Sem choro nem vela, sem se curvar de dor, sem vomitar, sem
ter de massagear as pernas ou se apoiar em alguém para conseguir ficar de pé –é assim
que Paula Radcliffe, recordista mundial da maratona, pretende terminar a prova
que, neste domingo, marca sua despedia das corridas de longa distância.
Assombrada por dores e por um tendão de Aquiles fragilizada,
ainda com a memória das várias cirurgias que fez nos pés ao longo de sua
carreira, Paula diz que quer apenas completar a maratona de Londres (no alto,
foto AP) “com um sorriso”.
Conhecedora de suas possibilidades, ela nem sequer deve
largar na elite (pelo menos, isso é o planejado; na hora, certamente será alvo
de homenagens...).
“Não tenho um tempo alvo na minha cabeça, não sei o que
poderá acontecer. Mas quero sentir que corri uma maratona e dei tudo de mim. É
a primeira chance que eu tenho de correr uma maratona no meio da massa. Eu vou
aproveitar o clima”, disse ela, que tem 41 anos e dois filhos.
Tomara que ela consiga mostrar, ao final da prova, sorriso
como o que apresentou durante suas conversas com a imprensa, às vésperas da
maratona. Mas não é sem dores nem sofrimento pessoal que ela chega a esta
última corrida.
“Quando faltavam quatro semanas para a prova, fui até um
parque em Éze (perot de Monaco, onde ela vive com o marido, Gary, e com os
filhos, Isla e Raphael), que tem muitas subidas, e fiz um treino de 45 minutos.
Foi meu treino mais longo em
seis semanas. De lá para cá, consegui fazer outros treinos, sempre
mergulhando depois os pés em baldes de gelo para controlar a dor.”
Assim, ela vai para o que for possível: “Não importa se eu
terminar em três horas ou em duas horas e 45 minutos. Eu só quero chegar inteira, com saúde. Estou
quase lá, e espero que meu corpo lembra os treinamentos quando eu começar a correr”.
Radcliffe se encaminha para a aposentadoria sem que suas
marcas sejam desafiadas. “Espero que meu recorde perdure”, diz ela, mesmo
acrescentando: “Sei que não sou melhor do que ninguém”.
No que ela está errada. No que se refere à velocidade na
maratona, pelo menos, é a melhor de todas as mulheres que enfrentaram a
distãncia.
Em 2003, na mesma maratona de Londres em que anuncia sua
aposentadoria, ela completou a distância em 2h15min25, quebrando o recorde
mundial que ela mesmo estabelecera no ano anterior, ao vencer a maratona de
Chicago em 2h17min18. Era um período glorioso para Paula, que, em 2005, voltrou
a estabelecer marca imbatida em Londres: 2h17min48.
Com isso, ela tem nada menos do que os três melhores tempos
na história da maratona. Nos últimos anos, ninguém, nem chegou perto daquelas
marcas; aliás, se os tempos atuais fossem estabelecidos na mesma corrida em que
Paula correu o recorde, as atuais supercampeãs ficariam a quilômetros da britânica.
O quarto melhor tempo da história foi estabelecido em 2011
pela russa Liliya Shobokhova, 2h18min20; depois vem a queniana Mary Keitany,
que venceu em Londres com 2h18min47 em 2012.
Radcliffe encerra sua vitoriosa carreira sem ter tido bom
desempenho nas maratonas olímpicas. O mundo se lembra como ela passou mal em
Atenas-2004 e de seu sofrimento em outras competições. Ela também se aposenta
limpa –nunca esteve envolvida em caso de doping, ainda que o fato de ela usar
bombinha contra asma tenha despertado rumores. Mas nunca foi abertamente acusada
de qualquer tipo de trapaça.
Além de tudo, ela é uma simpatia. Recomendo a você, prezado
leitor, querida leitora, que faça uma visita ao Twitter da atleta (basta
colocar “Paula Radcliffe” na janela de busca). Ela conta seu dia a dia e coloca
fotos como esta (a do sorriso eu também peguei do Twitter dela).
Longa vida a Paula Radcliffe! Que ela seja feliz no
mundo dos aposentados!
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