Acho que já contei para você, mas
não custa repetir: eu adoro correr maratonas. A maratona muda a gente, a gente
muda a maratona, há uma seguição de dores e prazeres, de orgulho e vergonha, de
depressão funda e exultação incontível; principalmente, de descobertas,
desenredos.
Gosto de falar de maratonas, de contar
histórias de maratonas e de ouvir histórias de maratonas. Por isso mesmo,
adorei quando li nas redes sociais um breve relato das aventuras de uma jovem
amiga minha, a Danielle Barros, que viveu uma epopeia na sua terceira investida
no perigoso, dramático e venturoso reino das maratonas.
Conheço Daniella há pouco mais de
um ano. Ela foi uma das participantes em treinos que realizei durante a jornada
CORRIDA POR MANOEL (saiba mais clicando aqui). Depois, passou a integrar o
grupo que criamos para realizar corridas e treinos com conteúdo, a equipe
CORREDORES PATRIOTAS CONTRA O GOLPE.
Dani e Zita Penna vêm treinando
juntas há algum tempo. Aliás, a Zita, que é nutricionista e descobriu as
corridas há cerca de oito anos, também participou do primeiro evento da turma
dos Corredores Patriotas (leia aqui).
Pelas redes sociais, eu vinha acompanhando
os treinos delas. Volta e meia, a Daniella publicava uma foto das duas, com
breve legenda. Algo como “hoje foram 25 km” ou “30 km pela cidade”.
O grande dia seria o último
domingo de agosto, na capital da Santa e Bela Catarina. Antes disso, os treinos
das duas renderam uma bela história contada pela Zita como parte de um curso de
contadores de histórias –a Danielle é atriz e contadora de histórias, integra a
trupe Meninas do Conto. O resultado está no vídeo abaixo, publicado com a
devida autorização de Zita.
Como o que nos encaminhamos sem
mais delongas para o texto de Danielle, a quem agradeço pela colaboração.
CAMINHOS DE ENCONTRO
“Quando decidimos fazer outra Maratona nós sabíamos
que não seria fácil. Nunca é, os treinos são longos e cansativos.
Mas essa preparação teve algo de especial, como se o mistério e prazer de estarmos
vivas fosse uma força que nos acordava todo domingo de madrugada dizendo: ”Acorda
e vá percorrer teu caminho de encontro”.
Um encontro com nós mesmas.
E lá íamos nós. Às vezes nos preocupávamos com o
relógio e velocidade, mas a maioria do tempo estávamos ocupadas em observar a
cidade, que mesmo cinza se mostra bela e generosa se soubermos olhar.
Parávamos para ver o sol nascer ou admirar uma
plantinha que bravamente rompia o asfalto em busca de vida. Houve um treino que
ficamos paradas uns dez minutos no final da ponte da Cidade Universitária
admirando três belas e velhas árvores; pegamos emprestada um pouco de sua
generosidade e seguimos quilômetros em frente.
Sempre, quando faltavam dois quilômetros para acabar o treino de corrida, eu
contava uma história para Zita, e nós corríamos acompanhadas das personagens
dos contos, que nos davam mais força para seguir.
Nós amanhecíamos e sonhávamos no asfalto.
Finalmente chegou o grande dia, era o momento de
consagrar e finalizar nossa jornada.
Larguei na frente, corri mais rápido do que deveria e,
lá pelo quilometro 29 ou 30 (não me lembro porque já nem estava mais prestando
atenção nisso), uma dor insuportável quase paralisou minhas pernas.
Eu olhava para o Mar que me acompanhou todo o trajeto
e pedia para que Iemanjá me ajudasse, pensava nos meus preciosos amigos e
família, e em alguns pacientes que atendo que se mostram tão fortes. Sentia que
todos eles me acompanhavam. Lembrava dos contos que contava para Zita, e eles
eram meus aliados.
A dor aumentava ao mesmo tempo que eu sentia um amor
imenso e confortante como um abraço.
Encontrei no percurso os anjos da minha equipe (outros
corredores que faziam uma distância mais curta), que me ajudaram muito. O Giuseppi Soares me encontrou em prantos, e
eu dizia que estava bem, mas com muitas dores.
Logo a notícia chegou ao meu técnico, Luiz Fernando
Bernardi, e aí senti a coisa mais linda que eu poderia sentir
naquele momento, eu senti a essência da palavra amigo e parceria.
Meu técnico pediu que um corredor e amigo fosse ao meu
encontro, e logo vi o Ocimar com um spray para dor dizendo “Vamos, Dani!”, e aí eu corri, eu corri com uma força que não
era minha.
No quilômetro 32, estava toda minha equipe torcendo,
incluído a linda Bombom, que me incentivava tanto que parecia me emprestar suas
pernas para eu terminar de correr.
A Silvia Vinhal, mesmo depois de ter corrido 21
km, disse que me acompanharia nos dez quilômetros finais. Como ela foi
importante pra mim! Conversamos, corremos e trocamos segredos de vida. Uma hora
minha perna paralisou de novo e tive que andar, e ela estava lá andando comigo.
Quando estava retornando para o término da maratona,
vi a Zita que vinha correndo com o Ocimar, outro lindo que se prontificou a
fazer os últimos 10 km com ela. Então eu disse para Silvinha: “Vamos esperar a
Zita!”
A Silvinha dizia: “Espera por ela na chegada, Dani,
você não pode parar, continua”
Finalmente no quilômetro 41 encontrei a Zita com o
Ocimar e o Alexandre Amaral
Piazza, que também tinha vindo ajudar. O Ocimar me disse: “Você
acredita que a Zita estava contando história pra mim”.
Fiquei tão feliz e disse; “Então eu também vou contar
uma”, e eu contei uma das minhas histórias prediletas, e foi assim que nos
aproximamos do pórtico de chegada.
Demos as mãos, nossos anjos nos deixaram, e
atravessamos juntas pelo portal do amor, da superação, o portal do era uma vez.
E, como a vida imita a arte, nossa jornada só podia terminar como começou:
Juntas!!!
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