A China vai
dominar o mundo, dizem os entendidos, brandindo estatísticas econômicas e demográficas.
Os quatro maiores bancos do mundo são chineses, o que já parece suficiente para
exemplificar o poder desse grande país oriental.
No terreno esportivo,
fizeram maravilhas nos Jogos Olímpicos de 2008, assombrando o planeta com os
resultados de seus atletas, com a beleza das construções.
Naquele ano,
aliás, o mundo foi brindado com o que talvez tenha sido o mais impressionante
desempenho de um corredor em uma maratona olímpica, com a estupenda vitória do
jovem Sammy Wanjiru.
Não
surpreende, pois, que o país queira se estabelecer também como fornecedor de
material esportivo para o mundo. É essa a missão da empresa que tem o estranho
nome 361º (lê-se trezentos e
sessenta e um graus).
Nunca tinha
ouvido falar dela até o ano passado, o que apenas mostro com sou ignorante: a
empresa nasceu em 2002 e a marca foi lançada dois anos mais tarde. Fornece
equipamentos para seleções chinesas de várias modalidades e está hoje
estabelecida na Europa, Estados Unidos e Brasil.
Ao longo dos
últimos 20 dias, tive a oportunidade de testar seu modelo de ponta para
corrida, o Spire. Trata-se de um calçado com bom amortecimento, para corredores
de pisada neutra.
Segundo o
material distribuído pela assessoria de imprensa, “o Spire
é o top de linha da 361°, com o sistema de amortecimento QDP (Quick Dynamic
Performance) – formado pela palmilha e entressola Quikfoam (EVA de diferentes
densidades) e uma fina placa de EVA ainda mais densa (dura) sob a entressola
para estabilização. O solado é de borracha, com esponja de borracha no antepé
para reduzir o peso do tênis e aumentar o amortecimento e arco de TPU injetado
para estabilidade. O cabedal é de Air Mesh para melhor ventilação, sem costuras
no calcanhar, com aplicações estratégicas de TPU no contraforte. Tecido
refletivo na biqueira e no calcanhar.”
Eu não dou muita bola para essas descrições supostamente mais técnicas.
Quero saber, ver sentir o calçado, verificar se ele é firme onde tem de ser e
flexível quando necessário.
Basicamente, o que todo aquele palavreado aí de cima quer dizer é que o
Spire tem uma estrutura mais mais rija, sobre a qual são colocadas camadas para
ampliar o conforto e o amortecimento.
O importante é que o objetivo é atingido. Ainda que não tenha o design
feérico que as grandes marcas vêm adotando, o Spire é um calçado de boa
qualidade, pronto para o trabalho.
Como se pode ver pela foto que ilustra este texto, trata-se de um modelo
tradicional, nada daquela história de minimalismo ou drop 2 , drop 1, drop 0
(diferença, em milímetros, entre a altura do calcanhar e da parte da frente do
calçado.
Donde se conclui que corredores ortodoxos, como eu, vão se sentir à
vontade com o pisante. Ele é bem estruturado, firme; no calcanhar, isso é até
um pouco exagerado para o meu gosto, mas não chega a causar desconforto.
Corredores acostumados a calçados que “abraçam” o calcanhar talvez não gostem
das “paredes” do Spire.
Do ponto de vista de amortecimento, me senti à vontade durante todo o
tempo –fiz treinos de até 20 quilômetros com ele, rodando um total de mais de
cem quilômetros no período de testes.
Quanto à aparência geral, achei meio mangolão; lembra os tênis que eu
comprava no início do século... Talvez as combinações de vários tons de azul
escuro tenham contribuído para essa impressão.
O preço sugerido no Brasil, R$ 549, é condizente com os modelos concorrente.
O que me parece um erro; marcas que entram no mercado e querem cavar seu espaço
costumam oferecer preços mais atraentes que os dos competidores.
Duvido que um consumidor vá deixar de comprar um produto que conhece tem
preço semelhante apenas para experimentar um novo fornecedor. Mas os caras
devem saber muito mais do que eu a respeito do comportamento do consumidor.
Aliás, essa parece ser a política da empresa nos vários mercados em que
atua: nos EUA, por exemplo, o Spire custa US$ 140. O que o coloca na mesma faixa de preço dos top de linha de marcas mais conhecidas.
Enfim, é um tênis bom, confortável mesmo para corredores mais pesados. O
preço, porém, não me parece compensador. E, para o meu gosto, não é dos mais
bonitos.
Ah, faltou falar do nome da empresa, que me pareceu muito estranho. Qual
seria o significado? Dar uma volta (360 graus) e andar mais um grau? Qual a
vantagem disso? Não seria muito pouquinho?
Em minha defesa, registro que a própria empresa reconhece que muitos não
entendem o raciocínio que existe por trás da marca. Mas eles explicam: “Um grau além dos 360 é um ponto que poucos alcançam e que muitos jamais
entenderão. Para nós, um grau a mais é ir além. Além dos muros, além da zona de
conforto, além do que se convencionou "o suficiente". Não importa se
o limite parece próximo, se você está apenas iniciando a jornada ou se está
recomeçando do zero”.
Gostei da "aparência mangolão"! Esse foi um comentário de design que não tinha escutado antes. Concordo com o comentário do preço sugerido. Dificilmente, alguém vai arriscar comprar um 361º por R$549. Porque comprar incerto se podemos optar pelas marcas já consagradas? Eu tenho um blog sobre tênis para corrida, o teniscerto.com. Estava pensando em avaliar esse tênis, mas por mais confortável que seja o tênis, a questão do preço realmente pega na hora de indicar para um amigo.
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