4.1.16

Primeiras impressões a respeito de um calçado de corrida chinês



A China vai dominar o mundo, dizem os entendidos, brandindo estatísticas econômicas e demográficas. Os quatro maiores bancos do mundo são chineses, o que já parece suficiente para exemplificar o poder desse grande país oriental.

No terreno esportivo, fizeram maravilhas nos Jogos Olímpicos de 2008, assombrando o planeta com os resultados de seus atletas, com a beleza das construções.

Naquele ano, aliás, o mundo foi brindado com o que talvez tenha sido o mais impressionante desempenho de um corredor em uma maratona olímpica, com a estupenda vitória do jovem Sammy Wanjiru.

Não surpreende, pois, que o país queira se estabelecer também como fornecedor de material esportivo para o mundo. É essa a missão da empresa que tem o estranho nome 361º (lê-se trezentos e 
sessenta e um graus).

Nunca tinha ouvido falar dela até o ano passado, o que apenas mostro com sou ignorante: a empresa nasceu em 2002 e a marca foi lançada dois anos mais tarde. Fornece equipamentos para seleções chinesas de várias modalidades e está hoje estabelecida na Europa, Estados Unidos e Brasil.

Ao longo dos últimos 20 dias, tive a oportunidade de testar seu modelo de ponta para corrida, o Spire. Trata-se de um calçado com bom amortecimento, para corredores de pisada neutra.

Segundo o material distribuído pela assessoria de imprensa, “o Spire é o top de linha da 361°, com o sistema de amortecimento QDP (Quick Dynamic Performance) – formado pela palmilha e entressola Quikfoam (EVA de diferentes densidades) e uma fina placa de EVA ainda mais densa (dura) sob a entressola para estabilização. O solado é de borracha, com esponja de borracha no antepé para reduzir o peso do tênis e aumentar o amortecimento e arco de TPU injetado para estabilidade. O cabedal é de Air Mesh para melhor ventilação, sem costuras no calcanhar, com aplicações estratégicas de TPU no contraforte. Tecido refletivo na biqueira e no calcanhar.”

Eu não dou muita bola para essas descrições supostamente mais técnicas. Quero saber, ver sentir o calçado, verificar se ele é firme onde tem de ser e flexível quando necessário.

Basicamente, o que todo aquele palavreado aí de cima quer dizer é que o Spire tem uma estrutura mais mais rija, sobre a qual são colocadas camadas para ampliar o conforto e o amortecimento.

O importante é que o objetivo é atingido. Ainda que não tenha o design feérico que as grandes marcas vêm adotando, o Spire é um calçado de boa qualidade, pronto para o trabalho.

Como se pode ver pela foto que ilustra este texto, trata-se de um modelo tradicional, nada daquela história de minimalismo ou drop 2 , drop 1, drop 0 (diferença, em milímetros, entre a altura do calcanhar e da parte da frente do calçado.

Donde se conclui que corredores ortodoxos, como eu, vão se sentir à vontade com o pisante. Ele é bem estruturado, firme; no calcanhar, isso é até um pouco exagerado para o meu gosto, mas não chega a causar desconforto. Corredores acostumados a calçados que “abraçam” o calcanhar talvez não gostem das “paredes” do Spire.

Do ponto de vista de amortecimento, me senti à vontade durante todo o tempo –fiz treinos de até 20 quilômetros com ele, rodando um total de mais de cem quilômetros no período de testes.

Quanto à aparência geral, achei meio mangolão; lembra os tênis que eu comprava no início do século... Talvez as combinações de vários tons de azul escuro tenham contribuído para essa impressão.

O preço sugerido no Brasil, R$ 549, é condizente com os modelos concorrente. O que me parece um erro; marcas que entram no mercado e querem cavar seu espaço costumam oferecer preços mais atraentes que os dos competidores.

Duvido que um consumidor vá deixar de comprar um produto que conhece tem preço semelhante apenas para experimentar um novo fornecedor. Mas os caras devem saber muito mais do que eu a respeito do comportamento do consumidor.

Aliás, essa parece ser a política da empresa nos vários mercados em que atua: nos EUA, por exemplo, o Spire custa US$ 140. O que o coloca na mesma faixa de preço dos top de linha de marcas mais conhecidas.

Enfim, é um tênis bom, confortável mesmo para corredores mais pesados. O preço, porém, não me parece compensador. E, para o meu gosto, não é dos mais bonitos.

Ah, faltou falar do nome da empresa, que me pareceu muito estranho. Qual seria o significado? Dar uma volta (360 graus) e andar mais um grau? Qual a vantagem disso? Não seria muito pouquinho?


Em minha defesa, registro que a própria empresa reconhece que muitos não entendem o raciocínio que existe por trás da marca. Mas eles explicam: “Um grau além dos 360 é um ponto que poucos alcançam e que muitos jamais entenderão. Para nós, um grau a mais é ir além. Além dos muros, além da zona de conforto, além do que se convencionou "o suficiente". Não importa se o limite parece próximo, se você está apenas iniciando a jornada ou se está recomeçando do zero”.

1 comment:

  1. Gostei da "aparência mangolão"! Esse foi um comentário de design que não tinha escutado antes. Concordo com o comentário do preço sugerido. Dificilmente, alguém vai arriscar comprar um 361º por R$549. Porque comprar incerto se podemos optar pelas marcas já consagradas? Eu tenho um blog sobre tênis para corrida, o teniscerto.com. Estava pensando em avaliar esse tênis, mas por mais confortável que seja o tênis, a questão do preço realmente pega na hora de indicar para um amigo.

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