No próximo dia 23 acontece o aniversário de oitenta anos
do nascimento do capitão Carlos Lamarca. O menino carioca, filho de sapateiro,
virou soldado, defensor da paz, instrutor de tiro e um dos maiores combatentes
pela democracia e pela pátria que nosso país já gerou. Há um dito religioso que
afirma: “Não há amor maior do que dar a vida pelo seu irmão”. Foi o que Lamarca
fez: entregou sua vida ao povo brasileiro.
Trato aqui de fazer uma homenagem ao meu estilo,
correndo. A partir de hoje, faço oito corridas em celebração à vida de Lamarca,
que todos chamamos de capitão, mas que virou coronel depois dos procedimentos
de anistia. O encerramento desse ciclo de treinos será no dia mesmo do
aniversário, quando também será realizado um ato de homenagem ao Capitão da
Esperança.
Neste primeiro dia da CORRIDA LAMARCA VIVE, fui até o
parque Luiz Carlos Prestes, um percurso de cerca de treze quilômetros encerrado
nessa área verde da zona oeste. Escolhi lembrar Prestes porque é o maior nome
do comunismo na história do Brasil, exemplo de fortitude e retidão, disciplina
e dedicação à causa do povo.
Gaúcho de Porto Alegre, muito antes de se filiar ao
Partido Comunista do Brasil (mais tarde, Partido Comunista Brasileiro), Prestes
capitaneou movimentos revolucionários. Ao lado do grande Miguel Costa, dirigiu
no final da década de 1920 a coluna que percorreu vinte e cinco mil quilômetros
dos intestinos brasileiros para denunciar os atentados contra o país que o
governo cometia.
Militar como Prestes, Lamarca também usou seu
conhecimento das armas e das lides castrenses em defesa do povo, tornando-se um
dos maiores líderes da luta contra a ditadura no Brasil.
Por isso mesmo, é sempre lembrado com carinho e emoção
por todos quantos também se batem pela democracia e pela soberania nacional. No
ano passado, quando transcorreram 45 anos de seu assassinato, foi feito um ato
na localidade de Pintada, em Brotas de Macaúbas, na Bahia, onde aconteceu o
crime.
Capitão Carlos Lamarca em sessão de instrução de tiro com funcionárias do Bradesco |
Sua filha, Claudia, mandou então uma mensagem aos
participantes da homenagem. Eis o texto enviado por Claudia Lamarca:
“Prezados companheiros,
Prezado Povo de Brotas,
FORA TEMER!
Foi com muita honra que recebi o convite para participar
de mais essa homenagem prestada pelos diversos setores da sociedade àqueles que
tombaram no enfrentamento, nesta terra de Brotas de Macaúbas.
Saúdo a todos e peço licença para me dirigir a vocês e
deixar algumas palavras. Peço desculpas pela ausência. Infelizmente não pude
comparecer, porém essa é, ainda na minha vida, uma importante meta a cumprir.
Acompanho as homenagens e me emociono toda vez que tenho conhecimento do
carinho e respeito prestado ao Zequinha e ao Lamarca. Muitos dos bons filhos
desta Pátria, não se conformaram diante das arbitrariedades impostas e se
insurgiram contra o governo ditatorial instaurado à força e ousaram buscar uma
sociedade mais justa e igualitária.
Na data de hoje, em 1971, José Campos Barreto (Zequinha)
e Carlos Lamarca ( meu pai) tiveram suas vidas ceifadas covardemente pelo
regime militar. Regime esse imposto mediante um golpe militar, assim como
estamos vivenciamos a concretização do golpe branco impetrado pelos
representantes das classes dominantes no país.
Retornam ao poder os velhos senhores do poder, os velhos
coronéis de terras e de fortunas, usurpando um governo eleito pela maioria do
nosso povo brasileiro. Como ratos, tramaram e ainda tramam, ardilosamente, o
golpe contra o governo da nossa verdadeira presidenta, Dilma Rousseff, mulher
guerreira e digna e contra quem não recai nenhuma sombra de dúvida da sua
honradez e postura retilínea. Entram em cena os seus algozes, maculados de
denúncias de corrupção, desvio de dinheiro e divisas. Entram em cena os
traidores do povo, aqueles que têm em pauta a retaliação aos direitos sociais e
trabalhistas a fim de manter a dominação a massa trabalhadora.
Diversos setores da sociedade brasileira não reconhecem
esse governo golpista e não cansaremos de denunciar e de protestar contra tudo
e todos que promoveram o golpe e financiaram esse terrível retrocesso.
Pela memória de todos que tombaram, pela memória dos
nossos heróis e mártires, sejamos firmes e fortes pela manutenção dos direitos
sociais e trabalhistas.
Desejo a todos um excelente evento
OUSAR LUTAR, OUSAR VENCER”
A frase com que ela encerrou sua mensagem era a marca
registrada dos textos de Lamarca, sempre finalizados com essa palavra de ordem,
esse apelo, esse comando.
A corrida de hoje, lembrando Prestes e Lamarca, também
foi dedicada a ainda outro combatente do povo, o grande Ricardo Zarattini, que
morreu ontem aos oitenta e dois anos.
Tive a honra de, por um breve período no início da década
de 1980, militar com ele na mesma organização de combate à ditadura militar.
Também fui colega de redação, por algum tempo, de sua filha, a fotógrafa Mônica
Zarattini.
O velório do “Velho Zara”, como era chamado, foi um
desfile de figuras emblemáticas da resistência democrática e da reconstrução da
democracia no Brasil. Numa roda, por exemplo, conversavam Franklin Martins e
José Genoíno. Mais além, estava José Luiz Del Roio, para citar apenas alguns.
Sobre Zarattini, o melhor texto que encontrei foi o breve
obituário publicado pelo site “Nocaute”, de Fernando Morais. Reproduzo a seguir
partes daquele texto:
Zarattini em seu escritório , foto de Mônica Zarattini |
"Zara, como era conhecido, nasceu em
Campinas (SP) no dia 06 de fevereiro de 1935, filho de Ricardo Zarattini e
Annita Zarattini. Iniciou sua militância política em 1952, na campanha “O
petróleo é nosso”, quando se aproximou do Partido Comunista do Brasil (PCB).
Foi presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo entre 1959 e 1960.
Em 1961 participou da mobilização pela posse de João Goulart na Presidência.
Zara se formou em engenharia civil
pela Escola Politécnica da USP em 1962. Trabalhou na Companhia Siderúrgica
Paulista (COSIPA), período em que atuou em conjunto com os operários
metalúrgicos da Baixada Santista de diversas lutas sindicais e greves,
incluindo a conquista do 13º salário. Foi diretor do Sindicato dos Metalúrgicos
da cidade de Santos.
Demitido da Cosipa após participar de
uma greve na empresa, trabalhou na Máquinas Moreira, que produzia equipamentos
agrícolas e que o transferiu para Pernambuco, quando se aproximou do movimento
estudantil e do movimento sindical da zona canavieira.
Após o golpe de 1964 passou para a
clandestinidade e militava na reorganização do movimento sindical dos
trabalhadores rurais no Nordeste.
Em 10 de dezembro de 1968, três dias
antes da decretação do AI-5, Zarattini foi preso em companhia do italiano Dario
Canale sob a acusação de terem entrado ilegalmente no Brasil com armas para a
luta contra a ditadura.
Zara, além disso, era acusado por um
atentado a bomba no Aeroporto dos Guararapes, em Recife que matou duas pessoas
e feriu catorze. O alvo da ação era o então candidato e depois presidente,
marechal Costa e Silva. Ele desembarcaria às 8h30 do dia 25 de julho de 1968 no
Recife.
Anos depois soube-se que ele nada
tivera a ver com a explosão. Em depoimento à Comissão Estadual da Verdade,
Zarattini disse: “O que fere mais é essa coisa que fica até hoje, de as pessoas
falarem ‘ah, esse é aquele da bomba do aeroporto?’”.
Chamado de “Professor”, quando preso
no Quartel Dias Cardoso, no Recife, ensinou matemática e português a cabos e
sargentos. Graças à colaboração deles, fugiu da prisão. Após a fuga, obteve
abrigo no Convento das Dorotéias, com ajuda de Dom Helder Câmara, até voltar
para São Paulo no ano seguinte.
Em São Paulo, Zarattini foi preso
novamente no dia 26 de julho de 1969 pela OBAN (Operação Bandeirantes) do DOPS
(Departamento de Ordem Política e Social) e foi torturado mais uma vez.
Ainda em 1969, uma ação conjunta da
ALN (Ação Libertadora Nacional) e do MR8 (Movimento Revolucionário 8 de
outubro) exigiu a libertação de 15 presos políticos, entre eles Gregório
Bezerra, Vladimir Palmeira, José Dirceu e o próprio Ricardo Zarattini, em troca
da libertação do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, sequestrado
por essas organizações.
O governo militar decretou o
banimento indefinido para os 15 presos políticos libertos naquela ação.
Zarattini deixou a prisão para o exílio no México. Lá foi redator do jornal
Excelsior, e depois foi para Cuba, onde viveu por quase dois anos.
Depois de viajar pela Coréia do
Norte, China, URSS, Itália e França, ficou no Chile em 1971 na condição de
exilado político. Quando Salvador Allende foi deposto pelo golpe, em 1973,
Zarattini foi para a Argentina. Em 1974 retornou ao Brasil e permaneceu na
clandestinidade.
Em maio de 1978, Zarattini foi preso,
levado para a Rua Tutóia, sede do Doi-Codi, sofrendo diversas sessões de
tortura. Após semanas, foi transferido para o presídio militar do Barro Branco
onde ficou até 1979, quando a Anistia foi aprovada. Zarattini foi o primeiro
brasileiro a ter o banimento revogado.
Filiou-se ao Partido Democrático
Brasileiro (PDT), de Leonel Brizola.
No início dos anos 1980, Zarattini
participou da Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras (CONCLAT) e do
apoio às greves dos metalúrgicos do ABC paulista.
Em 1982, Zarattini foi candidato a
deputado federal pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), na
condição de militante e dirigente do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de
outubro), mas não foi eleito.
Trabalhou como assessor parlamentar
na Assembleia Nacional Constituinte entre 1987 e 1988.
Em 1992, coordenou a primeira
campanha do filho Carlos Zarattini, candidato a vereador da cidade de São
Paulo, que obteve uma suplência.
Em 1993, a convite de Leonel Brizola,
foi trabalhar na Assessoria Técnica da Liderança do PDT na Câmara dos
Deputados. Participou das campanhas de Lula nos anos de 1994 e 1998. Foi
assessor da liderança do PDT, embora filiado ao PT, até 2002.
Em 2002, Zarattini candidatou-se a
deputado federal em São Paulo pelo PT, obtendo uma suplência. Trabalhou na Casa
Civil por 13 meses, de 2003 a 2004, como assessor especial da Secretaria de
Relações Parlamentares da Casa Civil, com a missão de acompanhar no Congresso
Nacional a tramitação das Medidas Provisórias editadas pelo presidente Lula.
Em janeiro de 2004, com a posse de
Aldo Rebelo como ministro da Coordenação Política e Relações Institucionais do
governo Lula, Zarattini ocupa a vaga de deputado federal.
Zarattini exerceu o mandato de
deputado federal até junho do mesmo ano, quando Zé Dirceu deixa a Casa Civil
para retornar a Câmara dos Deputados.
Em abril de 2005 foi lançada a
biografia de Ricardo Zarattini, “Zarattini – a paixão revolucionária”, escrito
por José Luiz Del Roio, com prefácio de Franklin Martins, ministro da
Comunicação Social do governo Lula.
Em 2007 recebeu da Câmara Municipal
de São Paulo o título de Cidadão Paulistano.
Zara teve um casal de filhos, a
fotógrafa Monica Zarattini e o engenheiro Carlos Zarattini, que atualmente é
deputado federal por São Paulo pelo PT.”
Como o que encerro o registro de
hoje, dizendo:
LAMARCA PRESENTE, HOJE E SEMPRE!
LAMARCA PRESENTE, HOJE E SEMPRE!
VAMO QUE VAMO!!!
Percurso de 16 de outubro de 2017,
primeiro dia da CORRIDA POR LAMARCA
13,85 quilômetros percorridos em
2h20min42
Percurso acumulado no projeto 60M60A
2.228,55 quilômetros percorridos
em 395h19min57
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