3.10.17

Duzentos dias de treino, cinquenta maratonas já completadas e prossegue o desafio do neossexagenário

Três de outubro de 2017. Realizei hoje meu ducentésimo dia de treino neste ano em que completei sessenta anos e me tornei oficialmente velho. Não, não corro todos os dias: este ano já viu passarem 276 manhãs; em muitas delas, fiquei dormindo; em outras tantas, fingi que não era comigo. Na grande maioria, porém, na escuridão ou em dia claro, sob frio, vento ou alto calor, atirei no chão a preguiça, derrotei por algum tempo a modorra, superei aos talagaços a angústia e meti o pé no asfalto.
Meu objetivo era... meu objetivo era ter um bom motivo para me levantar a cada manhã e fazer alguma coisa. Chegar aos sessenta anos é muito bom, ainda mais aposentado, sem ter de responder a chefe ou patrão –o problema é que a aposentadoria é uma mirreca, as entradas minguam, não há trabalho nem emprego para os sexagenários (aliás, hoje em dia tem muito cinquentão e quarentão desempregado, também sem muitas perspectivas...), a gente fica o dia inteiro sem ter o que fazer e começa a pensar besteira (para mim, isso é superfácil).
Então inventei essa: percorrer, ao longo do ano de meus sessenta anos, distância equivalente à de sessenta maratonas. Em números absolutos, isso dá 2.532 quilômetros, o que será um recorde na minha vida corrida, iniciada tardiamente, aos 41 anos. Mesmo nos primeiros tempos de grande entusiasmo, o máximo que acumulei ao longo de um ano foi algo em torno dos 2.400 quilômetros. Agora, quero mais.
Estou conseguindo. Ontem, caminhando em volta do estádio do Pacaembu –conquista do povo paulistano, que o atual gestor quer entregar para empresas privadas--, superei a marca das cinquenta maratonas. Claro que não fiz neste ano cinquenta maratonas –na minha vida toda, completei 36 provas desse tipo e mais longas, de até cem quilômetros. O que aconteceu é que a distância percorrida nos meus treinos deste ano totaliza mais do que a soma dos percursos de cinquenta maratonas.
Então, neste três de outubro, no dia de meu treino número duzentos, começo o sexto final de minha jornada: falta apenas o equivalente a dez maratonas. É bastante, mas menos do que quando dei a largada. E fui bem, sem dores. Enfrentando uma chuvinha fria e fina, usando a energia da corrida para manter o corpo aquecido e disposto, completei mais de catorze quilômetros dando voltas na pista de caminhada/bicicleta da avenida Sumaré, um dos bons legados da administração Haddad.
Estou falando de números e mais números, mas meu objetivo no projeto das sessenta maratonas aos sessenta anos não se restringe à contabilidade de quilômetros. Ao longo das corridas e caminhadas, busco informações e procuro refletir sobre a situação de saúde, qualidade de vida e inserção social dos mais velhos, dos idosos, do povo da Terceira Idade.
Precisamos conversar sobre os velhos.
Somos uma população crescente. Nunca o Brasil e o mundo tiveram tantos homens e mulheres maiores de sessenta anos. E nem é preciso analisar um período muito longo para constatar isso. Basta olhar, por exemplo, as pirâmides etárias de 1980 e deste ano (projeção), produzidas pelo IBGE; os gráficos desenham bem a progressão da presença dos mais velhos no conjunto da população.
A longevidade é uma conquista da humanidade, resultado de melhores condições de vida e de saneamento, dos desenvolvimentos científicos, do crescimento econômico; em suma, a longevidade é fruto de nosso trabalho.
Os velhos e o envelhecimento são, portanto, algo a ser saudado por todos nós. São evidência de que alguma coisa de bom temos produzido. O que acontece, porém, é o contrário.
Os velhos são vistos como um peso na sociedade –ainda que grande parte dos maiores de sessenta anos continue trabalhando e seja arrimo de família. São deixados de lado com suas mazelas, reclamações, angústias, ainda que muitos de nós sejamos fisicamente capazes e intelectualmente produtivos (mesmo que não fôssemos, não deveríamos ser desprezados e desrespeitados).
Tivemos no Brasil, ao longo dos governos petistas, importantes conquistas para a terceira idade. Muitas estão sendo destruídas ou sabotadas pelo governo golpista que usurpou o poder no país. Isso é inaceitável.
Hoje os maiores de sessenta anos somos mais de 11% da população brasileira; em números absolutos, somamos cerca de 24 milhões de homens e mulheres. Muitos vivendo em situação precária ou de abandono.
Levantamento feito pela Organização das Nações Unidas mostra que, no Brasil, 36,5% das pessoas com mais de 50 anos apresentam algum tipo de incapacidade funcional ou dificuldade para realizar tarefas simples, como atravessar a rua ou subir escadas.
Nas faixas etárias mais altas, a situação fica ainda pior, de acordo com estudo feito em São Paulo pelas Fundação Seade: 46% dos entrevistados com idades entre 65 e 69 anos necessitavam de auxílio para realizar atividades simples do dia a dia, como ir da cama para o sofá, vestir-se, comer ou cuidar da própria higiene.
Não por acaso, cresce o número de suicídios entre os mais velhos. A turma de maiores de sessenta anos é a faixa etária que mais se mata no Brasil –oito casos por cem mil pessoas foram registrados em 2012. A causa mais importante, segundo o estudo “Suicídio no Brasil, de 200 a 2012”, de Diana Machado e Darci dos Santos, é a inabilidade de lidar com o processo de envelhecimento e suas implicações, como problemas de saúde e pressões emocionais”.   
Claro que isso é muito genérico, falho e insuficiente, jogando toda a responsabilidade para o indivíduo, deixando de ver as responsabilidades da sociedade. São muitas e muito significativas, conforme ressalta o economista Gilberto Braga: “As atuais políticas públicas de saúde voltadas para idosos não são suficientes para aumentar a qualidade de vida dessa parcela da população”.
Para ele, o mais importante seria adotar políticas públicas e um modelo de práticas de saúde que ajudem a evitar as doenças que vêm com a idade. Em todos os manuais e cartilhas sobre o envelhecimento, a prática de atividade física aparece com destaque; é uma necessidade para que a gente não apenas siga com saúde mas também com vontade de viver.
Caminhar e correr é muito bom. Não precisa muito –ainda que eu goste muito: trinta minutos por dia, cinco dias por semana, já são suficientes para dar uma força para o funcionamento do coração e do sistema respiratório. Médicos também recomendam beber bastante água para tentar manter os rins em boas condições de operação.
Estou tentando fazer isso.
Correndo e caminhando, completei  2.127 quilômetros e 960 metros neste três de outubro. É uma data muito especial para o Brasil, e não por que eu tenha completado duzentos dias de treino, minha egolatria ainda não chegou a tanto.
Três de outubro é especial porque ...
...em 1930, foi a data em que começou a revolução comandada por Getúlio Vargas; a ação que detonou o movimento foi a tomada do quartel-general do Terceiro Exército, em Porto Alegre.
...em 1950, foi a data das eleições presidenciais que deram um novo mandato para o mesmo Getúlio Vargas, que iniciaria então o governo que consolidou o Brasil como país soberano e independente.
Montagem com imagens de Getúlio Vargas e Lula com a mão empetrolada, marcando a luta do Brasil pela soberania energética
...em 1953, foi a data de fundação da Petrobrás, na esteira da campanha nacionalista “O Petróleo é Nosso”, que reivindicava para o Brasil e os brasileiros o direito de decidir sobre a pesquisa e o uso de suas reservas naturais, condição essencial para a independência econômica e para a construção de um projeto nacional.
...em 1964, foi a data do primeiro assassinato cometido pelo Esquadrão da Morte, grupo clandestino paramilitar nascido nos porões da ditadura, formado por policiais e seus apaniguados, agindo à margem da lei (como era a praxe durante o golpe militar); “Cara de Cavalo” foi morto com cinquenta tiros.
...em 1968, ainda durante a ditadura militar, foi a data do assassinato do secundarista José Carlos Guimarães, 20, durante a “Batalha da Maria Antônia”, conflito entre estudantes da USP e do Mackenzie (apoiadores da ditadura); o acusado do crime, um membro do Comando de Caça aos Comunistas e informante da polícia, nunca foi punido.
...em 2010, na democracia conquistada com o sangue de José Carlos e tantos outros, foi a data em que os brasileiros deram a Dilma Rousseff a vitória no primeiro turno das eleições presidenciais; no segundo turno, Dilma foi eleita a primeira presidenta do Brasil. Reeleita quatro anos depois, foi derrubada em 2016 por um golpe parlamentar.


...neste 2017, é mais um dia de luta contra o golpe e contra os golpistas, que entregam as riquezas nacionais, solapam direitos dos trabalhadores e, entre tantos outros crimes, atentam contra os velhos e as velhas do Brasil. No Rio de Janeiro, com a presença do presidente Lula, é realizada uma Caminhada pela Soberania Nacional até a sede da Petrobras –que, como vimos, foi criada exatamente num dia três de outubro.
Ao que digo: VAMO QUE VAMO!!!

Percurso do dia três de outubro de 2017


14,13 quilômetros percorridos em 2h04min46

Acumulado no projeto 60M60A    

2.127,96 quilômetros percorridos em 377h59min

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