7.7.15

Velhinho aposentado canta vitória contra a dor e faz balanço da alegria

A dor é inimiga do desempenho, adversária da satisfação, rival do prazer.

Ao longo de quase dois anos, minha vida de corrida foi uma vida de dores.

Terminei mancando a maratona de Vancouver, no primeiro semestre de 2013. Sofria com pontadas nas costas, agulhadas no quadril, cansaço generalizado e dolorido.

Parei, descansei. Fui me recuperando aos poucos, fazendo fisioterapia, treinando mal e porcamente, fugindo da planilha preparada com carinho pelo meu treinador da época. Estava me reforçando, mas tudo muito lento, às vezes dava vontade de jogar tudo para o alto.

Veio o aniversário de São Paulo, 460 anos em 25 de janeiro de 2014. Em primeiro de dezembro de 2013, iniciei uma jornada para homenagear a cidade, prometendo correr um quilômetro em saudação a cada ano de existência da Pauliceia (leia mais AQUI).

Cinco dias depois, sofri uma fratura por estresse.

Não desisti dos 460 quilômetros, realizando o percurso em uma sequência de caminhadas, apoiado pelo pessoal do Instituto Vita: fisioterapia, massagens, acompanhamento médico, orientação. Ao mesmo tempo, eu passava a ser meu próprio treinador, fazendo o que era possível a cada dia.

Completei com muita alegria o desafio perseguido –veja AQUIum vídeo de balanço da jornada. Mas sobraram sequelas desesperadoras: uma inflamação em uma vértebra no meio das costas, aumento das já brutais dores na lombar, agulhamento no miolo do glúteo (o maldito piriforme), sem falar de uma pontada que assustadoramente chegava até a virilha.

Para piorar, uma enorme inflamação no pé esquerdo, logo atrás do segundo dedo, como se fosse Neuroma de Morton, mas não era. Inflamação traiçoeira, que aceita o impacto rápido da corrida, mas derruba quando o pé vem de prancha na caminhada: só dói quando eu caminho!!!

Ainda por cima, eu envelhecia. Envelhecemos todos, um pouco a cada dia, mas há momentos que são de virada, de inflexão, de reflexão. Em setembro de 2014, iniciou-se oficialmente minha aposentadoria, depois de 39 anos de registro em carteira.

Como grande parte dos aposentados brasileiros, segui trabalhando, não mais registrado, mas fazendo o que me é possível neste momento. É o que fazemos, nós, os velhinhos ainda produtivos: 39,1% dos aposentados de 60 a 69 anos continuam trabalhando; quase 16 milhões se mantêm como arrimo de família, conforme dados do Instituto Data Popular.

Na hora da aposentadoria, muitos de nós paramos para um balanço. “Agora vou fazer o que sempre quis”, sonham alguns; “estou perdido”, desesperam-se outros. Entre sonhos perdidos e choque de realidade, muitos de nós caímos na depressão, ficamos dando voltas sobre nossos próprios quase cadáveres (é como muitos de nós nos vemos ou imaginamos que a sociedade nos vê).

Resolvi enfrentar isso, como você sabe, colocando como meta voltar a treinar para uma maratona, fazer minha primeira maratona como aposentado. Eu, que não vinha fazendo nem dez quilômetros de uma tacada só, partiria para o maior desafio dos corredores olímpicos, a grande jornada de 42.195 metros.

Tive o apoio luxuoso do já citado Instituto Vita, agora com o reforço de uma nutricionista. E voltei a receber orientação do pessoal da Força Dinâmica, grandes estudiosos do movimento humano e cuidados manejadores de cargas para desafiar o corpo, sem machucá-lo.

Pois o desafio para todos eles –e para mim—era conseguir aumentar minimamente a quilometragem semanal sem puxar os gatilhos da dor.

Alexandre Blass, o treinador responsável pelas planilhas e orientação do meu trabalho de força, tratou de criar uma estratégia de combinação de corrida e caminhada; Graziella Cândido, a fisioterapeuta do Vita que mais de perto acompanhou todo o meu processo, cuidou de reforçar a musculatura interior –o dito “core”—e relaxar pontos de tensão ao longo do período de treinamento. Cito os dois como representantes de todo o grupo envolvido.

O resultado foi estupendo, como você, estimado leitor, querida leitora deste blog, já sabe (balanço da corrida no quadro abaixo).



Apesar de ter sofrido muito ao longo do treinamento e de nem sempre ter conseguido cumprir toda a programação feita pelo treinador, cheguei ao dia da maratona com pelo menos a preparação nos três últimos meses prévios executada com galhardia.

Cansei na prova, a musculatura endureceu –mas não travou—e enfrentei comigo mesmo uma batalha de vontades, em que me venci e fui vitorioso contra mim (a meu favor). 

Talvez, se tivéssemos tido mais tempo ou se eu não estivesse tão fragilizado ao longo de boa parte do período de treinamento, pudesse ter realizado mais três ou quatro longos. Isso talvez me permitisse manter por mais tempo a velocidade média dos primeiros 28 km ou 30 km, fazendo com que eu completasse em menos de cinco horas.
Não dá para saber. 

O que dá para saber é que, com o treinamento feito, com uma quilometragem mínima de corridas, é possível enfrentar a distância com um grau suportável de sofrimento, que não chega a ser dor de alguma patologia, apenas o sofrimento muscular normal do cansaço e da sobrecarga.

O que nós fizemos foi muito simples (mas só pôde ser feito graças aos profundos conhecimentos técnicos do Alexandre). TODOS os treinos de corrida foram feitos em blocos que combinavam corrida e caminhada (abaixo, balanço geral do processo).



Os blocos variavam conforme o dia da semana, conforme a distância máxima desejada, conforme a semana de treinamento e a proximidade com a data da prova, conforme minhas dores ou minha condição mais positiva.

Recebi planilhas semanais. Não poucas vezes, elas foram modificadas durante a semana em curso para se adaptar às minhas condições específicas daquela semana (em geral, negativas; mas também houve semanas em que pedi mais treino e fui atendido).

Fizemos blocos de 1.800 metros de corrida por 200 de caminhada (como fiz hoje, a primeira vez que corri desde a maratona), outros de 300 de caminhada por 3.700 de corrida, e até de 500 metros de caminhada por 4.500 metros de corrida.



No total, foram 73 treinos registrados pelo meu relógico com GPS. A quilometragem acumulada, entre caminhadas e corridas, chegou a 780 km –como fiz vários treinos de caminhada sem registro, estimo que, no total geral mesmo tenho sido de 80 a 85 jornadas, com cerca de 850 quilômetros percorridos.

Nesses cinco meses (quatro meses e meio) de treino, a partir de fevereiro, houve um crescendo da quilometragem mensal. Mesmo assim, como você pode ver no quadro abaixo, não é nada que deixe maratonistas experientes abismados; ao contrário: é muito bom ver que quilometragem tão baixa permitiu chegar a um resultado tão positivo.

O segredo talvez esteja na sábia manipulação dos volumes e das cargas semanais, que não foram crescentes, mas sim variadas: cresce uma ou duas semanas, cai, volta a crescer, estabiliza, cai novamente, sobe e assim vai.



O balanço das cargas semana a semana é esclarecedor.

Como dá para perceber, meu ritmo médio geral, considerando todos os treinos, foi de sete minutos e meio por quilômetro (7,5min/km). Isso é o balanço total, misturando treinos de corrida e caminhada, resultados de provas, jornadas de apenas caminhada etc.; e, para surpresa de ninguém, foi quase exatamente o ritmo empregado na prova.

Pelos dados do meu GPS, aliás, minha média foi um pouquinho mais rápida do que a dos treinos: 7,3min/km. Ele considera que a distância que percorri (talvez por idas e vindas ou por não respeitar exatamente o trajeto ideal traçado pelos organizadores) foi de 42,6 km (não 42,195 km).

Com este balanço, concluo o projeto PRIMEIRA MARATONA COMO APOSENTADO. Mas não paro com meus desafios.

Este blog continuará vivo e atento a tudo o que envolve a vida, o trabalho e a política do povo da Terceira Idade, os veteranos, os aposentados, os velhinhos, nóis tudo que tamo aqui. Estou planejando, com meus apoiadores, o desenho de um novo projeto.
Desde já, agradeço ao Vita e à Força Dinâmica pela companhia nesta jornada e pelo incentivo para o que vem por aí.

Vai ser muito bacana, espero que seja também inspirador. Vai ser difícil e caro. Portanto, querida leitora, estimado leitor, se você conhecer empresas ou entidades que estejam dispostas a apoiar a jornada de um aposentado pela vida, contra a depressão, pelo trabalho, contra a doença, pelo prazer e pela alegria, pode me apresentar a eles.

Estamos abertos para conversar sobre diversas formas de apoio para um projeto que, espero, você venha a gostar muito e a apoiar ainda mais do que apoiou esta jornada que ora se conclui.

Muito obrigado por tudo. Fique comigo, acompanhe as novas mensagens que colocarei aqui e não deixe de curtir minha página no Facebook. Clique AQUI para chegar até ela, compartilhe, divulgue.

Vamo que vamo!!!

Agora é já, depois é mais tarde!!!!