Meu avô Ary morreu de câncer quando eu tinha onze anos.
Devo tê-lo visto saudável, em algum momento, mas essa não é a memória que ficou
comigo.
Primeiro neto, parceiro da torcida apaixonada pelo
Grêmio e de longas conversar sobre a vida e sobre as galinhas, perus e faisões
que ele criava no pátio, me lembro do rosto de meu avô destruído pela doença,
um buraco no lugar do nariz, as bochechas em chagas, as mandíbula massacradas,
um dente teimoso em aparecer sobre o que restava dos lábios, a voz transformada
em série de sons guturais, os únicos ainda possíveis depois da traqueostomia.
O primeiro filho de meu avô, Joaquim, meu pai, também
teve câncer. Dois, ambos depois de ele completar setenta anos. Enfrentou,
combateu, tratou o que podia ser tratado, operou o que devia ser operado e
derrotou os dois. Hoje, com mais de 87 anos, meu pai ainda gosta de ler e
declamar versos de “Os Lusíadas”, maior poema épico de todos os tempos,
exaltação de combates e de amor, de desbravamentos e de bravuras.
O câncer é uma doença perversa. Assassino cruel, mata a
vítima, destrói as economias da família, joga os parentes na depressão. Mas não
é imbatível. Pode ser combatido e derrotado.
Essa foi a mensagem que li, vi e ouvi mais uma vez
ontem, no sorriso, na alegria e nas palavras da pequena Vitória, uma garotinha
de oito anos que passou mais da metade de sua vida enfrentando cirurgias e
tratamentos complexos para combater um tipo raro de câncer. A doença atacou quando
a menina tinha pouco mais de um ano –os prenúncios foram notados aos oito
meses.
Encontrei Vitória na brinquedoteca do prédio do Graacc –Grupo
de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer.
A instituição é um dos baluartes no combate ao câncer
em crianças: no ano passado, por exemplo, realizou mais de 30 mil consultas, 1.900
procedimentos cirúrgicos, mais de 50 transplantes de medula óssea e mais de 19
mil sessões de quimioterapia.
Roteiro do "abraço corrido" ao Graacc |
O
hospital recebe, em média, mais de 300 novos pacientes com câncer de alta complexidade
por ano, com chance média de cura de 70%.
Um dos pacientes
vitoriosos foi Vitória, que há três anos já não tem sinais da doença. Agora,
ela visita o Graacc a cada seis meses para uma consulta de acompanhamento; a
cada vez, ela é um raio de alegria no prédio de onze andares na Vila Mariana,
pertinho do parque do Ibirapuera.
Vitória, que partiocipou de "abraço corrido" ao Graacc, posa em frente a foto sua durante o período de tratamento |
Alegria que ela
mantinha mesmo quando estava no auge do tratamento e tinha perdido toda a bela
cabeleira. Talvez por seu jeitinho de guerreira do sorriso, foi escolhida na
época como uma espécie de garota-propaganda do combate ao câncer.
Sua foto, em
proporções colossais, é uma das que tomam conta de uma parede no bazar do
Graacc, para que todo mundo que passa pela rua Pedro de Toledo possa ver a
determinação no olhar das crianças, para que eles sirvam de exemplo e mostrem
que, sim, é possível enfrentar e derrotar o câncer.
Foi a própria
Vitória Cristine F. Almeida que chamou a minha atenção para a foto. Nós
fazíamos um “abraço corrido” ao Graacc, caminhando juntos, ela, seu pai –Ailton—
e eu pelo quarteirão onde ficam as instalações da instituição.
De vez em
quando, Vitória não se continha, saía em corrida cheia de pequenos saltos. Eu
seguia atrás e chegamos mesmo a disputar carreira em uma das faces do
quarteirão.
Dava gosto ver
sua disposição, assim como seu desembaraço –que ficou um pouco contido na hora
em que liguei a câmera para fazer uma entrevista com pai e filha –abaixo, um
trechinho de nossa conversa, que foi transmitida ao vivo pela internet (você
pode assistir à integra da entrevista CLICANDO AQUI).
O fato de haver
sucesso no combate ao mal não significa que ele esteja menor.
transplantes de
medula óssea e mais de 19 mil sessões de quimioterapia. Assim como ocorre em
países desenvolvidos, no Brasil o câncer já representa a primeira causa de
morte por doença (8% do total) entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos.
As estimativas
do Instituto Nacional do Câncer são de que devem surgir neste ano 12.600 novos
casos de câncer em crianças –a estimativa de novas casos de câncer em adultos é
de 600 mil por ano.
Por isso, nunca
é demais falar da importância de entidades como o Graacc, que funciona “de
portas abertas” –expressão usada no mundo médico para indicar que acolhe e
trata quem precisar, tanto pacientes com convênio médico quanto doentes sem
esse recurso.
A instituição
atendeu no ano passado 3.449 pacientes –390 casos novos--, com um orçamento
sustentado basicamente por doações de pessoas físicas. Há, claro, grandes
empresas e pessoas de muitas posses que apoiam, mas o grosso dos recursos vem
de milhares de pequenas doações e de campanhas de arrecadação de fundos.
Uma delas, já
tradicional em São Paulo, é a Corrida e Caminhada do Graacc, que chega neste
ano à décima sétima edição. Com o mote “Corrida dos Sonhos”, vai acontecer no
dia 14 de maio –as inscrições estão abertas; saiba tudo sobre a prova CLICANDOAQUI.
Amigos e
apoiadores do hospital participam da prova, que também recebe participações
muito especiais de ex-pacientes, que vão ao asfalto comemorar sua vitória e
servir de inspiração de alegria guerreira.
É o que faz, por
exemplo, a pequena Beatriz Kubo, de sete anos, que participou da corrida no ano passado e promete
voltar à linha de largada neste ano.
Bia, que conheci
ontem no finzinho de minha visita ao Graacc, foi diagnosticada
com leucemia aos quatro anos. Durante dois anos ficou em tratamento no hospital,
onde também cursou a escola móvel.
Os métodos disponíveis para o tratamento do câncer
em criança possibilitam um alto índice de cura –cerca de 70%, como informa o
Graacc. Para manter e ampliar essa taxa é fundamental haver diagnóstico
precoce.
A instituição aponta sinais e sintomas da doença:
- dores
de cabeça pela manhã
e vômito;
- caroços no pescoço, nas axilas e na virilha, ínguas que não resolvem;
- dores nas pernas que não passam e atrapalham as atividades das crianças;
- manchas arroxeadas na pele, como hematomas ou pintinhas vermelhas;
- aumento de tamanho de barriga;
- brilho branco em um ou nos dois olhos quando a criança sai em fotografias com flash.
O Graacc alerta: “Muitos desses sintomas são semelhantes aos de várias doenças infantis comuns, mas, se eles não desaparecerem em um prazo de sete a dez dias, volte ao médico e insista para obter um diagnóstico mais detalhado com exames laboratoriais ou radiológicos”.
- caroços no pescoço, nas axilas e na virilha, ínguas que não resolvem;
- dores nas pernas que não passam e atrapalham as atividades das crianças;
- manchas arroxeadas na pele, como hematomas ou pintinhas vermelhas;
- aumento de tamanho de barriga;
- brilho branco em um ou nos dois olhos quando a criança sai em fotografias com flash.
O Graacc alerta: “Muitos desses sintomas são semelhantes aos de várias doenças infantis comuns, mas, se eles não desaparecerem em um prazo de sete a dez dias, volte ao médico e insista para obter um diagnóstico mais detalhado com exames laboratoriais ou radiológicos”.
Com o diagnóstico precoce, mesmo tipos
de câncer raros e muito agressivos, como o que atingiu a minha amiguinha
Vitória, podem ser combatidos com sucesso.
Ela, agora, volta ao Graacc apenas para
consultas de rotina. Está estudando, gosta de brincar e praticar esportes.
Esbelta, forte e flexível, pretende conseguir uma vaga na natação do centro
olímpico. Tomara que consiga: quem sabe Vitória não vira uma atleta...
VAMO QUE VAMO!!!
Percurso de 26 de abril de 2017
5,65 km percorridos em 1h04min49
Acumulado no projeto 60M60A
948,85 km percorridos em 171h23min10
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