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13.4.17

O queniano Paul Kimutai sagrou-se no último domingo bicampeão da Maratona Internacional de São Paulo, uma das principais provas brasileiras na sua categoria. Foi seguido por um legítimo filho da terra brasileira, sertanejo forjado nas dificuldades da vida e lapidado por um construtor de campeões.

Estou falando do pernambucano EDSON AMARO, a quem tive o prazer de conhecer em 2015, quando ele ainda embalava sonhos olímpicos. De fato, conseguiu índice para ter direito a participar da maratona no Rio-2016, mas outros tiveram tempos melhores.

Agora ele volta ao estrelato, sempre apoiado pelo técnico MARCIANO BARROS, que tem uma verdadeira peneira de talentos em Petrolina, em pleno sertão pernambucano –já descobriu vários campeões, notadamente no atletismo paraolímpico.

“Algumas pessoas desacreditaram, dei meu melhor e saí com um grande resultado. Surpreendemos muita gente. Muita gente ficou abismada com nosso potencial”, disse Amaro depois da prova, com uma ponta de amargura em meio à alegria da conquista.

Marciano Barros comentou: “Fizemos esse trabalho direcionado para a maratona. Alguns resultados não muitos bons vieram, mas continuamos trabalhando firme para chegar aonde chegamos hoje. O objetivo era a Maratona de São Paulo. Queríamos o título, mas ele não veio. Estamos satisfeitos com a segunda colocação e por sermos o melhor brasileiro, em uma prova que reuniu os grandes atletas do Brasil”.

Conheci os dois, Edson e Marciano, no interiorzão de Pernambuco, na terra crestada de Santa Maria da Boa Vista, que visitei como parte do projeto MARATONANDO COM OMST. Pois Marciano, além de dirigir a Associação Petrolinense de Atletismo e dar aulas de educação física, também dá a jovens sem terra iniciação no mundo do atletismo.

Os dois chegaram mesmo a participar de uma corrida que organizei na região, reunindo alunos de escolas rurais de cinco assentamentos localizados ao longo da Estrada da Reforma Agrária (CLIQUE AQUI PARA CONHECER A HISTÓRIA)

Fiz com eles amplas entrevistas, publicadas na época na “Folha de S. Paulo” e, mais tarde, na revista “O2”. Reproduzo a seguir trechos do depoimento de Edson Amaro, para que você conheça melhor as origens do melhor brasileiro na maratona de São Paulo.

Fotos Eleonora de Lucena


Da minha mãe, só tive uma irmã, filha do meu pai, só que depois de uma hora de nascida ela faleceu. Por parte de pai, tenho 18 irmãs; pela minha mãe, só tenho um irmão. Somos 20 irmãos. Só eu saí corredor.

“A gente é de família humilde. A gente morava em uma casa de taipa em Juazeiro da Bahia, próximo à rodoviária. Quando meu avô morreu, em 1986, quando eu tinha dois anos, minha avó ficou revoltada. Ela era muito apaixonada por ele, não quis mais viver lá. Vendeu o que tinha, levou toda a família para São Paulo.

“Eu vinha todo o ano para Juazeiro. Quando completei 17 anos, não quis mais voltar para São Paulo. Não gostava de lá porque não tinha liberdade, a gente sai de casa e não sabe se volta...

“Comecei a praticar atletismo na escola Pedro Raimundo Rego, a mesma em que estudou Daniel Alves. Quem me levou para lá foi a professora Edileusa, a mesma do Daniel. Depois ela trouxe o treinador Marciano [Barros], e foi aí que tudo começou.

“Ele me perguntou se eu confiava nele, disse que eu poderia vir a ser um grande atleta. Eu queria: a gente treinava duro, três vezes por semana. Conheci José Carlos Santana, tricampeão da maratona do Rio, medalha de prata no Pan de Havana. Via que estava rodeado de pessoas que poderiam somar para eu dar uma levantada, subir na vida.

“Era difícil. Eu morava num bairro muito carente. Perdi muitos amigos para as drogas. Muitas vezes os meninos chegavam drogados à escola. Às vezes a gente até brigava, cheguei a tomar arma da mão dos meninos lá na escola.

“A primeira corrida que eu ganhei, treinando com Marciano, foi um 5.000 m nos Jogos Escolares de Juazeiro. Foi em 2003, quando comecei.

“No meio da turma, eu era o mais magrinho de todos. Na arquibancada, diziam que eu nem ia conseguir completar. Ficaram de gozação comigo.

“Na hora da corrida, eu fui passando, dando volta, dando volta, dando volta, acabei ganhando. Dois dias depois, teve os 1.500 m e eu ganhei também.

“Quatro dias depois, teve uma corrida lá em uma cidade chamada Senhor do Bonfim, na Bahia. Tinha muitos atletas bons, mas Marciano falou que era para eu correr do meu jeito, sem me preocupar com ninguém.

“Fui o quarto colocado geral da prova, eram 12 km, e o primeiro na minha categoria, de 15 a 19 anos. Ganhei um troféu que era quase da minha altura.

“Até hoje eu guardo esse troféu com carinho lá em casa. Eu vinha dentro do ônibus abraçado com o troféu, 125 km abraçado com o troféu, que eu nunca tinha ganhado um troféu bonito e grande daquele jeito.

“Minha primeira maratona foi em 2012, em Santiago, no Chile, eu estava com medo de correr. Nunca tinha corrido 42 quilômetros.

“Na hora da largada, deu um frio na barriga. Mesmo assim, completei em  
2h16min20. Fui quarto colocado geral na minha primeira maratona e consegui o índice para os Jogos Olímpicos de Londres.

“Mas a marca que eu fiz ainda era alta e não dava mais tempo de correr outra prova antes de fechar o período de classificação. Acabei sendo o quarto melhor brasileiro naquele ano, mas não pude ir à Olimpíada.

“Depois de Santiago, corri várias maratonas. Sou bicampeão da Maurício de Nassau, no Recife. Na segunda vez, foi com chave de ouro: corri dez quilômetros com o grupo e 32 quilômetros sozinho.
  
“Tem de ter cabeça. Penso só no treinamento, trabalhando o meu psicológico, concentrando na prova. Tem fotos minhas em que meus olhos estão vidrados, assim, concentrado. Tudo vem do treinamento: concentração e não perder o foco.”

VAMO QUE VAMO!!!



Percurso do dia 13 de abril de 2017
15,01 km percorridos em 2h05min24

Acumulado no projeto 60M60A
815,78 km percorridos em 149h17min09 


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