A atividade de Cesar é
supercerebral. Precisa prestar atenção a detalhes, ouvir muito bem,
concentrar-se no que está ocorrendo ao seu redor, reagir de acordo com os
estímulos e sons de cada momento.
Cesar Cerasomma, paulista
de Santo André, é mastro –“regente coral”, diz ele. Aos 50 anos, comanda os
corais Alphaville,
Monte Líbano e Fundap.
Nas horas de folga,
busca opções que lhe deixem amente voar. Em casa, faz arte com vidro, cria
cores e formas. No mundo externo, caminha.
Ele completou no mês
passado o Caminho da Luz, por montanhas mineiras, chegando até o Pico da Bandeira,
numa jornada de 200 quilômetros até o terceiro ponto mais alto do país.
“É uma rota magnética
que fascina a todos”, diz ele nesta entrevista que serve também como guia para
quem quiser se testar nessa caminhada (as fotos são do arquivo pessoal de
Cesar).
Quando e por que você começou a fazer grandes
caminhadas?
A primeira grande
caminhada que fiz foi em 2012, o Caminho de Santiago, 800km atravessando a
Espanha desde Saint Jean Pied de Port (França) até Santiago de Compostela.
Desde os meus 15-16
anos sempre tive vontade de percorrer esse caminho. Há uns dez anos me associei
à ACACS (Associação de Confrades e Amigos do Caminho de Santiago) e
comecei a fazer umas caminhadas preparatórias
de um ou dois dias com eles. E depois dessa tenho feito outras mais. O Brasil é
cheio de “caminhos”.
Uma vez tendo começado, o que achou de bom
nelas? O que achou de ruim?
Gosto muito de andar
sozinho, para mim é um período de reflexão além de ter contato com cultura
local, culinárias, pessoas que vc vai encontrando.
Coisas ruins fazem
parte da caminhada: administrar algumas bolhas, uma eventual dor nos músculos,
... mas nada tira o prazer da caminhada
em si.
Como é a rota do pico da Bandeira?
O Caminho da Luz é um
caminho localizado na Zona da Mata Mineira, precisamente na divisa com o norte
Rio de Janeiro e o sul do Espírito Santo, e o mesmo presta-se para aqueles
amantes de longas caminhadas.
O seu trajeto é
bastante acidentado, pois possuí uma grande variação de altitudes entre Tombos
(238m) e o alto do Pico da Bandeira (2.890m). A abertura do caminho foi feita
em 14 de julho de 2001 e a partir dessa data, tornou-se um caminho misto de
peregrinação religiosa, ecológica e histórica.
Alguns consideram o caminho
mágico tanto pelas belezas naturais que encontramos durante o percurso quanto
pelo povo da região. Os moradores passaram a fazer parte do caminho, recebendo
os caminhantes com aquele peculiar carinho, ajudando e prestando todas as
informações solicitadas pelos mesmos.
O percurso tem cerca
de 200 quilômetros de extensão, saindo da cidade de Tombos (Portal de Minas),
passando por Catuné, Água Santa, Pedra Dourada, Faria Lemos, Carangola, Caiana,
Espera Feliz, Caparaó, terminando em plena serra no Alto do Caparaó, ao lado da
Igreja de São Paulo, o Apóstolo.
O famoso pico da
Bandeira encontra-se na proximidade, pois se situa em plena Serra do Caparaó no
Parque Nacional do mesmo nome. O caminho encontra-se todo demarcado e
devidamente sinalizado.
O trajeto tem início
na base da cachoeira que dá nome à cidade (Tombos), sendo a quinta maior em
volume d’água do Brasil e que possui a segunda hidrelétrica implantada no
Brasil ainda em funcionamento. Termina no Pico da Bandeira, o terceiro maior do
Brasil e o primeiro mais alto acessível.
Durante todo o
percurso do Caminho da Luz fragmentos de mica e cristais emergem do solo,
proporcionando-lhe um brilho especial. São 200 quilômetros percorridos pelas
montanhas de Minas, passando por fazendas centenárias, matas, cachoeiras,
santuários e antigas estações ferroviárias. A rota é carregada de um magnetismo
que fascina a todos.
Quando e por que decidiu fazer a rota do pico
da Bandeira?
Já havia feito este
caminho em dezembro de 2013 (sozinho) porque tinha uns nove dias de folga e
busquei na internet algum caminho que desse tempo de percorrer inteiro. Gostei
tanto que levei a proposta de montar um grupo na Acacs e fazê-lo novamente. Dessa
vez fomos em 26 pessoas.
Dê uma geral da caminhada: quantas dias
levou, como foi o clima, o que você encontrou pelo caminho, quantos quilômetros
percorreu por dia em média.
Foram 12 horas em
ônibus até Tombos e depois oito dias de caminhada:
Tombos
– Catuné (25 km)
Catuné
– Pedra Dourada (20 km)
Pedra
Dourada – Faria Lemos( 25 Km)
Faria
Lemos – Carangola (21 km)
Carangola
– Caiana (26 km)
Caiana–Espera
Feliz–Galileia(Caparaó) (27km)
Galileia(Caparaó)
– Alto Caparaó (13 km)
Alto
Caparaó – Pico da Bandeira (15km)
Em cada etapa ficamos
hospedados em pousadas ou mesmo em casa de família, o que pode ser organizado
através de um operador local que reserva os locais (O Vitor da Rastro de Luz).
Quanto ao clima, foram
oito dias caminhando embaixo de muito sol (em outubro), bem diferente de quando
vim em dezembro quando praticamente andei debaixo de chuva todos os dias) mas
as paisagens compensaram muito.
Basicamente se anda em
estradas de terra (uns 70% do trajeto), uns 10% em estradas e cortando cidades
e uns 20% em trilhas. No caminho encontramos cacheiras, pequenos vilarejos,
muitas fazendas, etc.
Equipamento: que tipo de roupa você usou, o
que levava na mochila, quantos quilos tinha sua mochila, foi suficiente? Como
se abasteceu de água e comida?
Levei: lanterna,
mochila, um par de botas de caminhada (já amaciadas), cantil de água, roupas
leves para caminhar (duas camisetas dry-fit), uma calça e duas bermudas, três
pares de meias coolmax, três cuecas, Fleece, corta-vento, chapéu de
abas, capa de chuva, medicamentos pessoais, repelente,
protetor solar, bastão de caminhada (dois), chinelos, celular, saquinhos
de lixo para colocar roupas e tênis molhados, nécessaire. (A mochila dava uns dez
quilos).
Água é possível
abastecer nas casas ao longo do caminho e é bom levar um lanche (fruta,
sanduíche, barrinha, etc)
Qual foi o pior dia da caminhada? Por que?
O primeiro dia foi
bastante difícil, o corpo ainda não está acostumado e encontramos uma fazenda
com um pasto muito íngreme para atravessar, uma subida muito forte e o calor de
mais de 30 graus dificultou um pouco.
Qual foi o melhor dia da caminhada? Por que?
A chegada no Pico da
Bandeira, a vista é espetacular e a sensação de meta cumprida é deliciosa.
Como é a alimentação no percurso?
No trajeto não se
encontram muitos lugares para comer, a não ser nas cidades, mas comi bastante
bem e muita comida mineira. Na casa onde dormimos em Catuné fomos muito bem
recebidos com um superjantar.
O que você pensava na
caminhada?
Alguns momentos
caminhava junto com outras pessoas que andavam no mesmo passo que eu, e quase
sempre o assunto eram outros caminhos legais a se percorrer, equipamentos,
bolhas, ... E quando andava sozinho
pensava em tudo ... desde a minha cachorra que ficou em casa, nos trabalhos que
deixei ainda por terminar, na família, amigos, ... ...
Você cantou? O que cantou? Compôs?
Tinha um outro caminhante que tocava violão muito bem
(O Hugo), sempre que encontrávamos um instrumento disponível cantávamos muito,
tomando umas cervejas (mas sempre nas cidades de chegada).
Como foi a chegada ao pico?
A última subida é um
desafio à parte, extremamente íngreme mas com o facilitante de existir uma
trilha já bem demarcada. Demoramos umas quatro horas para chegar ao topo e
ficamos mais de uma hora lá olhando a paisagem.
E a volta?
Foram mais umas três
horas de descida até a tronqueira (local onde carros chegam) e aí pegamos um
jipe de retorno até a pousada. Depois disso fomos jantar para comemorar a
chegada e no dia seguinte cedo encaramos mais 12 horas de ônibus de retorno a
SP.
Essa caminhada foi preparatória a outras
jornadas?
Possivelmente em
dezembro estarei trilhando o Caminho Frei Galvão que sai de São Bento do
Sapucaí e vai até a casa de Frei Galvão em Guaratinguetá.
Nos próximos anos
quero voltar ao Caminho de Santiago fazendo outra rota, conhecer a via
Francígena, Caminho de Le Pui, e outros.
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