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17.2.17

Vaiado, ministro de Temer ofende Raduan Nassar na entrega do Prêmio Camões

Sob vaias e gritos de “Fora, Temer!, o ministro da Cultura do governo golpista, Roberto Freire, assacou insultos contra o escritor Raduan Nassar e impropérios contra a plateia que acompanhava a cerimônia de entrega do prêmio Camões, a mais importante honraria para quem escreve em português.
As cenas grotescas transcorreram na manhã de hoje no bucólico jardim do museu Lasar Segall, na Vila Mariana, em evento que começara embalado pela voz de um coral de meninas –graciosas, cantaram “Aquarela do Brasil”, “Maria, Maria” e “Garota de Ipanema”.
Depois de tanta poesia musical, Nassar usou de prosa precisa para caracterizar o Brasil de hoje. “Vivemos tempos sombrios”, disse ele, para logo em seguida denunciar o governo “repressor”, que age “contra o trabalhador, contra aposentadorias criteriosas, contra universidades federais de ensino gratuito, contra a diplomacia ativa e altiva de Celso Amorim. Governo atrelado por sinal ao neoliberalismo com sua escandalosa concentração da riqueza, o que vem desgraçando os pobres do mundo inteiro”.
O autor de 81 anos, agora oficialmente no panteão dos maiores escritores em língua portuguesa, encerrou lembrando que, quando Dilma foi afastada pelo Senado, “o golpe estava consumado”. E proclamou: “Não há como ficar calado”.
A frase foi saudada com fortes palmas, gritos de “Bravo!” e um potente coro de “Fora, Temer!”.
A cerimônia seguiu seu curso com um discurso protocolar do embaixador de Portugal, Jorge Cabral, que cumpriu seu papel com elegância e discrição.
O mesmo não se pode dizer do ministro do governo golpista –que havia sido caracterizado por Nassar como “governo em exercício”--, que abandonou seu pronunciamento previamente escrito para tentar dar lição de moral e assacar ofensas exatamente contra o homenageado do dia. O octogenário Nassar a tudo ouviu em silêncio, mesmo quando Freire xingou a “estultice” dos que caracterizam como golpe a tomada do poder sem voto.
A plateia, porém, não ficou calada ante as grosserias de Freire, que passou a ser interpelado diretamente.
Professor da USP, o poeta Augusto Massi falou para que o ministro e todos ouvissem:  "Acho que você não está à altura do evento!".
Na mesma linha, a filósofa Marilena Chauí recomendou que o ministro ficasse em silêncio. Mas Freire seguiu com sua arenga, tentando caracterizar como democrático o governo golpista –afinal, estava concedendo prêmio de alto coturno a um escritor de oposição ao regime golpista.
De fato, porém, Freire estava se adonando de uma decisão que não era sua nem da turma que ele representava, com bem destacou a repórter Camila Moraes, do “El Pais”, que registrou a cena a fala ministerial e a reação dos presentes:

Diante da declaração de Freire de que [Nassar] “é um adversário político do Governo recebendo um prêmio do Governo que ele considera ilegítimo”, escritores presentes no evento ressaltaram que o Prêmio Camões 2016 foi anunciado em maio de 2016, quando o impeachment ainda não havia sido concluído.

“É preciso ressaltar que ele aceitou o prêmio em maio do ano passado, quando o Governo ainda era o de Dilma Rousseff”, destacou Milton Hatoum. Segundo o escritor amazonense, autor do premiado romance "Dois Irmãos", entre outros, o governo atual “adiou por muito tempo a entrega desse prêmio, justamente por medo dessa repercussão”. No meio, o discurso político de Nassar – que se manifestou contra o impeachment anteriormente – já era esperado por todos.”

Nas redes sociais, a repórter Carol Pires também denunciou a apropriação indébita, como demonstra a imagem.

A plateia protestou. Alguém gritou não se podia seguir ouvindo aquilo em silêncio, e foi apoiado por boa parte do grupo. Sob vaias, Roberto Freire enfim saiu do palanque e abandonou o evento –a repórter Carol Pires registrou tudo em vídeo, a que você pode assistir clicando AQUI.

Por lá ficamos nós outros, os amigos e admiradores de Raduan Nassar, de sua escrita brutal e de seu desabrido papel na luta democrática.



Estavam lá Celso Amorim, ministro dos governos Lula e Dilma, o senador Eduardo Suplicy, o jornalista Mino Carta, a cineasta Petra Costa, professores, escritores, amantes da literatura e da democracia.
Além das emoções do dia, fomos brindados com o belíssimo discurso de Nassar, que reproduzo a seguir.

“Excelentíssimo Senhor Embaixador de Portugal, Dr. Jorge Cabral.
Senhor Dr. Roberto Freire, Ministro da 
Cultura do governo em exercício.
Senhora Helena Severo, Presidente da Fundação Biblioteca Nacional.
Professor Jorge Schwartz, Diretor do Museu Lasar Segall.
Saudações a todos os convidados.
Tive dificuldade para entender o Prêmio Camões, ainda que concedido pelo voto unânime do júri. De todo modo, uma honraria a um brasileiro ter sido contemplado no berço de nossa língua. 
Estive em Portugal em 1976, fascinado pelo país, resplandecente desde a Revolução dos Cravos no ano anterior. Além de amigos portugueses, fui sempre carinhosamente acolhido pela imprensa, escritores e meios acadêmicos lusitanos.
Portanto, Sr.Embaixador, muito obrigado a Portugal.
Infelizmente, nada é tão azul no nosso Brasil.
Vivemos tempos sombrios, muito sombrios: invasão na sede do Partido dos Trabalhadores em São Paulo; invasão na Escola Nacional Florestan Fernandes; invasão nas escolas de ensino médio em muitos estados; a prisão de Guilherme Boulos, membro da Coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto; violência contra a oposição democrática ao manifestar-se na rua. Episódios todos perpetrados por Alexandre de Moraes.
Com curriculum mais amplo de truculência, Moraes propiciou também, por omissão, as tragédias nos presídios de Manaus e Roraima. Prima inclusive por uma incontinência verbal assustadora, de um partidarismo exacerbado, há vídeo, atestando a virulência da sua fala. E é esta figura exótica a indicada agora para o Supremo Tribunal Federal.
Os fatos mencionados configuram por extensão todo um governo repressor: contra o trabalhador, contra aposentadorias criteriosas, contra universidades federais de ensino gratuito, contra a diplomacia ativa e altiva de Celso Amorim. Governo atrelado por sinal ao neoliberalismo com sua escandalosa concentração da riqueza, o que vem desgraçando os pobres do mundo inteiro.
Mesmo de exceção, o governo que está aí foi posto, e continua amparado pelo Ministério Público e, de resto, pelo Supremo Tribunal Federal.
Prova da sustentação do governo em exercício aconteceu há três dias, quando o ministro Celso de Mello, com suas intervenções enfadonhas, acolheu o pleito de Moreira Franco. Citado 34 vezes numa única delação, o ministro Celso de Mello garantiu, com foro privilegiado, a blindagem ao alcunhado “Angorá”. E acrescentou um elogio superlativo a um de seus pares, o ministro Gilmar Mendes, por ter barrado Lula para a Casa Civil, no governo Dilma. Dois pesos e duas medidas
É esse o Supremo que temos, ressalvadas poucas exceções. Coerente com seu passado à época do regime militar, o mesmo Supremo propiciou a reversão da nossa democracia: não impediu que Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados e réu na Corte, instaurasse o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Íntegra, eleita pelo voto popular, Dilma foi afastada definitivamente no Senado.
 O golpe estava consumado!
 Não há como ficar calado.

 Obrigado.”

Com o que também concluo o registro da manhã de hoje, em que não corri nem caminhei por causa de uma impertinente dor no tornozelo. Dias atrás sofri uma leve torsão, que estou tratando com carinho e cuidado. É melhor não abusar do corpo para poder seguir firme na luta.
Afinal, esta jornada não é um sprint nem uma maratona, mas sim percurso equivalente ao de sessenta maratonas. Sigamos juntos.

VAMO QUE VAMO!!!!




1 comment:

  1. O trânsfuga e traidor ex-comunista (esses são os piores) Roberto Freire, ao fim e ao cabo, rendeu-se à genialidade de Raduan Nassar: despejou Um Balde de Cólera.

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