercício como nós sugerimos para você. A partir daí, a pessoa ganha
autonomia para fazer por conta. Depois de três meses, é convidada a nos visitar
novamente para uma reavaliação.”
A grande pergunta é:
houve mudança nos padrões de saúde? A questão, por sinal, perpassa o estudo de
mestrado realizado por Modesto:
“De maneira geral, esse
tipo de intervenção, em que você faz a prescrição, e os indivíduos fazem as
atividades de maneira autônoma, sem supervisão, provocou melhoras em parâmetros
antropométricos, por exemplo, redução do IMC (índice de massa corporal),
redução de circunferência de cintura, diminuição do risco global de problemas
cardíaco. Isso demonstra que há efeitos para quem se engaja e segue pelo menos
parcialmente o que a gente propõe.”
Ou, como diz artigo assinado
pelo próprio Bruno e mais outros colegas que avaliaram o programa, incluindo a
professora Forjaz: “A prescrição de caminhada sem supervisão da prática, quando
realizada numa situação real de intervenção populacional, foi efetiva em
melhorar a aptidão física da amostra geral e em reduzir o risco cardiovascular
específico de sujeitos com fatores de risco alterados. Estes resultados
demonstram a eficácia deste tipo de atuação na melhora da aptidão física e
redução do risco cardiovascular da população, sugerindo que programas deste
tipo devam ser estimulados em locais públicos de prática física”.
E eu digo: tomara que
programas como esse continuem e sejam ampliados e difundidos pelo Brasil inteiro,
onde mais da metade da população adulta não faz o mínimo de exercício
recomendado pela Organização Mundial da Saúde.
VAMO QUE VAMO!!!
Como hoje não teve
treino, coloco a seguir o mapa da corrida que fiz ontem, ao lado de meu
treinador, Alexandre Blass, da Força Dinâmica. Corremos à tarde, o que é raro
para mim, e deu para sentir que o outono já se adona do clima em São Paulo: quando
começamos, o sol ainda estava forte, mas qualquer nuvenzinha reduzia bastante o
calor; ao final, ventinhos frios avisavam que era bom se proteger logo ou a
punição seria gripe, tosse ou resfriado.
Além do esforço para
manter ritmo mais forte do que costumeiramente emprego nas jornadas de rua,
ainda tive a vantagem de receber orientação mais direta sobre passada e uso de
força no movimento da corrida. Foi totalmente excelente, e eu agradeço ao
Alexandre pela companhia e orientação.
Percurso de 28 de março
de 2017
11,77 quilômetros percorridos
em 1h39min22
Acumulado no projeto
60M60A
730 quilômetros
percorridos em 133h52min38
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