Rola pelas redes sociais uma reportagem publicada pela
edição espanhola da revista “Runner`s World” para mulheres em que são oferecidas
dicas sobre postura de corrida.
A reportagem tem uma ilustração muito bacaninha que mostra
uma moça na suposta posição ideal de corrida.
A ilustração é acompanhada de pequenos textos que explicam e
orientam sobre como devem ficar as diversas partes do corpo envolvidas no
movimento (claro que o corpo todo está se movimentando, mas alguns membros são
destacados).
Quando esse material chegou até mim achei tudo muito bacana,
como disse no início. Numa primeira olhada, parecia consolidar o que
costumeiramente se lê a respeito de corrida, da postura no movimento, do “gesto
ideal” de corrida.
Comprime em uma ilustração o que se poderia chamar de “consenso
do saber” sobre o corredor em ação. A ilustração é esta que publico a seguir.
Bom, mas sempre fui muito desconfiado de consensos e de
saberes absolutos. Para ser jornalista, há que ser cético e desconfiado. E
lembrar que há muitas opiniões sobre cada assunto.
Vai daí que resolvi fazer uma breve consulta a uma
fisioterapeuta que já dedica décadas de trabalho e pesquisa ao estudo do movimento. Trata-se
de Marcelo Semiatzh, um dos fundadores da clínica Força Dinâmica (outro
dos envolvidos é o meu treinador, Alexandre Blass).
Não foi uma entrevista, apenas uma consulta por meio de
redes sociais. O Marcelo está fazendo doutorado e não tem tempo para nada. Mesmo
assim, mando uma breve resposta que pode instigar em cada um de nós novas
perguntas, questionamentos sobre o que faz, como corre, como se movimenta.
Mostrando a ilustração, perguntei a ele se
considerava
corretas aquelas dicas. Eis a resposta.
“Não está correto”, disse Marcelo (foto). E explicou: “Correr é um
ato de fazer força e não de relaxar, portanto o corpo deve estar coordenado
para aplicar e transmitir força. Não se deve pensar somente em corrigir a
posição das partes do corpo, mas corrigir a força que essas partes aplicam”.
Esse me parece um raciocínio muito legal. A gente esquece da
vida quando corre, relaxa em relação ao estresse do dia a dia, voa pelo
pensamento, viaja na maionese. Mas correr é um ato de fazer força.
Sobre a postura, Marcelo pode falar horas. Mas, analisando a
ilustração, fez algumas breves frases que podem ajudar cada um de nós a pensar
sobre o que faz. Eis o que ele afirma:
“A cabeça, apesar de olhando para frente, apresenta leve
rotação no plano horizontal. Os ombros não devem ficar, mas sim fazer força
para baixo, o que ajuda a ação dos músculos abdominais na corrida.”
Ele segue fazendo considerações sobre ombros e movimentos
dos braços. O texto está meio complicado: “O ombro relaxado pode atrapalhar se
o braço que está indo para trás colaborar impulsionando o tórax para trás,
aumentando a carga de inércia do tórax, impedindo que o tronco esteja a frente”.
Sobre as mãos, que também não ficam relaxadas: “Podem estar
abertas ou fechadas, mas sempre impulsionando o corpo à frente”.
Quanto às pernocas propriamente ditas, Marcelo dá a seguinte
orientação:
“A ênfase deve ser na extensão da perna de trás, com
quadril, joelhos e pé em extensão trabalhando o impulso horizontalmente do
corpo. A perna da frente deve ter boa flexão e com joelho bem levantado. A
flexão do membro da frente com a extensão do membro de trás devem ser bastante
treinados.”
Sei, sei, sei, cada frase dessas vale uma dissertação de
mestrado. Não chegaremos a tanto, mas vou tentar conseguir espaço na agenda do
Marcelo para obter mais explicações sobre as teorias da Força Dinâmica sobre a
postura da corrida.
Fique com a gente que vem mais por aí.
Vamo que vamo!
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