10.2.17

Grupo Corrida Amiga ajuda a descobrir a atividade física

Já não estou mais me segurando, falta muito pouco para atingir meu primeiro objetivo do ano. Se não cair um raio ni mim, como diz o outro, se eu não ficar podre nem for atropelado, vou inteirar 600 quilômetros de jornada neste domingo, dia 12, com uma festa-corrida em que gostaria muito de ter a sua participação (o encontro é às 9h30 na avenida Paulista, 900; largada às 10h, percurso de  5 km).
Aliás, você pode ficar à vontade para participar de outras etapas desta trajetória, que não é só minha, mas de todos os maiores de sessenta anos e de todos os menores de sessenta anos que entendem que a atividade física é um dos caminhos para conquistar melhor qualidade de vida.
Esse é o mote de meu projeto jornalístico-esportivo-cultural. É por isso que vou às ruas, muitas vezes levando convidados para debater, ao longo do caminho, questões da nossa vida corrida.
Foi o que fiz hoje, penúltima etapa do percurso de seiscentos quilômetros que foi iniciado no dia 14 de novembro passado e será concluído neste domingo, dois dias antes da data prevista ---14 de fevereiro, quando completo sessenta anos e ingresso oficialmente na velhice.
Meu convidado foi um ultramaratonista, empresário e ativista social. Estou falando de Renato Cavallieri Mello, 47, um dos fundadores da ONG Corrida Amiga, que procura difundir e incentivar o uso da corrida e das caminhadas como meio de transporte.
Ou a combinação de corridas e caminhadas com transporte público –enfim, o que for possível para diminuir o uso do carro e, ao mesmo tempo, propiciar ao cidadão bons minutos de imprescindível atividade física.


O Renato não é apenas evangelista da corrida e das caminhadas. O cara é militante das corridas de alto coturno. Tem no currículo duas provas de 24 horas, outras duas de cem quilômetros e gosta mesmo de corridas em montanha, bem casca grossa.
Não por outra razão, já enfrentou por três vezes a formidável BR 135, dificílima prova de mais de duzentos quilômetros na serra da Mantiqueira. Para não dizer que só pega montanha, é useiro e vezeiro na Bertioga-Maresias, conhecida ultramaratona praieira.
Também enfrentou e superou um câncer na garganta. No último dia quatro, Dia Mundial de Combate ao Câncer, publicou na internet uma foto dele durante o tratamento e escreveu: “Esta minha foto é de 2015, quando passei o ano todo na briga com o cara, mas, como sabem, venci, então fica a mensagem de força e coragem para quem ainda está na briga: vai na fé que o bicho não aguenta o tranco não, somos muito mais fortes”.  
Fizemos um percurso de dez quilômetros pela avenida Sumaré, e Renato foi gentil o suficiente para aguentar meu regime de corrida aos soluços: 500 metros correndo, 500 metros caminhando. De mansinho, a gente vai cobrindo uma boa distância (tipo seiscentos quilômetros).
Ao final de nossa jornada, fiz uma entrevista com Renato, transmitindo nossa conversa ao vivo pela internet. Ficou tudo gravado e, se você não viu na hora, pode assistir agora.


Bem antes disso, no final do ano passado, havia conversado com a outra fundadora da Corrida Amiga, Sílvia Cruz. Formada em gestão ambiental, com mestrado e doutorado na área, a jovem de 32 anos hoje se dedica em tempo integral à entidade.
Por e-mail, Sílvia respondeu a algumas perguntas sobre a gênese do grupo e suas atividades. Acompanhe a seguir trechos da entrevista.
RODOLFO LUCENA - O que é a CORRIDA AMIGA? Quais seus propósitos?
SÍLVIA CRUZ - Somos uma ONG (organização não governamental) formalizada em 2015 com o nome de Instituto Corrida Amiga. Trabalhamos em três vertentes, que chamamos de os três pés da Corrida Amiga.
Social: Por meio de nossos voluntários, orientamos e estimulamos as pessoas e usarem os pés como deslocamento, recebendo os pedidos pelo nosso site e interligando corredores amigos voluntários com os solicitantes. Nossa rede está apta a receber os pedidos, entrar em contato com as pessoas solicitantes, identificar seus problemas ou dúvidas e traçar planos e metas para juntos resolvermos e ajudarmos essas pessoas a usarem os pés em seus deslocamentos, correndo ou caminhando.
Políticas Públicas: Foi inevitável interagir com os poderes públicos quando passamos a usar com maior profundidade os espaços públicos e perceber suas deficiências. Temos membros do Instituto Corrida Amiga em cadeiras e posições em órgãos como ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos) e CMTT (Conselho Municipal de Trânsito e Transporte). Com isso, passamos a poder, além de cobrar melhorias e maior ação dos nossos gestores em assuntos de mobilidade, atuar e interferir positivamente em decisões e influenciar nossos gestores.
Cidadania: Quando colocamos as pessoas nas ruas e atuamos para a melhoria dos espaços públicos, percebemos que estávamos formando também novas cidadãs e cidadãos. Pessoas que perceberam seu poder e sua força, principalmente no coletivo, em relação a seu poder de interferir e mobilizar outras pessoas e gestores para que nossas vozes fossem mais ouvidas.
RODOLFO LUCENA - Como surgiu a ideia da criação da ONG?
SÍLVIA CRUZ - No período em que estudei na Europa, conheci e utilizei o transporte ativo. Ao voltar ao Brasil, senti novamente na pele os efeitos de nosso trânsito caótico e nosso deficiente sistema de mobilidade urbana, voltado quase que exclusivamente para os carros. Tive então a necessidade de voltar ao transporte ativo, e mais ainda, de compartilhar com o maior número de pessoas possível essa alternativa.
RODOLFO LUCENA - Como a ONG conseguiu recursos para seu financiamento?
SÍLVIA CRUZ - Nossos recursos são provenientes de fontes diferentes e todos eles são conquistados junto a outras ONGs ou entidades  que financiam atividades como a nossa. Participamos de seleções de projetos (grants), tentamos financiamento junto ao governo (Leis de Incentivo) e outras atividades ainda em planejamento.
Nossos recursos são poucos e ainda estamos organizando um departamento de captação, que vai atuar junto aos órgãos do governo e a iniciativa privada sempre buscando novas possibilidades de financiamento.
RODOLFO LUCENA – O que a Corrida Amiga faz?
SÍLVIA CRUZ - Podemos resumir esta pergunta com a nossa missão: contribuir para a melhoria da mobilidade urbana por meio do engajamento de voluntários e da interferência em políticas públicas voltadas à mobilidade a pé de forma a promover cidades mais acessíveis e caminháveis.
A Corrida Amiga, através do voluntariado, conectando pessoas e estabelecendo relações humanas mais saudáveis, deseja transformar o cotidiano dos cidadãos e cidadãs a partir da perspectiva da mobilidade ativa, combatendo o sedentarismo, promovendo saúde e qualidade e vida e otimizando o tempo daqueles que optam pelo deslocamento a pé.
RODOLFO LUCENA  - Como a Corrida Amiga funciona? Hoje tem funcionários, os próprios fundadores fazem tudo para a rotina diária?
SÍLVIA CRUZ - Hoje somos em cinco voluntários fixos em nossa base, cada um destinando cargas horárias diferentes. Alguns trabalham diariamente e outros algumas horas por semana. Temos reuniões semanais e estamos todos os dias em contato, tomando decisões e resolvendo assuntos online. Existem alguns voluntários que prestam serviços mais objetivos (alimentar nosso iInstagram, por exemplo), que trabalham sob demanda. Os fundadores e participantes da direção do instituto estão incluídos nesses cinco citados.
RODOLFO LUCENA – E como funciona a rede de voluntários?
SÍLVIA CRUZ - Hoje temos centenas de voluntários espalhados por todo o Brasil e também uma rede na Austrália. Nossa busca por voluntários é constante, através de campanhas de engajamento, ações online e presenciais. Recentemente realizamos nossa primeira FoCA – Formação Corrida Amiga, onde durante uma manhã de sábado treinamos na teoria e na prática cerca de 20 possíveis voluntários.
Há voluntários da Corrida Amiga em várias regiões do Brasil (SP – Rio – Campinas – Brasília – Recife – Minas Gerais)
Nossos voluntários ganham uma camiseta e material didático (manual do voluntário), mas acreditamos que o maior ganho é a realização de poder ajudar os outros e se engajar na questão da melhoria da mobilidade urbana, tema dos mais importantes e fundamentais para todas as cidades.
RODOLFO LUCENA - O que é o projeto de acompanhar iniciantes em pequenas caminhadas ou corridas? Quantas dessas caminhadas já foram realizadas? O que vocês ganham com isso? O que as pessoas que participam ganham?
SÍLVIA CRUZ - Esse projeto é nosso Pé social, é o embrião da Corrida Amiga, dele veio inclusive a escolha do nome. Qualquer pessoa que queira se deslocar a pé, correndo ou caminhando, mas tem dúvidas ou mesmo medo, pode entrar no site corridaamiga.org e fazer um cadastro pedindo uma corrida amiga. Imediatamente nosso sistema filtra algumas informações e coloca um voluntário em contato com esta pessoa, viabilizando seu pedido. Já conectamos mais de 400 pessoas em várias partes do Brasil.
RODOLFO LUCENA _ E o que é o projeto Calçada Cilada?
SÍLVIA CRUZ – É uma campanha, que realizamos por meio de um aplicativo. Até 2016 o aplicativo que utilizamos como parceiro era o CIDADERA, nele qualquer pessoa com um smartphone poderia baixar de graça o aplicativo e usar em suas denúncias. Com uma simples foto e um pequeno relato do tipo de problema encontrado na calçada em questão o aplicativo automaticamente coloca esta reclamação no mapa. Em 2016 foram mais de 2000 denúncias em 80 municípios brasileiros. Todas elas foram encaminhadas para os órgãos competentes em cada município, este trabalho foi feito por nossos voluntários em todo o Brasil.
A partir deste ano usaremos uma nova plataforma --ainda em finalização-- com novidades, em especial, no que tange à proximidade do canal "cidadão- prefeitura" para facilitar a chegada das informações aos órgãos responsáveis.
Pois, no momento após a campanha, temos a força tarefa de contatar cada  prefeitura/órgão responsável pelas calçadas,  encaminhando informação por informação... E nem sempre é muito efetivo. Enviamos também a carta anexa devidamente preenchida, bem como as denúncias e sua localização.
Entendemos que encaminhar ao conhecimento do órgão local não garantirá por si só a solução (esse tampouco seria nosso papel), mas certamente endossará a causa e proporcionará oportunidades para construirmos cidades mais caminháveis.
RODOLFO LUCENA - Como vocês atuam em relação ao poder público?
SÍLVIA CRUZ - Na ONG existem pessoas que fazem parte da ANTP e do CMTT, com essas atuações conseguimos manter em nosso radar todas as questões referentes ao tema que estão sendo debatidas e podemos participar ativamente das mesmas. A corrida Amiga é 100% apartidária, acreditamos num bem maior para a cidade ACIMA de legendas e de nomes, atuamos para melhoria de leis, criação de novas possibilidades para os pedestres de uma maneira definitiva e que sirva para todas e todos os usuários da cidade.
RODOLFO LUCENA – Por que a corrida pode ser amiga do cidadão?
SÍLVIA CRUZ - O que me vem primeiro à mente é o fato de não perder um precioso tempo sofrendo parada no trânsito. Isso realmente me entristece e me enlouquece. Acredito que somos seres dinâmicos,  e o enclausuramento ocasionado pelo trânsito é muito torturante. A principal motivação para fazer funcionar a Corrida Amiga é justamente mostrar que existem alternativas a este cenário. Basta estar aberto e disposto a encarar esta mudança de paradigma.
Correr para mim é equiparado à sensação de meditar. Não necessariamente a meditação precisa ser realizada parada. Há também possibilidade de meditar em ação. A corrida pede e estimula a capacidade de concentrar, a partir do momento que percebemos nossos passos e o nosso corpo...
Quando corro, estou presente em cada movimento, sinto profundamente cada respiração... E isso faz bem tanto para a mente como para o corpo.

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Bom, assim termina a conversa com a Sílvia, mas é bom lembrar que nosso percurso continua.

Nossa jornada deste domingo é o final de uma etapa. Ao longo do ano, sigo com o projeto 60 MARATONAS AOS 60 ANOS (60M60A)e espero ter sua companhia nessa trajetória, seja acompanhando o projeto aqui no blog, seja participando de eventos ou treinos que a gente vai montar e divulgar por aqui e pelas redes sociais.

VAMO QUE VAMO!!!


Percurso do dia dez de fevereiro de 2017
9,89 km percorridos em 1h33min23

Acumulado no projeto 600 km aos 60 anos
596,82 km percorridos em 118h16min47

Acumulado no projeto 60M60A
373,61 km percorridos em 71h17min54

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