As dores na perna esquerda, que me acometeram na semana
passada e me deixaram fora dos treinos ao longo de toda esta semana, fizeram
com que eu buscasse mais informação sobre os sofrimentos que enfrentamos, sejam
físicos ou psicológicos –odeio fazer essa separação, porque tudo é do corpo,
mas a deixo aqui porque é comumente usada, fica mais fácil de todos nós entendermos
do que estou falando.
Claro que estou me tratando com a sensacional equipe do Vita
e tendo apoio da espetacular Força Dinâmica, o que não diminui minha
curiosidade sobre o assunto. Enquanto eles procuravam causas para meus
problemas e davam orientações para que eu, aos poucos, possa voltar ao combate,
saí a pesquisar uma questão talvez mais filosófica, mas também muito concreta,
física ao extremo: a dor.
Muitos de nós temos dores no corpo para as quais a medicina
não encontra explicação específica. As causas são difusas, inter-relacionadas; e
o tratamento acaba sendo o de tentar diminuir o sofrimento.
Há na medicina
especialistas nesse terreno, vindos das mais diversas áreas –pelo que
pesquisei, especialmente da ortopedia, da reumatologia e da geriatria, mas também
psicologia.
Entrei em contato com vários desses pesquisadores,
cientistas, militantes da luta contra a dor humana. Trago agora uma primeira
entrevista, em que a psicóloga Sarah Costa, 35, especialista em dor formada
pelo Einstein (sua tese foi “Contribuições da Psicoterapia no Processo
Subjetivo e Dinâmico da Dor Crônica”).
Ela disse que boa alimentação e atividade física são fatores
que ajudam a enfrentar a dor –o que alguns podem achar óbvio, pois o exercício
parece ser hoje uma panaceia para todos os males. Mas não só: o autoconhecimento
e autoaceitação também contribuem. São fatores que vêm com a experiência, acho
eu –às vezes, com a idade, mas nem sempre ser mais velho significa ser mais
experiente.
Os corredores exercitamos diariamente esses saberes: precisamos
saber quem somos para que possamos seguir em frente. E para nós é
imprescindível ser capaz de aceitar (ou enfrentar) nossas falhas, sem o quê o
treino seguinte passa a ser quase impossível.
Bueno, mas já estou falando demais. Fiquemos com as dicas de
Sarah Costa, que gentilmente respondeu às minhas perguntas por e-mail.
RODOLFO LUCENA - A
PERCEPÇÃO DA DOR MUDA COM A IDADE?
SARAH COSTA - Sim.
Além da óbvia degeneração temporal do corpo ou de condições específicas de
evolução médica de cada caso, a percepção frente à dor também irá influenciar
em diferentes quadros comportamentais. Comportamentos úteis (saudáveis)
beneficiam um melhor funcionamento hormonal; comportamentos contraproducentes
tendem a desbalancear a química relacionada à dor.
Nosso corpo pode ser considerado um laboratório. A mente e
as percepções provenientes desta, sim, influenciam de maneira positiva ou
negativamente na experiência da dor porque a percepção construirá as emoções e
as emoções alteram substâncias relacionadas ao sistema límbico. É importante
lembrar que há tratamento para dor.
A dor pode ser aguda ou crônica, e o tratamento deve ser
interdisciplinar, incluindo, sobretudo o próprio paciente. Neste caso o
“paciente” torna-se um “agente da própria mudança” contando também com ajuda
profissional.
A CAPACIDADE DE
ENFRENTAR A DOR MUDA?
Sim. A essa capacidade de enfrentamento diante de
adversidades damos o nome de resiliência. É natural que em diferentes
circunstâncias da vida a resiliência se manifeste de diferentes formas. Assim, algumas características devem ser cultivadas para uma boa performance no
contexto da resiliência. Veja a seguir alguns exemplos.
Desenvolver e praticar: controle e canalização de emoções; habilidades
de mediação e solução de problemas; boas conexões sociais; autoimagem como um
sobrevivente e não como uma vítima; capacidade de pedir ajuda quando necessário
E A CAPACIDADE DE RECUPERAÇÃO DE TRAUMAS?
Esse é um ponto interessante. Traumas são informações mais
fortes e difíceis de serem compreendidas. Comumente essas informações
“reverberam” e esse impacto de “reviver algo doloroso” consciente ou inconscientemente envolve uma
séria de emoções. Assim, é comum pacientes com alguma síndrome dolorosa crônica
terem também transtornos de humor e/ou de ansiedade.
Dependendo do grau de consciência do indivíduo, não há
barreiras para se trabalhar com a mente. É a mente que irá alavancar a
capacidade do indivíduo entender e lidar com o sofrimento, com a dor. A dor
aqui não é considerada apenas dores físicas, mas qualquer dor que o paciente
considera como tal. O sofrimento nunca deve ser subestimado.
QUE MEDIDAS HOMENS E
MULHERES MAIS VELHOS PODEM TOMAR PARA ENFRENTAR A DOR?
É importante procurar especialistas em dor, pois essa é uma
área relativamente nova no Brasil, mas já contamos com profissionais preparados
para lidar com o fenômeno da dor. Além de Exercícios físicos regulares,
alimentação saudável, vida familiar e social positiva, psicoterapia...
ALIMENTAÇÃO E ATIVIDADE FÍSICA PODEM SER
ALIADAS? COMO? POR QUÊ?
Sem dúvida alguma. Alguns hormônios inibidores da dor serão
secretados justamente durante a atividade física, como por exemplo, a
endorfina. Hoje em dia entender como e por que a dor acontece é fundamental,
mas é preciso mover-se. O pensamento está para a mente assim como o movimento
está para o corpo.
Eis alguns aspectos úteis no tratamento da dor: boa
qualidade de vida; boa nutrição; regulação do peso; mobilidade; aumento das
atividades (com acompanhamento); boa qualidade do sono; interação social; boa
interação familiar; autoaceitação; saúde no trabalho; equilíbrio financeiro; iniciativa;
autoconhecimento; entusiasmo; não uso de substâncias psicoativas; bom humor; e
lazer.
Rodolfo, não tenho os mesmos anos que ti, porém, estes mesmos anos tem começado a interferir no meu modesto desempenho de atleta amador...
ReplyDeleteEspecificamente em relação ao parágrafo imediatamente acima, de todos os aspectos citados, considero que a "autoaceitação" merece uma atenção especial.!
Abços
Marco
@marcoprimeiro