Quase não acreditei: finalmente, enfim, fiz minha primeira
corrida deste novo ano. Para marcar a data, resolvi tentar completar –e consegui—um
percurso de 16 km, saudando os 16 anos deste milênio.
Pode parecer pouco para você, mas, para mim, foi um verdadeiro
sucesso internacional!!
Não corria desde o ano passado, jogado às traças por dores e
uma tristeza profunda, causada por sucessivas falhas em completar treinos de
longa distância.
Era o sol forte, a lombar, a preguiça, e tudo somado dava
como conta final falta de determinação, de garra, de ânimo. Um cansaçozinho à
toa, e eu parava nos 20 quilômetros de um treino de 24 ...
Quando era para fazer 32, então, ficava dias me preparando,
como se o desafio fosse grande coisa. Planejava percurso, organizava
alimentação, bebia água mais que um camelo se preparando para a travessia do
Saara, dormia cedo, acordava de madrugada... E voltava a dormir.
Tanto que, somatizando ou não, sabe-se lá por quê, a
musculatura se engruvinhou toda, a panturrilha travou... Pelo menos, tive uma
razão para suspender por uns dias as corridas.
Daí não teve treino no primeiro do ano, nem no segundo nem
no terceiro... Será que ia continuar assim?
Pois continuou, até que a dor pareceu arrefecer. Foi quando
eu me disse: não tem tu, vai tu mesmo. Acordei mais tarde do que deveria, mas o
dia estava nublado, colaborou comigo, e eu enfiei no tênis a tristeza, nas
meias a depressão, e saí pro asfalto, que a gente aqui é corredor de rua.
Saí para um percurso inédito em minha carreira. A bem da
verdade, conhecia e já percorrer boa parte do trajeto que imaginava ser capaz
de fazer. Menos o coração do caminho, aquele que faria a diferença.
Havia que rodear um morro, enfrentar estrada que só tinha
visto no mapa, imaginava perigosa, solitária.
De fato, ela tem uns tantos quilômetros de asfalto e
bloquete, mas depois sobe um morrinho, rodeia a montanha e vira puro chão
batido. De cada lado, mato e montanha.
Medo de nada. Receio de cachorros soltos, essas propriedades
rurais sempre têm uns cuscos meio ladinos. Depois de passar por dois ou três
que só latiram de longe, peguei umas pedras e passei a correr preparado para
enfrentar eventuais ataques.
Não houve nenhum. Eu que me ataquei com a paisagem. Vi
morros ao longe, coroados por nuvens escuras,
e fui me acalmando. Aos poucos, ganhei confiança, passei a acreditar que
poderia voltar a correr, a cumprir o treino dado.
É que eu não sou um corredor de nascença, um sujeito musculoso
e longilíneo, pau para toda obra, saltador, atlético, flexível e veloz.
Que nada. Sou mais baixo do que gostaria, mais pesado do que deveria, lento e preguiçoso.
Para correr, tenho de treinar. Fazer das tripas
coração para ganhar coragem de sair da cama e, aos poucos, botar uma perna à
frente da outra, dar um passo e mais outro.
O peso além do recomendado pelas tábuas dos mestres do
exercício cobra sua conta, a velocidade não é a mesma, tudo precisa de esforço,
concentração, determinação...
E é tão fácil desistir, tão fácil parar, tão fácil cair na
preguiça.
Mas não quero. Passo por um riacho que corta a estrada pelas
profundezas da terra e só vai aparecer murmurante lá embaixo, no meio da mata. Me
alegro com ele.
Descanso subindo mais um morrinho, percebo que a estradinha
rural está prestes a acabar, estou terminando o contorno da montanha, em breve
volto para terreno conhecido.
É quando a preguiça me chama, pede para eu desistir.
Negocio: vamos correr até a praia, convido meu corpo.
Será uma espécie de desafio à autoridade: meu treinador
desrecomenda fortemente qualquer treino nas areias da praia. Mas é tão bom
correr com a brisa marinha refrescando o corpo, o mar se fazendo de infinito ao
meu lado...
Chego às areias da praia de constato que meu treinador tem
razão: o terreno é por demais inclinado, cheio de ondulações perigosas, melhor
obedecer às regras traçadas e seguir por outro caminho. Apenas capturo uma
imagem para me acompanhar pelos quilômetros restantes.
São os piores. Mais duros, menos interessantes, mais
quentes. O corpo já está dolorido, a idade pesa e a falta de determinação ajuda,
mas um pouco de cabeça dura é suficiente para dar o contra na preguiça, na
malemolência e no mimimi.
Sigo. E completo minha primeira corrida do ano. Dezesseis
quilômetros suados e sofridos, mas alegres e bisbilhoteiros, pesquisadores de
meus demônios internos, desafiadores de minhas fraquezas e fragilidades. Uma
homenagem a 2016.
Que venham outros.
Vamo que vamo!! Feliz Ano Novo!
Feliz ano novo. E siga em frente. Bem sei como às vezes é complicado.
ReplyDeleteQue praia é essa? Praia da baleia é retinha, famosa por corredores lá....musculação é solução para os problemas relacionados
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