Foi um tombo monumental.
A garota corria pelo meio da rua, cerca de dezenas de outros
corredores que participaram, na manhã deste domingo, da etapa paulistana do
Circuito da Longevidade Bradesco Turismo.
De repente, algo acontece. Ela tropeça e, talvez pela
velocidade que vinha imprimindo, talvez porque estivesse em uma descida, talvez
pela combinação desses fatores e outros tantos, sua queda foi espetacular:
rolou pelo asfalto e só foi parar perto na sarjeta, quase na guia da calçada.
Mal tinha parado que rolar e já estava cercada de gente,
outros corredores, que a ajudaram a se levantar e trataram de ver se havia
algum prejuízo de monta.
O incidente (acidente?) ocorreu a poucos metros de mim,
menos de dez metros. Quando passei pela garota, ainda abraçada por uma senhora
mais velha que a ajudava a caminhar, perguntei se estava tudo bem.
A resposta foi positiva. Dava para ver que a jovem –não devia
ter mais de 18 anos—não tinha se machucado, não havia sangue; mas ela parecia
meio tonta, talvez ainda chocada pela queda, assustada com tudo o que tinha
acontecido.
Quedas acontecem em corridas. Essa, porém, não foi acidente,
e sim resultado de incúria dos organizadores ou de quem desenhou o percurso da
prova, que integra um circuito apreciado por muitos iniciantes no mundo das
corridas.
Desenho do percurso disponível no site da prova |
Digo isso porque vi outros quase-acidentes, além do
desconforto de um bom número de corredores. A causa foi uma falha absurda no
desenho do percurso, desrespeitando até o traçado original da prova,
apresentado no site oficial.
Segundo aquele desenho (ao lado), o percurso da corrida de 6
km era uma volta só, com largada e chegada praticamente no mesmo ponto.
Largando de dentro do parque da Independência –aquele belissimamente
retratado em mural colocado na estação Alto do Ipiranga (metrô linha verde)--,
os corredores sairiam pela rua dos Patriotas, descendo à esquerda na rua Bom
Pastor para fazer uma longa volta que acabaria por cercar o perímetro do
parque, onde entrariam novamente pela rua dos Patriotas.
Dessa forma, seria uma longa procissão, na qual dificilmente
os primeiros colocados jamais encontrariam retardatários em seu caminho. Por
outro lado, os corredores mais lentos jamais teriam problemas com máquinas de
correr bufando ao seu redor.
Não foi o que aconteceu.
Trajeto efetivamente realizado pelos corredores |
Em vez da volta bonitinha e limpa apresentada no site, o
circuito foi encurtado. Assim, para completar os seis quilômetros, o que
enfrentamos hoje foi uma volta e meia em torno do parque, com consequências
danosas para a segurança e o conforto dos corredores.
Saímos pela rua dos Patriotas, como previsto, mas a chegada
foi pelo outro lado do parque, pela avenida Nazareth. Com a tal volta e meia,
os corredores mais rápidos se
encontraram com os mais lentos ao longo de mais de um quilômetro e meio.
Pior: os primeiros colocados chegaram em alta velocidade
exatamente em cima da massa dos mais lentos, dos retardatários.
Eu passei pelo pórtico de largada nove minutos depois do
tiro de largada; saí do parque uns quatro minutos depois e, como todos os
demais, desci à esquerda na rua Bom Pastor em direção ao meu primeiro
quilômetro na corrida.
Não tinha rodado 50 metros pela Bom Pastor quando comecei a
ouvir buzinas e gritos de “Afasta!, Afasta”, “Vão para a esquerda, para a
esquerda!”.
Eram os motoqueiros que precediam os primeiros colocados.
Vinham dois batedores serpenteando pela multidão que enchia a rua de lado a
outro.
Montados em suas possantes motos, o único aviso que davam ao povo eram
as buzinadas e os gritos, tentando abrir espaço para os monstros de velocidade
que desciam a rua Bom Pastor como se fossem salvar alguma ovelha do precipício.
A bagunça foi instaurada naqueles poucos metros em que
acompanhei o movi mento das motos e a passagem dos líderes. A massa foi forçada
para a esquerda, teve gente que parou, outros que gritaram, houve quem aplaudiu
os líderes, supercorredores para nós outros.
E foi nessa confusão que aconteceu a queda da moça.
Imagino que o problema tenha se repetido mais à frente,
pouco depois do quilômetro cinco, porque ali houve um cruzamento: a massa
seguia para a frente, rumo ao segundo quilômetro, e as motos e os líderes do
percurso, que estavam no lado direito da rua, deveriam dobrar à esquerda para
entrar na avenida Nazareth.
Corredores da turma dos mais lentos, como eu sobem a avenida Nazareth, perto do km 4 |
Nada disso, repito, estava apropriadamente sinalizado. Na bifurcação, havia pessoal da organização dando orientação aos gritos (a mim pareceu que foram colocados ali também de última hora, mas não posso afirmar).
Quando, cerca de 15
minutos mais tarde, passei por ali retornando para fazer minha primeira subida
da avenida Nazareth, havia sido improvisada uma linha divisória em parte dos
pontos em que os da primeira e da segunda volta dividiam o mesmo espaço.
Ainda bem que, ao que eu saiba, nada de mais grave
aconteceu. O que não significa que esse tipo de coisa seja aceitável, ainda
mais em um circuito tão bacana como o da Longevidade.
Ele tem etapas no Brasil todo, sempre com jornadas que
incluem uma caminha e uma corrida de percurso curto. Por isso, me parece um dos
mais importantes do país como divulgador da corrida como forma de melhorar a
qualidade de vida e como fator de atração de iniciantes para o mundo das
corridas.
Tudo isso dá ainda mais responsabilidade aos patrocinadores,
que deveriam ser mais rigorosos na cobrança dos realizadores da prova. Que, por
sua vez, falharam em outros quesitos além da lamentável falha no item
segurança.
O horário da largada, por exemplo, foi ótimo e muito bem
escolhido: sete horas da manhã. No dia de hoje, propiciou um clima agradável,
bom para uma corrida curta como a proposta pelo Circuito da Longevidade.
A
página da prova nas redes sociais, porém, apontava 7h30 como horário de
largada, o que fez com que muita gente chegasse atrasado.
Mais. Havia água em profusão, em dois postos bem servidos e
longos, com bastante gente para atender.
Largados em gavetões, os copinhos
estavam cobertos de gelo, também em grande quantidade. A água, no
entanto, estava morna, indicando que os postos de hidratação forma montados em
cima da hora. Só fui beber água gelada depois de terminar a provar a prova –menos
mal.
Muvuca para encontrar uma fila para conseguir a medalha, frutas e isotônico depois da prova - fotos Rodolfo Lucena |
Aparentemente, também houve problemas no
período de inscrição. Digo isso por causa de comentários que ouvi durante a muvuca (outra falha)
de espera para chegar a uma fila para pegar a medalha e as frutas pós-prova
(havia ainda isotônico bem gelado, ótimo).
Estou registrando, mas não posso confirmar: como fui
convidado pela assessoria de imprensa da prova, não tive de passar pelo
processo de registro via site.
Enfim, é uma série de problemas. Alguns muito graves, como a
questão de segurança do percurso, outros menos importantes –mas que incomodam o
corredor.
Imagino que possam ser corrigidos com facilidade (aliás, de
acordo com o site, o choque no percurso nunca deveria ter acontecido). Tomara
que sejam, pois a prova é divertida e tem méritos.
Vamo que vamo!
Mais uma doa péssimos organizadotes, se não bastasse as lambanças nas inscrições, mais uma para começar bem mau 2016!
ReplyDeleteE o continuísmo da falta de respeito pelo corredor, com idiotas que dizem ser do meio apenas por correm ou correram. Lamentável !
Rodolfo, tudo o que você citou é verdade.
ReplyDeleteQuanto as inscrições, aconteceu de divulgarem uma data mas o site da Ativo, sem alarde, liberar as inscrições um dia antes.
Ora, estamos na era da rapidez da internet! Bastou que um corredor notasse as inscriçoes abertas pra que a notícia se espalhasse via redes sociais e whatsapp com a velocidade desses superatletas que você viu hoje na prova.
Resultado: milhares se inscreveram pelo site da Ativo e outros milhares acessaram o site da Longevidade no dia seguinte às 10h como combinado e amplamente divulgado na página da Longevidade no Facebook, mas deram com a cara na porta, ou melhor, encontraram o aviso de inscrições esgotadas.
Pior, a organização da Longevidade não foi capaz de fazer o mea culpa, seguiu dando notícias dispersas de que houve apenas um engano e que novo lote seria liberado. E o raio caiu duas vezes no mesmo lugar: inscrições liberadas um dia antes, gente que deu com a cara na porta no dia anteriormente divulgado.
Como faço parte da turma do whatsapp, consegui me inscrever ainda no primeiro lote. Mas a lambança gerou desconfiança em quem não conseguiu, claro que aí surgem as teorias da conspiração, houve quem achasse que foi proposital, pra que as vagas fossem preenchidas por grupos selecionados, como funcionários, etc.
Isso e mais a mudança no percurso em relação aos anos anteriores, além da mudança de horário que, apesar de ter ficado melhor, pegou muita gente de surpresa, gente que participa há anos e sempre largou às 7:30, fez com que a prova perdesse alguns pontos em minha opinião.
Puxa, que cao. Mas e você? Fez a prova que queria? Está bem?
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