12.6.15

Povo da Cratera de Colônia corre e luta por melhores condições de vida




Participei de poucas corridas durante esta minha preparação para enfrentar uma maratona no Alasca. Elas foram escolhidas como experiência de vida, mais do que como testes do meu desempenho.

Estive em uma prova em Israel, corri com familiares em Porto Alegra, conheci a terra onde foi plantada a primeira macieira aqui no Brasil. E, no último domingo antes de viajar para os Estados Unidos, voltei aos caminhos da Cratera de Colônia, no extremo sul de São Paulo.

É a única comunidade no hemisfério sul instalada no buraco provocado pelo impacto de um corpo celeste, há milhões de anos (há apenas outra ocupação dessas no mundo, em Ries, Alemanha).




Eu visitei aquele território durante minha jornada de 460 quilômetros por São Paulo, em dezembro de 2013 (saiba mais clicando AQUI). 

Fiquei conhecendo os problemas e as lutas de uma população instalada no que deveria ser um patrimônio públiuco –aliás, desde 2007 a Cratera de Colônia integra um parque natural municipal, cuja estruturação nunca saiu do papel.

A cratera tem 3,6 km de diâmetro, uma circunferência de cerca de 14 km e, originalmente, segundo calculam os geólogos, sua profundidade passava dos 600 metros. 

Ao longo de milhões de anos, terra, bichos mortos, pedaços de rocha e sei-lá-mais-o-quê se depositaram no fundo do buraco e, hoje, essa camada sedimentar é calculado em mais de 400 metros.

No final da década de 80, o terreno, que era parte de uma fazenda, foi comprado por uma cooperativa de moradores. Que, agora, festejam com a corrida o 26º aniversário da comunidade de Vargem Grande. E também apresentam suas reivindicações.

 “Nosso principal problema é a falta de infraestrutura”, diz Marta de Jesus Pereira, 51, presidente da Achave (Associação Comunitária Habitacional de Vargem Grande). “A pavimentação ecológica começou há algum tempo, mas parou. Estamos em negociação com o governo e esperamos que os trabalhos sejam retomados em breve.”

Ela aponta ainda a falta de opção de diversão para os cerca de 50 mil moradores da área.  “Precisamos de áreas de lazer e centros culturais –os mais perto ficam a 20 km, 30 km de distância’, afirma a dirigente comunitária.


Há planos governamentais para fazer da área um museu a céu aberto. Para proteger a área, considerada de “relevância histórica, cultural e científica”, foi criado em 2007 o Parque Natural Municipal de Cratera de Colônia.

De fato, tudo ali merece ser protegido e estudado, 
afirma o geólogo Victor Velázquez, 51, professor da USP e líder do Grupo de Pesquisa do CNPq sobre geodiversidade e patrimônio geológico.

“A cratera de Colônia é detentora do maior registro de sedimentos quaternários, com potencialidade científica de documentar a história das mudanças climáticas da América do Sul, em no mínimo, desde 3 milhões de anos atrás até o presente”, diz ele.

Mas, segundo os moradores, praticamente nada ainda saiu do papel, apesar de diversas reuniões já terem sido realizadas, inclusive com a participação de representantes da associação comunitária.

Também não há nada concreto para resolver o caso das quase 900 famílias –cerca de 10 mil pessoas, segundo Marta Pereira— que vivem em área de risco na parte central da cratera.

“O terreno ali é muito mole, não é apropriado para a construção de casas; já estamos conversando sobre isso há mais de quatro anos”.

Os problemas, porém, não impedem que os moradores confraternizem. A corrida reuniu cerca de 140 pessoas, que percorreram um trajeto de 5 km dentro da comunidade.



Vimos esgoto a céu aberto, enfrentamos longas subidas, nos equilibramos em descidas que pareciam chegar ao centro da terra (lomba a baixo, dava para ver a região central da cratera, onde estão as casas em situação de risco.

Além da corrida, houve festa ao longo de todo o final de semana.


Pouco tempo depois da premiação da prova –o pintor Marcos Francisco de Paula, 40, do Jardim Ângela, sagrou-se bicampeão, e a técnica química Denise Pereira, 39, de Horizonte Azul, venceu a corrida pela terceira vez_, o palco instalado na avenida Primavera começou a ser ocupado por grupos musicais.




Teve som para todos os gostos –rock, rap, gospel e forró--, além de apresentação de dança e uma muito esperada batalha do break.



PS.: Com exceção dos retratos dos campeões, que eu fiz, as demais fotos são de Moacyr Lopes Júnior, fotógrafo da Folha que esteve comigo na cobertura do evento na Cratera de Colônia

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