14.12.15

Guinness reconhece recorde de ultramaratonista brasileiro


Para quem gosta de ter tudo registrado, documentado, letra por letra, tintim por tintim, a coisa já está sacramentada, carimbada, arquivada e distribuída para o mundo: o analista de sistemas Marcio Villar, carioca de 48 anos, é recordista mundial de distância percorrida em esteira durante uma semana.

Ele bateu o recorde em junho passado, em um shopping do Rio de Janeiro, correndo 827,16 quilômetros. Com toda a burocracia e análise de documentação comprobatória, o Guinness só veio a oficializar o registro recentemente (confira AQUI).

Eu fiz uma reportagem sobre o caso para a Folha (leia AQUI).

Agora, publico para você a entrevista completa que fiz com Marcio Villar, que ficou tão feliz com a notícia do registro no Guinness que tatuou no pescoço a logomarca da empresa.

Fotos Arquivo Pessoal 


Qual a importância de ter um recorde mundial reconhecido pelo Guinness?
É a realização de um sonho, do reconhecimento do trabalho, não tem dinheiro que pague. Foram cinco anos sonhando com esse recorde. Estou cadastrado desde 2011 no Guinness para tentar bater o recorde, mandando o projeto para varias empresas e só recebendo não, a pior coisa que tem para um atleta é saber que tem capacidade e ninguém acreditar em você. Mas, se não desistir, tendo foco e determinação, uma hora você chega lá.

Quando e onde você quebrou o recorde mundial de corrida em esteira durante uma semana?
Foi no Americas Shopping, no Recreio de 27\06\2015 a 04\07\2015. Arrecadei duas mil latas de leite em pó para o hospital do cancer.

Como você se alimentou durante o período?
Procurava comer coisas pastosas tipo purê, sopa, açaí, caldo de cana, paçoca, refrigerante, isotônicos e frutas.

Havia intervalos para dormir e ir ao banheiro?
Dormia de duas a três horas por noite, quando a dor no corpo deixava. Na última noite não pude dormir para poder conseguir bater o recorde. Tive que correr dando tapa no meu rosto para me manter acordado.

Houve, durante a semana do recorde, algum momento depressivo, em que pensou em desistir?
Nas últimas 36 horas eu tive que buscar 200 km, isso com o tendão do pé esquerdo rompido e a coxa direita com estiramento. Corria chorando de dor o tempo todo.

Na última noite não podia dormir para poder recuperar o tempo perdido. Eu corria jogando água na cara para me manter acordado. Minha esposa gritava para eu abrir os olhos, o shopping cheio de amigos a madrugada toda dançando e cantando para me incentivar e não me deixar dormir.

Porém quando deu 4 da manhã pedi dois minutos de silencio, sentei na esteira, cobri a cabeça com a toalha e falei para mim mesmo,"já era, não dá mais, acabou, não tenho mais força, estou caindo da esteira de sono e dor".


Então, do nada, não sei de onde, veio a ideia de dar tapa no meu próprio rosto e comecei a dar tapas, o rosto começou a arder, levantei e subi na esteira, o shopping veio abaixo com todo mundo vibrando, acelerei a esteira de uma vez só (parecia que o Brasil tinha ganho a copa), todos vibravam sem parar, me animei e corri o resto da madrugada dando tapa no rosto.

Depois amanheceu, despertei, e encaixou o ritmo, conseguindo superar o recorde as 11h15. Até o meio-dia consegui colocar mais 5 km na frente.
Quando acabou, dei a volta olímpica no shopping, fui para capela assistir a missa de agradecimento e depois fui para casa na cadeira de rodas.

Como você se preparou para o desafio de tentar quebrar o recorde?
Foram seis meses correndo dia e noite na esteira me preparando fisicamente e mentalmente.

Por favor, cite algumas de suas principais conquistas anteriores.
Sou o único atleta do mundo a triplicar a Ultra dos Anjos -705 km de montanhas, único atleta do mundo a triplicar a Brazil 135 correndo 651 km de montanhas, único atleta do mundo a dobrar a Jungle Marathon correndo 509 km dentro da Floresta Amazônica, recordista da double da Badwater correndo 434 km com 60°C de temperatura no deserto do Vale da Marte em 79 horas e primeiro atleta do mundo a completar a Copa do Mundo de ambientes extremos

Quando começou a ser profissional de ultramaratonas?

Eu era analista de sistemas, mas me sentia preso a um escritório e infeliz. Hoje faço o que amo e isso não tem preço. Há dois anos que decidi arriscar tudo, largando o emprego para montar a loja e fazer palestras. Hoje minha principal fonte de renda são as palestras. A loja virtual também é muito importante, vendo meu livro e material esportivo.

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