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12.7.17

Resistência democrática no inverno de nossa desesperança


Parece que só escrevo nestas páginas para chorar as pitangas ou festejar alguma corrida maravilhosa, deixando de lado o dia a dia de pequenas tristezas e menores alegrias, de algumas conquistas simples e fracassos desgraciosos.
Azar, é o que temos, e hoje volto aqui a lamentar meu triste estado de espírito, que só não é pior do que meu estado físico.
Estou há quatro dias sem correr e provavelmente vou ficar na seca ainda outros quatro e talvez mais quatro também.
Na tarde do último sábado, em que eu havia feito um treino matinal de catorze quilômetros, bem gostoso, uma dor agudo atingiu meu joelho, uma pontada, agulhada infernal.
Seguiu noite adentro, mas me deixou dormir. O sono, porém, não serviu para aplacar a pontada: na manhã de domingo o joelho ainda gritava a cada passo, descer e subir escadas era um suplício.
Acabei indo ao pronto socorro. As radiografias saíram limpas e, tal como juízes que condenam sem provas, o médico disse que, na falta de causas, provavelmente a razão da dor era uma fratura por estresse.
Seria a quinta de minha curta carreira de corredor amador, dedicado, mas não maluco (pelo menos, eu não me acho maluco; há divergências). E a segunda em menos de um ano. É demais!!!
Fiquei em suspenso aguardando o resultado de exames outros, as malditas e barulhentas ressonâncias magnéticas, que só consegui fazer ontem, depois de idas e vindas para obter autorização do convênio médico.
Enquanto isso, vivi em suspenso. Se confirmada hipótese, seria praticamente o fim de meu projeto, de meu sonho, de minha determinação de percorrer neste ano distância equivalente à de sessenta maratonas.
Já rodei mais de trinta e cinco maratonas, falta menos do que quando comecei, mas ainda falta muito. E caminhar quebradinhos por dia, o que aconteceria em caso de fratura por estresse, talvez não fosse o suficiente para somar os mais de mil quilômetros ainda faltantes para fechar minha conta.
Meu ânimo se esvaía pelo ralo na tarde de ontem esperando a divulgação dos resultados.
Foi quando fiquei sabendo da ação intrépida de seis senadoras da República, mulheres de fé e coragem: sem outra forma de impedir o avanço de votação de legislação atroz contra aos trabalhadores, ocuparam a mesa do Senado.
O sexteto de ouro é formado por três parlamentares petistas --Fátima Bezerra (PT-RN), Regina Sousa (PT-PI) e a presidenta do partido,  Gleisi Hoffmann (PT-PR)—mais  Lídice da Mata (PSB-BA) Vanessa Graziotin (PCdoB-AM) e Kátia Abreu (PMDB-TO).

No mapa, que capturei nas redes sociais, falta a senador do Piauí, que cuja foto incluo aqui ao lado.
Todas foram guerreiras do povo, verdadeiras amazonas da resistência, cavaleiras da esperança neste inverno de nossa desesperança, mas quero destacar a bravura e firmeza de Kátia Abreu,  voz quase solitária no pântano de vileza em que se transformou o que um dia se disse o maior partido do acidente.
Sobre Abreu, o jornalista Mario Marona afirmou: “É adversária ferrenha do golpe, leal defensora de Dilma e hoje combativa aliada das forças progressistas”.
Ainda que  a ação valorosa de nossas mulheres maravilhas tenha fracassado –a legislação escravagista foi votada e aprovada pela maioria golpista que domina o Senado--, seu exemplo de resistência fica para a história e se torna cada vez mais necessário nos dias difíceis que vivemos.
Foi com elas na cabeça, e não com a esperada derrota na votação, que vi o resultado dos exames.  O laudo apontou um monte de problemas no meu joelho, coisas terríveis que nem quero repetir aqui, mas concluiu com um parágrafo que me encheu de alegria:
“Não há sinais de fraturas por estresse ou edema ósseo no estudo atual.”
Claro que, em contrapartida, “Nota-se progressão da condropatia patelofemoral com aparecimento de fissuras condrais profundas e focos de alteração de sinal subcondral”.
É o que provoca minhas dores, as tais “fissuras profundas”. Azar é delas.
Inspirado pelas amazonas da resistência, tratei de resistir à dor. Correr não poderia, seria uma irresponsabilidade. Mas caminhei quatro quilômetros hoje de manhã e até contei a história em um vídeo, tão entusiasmado que estava (CLIQUE AQUI).
A tarde deste dia doze de julho, porém, reservava mais um ataque aos interesses e às vontades do povo brasileiro, à Justiça e à verdade: o ex-presidente Lula foi condenado sem provas, por convicções, porque trabalhou pelo povo brasileiro.
"Isso é um escândalo", disse o líder do PT no Senado, Lindbergh Farias (RJ). O senador convocou o povo às ruas contra a condenação sem provas e afirmou:
"Não vivemos em uma situação de normalidade democrática, isso não é democracia. Isso é um estado de exceção. Nossa reação tem que ser muito forte, nós temos que fazer manifestações nas cidades brasileiras. 
Temos que organizar atos no Brasil todo, não podemos ficar em silêncio diante desse fato", disse. "É hora de ir para cima, não é hora de ficar intimidado", acrescentou.

A Frente Brasil Popular convocou ato para a avenida Paulista, em São Paulo: “A perseguição ao ex-presidente Lula esta tomando um desfecho que já esperávamos. Hoje, mesmo sem elementos de provas, o juiz Moro condenou o ex-presidente. Uma condenação que reforça a tese de perseguição política com a finalidade de tirar o ex-presidente Lula das eleições, uma afronta ao estado democrático de direito. Convocamos todos os brasileiros que acreditam na democracia para uma manifestação pacífica em desagravo as arbitrariedades do juiz Sergio Moro. A manifestação inicia agora no Masp, na Avenida Paulista. EM DEFESA DE LULA, EM DEFESA DA DEMOCRACIA!”

VAMO QUE VAMO!!!!

1 comment:

  1. Grande Lucena! Foi uma enorme honra ter recebido vocês ontem aqui em Osasco (Vc e Eleonora), mais ainda foi o prazer de ler um texto impecável como esse... FORA TEMER DIRETAS JÁ NEM DIREITO À MENOS!!! E Fique Bem.

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