As mulheres da elite bem que tentaram fazer da
maratona de Chicago uma prova competitiva, vibrante, estimulante.
Até a metade
da prova, o primeiro pelotão feminino correu vários blocos de cinco quilômetros
em ritmo que, se mantido, traria como resultado um tempo final sub2h20.
Não é grande coisa, se comparado com o recorde
mundial, mas é melhor do que nada. Hoje em dia, aliás, a marca de 2h20 parece
ser a que divide as supercorredoras da elite internacional.
Já os homens nem chegaram perto de tentar ao menos
o recorde do percurso na prova realizada no último domingo. Rodando sem
coelhos, mesmo os mais rápidos e experientes quenianos resolveram ficar
cozinhando o galo, guardando energias para disputar apenas o título do dia –e uma
grana bem razoável, cem mil doletas...
Talvez tenham achado que nem os US$ 5.000 de bônus para
correr abaixo de 2h08 valessem a pena o esforço, talvez nenhum deles estivesse
em um dia bom, vai saber... O certo é que ninguém se animou mesmo com os R$ 75
mil para recorde do percurso ou R$ 40 mil para sub2h05min30...
Apenas dois norte-americanos deram um pouco de
sangue e energia para o asfalto.
O grandalhão Luke Puskedra (mais de 1,90 m)
ficou firme e forte com o primeiro pelotão e acabou fazendo o melhor tempo
norte-americano do ano (2h10min24), que lhe valeu o quinto lugar.
Naturalizado norte-americano, tendo
até servido ao Exército dos EUA, Elkanah Kibet –natural do Quênia— mostrou galhardia em
sua estreia na distância. Sem medo do vento, puxou o primeiro pelotão por um
bom tempo, completando em 2h11min31. O campeão foi Dickson Chumba, com
2h09min25.
Entre as mulheres de elite, a atração durante boa
parte da prova foi a balzaquiana Kayoko
Fukushina, que combateu com firmeza atletas mais jovens e com melhor recorde
pessoal, changando a liderar a prova por vários quilômetros. O esforço pesou, e
ela acabou em quarto lugar. A campeã foi a queniana Florence Kiplagat, com 2h23min33.
Dito isso, vamos ao que interessa, àquela que
correu com sangue nos olhos, contra o relógio e contra a idade.
Estou falando
da medalhista olímpica Deena Kastor (bronze em Atenas 2004), 42, que bateu o
recorde norte-americano da maratona para veteranos (maiores de 35 anos).
Eu sou um admirador da Kastor desde sua performance
olímpica. Naquele ano, tive oportunidade de entrevistá-la e conversamos por
e-mail sobre táticas de prova –em Atenas, sob forte calor, ela deu uma aula de
paciência e resistência na maratona.
Pois neste domingo ela manteve a escrita, saindo
com muita calma, conhecedora de suas limitações e de sua capacidade. Também
sabia precisamente a marca que deveria ser batida –2h28min40, recorde que já durava
uma década, estabelecido pela grande maratonista Colleen De Reuck aos 41 anos.
Kastor largou forte, com ritmo que a colocaria na
casa das 2h27. Chegou a reduzir um pouco depois do km 15, mas sempre ficando
perto da marca a ser batida. Passando a metade da prova, porém, tratou de
queimar o chão, disposta a não deixar passar essa oportunidade de mostrar que
as “velhinhas” também correm.
Dona do recorde norte-americano da maratona –2h19min36
(Londres-2006)--, ela agora é também a mais rápida veterana da história do
país. Completou a prova em 2h27min47, o que leh valeu o sétimo lugar.
Não só: sua marca é agora o quarto melhor tempo entre as qualificadas para participar
da seletiva para escolher a equipe norte-americana que vai correr a maratona olímpica
Rio-2016.
Ainda
entusiasmada pelo ótimo resultado dominical, Kastor não fala sobre planos
futuros. Mas disse à imprensa norte-americana que espera estar em boa forma em
fevereiro, quase será realizada a seletiva.
“Se eu tiver gana, estarei na linha
de largada”.
Tomara. Mesmo que não se classifique para sua
quarta olimpíada, é de se esperar que não vá fazer uma corrida medíocre.
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