12.10.15

“Velhinha” Deena Kastor é destaque na lenta prova de Chicago

As mulheres da elite bem que tentaram fazer da maratona de Chicago uma prova competitiva, vibrante, estimulante. 

Até a metade da prova, o primeiro pelotão feminino correu vários blocos de cinco quilômetros em ritmo que, se mantido, traria como resultado um tempo final sub2h20.

Não é grande coisa, se comparado com o recorde mundial, mas é melhor do que nada. Hoje em dia, aliás, a marca de 2h20 parece ser a que divide as supercorredoras da elite internacional.

Já os homens nem chegaram perto de tentar ao menos o recorde do percurso na prova realizada no último domingo. Rodando sem coelhos, mesmo os mais rápidos e experientes quenianos resolveram ficar cozinhando o galo, guardando energias para disputar apenas o título do dia –e uma grana bem razoável, cem mil doletas...

Talvez tenham achado que nem os US$ 5.000 de bônus para correr abaixo de 2h08 valessem a pena o esforço, talvez nenhum deles estivesse em um dia bom, vai saber... O certo é que ninguém se animou mesmo com os R$ 75 mil para recorde do percurso ou R$ 40 mil para sub2h05min30...

Apenas dois norte-americanos deram um pouco de sangue e energia para o asfalto. 

O grandalhão Luke Puskedra (mais de 1,90 m) ficou firme e forte com o primeiro pelotão e acabou fazendo o melhor tempo norte-americano do ano (2h10min24), que lhe valeu o quinto lugar.

Naturalizado norte-americano, tendo até servido ao Exército dos EUA, Elkanah Kibet –natural do Quênia— mostrou galhardia em sua estreia na distância. Sem medo do vento, puxou o primeiro pelotão por um bom tempo, completando em 2h11min31. O campeão foi Dickson Chumba, com 2h09min25.

Entre as mulheres de elite, a atração durante boa parte da prova foi a balzaquiana  Kayoko Fukushina, que combateu com firmeza atletas mais jovens e com melhor recorde pessoal, changando a liderar a prova por vários quilômetros. O esforço pesou, e ela acabou em quarto lugar. A campeã foi a queniana Florence Kiplagat, com 2h23min33.

Dito isso, vamos ao que interessa, àquela que correu com sangue nos olhos, contra o relógio e contra a idade.

Estou falando da medalhista olímpica Deena Kastor (bronze em Atenas 2004), 42, que bateu o recorde norte-americano da maratona para veteranos (maiores de 35 anos).

Eu sou um admirador da Kastor desde sua performance olímpica. Naquele ano, tive oportunidade de entrevistá-la e conversamos por e-mail sobre táticas de prova –em Atenas, sob forte calor, ela deu uma aula de paciência e resistência na maratona.

Pois neste domingo ela manteve a escrita, saindo com muita calma, conhecedora de suas limitações e de sua capacidade. Também sabia precisamente a marca que deveria ser batida –2h28min40, recorde que já durava uma década, estabelecido pela grande maratonista Colleen De Reuck aos 41 anos.

Kastor largou forte, com ritmo que a colocaria na casa das 2h27. Chegou a reduzir um pouco depois do km 15, mas sempre ficando perto da marca a ser batida. Passando a metade da prova, porém, tratou de queimar o chão, disposta a não deixar passar essa oportunidade de mostrar que as “velhinhas” também correm.

Dona do recorde norte-americano da maratona –2h19min36 (Londres-2006)--, ela agora é também a mais rápida veterana da história do país. Completou a prova em 2h27min47, o que leh valeu o sétimo lugar.

Não só: sua marca é agora o quarto melhor tempo entre as qualificadas para participar da seletiva para escolher a equipe norte-americana que vai correr a maratona olímpica Rio-2016.

 Ainda entusiasmada pelo ótimo resultado dominical, Kastor não fala sobre planos futuros. Mas disse à imprensa norte-americana que espera estar em boa forma em fevereiro, quase será realizada a seletiva. 

“Se eu tiver gana, estarei na linha de largada”.

Tomara. Mesmo que não se classifique para sua quarta olimpíada, é de se esperar que não vá fazer uma corrida medíocre.

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