Nos últimos dias, os amigos e conhecidos que encontram se
despedem desejando boa prova na minha volta à maratona e, meio brincando, meio
desafiando, acabam sempre por lançar a pergunta: Você está preparado para
correr no Alasca?
Eu sempre digo que não, nunca vou estar preparado.
Aliás,
conheço pouca gente que chega a uma maratona e diz que está pronto para
corrê-la. Alguns passaram mal a noite, outros não conseguiram treinar direito
nos últimos dias, há os insatisfeitos com o clima e os que reclamam de lesão.
O fato é que nossa preparação nunca é tão boa quanto
gostaríamos, simplesmente porque o que gostaríamos é algo que está no terreno
dos sonhos, das ambições, dos projetos, do imaginário. E a preparação para a
maratona, ao contrário de tudo aquilo, é dura, fria, concreta, feita de
milhares de passos.
Alguns movimentam as pernas mais rapidamente, dedicam seis
ou sete dias aos treinos; outros precisam dar mais descanso ao corpo. Enfim,
cada um tem seu cada qual.
Hoje fiz meu último treino no Brasil, rumo à maratona de
Anchorage, cujo nome completo é Mayor`s Midnight Sun Marathon & Half
Marathon. Foram 20 quilômetros sob o sol de outuno, rodando boa parte deles no
Ibirapuera, percorrendo todas as trilhas onde tantas vezes passei ao longo dos
últimos 17 anos, gozando da sombra de enormes árvores.
No quilômetro sete, minha perna esquerda bambeou. Por alguns
segundos, simplesmente perdi o controle de tudo o que havia do joelho para
baixo. Pensei que fosse me esborrachar no chão, mas consegui movimentar o pé
esquerdo e, assim, recuperei o domínio da perna. Recuperei ma non troppo: por
algumas centenas de metros, segui mancando.
O músculo que acompanha a tíbia parecia ter se rompido. Não
havia dor nem nada, apenas o dito cujo não funcionava. Mesmo assim segui até o
km 8, quando iria dar uma parada para tomar água e, em seguida, caminhar por
300 metros –todos os meus treinos são assim, formados por blocos de corrida e
caminhada.
Quando chegou a hora de voltar a correr, parecia que nada
tinha acontecido. Segui mais lento e temeroso, mas fui em frente.
Corri no
asfalto e na terra batida, sobre a grama e nos pedregulhos da pista de Cooper,
até que resolvi ir embora para aproveitar a corrida até o ponto de ônibus.
Para mostrar que aqui ninguém tem medo de lomba, completei o
percurso subindo a Brigadeiro até a avenida Paulista.
Com o percurso de hoje, completei 729,34 km no processo de
preparação orientado pelo Alexandre Blass, da Força Dinâmica, e apoiado pela
turma do Instituto Vita, sob a coordenação de Luca Mameri. De fato, talvez
tenha chegado aos 800 km, pois a maioria dos treinos exclusivamente de
caminhada não registrei com o GPS.
O resumo da ópera, considerando o que meu relógio marcou, é
este aqui:
Maratonistas experiente podem torcer o nariz e fazer pouco
desses índices. De fato, eles são modestos. Mas digo-lhe com orgulho que, há 15
dias, fiz um treino de 32 km sem sentir dor.
Na primeira semana deste projeto de Aposentado Corredor, no início
de fevereiro, eu me arrastava e sofria para conseguir completar 12 km
generosamente distribuídos em oito blocos de 1.100 m de corrida por 400 metros
de caminhada.
Tinha fortes dores nas costas, no quadril, na coxa, o pé
esquerdo me incomodava e o ânimo era quase nenhum. Hoje à tarde, na
fisioterapia, nenhum músculo doeu.
Não quero parecer um sujeito otimista –mesmo porque eu não
sou um sujeito otimista. Mas é fato que meu corpo está menos doente do que há quatro
meses; e é fato que eu acredito que vou conseguir.
O que não dá camisa a ninguém. Na maratona, assim como na
vida, “a prática é o critério da verdade” (donde se conclui que Lênin, autor da
frase entre aspas, além de ser especialista em vida também entendia de maratona
–ou não, sei lá). No dia 20 de junho de 2015, a gente vai saber.
Como bom torcedor do Grêmio, vou para a linha de largada
para o que der e vier.
Vamo que vamo!!!
Caro Lucena, que seja uma boa marotona. Abração. Chico Ozorio
ReplyDeleteObrigado, Chico
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