8.3.17

Eleonora, mulher amada, idolatrada, salve, salve!!!

Neste 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, saí de casa para um percurso que celebrasse as homenageadas.
Há vários dias penso em um trajeto especial, faço lista com grandes mulheres de nossa história, lembro importantes movimentos femininos. É o básico para esse tipo de homenagem.
No ano passado, por exemplo, fiz uma trajeto até a rua Bertha Lutz, na zona norte de São Paulo, tendo como convidadas a promotora de Justiça Grabriela Manssur e a jornalista Yara Achôa, duas batalhadoras do feminismo de diferentes áreas que se encontraram na corrida (CLIQUE AQUI para saber como foi).
Hoje saí sozinho, buscando caminho que por muitas vezes percorri com a homenageada do dia, de todos os dias, guerreira do povo e da palavra pelo povo: Eleonora, com quem comungo a vida.
Fui até o parque da Água Branca, destino quase semanal da família quando nossas filhas eram pequenas. Brincavam no parquinho, visitavam as galinhas, as tartarugas, os patos, os pavões, a jaula dos macacos, enquanto nós as olhávamos e sonhávamos com o futuro.
Era um caminho dos tantos caminhos das lutas femininas, da jornada humana. Muito teria a contar daqueles tempos e dos dias de hoje, da trajetória de Eleonora.  Só de pensar, porém, me emociono e, no batucar das teclas, embaralho paixões.
Melhor deixar que outros falem sobre a personagem do dia, símbolo que escolhi para homenagear todas as mulheres.
Por isso, reproduzo a seguir trechos de um perfil de Eleonora escrito em 2008 pela grande repórter Célia Chaim, que nos deixou no ano passado. O texto integrava uma série de “portraits jornalísticos” feitos por Chaim para a newsletter “Jornalistas & Cia”, que há mais de vinte anos acompanha o mundo dos profissionais de imprensa
Na apresentação da reportagem, os editores Eduardo Ribeiro e Wilson Baroncelli (que gentilmente autorizaram a presente reprodução), diziam o seguinte da personagem e da produção:
“Ela tem sobre os ombros, já há muitos anos, a responsabilidade de editar o maior jornal do País, a “Folha de S.Paulo”. Discreta, fala mansa, olhar atento, não demonstra a menor intenção de ser notícia. Falar dela, nessas circunstâncias, foi um duplo desafio: vencer de um lado a sua timidez e, sem pleno sucesso, compor uma edição que pudesse retratar de algum modo a sua personalidade e a sua história profissional.
Fosse outro o profissional, talvez essa edição nem saísse.
Mas Célia Chaim, mesmo com alguns problemas de saúde, não se deixou abater e foi à luta, assim que decidimos conjuntamente que o nosso próximo personagem seria ela, Eleonora de Lucena, de quem pouco se ouve falar, mas que tem, pelo cargo que ocupa e pelo trabalho que realiza, uma importância imensa para o jornalismo brasileiro contemporâneo.
Célia valeu-se muito de sua memória, do conhecimento que tinha e tem de Eleonora, dos tempos em que trabalhou na Folha, sob sua direção, e também de pesquisa, de depoimentos de amigos e de conversas com a própria Eleonora, que embora tenha aceitado participar do
nosso projeto, em nenhum momento sentiu-se à vontade em se expor.
Tanto ou mais do que Tostão, nosso outro personagem tímido, que valeu uma edição deliciosa, esse pequeno perfil de Eleonora é mais uma peça de bom jornalismo que a nossa editora-contribuinte, Célia Chaim, entrega e que nós temos a satisfação de compartilhar com nossos leitores.”
Dito isso, apresento a seguir os principais trechos do perfil publicado em uma edição especial da “Jornalis&Cia” em 7 de novembro de 2008. Na época, como já ficou claro, Eleonora ainda trabalhava na “Folha”. Demitida em 2011, ela seguiu colaborando com o jornal até o ano passado, quando a empresa decidiu rescindir o contrato de produção de conteúdo. Hoje, aposentada, Eleonora trabalha por conta própria na produção de uma biografia do capitão Carlos Lamarca.  
Bom, vamos ao texto de Célia Chaim.

“Eleonora de Lucena, editora-executiva da Folha de S.Paulo, é maratonista todos os dias para fechar o maior jornal do País. São muitas editorias – Política, Brasil, Cultura, Esportes, Cotidiano e por aí vai. São grandes colunistas, escritores, intelectuais. De Carlos Heitor Cony ao debochado e imprescindível José Simão.  A Folha é um pequeno mundo e uma enorme redação, com cerca de 300 pessoas.
Ela trabalha muito.
Mas não é só trabalho. Festejou seus 50 anos com um churrasco gaúcho – tido como o melhor do Brasil – preparado pelo marido (há 29 anos) Rodolfo Lucena, editor de Informática da "Folha", o mais eclético jornalista que conheci na minha vida. Logo, logo você saberá por quê.
Essa gaúcha clarinha, bonita pela própria natureza, veio parar em São Paulo depois de algumas experiências jornalísticas, entre elas no jornal “Zero Hora” Hora.
Caiu num ninho de coisas desinteressantes (quem é responsável pelo termo “desinterassante” sou eu, que na época
trabalhava nas revistas da “Gazeta Mercantil”) e, depois de algum tempo, foi para a Folha, primeiro como repórter, depois como editora de Economia e em seguida como editora-executiva.
Anos atrás, quando o pessoal da Folha era “o pessoal da Folha”, quando um dos muitos chefões era chamado pelo mercado de “leão da selva” e Matinas Suzuki Jr., super-moderno, a estrela do jornal, Eleonora, ali no seu espaço de Economia, chamava a atenção pela competência quase muda – bem do jeito que ela é. Editora-executiva –quem viu nãoesquece –, passou ilesa pelas repentinas bajulações.
Talvez, como diria minha mãe, Eleonora tenha “it”, expressão antiga que aparece no Aurélio como “magnetismo”, algo que não se compra nem se empresta.
Um a zero para Alcina, minha mãe, um dicionário falante de expressões de uso antigo, dona de uma aritmética que a permitiu passar vários anos nos 38 e que agora emperrou nos 70.
Eleonora não fala nada disso.
É discreta demais, simples, sabe lidar com situações as mais inusitadas, e assim, com competência, contribuir muito para a ascensão do jornal.
Por conta da função, é ligada em todas as editorias – Brasil, Política, Esporte, Cultura, Comportamento, Tecnologia e sabe-se lá mais o quê. Uma baita responsabilidade.
Mas ela não fica sem dormir. Chega em casa feliz da vida por ter feito mais uma boa edição. Chega leve, sem empurrar para um e outro as mazelas do dia.
Como chefe, não hesito em colocá-la na minha memória ao lado de quatro outros pelos quais ainda sou apaixonada: Zuenir Ventura, Ricardo Setti, Orivaldo Perin, e o italianíssimo, barulhento, genial Mino Carta.
É pouco? É pouco porque são poucos mesmo –ao menos para a minha experiência. E posso citá-los sem nenhum constrangimento porque não estou à procura de emprego.
Sobre Eleonora, Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha, intelectual educado, crítico do jornalismo, diz: “Eleonora é uma excelente profissional de jornalismo. É inteligente, tem uma boa formação em história, sobretudo história econômica, é organizada e trabalha muito. Conhece bem a Folha, onde trabalha há quase 25 anos, tendo exercido com êxito funções de repórter, redatora, editora e secretária de Redação. Tem uma clara noção estratégica a respeito do jornal. Escreve bem. É muito ciosa quanto a aspectos éticos da profissão e cultiva uma simplicidade de hábitos que se coaduna com imagem da Folha”.
Eleonora tem uma legião de jornalistas que a colocam nas nuvens pela competência com que comanda o maior jornal do Brasil. Outros a criticam nos bastidores. Muitos certamente
porque sonham em ocupar o cargo dela. Soltam flashes invejosos sobre sua atuação – um tipo muito comum na praça. Outros a criticam porque acham que deveria ser mais ousada, mais rebelde às regras da casa. Alguns ainda porque gostam de criticar tudo. Os críticos rinocerontes chegam à covardia de – isso em 2008 – dizer que um homem é sempre
melhor no comando. Devem ser daquele tipo que xingam mulheres ao volante.
Eleonora é ela e qualquer  comentário a favor ou contra não a tira do trilho. E pronto!"

Eleonora de Lucena na sabatina de Lula, candidato á presidência da República, em 2002 - foto Antônio Gaudério

A edição de “Jornalistas&Cia” dedicada ao perfil de Eleonora de Lucena era cheia de firulas, com vários textos encadeados –inclusive artigos da própria personagem. A certa altura, Célia Chiam traz depoimentos de jornalistas que trabalharam com Eleonora em algum momento. 
A seguir, reproduzo a fala de Matinas Suzuki Jr.:
“Trabalhei com a Eleonora na redação da Folha por mais de 15 anos, desde o lançamento do primeiro caderno de informática da imprensa brasileira, no início da década de 1980. Ela foi sempre uma presença necessária, que trazia equilíbrio, sensatez, discrição e conhecimento técnico (sobretudo na área de Economia), ali, onde, do nosso lado, era quase sempre desejo de ruptura, vontade de fazer barulho e de correr riscos nem sempre bem calculados.
Eleonora carregava com ela o segredo dos bons editores, a sabedoria que se transmite silenciosamente, geração após geração: esta sabedoria que ensina que  um grande jornal se constrói carregando pedras todos os dias, com paciência e perseverança – e é tarefa de gente
dedicada, que conhece a grandeza de ser quase anônima.”

Você pode acompanhar a íntegra da edição especial de "Jornalistas&Cia" com o perfil de Eleonora CLICANDO AQUI.

Bem, era o que eu tinha para dizer.

Não, pera aí, faltou uma coisinha: Eleonora, eu te amo!

VAMO QUE VAMO!!!


Percurso do dia 8 de março de 2017
7,35 km percorridos em 1h24min34

Acumulado no projeto 60M60A
552,04 km percorridos em 102h11min30


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