Hoje passei a marca dos dois mil quilômetros percorridos ao
longo deste ano em que completei sessenta anos. Meu objetivo é chegar aos –talvez passar dos—2.532 quilômetros, que
é a distância equivalente à soma de sessenta maratonas. Ao longo do ano, venho
discutindo, aqui no blog, questões referentes à saúde, à qualidade de vida e à
inserção social dos mais velhos.
Velhos, pelos regulamentos brasileiros e pela classificação
da Organização Mundial da Saúde, são aqueles que passam dos sessenta anos (nos
países desenvolvidos, a nota de corte é de sessenta e cinco anos). É um bom
momento para refletir sobre o que fizemos, o que ainda queremos fazer (ou
podemos), para onde vamos, afinal.
A maioria de nós, velhos, não tem condições nem chances de
pensar sobre isso, não tem querer nem poder. Por falta de condições
financeiras, homens e mulheres de mais de sessenta (e até antes disso) são
relegados ao sofá, ao quarto dos fundos, ao abrigo –muitas vezes, ao desabrigo.
Isso, apesar de, em grande parte das famílias brasileiras e,
mesmo, em bom número de cidades do país, os velhos e os recursos que recebem
como aposentadoria são o sustentáculo econômico do grupo. Números: em quase um
quarto dos lares brasileiros o idoso aposentado é o arrimo da família.
Ainda que a população brasileira seja jovem, a participação
dos velhos no conjunto aumentou muito, mais do que o próprio crescimento
populacional. Em 1960, os brasileiros éramos setenta milhões; em cinquenta
anos, esse número quase triplicou, passando a 190 milhões em 2010.
A população dos velhos, por seu lado, MAIS DO QUE
QUADRUPLICOU no mesmo período, passando de 3,3 milhões de maiores de sessenta
anos em 1960 para 14,5 milhões ao final da primeira década deste nosso século.
São consequências do desenvolvimento econômico –ainda que mal distribuído--,
das melhores condições sanitárias no país, da evolução da medicina.
Nossa gente está vivendo mais e, pelo menos em um pequeno
percentual, vivendo mais com saúde razoável. Somos capazes de continuar
contribuindo para o desenvolvimento da sociedade, ainda que a sociedade não
esteja adequadamente preparada para receber nossa contribuição.
São coisas assim que venho debatendo nestas páginas, ao
longo dos quilômetros sem fim que percorro pelo mundo. Se conseguir chegar ao
meu objetivo, terei batido meus recordes de volume anual. Quando comecei a
correr, no século passado, ainda no vigor de meus quarenta e poucos anos,
corria em média 2.400 quilômetros por ano.
Esse volume decaiu consideravelmente depois que eu passei da
casa dos 50 anos, especialmente na segunda parte dessa faixa etária. Sofri mais
lesões e levei mais tempo para me recuperar delas; o ritmo de recuperação dos
treinos longos também aumentou.
Deixei de fazer umas quantas maratonas por ano. Para
comparar: em 2007/2008, quando entrei nos 50 anos, fiz onze maratonas e provas
mais longas, de até cem quilômetros, em apenas nove meses!!! Neste 2017, em que
completei 60 anos, apenas pensei em fazer uma maratona, mas a ideia foi deixada
de lado; afinal, tinha e tenho um objetivo maior, que é chegar a essa enorme
quilometragem acumulada no ano.
A estratégia está dando certo. Não tive nenhuma lesão neste
ano, nada de dores nas costas nem pernas machucadas com ites de todo o tipo; em
contrapartida, levei um tombo violento, em que quebrei dois dedos em vários
pontos além de quebrar também um osso do braço.
Tudo está mais ou menos consertado, tenho sequelas desses
problemas todos, mas dá para correr. Tanto que, em maio/junho passado, fiz três
meias maratonas em três fins de semana seguidos. Uma delas foi a Palio Del
Drappo Verde, a corrida mais antiga do mundo ainda em realização –sua jornada
inaugural foi em 1208 em Verona, Itália!!! (saiba mais sobre essa história
CLICANDO AQUI).
Outro destaque destes primeiros dois mil quilômetros foi a
CAMINHADA DA RESISTÊNCIA, que, junto com meus amigos do grupo Corredores
Patriotas Contra o Golpe, organizei para marcar a luta dos democratas e patriotas
contra o golpe militar de 1964. A caminhada foi um mergulho na história de São Paulo
e do Brasil, uma demonstração de como o exercício pode ser alavanca para o
jornalismo e para a educação, para a descoberta de amigos e de informações
(saiba mais sobre aquela jornada CLICANDO AQUI).
Lembro agora apenas desses dois momentos, ainda que minha
vontade fosse falar de cada uma das 197 corridas/caminhadas que fiz, em 189
dias de atividade (em alguns dias, fiz duas ou três sessões de treino). O
processo foi todo muito bacana, especialmente por causa de sua participação
acompanhando a jornada e pelos apoios amigos que venho recebendo, como o do
pessoal da Força Dinâmica –meu treinador, Alexandre Blass, e o fisioterapeuta Marcelo
Semiatzh—e do Instituto Vita.
Amigos contribuíram de várias formas. O ilustrador e
corredor Jan Limpens-Doenraedt, por exemplo, gentilmente criou os cartuns que
estão nesta página. Aproveitei para conversar com ele, que é austríaco, casado
com uma brasileira, tem anos e dois filhos. Você pode conhecer outros trabalhos
dele CLICANDO AQUI. Antes porém, confira a seguir a breve entrevista que fiz com ele:
Desde quando está no
Brasil, por que resolveu viver no Brasil, o que acha de viver no Brasil?
Numa viagem visitei Brasil em 1995, conheci a minha esposa.
Moramos seis anos em Viena e em 2001 nos mudamos para SP. Era onde a vida me
levou, não teve motivo. Mudei a minha opinião sobre Brasil fortemente umas quatro
vezes desde eu estou aqui. Então, o que concluir disso? O Brasil tem camadas
muito diferentes, contrastantes e com o tempo a gente descobre uma por uma...
Como você descobriu
que queria ser desenhista/ilustrador e que tinha condições para viver disso?
Quando vim [para o Brasil], ainda trabalhei na área da
tecnologia, me dei razoavelmente bem com isso ainda na Áustria. Aqui foi mais
difícil, mas era possível, mesmo assim: muito complicado para crescer. Comecei
a ilustrar livros infanto-juvenis e quadrinhos, primeiro para um site
austríaco, depois para a Folhateen, onde eu tinha ganhado um concurso. Lá na
Áustria eu tinha feito parte de um grupo de teatro, filmes e clubes (para
dançar) e, quando cheguei aqui, transformei parte disso em HQs. Faz uns 8 anos
+/- vivo exclusivamente da ilustração.
Quando começou a
correr? Por que começou a correr? O que a corrida tem de bom?
Comecei a correr faz cerca de 2 anos, depois de uma
fisioterapia no Marcelo [Semiatzh, da Força Dinâmica; Jan é meu colega de
treinamento. Estava ficando velho (me sentindo mais velho no mínimo, ganhando
peso com dores nas costas, caindo nas escadas etc.). Correndo, mais do que
recuperei a minha forma, os meus reflexos: é bom para ventilar a minha cabeça.
É uma espécie de meditação para mim --eu acho, não sei, porque nunca meditei.
Mas essa concentração continua em um movimento harmônico e fluido, na postura
certa e na frequência certa, levam a uma certa paz e me deixam com melhor
humor. Coisa necessária hoje em dia.
VAMO QUE VAMO!!!
Percurso do dia 20 de setembro de 2017
14,5 quilômetros percorridos em 2h08min34
Acumulado no projeto 60M60A
2.009,5 quilômetros percorridos em 356h45min47
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