Mulheres,
homens, jovens e até uma criança de colo, levada em carrinho de bebê, participaram
na manhã desta sexta-feira de Carnaval da MARATONA FORA TEMER, nome que
militantes do movimento dos trabalhadores sem teto deram para a atividade
esportiva que realizamos hoje no #OcupaPaulista.
Montado
pelos sem-teto no dia 15 de fevereiro, o acampamento na avenida Paulista, em
frente ao escritório paulistano da Presidência da República, marca a decisão do
MST de não arredar pé da luta por moradia e de denunciar as investidas do
governo golpista contra os direitos e os interesses do povo trabalhador.
Mais de
duzentas pessoas estão nos barracos montados na esquina da Paulista com a rua
Augusta, participando de programação política e cultural que inclui palestras
de políticos e dirigentes sindicais assim como apresentações de cantores e
poetas.
Na manhã de
hoje, a turma dos Corredores Patriotas Contra o Golpe foi dar sua colaboração.
Criamos o Despertar Esportivo no #OcupaPaulista, que teve como destaque a
Maratona Fora Temer!!! –uma animada caminhada acelerada ou trote justo, como
queira, percorrendo alguns quarteirões da avenida, inundando de som o vão do
MASP (Museu de Arte de São Paulo), transformando o farfalhar de tênis e
chinelos no asfalto em afirmação de disposição de luta.
A atividade
começou com uma brincadeira para aquecer os corações, animar a turma e chamar
quem quisesse vir para a brincadeira. Com musiquinha quase carnavalesca marcada
pelo conhecido ritmo do “pórópópó”, ninguém do grupo conseguiu ficar parado.
Foi a deixa
para o educador físico Jopa Fiuza, dos Corredores Patriotas, tomar o comando
das ações. Deu explicações sobre a necessidade de a gente se movimentar,
arrumar o corpo e organizar o espírito para enfrentar com mais galhardia os
perrengues e desafios cotidianos.
Comandou uma
atividade divertida, uma brincadeira de roda que, de mansinho, deixou todo
mundo mais alegre e já começando a sua. Com mais alguns alongamentos e um agito
para esquentar o corpo, estávamos prontos para começar a caminhada.
Daí foi a
vez de Clayton Veloso, corredor do MTST que já tem algumas São Silvestre no
currículo, organizar a turma para sairmos em uma coluna bem bacana. Não uma
fila de colegiais, mas sim fileiras de militantes caminhando juntos.
Ao som do
pórópópó, com gritos de “Fora, Temer!” e muitas palavras de ordme do movimento,
nossa coluna avançou pela Paulista. A caminhada logo se transformou em trote
sereno e firme, mostrando a disposição da turma.
Foi a
primeira vez em que participei de uma jornada desse tipo, ainda que já tenha colaborado
com a organização de caminhadas e corridas em áreas de atividades de movimentos
populares.
O que mais gostei foi que qualquer um no grupo se sentia à vontade
para puxar palavras de ordem.
Com isso, a cada momento mudava o líder ou
animador do grupo, cada um que chamava os companheiros para a ação, apesar de o
trio de abre-alas ser o responsável para dar o ritmo da maratona Fora Temer!
Assim, ouvi
a voz firme de um garoto que estava na segunda fila, assim como o canto de
mulheres mais no meio do grupo e o chamado feito por um senhor mais velho –acho
que era meu único parceiro sexagenário na caminhada de hoje.
A
participação das mulheres foi marcante--no olhômetro, acho que formavam a maioria de nosso grupo. Uma levou
seu bebê num carrinho, procurando sempre se manter o mais próximo possível do
grupo.
Elas puxaram
o grito de alerta, aviso, advertência: “Nem recatada e nem do lar, a mulherada tá
na rua prá lutar!”
Com esse espírito,
seguimos todos de volta para o acampamento no que foi o mais curto percurso de
toda a jornada deste meu projeto de percorrer, ao longo do ano, distância
equivalente à de sessenta maratonas.
Se a distância foi pequena, a energia foi
fenomenal, assim como a parceria, a diversão e o entusiasmo.
Fica aqui
uma pequena demonstração das brincadeiras e do alegre suor despejado na
Paulista ao longo do Despertar Esportivo da manhã de hoje. Clique no vídeo
abaixo, montado com imagens captadas por Eleonora de Lucena, e aproveite...
Até quando é possível correr? Com que idade é mais prudente
descalçar os tênis e deixar de lado os calçados de corrida, os meiões, o
cronômetro, a caneta gravando quilômetros?
Sabe-se lá. De vez em quando, alguém deita falação sobre
isso, baseando-se em argumentos supostamente científicos.
Ou, sem quaisquer argumentos, filhos, parentes e amigos
infernizam a vida do corredor provecto dando-lhe a gentil informação de que ele
ou ele não é mais crianças e deveria parar com essas aventuras.
Filho de lavradores, João Rosário é prova viva de que a
diversão não precisa parar nunca –ou, pelo menos, não antes que a gente queira.
Preparando-se para, em dezembro próximo, completar 90 anos, corre pelo menos
três vezes por semana, dedicando outros dias para caminhadas e trabalho de
força.
Os exercícios especiais variam. Agora, por exemplo, tem se
dedicado, pelo menos uma vez por semana, a treinos subindo e descendo as
escadarias em seu prédio de dez andares. Se os joelhos aguentarem, diz ele,
pretende participar de uma prova nas escadarias do Monte Serrat, em Santos.
Foto Eleonora de Lucena - 12 de fevreiro de 2017
Ele foi um dos corredores que me deram a honra de
compartilhar comigo a etapa final do projeto 600 quilômetros aos sessenta anos.
No último dia 12, corremos juntos na avenida Paulista, e hoje fui correndo até
a casa dele, em Osasco, para agradecer sua presença.
Encontro de corredores em apartamento não funciona. Saímos
os dois até um belo parque nas redondezas, o parque Fito, onde rodamos alguns quilômetros
por uma alameda tranquila, coberta de sombra.
Conseguimos não ser atacados pelo exército de gansos que
circula na área, protegendo seus domínios com energia, e conversamos um monte
sobre as corridas do passado e nossos sonhos para o futuro.
Rosarinho, por exemplo, está planejando como será o cartaz
que vai levar na São Silvestre deste ano, que será parte dos festejos de seu
nonagenário –nasceu no dia 20 de dezembro de 1927.
Organiza ainda planos para mais além: já escreve as linhas
do poema que vai declamar para sua muito amada Elza nas bodas de diamante do
casal, que vai completar em 2019 sessenta anos de casório.
Em entrevista transmitida ao vivo na manhã de hoje, ele
contou um pouco de suas experiências e ainda declamou o Poema do Corredor e
trecho da poesia com que pretende saudar a permanência do casal. Guardei o
vídeo especialmente para você; clique na imagem abaixo e se delicie com a
sabedoria e a alegria do Dr. Rosarinho.
VAMO QUE VAMO!!!
Percurso do dia 23 de fevereiro de 2017 - Trajeto A – até Osasco
Juízes, promotores e até advogados de defesa não dão a menor
bola quando ouvem presos denunciarem torturas sofridas na mão da polícia. É
tudo quase natural –aliás, em alguns casos, nem as próprias vítimas se dão ao
trabalho de apontar os maus tratos, carecas de saber que ninguém vai levar o
caso à frente.
No trato com os presos, os juízes, supostamente os atores
mais bem preparados no processo judicial, demonstram não apenas frieza, mas
franca hostilidade contra os acusados.
Um deles, por exemplo, perguntou: “Um tapa na cara, só?” ou
ouvir denúncia de maus tratos. Outro foi mais além, inquirindo assim o acusado:
“Só choque? Você ficou com alguma lesão? Chute também? Você falou para o
delegado que levou chute? Do nada eles te agrediram?”
E olha que os acusados não são sequer réus em qualquer tipo
de processo, mas sim cidadãos detidos pela polícia sob suspeita de algum crime
e levados à Justiça para que o juiz decida se os procedimentos legais devem
prosseguir e em que condições a pessoa vai responder ao processo, se preso ou
em liberdade.
São as chamadas AUDIÊNCIAS DE CUSTÓDIA, uma medida muito
positiva implementada no país pelo Conselho Nacional de Justiça, que determinou
a apresentação de pessoas presas em flagrante a um juiz em até 24 horas. O
objetivo é evitar prisões ilegais e identificar abusos ocorridos no momento da
detenção.
Tudo muito lindo, desde que seja tratado com a seriedade que
o tema merece. E que não tem sido dada a ele pelos envolvidos no processo, como
demonstra pesquisa divulgada hoje pela Conectas, uma ONG que atua na área de
direitos humanos.
A apresentação foi no Memorial da Resistência, destino de
minha corrida d ehoje, que me deu muita satisfação. Corri sem dor todos os
trechos previstos e ainda acrescentei algumas centenas de metros a mais pro
minha conta para aproveitar alguns lugares bacanas por onde passei.
Foi delicioso, por exemplo, cruzar o viaduto Antártida por
sobre os trilhos do trem, seguindo pela ciclovia quase vazia –rima rica,
hein... Corri o viaduro inteiro, sem dor e bebendo as imagens em volta, tudo
coisa feia, sem graça, disforme, que no conjunto, cria um pedacinho de cidade
curiosa e instigante.
Depois cruzei pela rua Norma Pieruccini Giannotti, que
sempre me traz boas lembranças pois fica no percurso da São Silvestre. Aliás,
em todas as vezes que cruzei por ela, vinha-me sempre a pergunta à mente: quem
foi, afinal, essa Norma?
Imaginava alguma heroína, figura atuante na política, na
ciência ou na literatura, sabe-se lá. E justo hoje resolvi tentar descobrir. Perdoe-me,
portanto, esse breve digressão.
Mãe extremosa, dona de casa perfeita, Norma atuou no apoio
aos necessitados do bairro da Barra
Funda, onde morou durante quase toda sua vida. Morta em 1985, aos 82 anos, foi
homenageada pelos moradores da rua Lusitânia, que pediram e receberam a troca
de nome.
Na justificativa do projeto de lei aprovado na Câmara
Municipal no ano seguinte, o currículo de Norma é uma pérola do machismo que
grassa na sociedade. Ela vale porque foi casada, porque teve um marido com quem
ficou por sessenta anos, porque foi mãe, teve dois filhos que se formaram e se
tornaram cidadãos ilustres.
Sobre Norma, ela mesmo, o currículo quase nada diz. Em meras
cinco linhas da página inteira cheia de letras, ficamos sabendo que era “dotada
de excepcionais qualidades” e que “desenvolveu junto a comunidade amplo
trabalho de assistência social, em favor dos necessitados e carentes”.
Finda a digressão, volto ao percurso. Passo pelo bosque da
Luz, que abraço e penetro, cruzando a seguir pela centenário prédio da estação
de trem e enfim chegando ao conjunto da antiga estação Júlio Prestes.
Além da parada do caminho de ferro, fulguram por ali a Sala
São Paulo, a Estação Pinacote e, no mesmo prédio desta última, o Museu da
Resistência, onde conversei com Vívian Calderoni, uma das coordenadoras da
pesquisa realizada pela Conectas Direitos Humanos.
O trabalho, me contou ela, que é uma jovem advogada, é
resultado de monitoramento presencial e quase diário em audiências de custódia
realizadas no Fórum Criminal da Barra Funda, observando audiências realizadas
de julho a novembro de 2015 acompanhando o encaminhamento das denúncias de
violências de dezembro de 2015 a maio de 2016.
Foram analisados 393 casos em que houve relatos ou sinais de
torturas ou maus tratos. O perfil das vítimas é o conhecido PPP (preto, pobvre
e da periferia). Em números: homens são 95% dos denunciantes de tortura, dos quais
67% são negros.
Com habilidade e clareza, Vivian Calderoni falou mais sobre
a pesquisa em entrevista que transmiti ao vivo na manhã de hoje e que agora trago
aqui especialmente para você. Basta clicar na imagem abaixo para acompanhar
nossa conversa.
Com o que pretendia encerrar este texto, considerando que
você já tem agora todas as informações básicas. Mas, se quiser, pode saber mais
ainda, conferindo o texto completo do relatório “TORTURA BLINDADA – Como as
Instituições do Sistema de Justiça Perpetuam a Violência nas Audiências de
Custódia”. CLIQUE AQUI para ter acesso ao documento.
Se quiser ir logo para os finalmente, reproduzo a seguir as
recomendações feito pela turma da Conectas para que as audiências de custódia
deixem de ser desperdício do dinheiro público e passem a ser efetivos meios de
defesa dos direitos humanos e aprimoramento do sistema judicial brasileiro.
RECOMENDAÇÕES
“1. As audiências de custódia devem ser aplicadas a todas as
pessoas presas, independentemente do crime que baseia a detenção e do dia,
horário e local em que ocorreu o flagrante.
2. As audiências de custódia devem ser realizadas
presencialmente em ambiente seguro que permita a coleta de relatos de tortura e
maus-tratos sem pressão e coação. A pessoa presa não deve ser algemada. Policiais
militares não podem estar presentes nas audiências nem nas entrevistas prévias
com o defensor público. A linguagem utilizada pelos representantes do sistema
de Justiça deve ser simples.
3. A chamada audiência-fantasma, realizada quando a pessoa
presa está hospitalizada, não deve acontecer em nenhuma hipótese. Quando não
houver a apresentação da pessoa presa em razão de internação ou atendimento
médico, deverá ser determinada sua apresentação à audiência de custódia imediatamente
após a alta hospitalar, além da instauração de procedimento para apurar possível
violência policial. A justificativa para a não apresentação deve ser respaldada
por laudo ou relatório médico detalhando as razões da internação, extensão de
possíveis lesões físicas e psicológicas, assim como, se possível, o que as
teria causado.
4. Os juízes devem questionar a pessoa presa sobre a
ocorrência de tortura e maus-tratos em
todas as audiências, pedindo detalhes que auxiliem na
apuração dos fatos. A atuação dos magistrados deve seguir a resolução 213 do
CNJ.
5. Os relatos de violência policial apresentados nas
audiência de custódia devem ser tabulados
e sistematizados pelo Judiciário visando subsidiar políticas
públicas de prevenção e combate à
tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos e
degradantes.
6. Os promotores devem perguntar obrigatoriamente sobre a
ocorrência de tortura e maus-tratos e, em caso de resposta positiva, buscar
novos elementos de prova para a apuração do crime. Devem, ainda, instaurar
procedimento investigatório criminal ou determinar a instauração de inquérito
policial, quando houver suspeita, ou apresentar denúncia imediatamente quando
houver indícios suficientes.
7. Os defensores públicos devem dispor de um espaço adequado
para a entrevista prévia, em
que devem questionar, obrigatoriamente, se a pessoa foi
vítima de tortura e maus-tratos. Devem, ainda, informá-la sobre os possíveis
encaminhamentos para a apuração da violência.
8. A Defensoria deve tabular todas as denúncias relatadas na
entrevista prévia, mesmo que a pessoa opte por não mencioná-las na audiência, a fim de
produzir dados para subsidiar políticas públicas de prevenção e combate à
tortura.
9. Quando houver suspeita fundamentada de ocorrência de
tortura ou maus-tratos, deve ser garantida a integridade física da pessoa presa, de seus
familiares e de eventuais testemunhas. A pessoa presa não deve retornar à
guarda de agente públicos suspeitos.
10. Diante de relato de violência policial (física ou
psicológica), a Magistratura, o Ministério Público e a Defensoria Pública
deverão formular quesitos específicos para a elaboração de laudo de exame de
corpo de delito. Esses critérios deverão fazer parte do ofício de
encaminhamento ao Instituto Médico Legal. Esse documento deverá, ainda,
informar o tipo de violência que a pessoa narrou ter sofrido, de modo a
contribuir com a qualidade do exame.
11. A perícia deve ser realizada em ambiente equipado nos
termos do Protocolo de Istambul.
Sempre que necessário, exames complementares para atestar a
extensão dos ferimentos ou a existência de lesões de difícil constatação devem ser
solicitados.
12. A perícia forense deve estar integrada às políticas de
combate e prevenção e combate à tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos
e degradantes, sendo fundamental o fortalecimento do Instituto Médico Legal
como instituição independente e autônoma da Secretaria de Segurança Pública
estadual.”
O governo Temer vai
cortar verbas do programa brasileiro de atletismo. A Caixa Econômica Federal,
principal mecenas no setor, ainda não renovou seu contrato com a Confederação
Brasileira de Atletismo; quando o fizer, será em valores inferiores ao do ano
passado, diz a CBAt. Um dos programas prejudicados é o apoio aos corredores de
rua de elite, cujo futuro está, no mínimo, indefinido.
Os cortes foram confirmados pelo presidente da
Confederação Brasileira de Atletismo, José Antonio Martins Fernandes, em mensagem
que mandou para mim nesta segunda-feira (20.2) respondendo a perguntas enviadas
por e-mail.
Fernandes disse que até agora o contrato da CBAt com a
Caixa não foi renovado, o que era voz corrente entre atletas e treinadores nos
últimos dias e vinha provocando muita preocupação sobre o futuro dos corredores
de rua de alto rendimento.
Um treinador, que pediu para não ser identificado, disse:
“Veio a surpresa. Nenhum atleta receberá a verba prevista no regulamento, ou
seja, CBAt e Caixa Econômica Federal não cumpriram com o compromisso firmado
diante de um contrato publicado inclusive no site da CBAt. (...) Não acho justo
às vezes atletas deixarem de comer para realizar um sonho e dois órgãos de alto
nível nacional e internacional fazer uma vergonha dessa com nossos atletas”.
De acordo com o regulamento do Ranking, os três mais
bem classificados em cada categoria –masculino e feminino – recebem prêmio em
dinheiro. A cerimônia de entrega está marcada para o dia 30 de março. O campeão
leva R$ 10 mil, o segundo colocado, a metade, e o terceiro recebe prêmio de R$
3.000.
Além disso, diz o regulamento, “os dez (10) melhores
colocados no Ranking CAIXA CBAt em 2016, tanto no masculino como no feminino,
integrarão o Programa Nacional CAIXA de Apoio a Corredores de Rua de Elite da
CBAt para o ano de 2017, em conformidade com critérios a serem estabelecimentos
pela CBAt”.
Atletas de alto rendimento acreditam que isso não está
assegurado porque o contrato com a Caixa não foi ainda renovado.
Fernandes confirma: “De fato, não temos o contrato
assinado com a Caixa, até esta data.”
Diz, porém, ter recebido informação da Caixa dando
conta de que contrato seria renovado, com cortes de cujas dimensões ele ainda
não tinha conhecimento. Isso vai provocar enxugamento em todos os programas da
CBAt e até demissões no quadro de funcionários da entidade.
“Ainda não sabemos os valores, mas será com valores menores
do que no ano de 2016, portanto todos os setores da CBAt terão cortes nos seus
programas, atletas olímpicos, administração, federações, corte de pessoal.
Logicamente este Programa de Corridas de Rua também irá sofrer cortes”, diz o
texto da mensagem enviada pelo presidente da CBAt.
Ele afirma: “O Programa de Corredores de Rua foi pago
durante o ano de 2016, resta apenas a premiação que será paga na festa
(jantar), no dia 30 de março, a qual todos os atletas foram avisados desse
jantar, assim como ocorreu no ano anterior. Portanto o programa foi realizado e
pago relativamente no ano de 2016.”
De fato, porém, a ajuda de custo mensal paga em 2016 atendeu
aos atletas vencedores do ranking de 2015. Os atletas vencedores do ranking de
2016 devem receber a ajuda de custo mensal ao longo deste ano, como consta do
regulamento, que não especifica o valor da mensalidade.
E é esse dinheiro que será cortado, como deixa claro o
texto do presidente da CBAt: “Quanto ao Programa de 2017, estamos em reunião a
partir desta semana, com a Caixa, para ver qual a orientação sobre o Programa,
mas haverá sim corte na verba e portanto os valores serão revistos”.
Fernandes acrescenta ainda que o governo Temer está
atacando todo o mundo esportivo, reduzindo fortemente o apoio até agora dado
por empresas estatais: “Todas as entidades esportivas (confederações) estão
tendo cortes expressivos de verbas das estatais, não seria diferente com o
Atletismo”.
Os 20 atletas vencedores do Ranking CAIXA CBAt de
Corredores 2016 são os seguintes: Maria Regina Santos Seguins, Maria Aparecida Ferraz,
Rosiane Xavier dos Santos, Marizete Moreira dos Santos, Joziane da Silva
Cardoso, Luzinete Andrade dos Santos Miranda, Rozilene Silvestre de Jesus,
Conceição Maria Carvalho de Oliveira, Adriana Domingos da Silva, Erika Maria
José Vieira, Wellington Bezerra da Silva, Pablo Fagundes da Costa, Fabio Ramos
dos Santos, Jonilson Pinto Prates, Vagner da Silva Noronha, Samuel Ribeiro, Mercio
Silva Ferreira, Jurandyr Couto Junior, Willian Salgado Gomes, Ronaldo Ferreira
Lopes.
Leia abaixo a íntegra da mensagem de José Antonio
Martins Fernandes, presidente da CBAt, data de 20 de fevereiro.
A Caixa até
agora não respondeu aos vários e-mails que enviei à sua assessoria de imprensa
no dia 9 de fevereiro.
“Prezado Rodolfo Lucena
Existem muitos boatos falsos em todas as
áreas profissionais, no caso do Atletismo também existem. De fato, não temos o
contrato assinado com a Caixa, até esta data.
Mas fomos informados pela Caixa que o contrato com o Atletismo será
renovado, ainda não sabemos os valores, mas será com valores menores do que no ano de 2016, portanto todos os
setores da CBAt terão cortes nos seus programas, atletas olímpicos,
administração, federações, corte de pessoal.
Logicamente
este Programa de Corridas de Rua também irá sofrer cortes.
O
Programa de Corredores de Rua, foi pago durante o ano de 2016, resta apenas a
premiação que será paga na festa (jantar), no dia 30 de março, a qual todos os
atletas foram avisados desse jantar, assim como ocorreu no ano anterior. Portanto o programa foi realizado e pago
relativamente no ano de 2016.
Quanto
ao programa de 2017, estamos em reunião a partir desta semana, com a Caixa,
para ver qual a orientação sobre o Programa, mas haverá sim corte na verba e
portanto os valores serão revistos.
Todas
as entidades esportivas (confederações) estão tendo cortes expressivos de
verbas das estatais, não seria diferente com o Atletismo.
O
Brasil passa por grave crise política e financeira, então todos teremos de
fazer um esforço enorme para nos adequarmos à situação atual.
Antes de começar o texto de avaliação do mais novo calçado
de corrida da maior fabricante de equipamentos esportivos do mundo, permita-me festejar com você: completei hoje
percurso equivalente –de fato, superior—ao de dez maratonas somadas e empilhadas.
Faltam, portanto, outras cinquenta para a consecução de meu projeto 60
MARATONAS AOS 60 ANOS. Fique comigo, chegaremos lá.
Já há mais de quinze dias venho me dedicando a testar o mais
recente modelo da família de tênis de corrida Vomero, da Nike. A fabricante
norte-americana apresenta o calçado como
“indicado para treinos longos, de velocidade e progressão”.
Diz ainda que o modelo 12 dessa linha apresenta “equilíbrio
perfeito entre suporte adaptativo e amortecimento responsivo”, seja lá o que se
possa entender desta última característica. Mas deve ser muito mega blaster,
porque contribui para fazer do tal calçado um dos mais caros modelos de corrida
da Nike, custando cem reais a mais do que os tênis da linha Pegasus, que
considero os melhores que a empresa fabrica.
Acompanho a evolução da linha Vomero desde a década passada.
Uma das avaliações que fiz integrou reportagem de página inteira publicada no
caderno “Vitrine”, da “Folha de S. Paulo”, em 2007.
Tive oportunidade, nos últimos dez anos, de testar várias
edições dessa família. De modo geral, apenas consolidei a opinião emitida
inicialmente, de que o tênis era muito confortável, mas fofo demais para ser
confiável.
Ainda que oferecendo ótimo amortecimento, faltava-lhe
estrutura, firmeza. Correr com ele em descidas acentuadas foi um risco nas
várias oportunidades em que fiz testes com o Vomero nos últimos anos –foi uma
das observações que fiz no texto publicado na “Folha”, por sinal.
Por tudo isso, a experiência dos últimos dias com o Nike Air
Zoom Vomero 12, que é o nome completo do modelo atual da família, tem sido surpreendente.
A fofura está lá, como esperado, assim como o conforto geral
e a largura aceitável na parte da frente do pé (podia ser melhor), dando ao
Vomero 12 uma aparência geral que inspira confiança para corredores mais
pesados, como é o meu caso.
Agora, porém, diferentemente do que ocorreu com os modelos
que testei anteriormente, a confiança não se esfumaça quando a gente calça os
tênis e caminha ou corre ladeira abaixo. A fofura do Vomero agora está mais
sustentada por uma estrutura mais firme do que a vista em modelos anteriores, o
que faz do 12 o melhor de sua família que já passou pelos meus pés.
Das caminhadas e corridas que fiz com o novo modelo dessa
linha de bom amortecimento, só tenho elogios a fazer. O tênis é bem confortável
e macio, com amortecimento extra na parte da frente do pé –coisa que, ao que eu
saiba, foi lançada na década passada pela linha Dyad, da Brooks, que eu adorava.
Independentemente de quem tenha sido o “pai” dessa
construção, acho ótimo que mais modelos de calçados de corrida tragam amortecimento
na área do antepé, que sofre bastante nas corridas (o Pegasus mais recente
também apresenta essa carecterística).
O fato de só ter elogios para o desempenho do Vomero 12 não
significa que ele não apresente problemas. O principal me parece ser um vício
da construção dos calçados Nike em geral: a falta de largura no antepé. Não são
tão afilados como costumam ser os calçados da Adidas, mas carecem de amplitude.
O tênis que experimentei estava ótimo no meu pé, mas isso
talvez seja porque fiz os testes com o tamanho 12, quando em geral uso 11,5
(numeração norte-americana). Isso pode ser indicador da modéstia das proporções
do molde do Vomero. Se você decidir comprar um, sugiro que experimente um
número maior do que o que costuma usar.
Longe de ser um modelo minimalista, o Vomero 12 é um calçado
grandalhão para corredores grandes. O custo
também é de amplas proporções: R$ 599,90 é o preço de lista, mas dá para
encontrar por menos pela internet.
Sua sola é grossa, sendo um centímentro mais alta no calcanhar
em relação à parte da frente (drop de 10 mm). Pesa 334 gramas (42, masculino),
cerca de dez por certo a mais do que o Pegasus mais recente. Nos testes, não
senti diferença.
Em resumo, o novo modelo pode ser saudado como um avanço e
melhoria na linha. Tomara que siga nessa passada.
O pé torcido não me impediu de sair hoje para correr.
Dois dias de repouso foram suficientes para diminuir bastante a dor; ainda que
o pé não esteja completamente recuperado, dá para fazer caminhadas e dar breves
trotes. Ele precisa se regenerar com o movimento.
E minha jornada de hoje foi muito movimentada. Comecei
rodando pela avenida Doutor Arnaldo. Pude observar que os muros do cemitério do
Araçá já recebem pichações contra as mudanças no sistema de aposentadoria que o
governo golpista pretende impor à nação.
Fiquei satisfeito em ver linhas cor-de-rosa anunciando:
“Mulheres contra a Reforma da Previdência!”.
Fica aqui, pois, enquanto corro, uma saudação a essas
mulheres de luta.
Enveredando pela avenida Paulista, passo por barracas
construídas complástico preto, papelão,
cordão e pedaços de madeira. É o acampamento do Movimento dos Trabalhadores Sem
Teto, instalado em frente à sede da Presidência da República em São Paulo.
O movimento, chamado Ocupa a Paulista, começou na
última quarta-feira (15.2) em grande estilo, com uma enorme passeata reunindo
mais de trinta mil pessoas e comandada por Guilherme Boulos, principal dirigente
do MTST (foto abaixo).
“Se os governantes não vierem falar com a gente,
teremos um novo endereço a partir de hoje: a Avenida Paulista. Ou a gente sai
daqui com resolução, ou a gente vai morar aqui", foi a afirmação de
Boulos.
Trata-se de um protesto contra as modificações feitas
pelo governo golpista no programa de habitação popular. Com as mudanças, foram
prejudicados, no entender do MTST, exatamente os mais necessitados, as famílias
enquadradas na faixa 1, com renda de total de até 1.900 reais, que representam
84% do povo sem casa no Brasil.
"As 600 mil moradias anunciadas por Temer foram
para outra faixa da população. Aumentaram o limite de crédito do Minha Casa
Minha Vida para R$ 9.000,00, ou seja, transformaram um programa social em
programa de crédito imobiliário para financiar casa própria para setores que
não são os mais necessitados, que não são os sem-teto e não são aqueles que
mais precisam de moradia no Brasil", afirma o texto de convocação da
manifestação.
Agora, algumas centenas de pessoas se reúnem no
acampamento, que todos os dias vem recebendo artistas, intelectuais e representantes
de movimento, que fazem shows, dão aulas e participam de rodas de conversa como
forma de apoiar a turma dos sem teto.
Também passei por lá hoje para levar um abraço para o
Boulos, que não tinha chegado ainda.
Em compensação, encontrei um grande amigo,
o militante do MTST e corredor de quatro costados Clayton Veloso, veterano de
várias São Silvestres e um montão de corridas de rua aqui em São Paulo.
Ele estava atuando como uma espécie de segurança na
área do dormitório do acampamento, mas tirou um tempinho para conversar com a
gente e contar um pouco do que rolava no acampamento.
Fiz uma transmissão ao
vivo de nosso bate-papo, que agora está disponível nas redes sociais; para
facilitar, uma cópia pode ser vista a seguir. Clique para assistir ao vídeo.
No vídeo não tive muito tempo para apresentar de forma
mais adequada o meu entrevistado. Aproveito agora para contar um pouco mais
sobre essa figura simpática e dedicada ao movimento.
Eu conheci o Clayton em Taboão da Serra (Grande São
Paulo), no condomínio João Cândido, que
foi o primeiro conjunto habitacional construído diretamente sob a orientação do
MTST.
Os 192 apartamentos do complexo foram entregues pelo
MTST em dezembro de 2014. Na época, conforme registrou a imprensa, Boulos
afirmou que aquela modalidade de obra, supervisionada pelos movimentos
populares, tinha mais qualidade do que os trabalhos de empreitaras contratadas
para o programa Minha Casa, minha Vida:
“Não tenho dúvidas de que quando fazemos algo com
dignidade, as pessoas valorizam. Muita gente diz por aí que, no Minha Casa,
Minha Vida, a turma ganha o apartamento e vende. Quando você joga o cara num
lugar longe, com o apartamento numa caixinha de fósforo, que não cabe nem uma
cama no quarto, é difícil reclamar que ele vá vender. Agora, vamos voltar aqui
daqui a cinco anos e ver se alguém terá vendido. Tenho certeza de que nós vamos
encontrar essas mesmas pessoas aqui, morando nesses apartamentos", disse o
dirigente do MTST.
Tive oportunidade de visitar o conjunto no final do
ano passado, quando começamos os primeiros passos de um projeto novo, que ainda
está embrionário, o MARATONANDO COM O MTST.
Aquecimento pré-caminhada com moradores do cond. João Cândido, do MTST; Clayton está de camiseta do Grêmio (foto Eleonora de Lucena)
Realizamos diversas reuniões com os moradores, falando
sobre saúde, qualidade de vida, combate ao sedentarismo.
Juntos fizemos várias caminhadas pelo bairro, sempre
com a companhia preciosa do Clayton Veloso e do José Carlos dos Reis, dois
grandes corredores de rua que adotaram a ideia do MARATONANDO COM O MTST e
passaram a coordenar, no condomínio, as caminhadas com a turma.
O Clayton é um pernambucano naturalizado paulista –veio
para cá com seis meses de vida. Nascido em 1981, começou a correr em 2001, mas
já tinha jeito para a coisa: foi graças à sua agilidade que, meses antes,
conseguiu escapar de uma emboscada e evitar saraivada de tiros disparados por
três atacantes.
Passou a treinar, descobriu as corridas de rua, e elas
mudaram sua vida. Na Corrida dos Bombeiros, por exemplo, teve a inspiração de
fazer um curso de salva-vidas, conquistando assim nova profissão.
Zé Carlos, de boné, e Clayton, ao fundo, são corredores que comandam caminhadas com moradores do João Cândido (foto Eleonora de Lucena)
“Cada corrida é uma história”, me disse
ele depois de uma caminhada que fizemos com moradores do condomínio João
Cândido. E continuou:
“Nessa caminhada que a gente fez agora,
um problema que eu tive ontem, eu fui pensando como solucionar ele hoje. A
gente tem tempo para pensar, tem tempo para refletir, esse tempo que a gente
usou agora, eu particularmente usei para definir uma situação que eu estava em
dúvida. Então a gente consegue se aliviar e pensar duas vezes antes de agir,
tomar qualquer tipo de atitude. A caminhada e a corrida nos proporcionam isso.
Por isso que é bom.”
De fato, não posso deixar de concordar com o Clayton. E desejar a ele e à toda
a turma do MTST sucesso nas suas lutas.
Sob vaias e gritos de “Fora, Temer!, o ministro da
Cultura do governo golpista, Roberto Freire, assacou insultos contra o escritor
Raduan Nassar e impropérios contra a plateia que acompanhava a cerimônia de
entrega do prêmio Camões, a mais importante honraria para quem escreve em
português.
As cenas grotescas transcorreram na manhã de hoje no
bucólico jardim do museu Lasar Segall, na Vila Mariana, em evento que começara
embalado pela voz de um coral de meninas –graciosas, cantaram “Aquarela do
Brasil”, “Maria, Maria” e “Garota de Ipanema”.
Depois de tanta poesia musical, Nassar usou de prosa precisa
para caracterizar o Brasil de hoje. “Vivemos tempos sombrios”, disse ele, para
logo em seguida denunciar o governo “repressor”, que age “contra o trabalhador,
contra aposentadorias criteriosas, contra universidades federais de ensino
gratuito, contra a diplomacia ativa e altiva de Celso Amorim. Governo atrelado
por sinal ao neoliberalismo com sua escandalosa concentração da riqueza, o que
vem desgraçando os pobres do mundo inteiro”.
O autor de 81 anos, agora oficialmente no panteão dos
maiores escritores em língua portuguesa, encerrou lembrando que, quando Dilma
foi afastada pelo Senado, “o golpe estava consumado”. E proclamou: “Não há como
ficar calado”.
A frase foi saudada com fortes palmas, gritos de “Bravo!”
e um potente coro de “Fora, Temer!”.
A cerimônia seguiu seu curso com um discurso protocolar
do embaixador de Portugal, Jorge Cabral, que cumpriu seu papel com elegância e
discrição.
O mesmo não se pode dizer do ministro do governo golpista
–que havia sido caracterizado por Nassar como “governo em exercício”--, que abandonou
seu pronunciamento previamente escrito para tentar dar lição de moral e assacar
ofensas exatamente contra o homenageado do dia. O octogenário Nassar a tudo
ouviu em silêncio, mesmo quando Freire xingou a “estultice” dos que
caracterizam como golpe a tomada do poder sem voto.
A plateia, porém, não ficou calada ante as grosserias
de Freire, que passou a ser interpelado diretamente.
Professor da USP, o poeta Augusto Massi falou para que
o ministro e todos ouvissem: "Acho
que você não está à altura do evento!".
Na mesma linha, a filósofa Marilena Chauí recomendou que
o ministro ficasse em silêncio. Mas Freire seguiu com sua arenga, tentando
caracterizar como democrático o governo golpista –afinal, estava concedendo
prêmio de alto coturno a um escritor de oposição ao regime golpista.
De fato, porém, Freire estava se adonando de uma
decisão que não era sua nem da turma que ele representava, com bem destacou a
repórter Camila Moraes, do “El Pais”, que registrou a cena a fala ministerial e
a reação dos presentes:
“Diante
da declaração de Freire de que [Nassar] “é um adversário político do Governo
recebendo um prêmio do Governo que ele considera ilegítimo”, escritores
presentes no evento ressaltaram que o Prêmio Camões 2016 foi anunciado em maio
de 2016, quando o impeachment ainda não havia sido concluído.
“É preciso
ressaltar que ele aceitou o prêmio em maio do ano passado, quando o Governo
ainda era o de Dilma Rousseff”, destacou Milton Hatoum. Segundo o escritor
amazonense, autor do premiado romance "Dois Irmãos", entre outros, o governo atual “adiou por muito
tempo a entrega desse prêmio, justamente por medo dessa repercussão”. No meio,
o discurso político de Nassar – que se manifestou contra o impeachment
anteriormente – já era esperado por todos.”
Nas redes sociais, a repórter Carol Pires também denunciou
a apropriação indébita, como demonstra a imagem.
A plateia protestou. Alguém gritou não se podia seguir
ouvindo aquilo em silêncio, e foi apoiado por boa parte do grupo. Sob vaias,
Roberto Freire enfim saiu do palanque e abandonou o evento –a repórter Carol
Pires registrou tudo em vídeo, a que você pode assistir clicando AQUI.
Por lá ficamos nós outros, os amigos e admiradores de
Raduan Nassar, de sua escrita brutal e de seu desabrido papel na luta
democrática.
Estavam lá Celso Amorim, ministro dos governos Lula e Dilma, o
senador Eduardo Suplicy, o jornalista Mino Carta, a cineasta Petra Costa,
professores, escritores, amantes da literatura e da democracia.
Além das emoções do dia, fomos brindados com o
belíssimo discurso de Nassar, que reproduzo a seguir.
“Excelentíssimo
Senhor Embaixador de Portugal, Dr. Jorge Cabral.
Senhor Dr. Roberto Freire, Ministro da
Cultura do
governo em exercício.
Senhora Helena Severo, Presidente da Fundação
Biblioteca Nacional.
Professor Jorge Schwartz, Diretor do Museu Lasar
Segall.
Saudações a todos os convidados.
Tive dificuldade para entender o Prêmio Camões, ainda
que concedido pelo voto unânime do júri. De todo modo, uma honraria a um
brasileiro ter sido contemplado no berço de nossa língua.
Estive em Portugal em 1976, fascinado pelo país,
resplandecente desde a Revolução dos Cravos no ano anterior. Além de amigos
portugueses, fui sempre carinhosamente acolhido pela imprensa, escritores e
meios acadêmicos lusitanos.
Portanto, Sr.Embaixador, muito obrigado a Portugal.
Infelizmente, nada é tão azul no nosso Brasil.
Vivemos tempos sombrios, muito sombrios: invasão na
sede do Partido dos Trabalhadores em São Paulo; invasão na Escola Nacional
Florestan Fernandes; invasão nas escolas de ensino médio em muitos estados; a
prisão de Guilherme Boulos, membro da Coordenação do Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto; violência contra a oposição democrática ao manifestar-se
na rua. Episódios todos perpetrados por Alexandre de Moraes.
Com curriculum mais amplo de truculência, Moraes
propiciou também, por omissão, as tragédias nos presídios de Manaus e Roraima.
Prima inclusive por uma incontinência verbal assustadora, de um partidarismo
exacerbado, há vídeo, atestando a virulência da sua fala. E é esta figura
exótica a indicada agora para o Supremo Tribunal Federal.
Os fatos mencionados configuram por extensão todo um
governo repressor: contra o trabalhador, contra aposentadorias criteriosas,
contra universidades federais de ensino gratuito, contra a diplomacia ativa e
altiva de Celso Amorim. Governo atrelado por sinal ao neoliberalismo com sua
escandalosa concentração da riqueza, o que vem desgraçando os pobres do mundo
inteiro.
Mesmo de exceção, o governo que está aí foi posto, e
continua amparado pelo Ministério Público e, de resto, pelo Supremo Tribunal
Federal.
Prova da sustentação do governo em exercício aconteceu
há três dias, quando o ministro Celso de Mello, com suas intervenções
enfadonhas, acolheu o pleito de Moreira Franco. Citado 34 vezes numa única
delação, o ministro Celso de Mello garantiu, com foro privilegiado, a blindagem
ao alcunhado “Angorá”. E acrescentou um elogio superlativo a um de seus pares,
o ministro Gilmar Mendes, por ter barrado Lula para a Casa Civil, no governo
Dilma. Dois pesos e duas medidas
É esse o Supremo que temos, ressalvadas poucas
exceções. Coerente com seu passado à época do regime militar, o mesmo Supremo
propiciou a reversão da nossa democracia: não impediu que Eduardo Cunha, então
presidente da Câmara dos Deputados e réu na Corte, instaurasse o processo de
impeachment de Dilma Rousseff. Íntegra, eleita pelo voto popular, Dilma foi
afastada definitivamente no Senado.
O golpe estava
consumado!
Não há como
ficar calado.
Obrigado.”
Com o que também concluo o registro da manhã de hoje,
em que não corri nem caminhei por causa de uma impertinente dor no tornozelo.
Dias atrás sofri uma leve torsão, que estou tratando com carinho e cuidado. É
melhor não abusar do corpo para poder seguir firme na luta.
Afinal, esta jornada não é um sprint nem uma maratona,
mas sim percurso equivalente ao de sessenta maratonas. Sigamos juntos.