27.2.15

Fazer exercício e comer bem ajuda a enfrentar traumas, diz especialista em dor

As dores na perna esquerda, que me acometeram na semana passada e me deixaram fora dos treinos ao longo de toda esta semana, fizeram com que eu buscasse mais informação sobre os sofrimentos que enfrentamos, sejam físicos ou psicológicos –odeio fazer essa separação, porque tudo é do corpo, mas a deixo aqui porque é comumente usada, fica mais fácil de todos nós entendermos do que estou falando.

Claro que estou me tratando com a sensacional equipe do Vita e tendo apoio da espetacular Força Dinâmica, o que não diminui minha curiosidade sobre o assunto. Enquanto eles procuravam causas para meus problemas e davam orientações para que eu, aos poucos, possa voltar ao combate, saí a pesquisar uma questão talvez mais filosófica, mas também muito concreta, física ao extremo: a dor.

Muitos de nós temos dores no corpo para as quais a medicina não encontra explicação específica. As causas são difusas, inter-relacionadas; e o tratamento acaba sendo o de tentar diminuir o sofrimento. 

Há na medicina especialistas nesse terreno, vindos das mais diversas áreas –pelo que pesquisei, especialmente da ortopedia, da reumatologia e da geriatria, mas também psicologia.

Entrei em contato com vários desses pesquisadores, cientistas, militantes da luta contra a dor humana. Trago agora uma primeira entrevista, em que a psicóloga Sarah Costa, 35, especialista em dor formada pelo Einstein (sua tese foi “Contribuições da Psicoterapia no Processo Subjetivo e Dinâmico da Dor Crônica”).

Ela disse que boa alimentação e atividade física são fatores que ajudam a enfrentar a dor –o que alguns podem achar óbvio, pois o exercício parece ser hoje uma panaceia para todos os males. Mas não só: o autoconhecimento e autoaceitação também contribuem. São fatores que vêm com a experiência, acho eu –às vezes, com a idade, mas nem sempre ser mais velho significa ser mais experiente.

Os corredores exercitamos diariamente esses saberes: precisamos saber quem somos para que possamos seguir em frente. E para nós é imprescindível ser capaz de aceitar (ou enfrentar) nossas falhas, sem o quê o treino seguinte passa a ser quase impossível.
Bueno, mas já estou falando demais. Fiquemos com as dicas de Sarah Costa, que gentilmente respondeu às minhas perguntas por e-mail.

RODOLFO LUCENA - A PERCEPÇÃO DA DOR MUDA COM A IDADE?

SARAH COSTA - Sim. Além da óbvia degeneração temporal do corpo ou de condições específicas de evolução médica de cada caso, a percepção frente à dor também irá influenciar em diferentes quadros comportamentais. Comportamentos úteis (saudáveis) beneficiam um melhor funcionamento hormonal; comportamentos contraproducentes tendem a desbalancear a química relacionada à dor.

Nosso corpo pode ser considerado um laboratório. A mente e as percepções provenientes desta, sim, influenciam de maneira positiva ou negativamente na experiência da dor porque a percepção construirá as emoções e as emoções alteram substâncias relacionadas ao sistema límbico. É importante lembrar que há tratamento para dor.

A dor pode ser aguda ou crônica, e o tratamento deve ser interdisciplinar, incluindo, sobretudo o próprio paciente. Neste caso o “paciente” torna-se um “agente da própria mudança” contando também com ajuda profissional.

A CAPACIDADE DE ENFRENTAR A DOR MUDA?

Sim. A essa capacidade de enfrentamento diante de adversidades damos o nome de resiliência. É natural que em diferentes circunstâncias da vida a resiliência se manifeste de diferentes formas. Assim, algumas características devem ser cultivadas para uma boa performance no contexto da resiliência. Veja a seguir alguns exemplos.

Desenvolver e praticar: controle e canalização de emoções; habilidades de mediação e solução de problemas; boas conexões sociais; autoimagem como um sobrevivente e não como uma vítima; capacidade de pedir ajuda quando necessário

 E A CAPACIDADE DE RECUPERAÇÃO DE TRAUMAS?

Esse é um ponto interessante. Traumas são informações mais fortes e difíceis de serem compreendidas. Comumente essas informações “reverberam” e esse impacto de “reviver algo doloroso”  consciente ou inconscientemente envolve uma séria de emoções. Assim, é comum pacientes com alguma síndrome dolorosa crônica terem também transtornos de humor e/ou de ansiedade.

Dependendo do grau de consciência do indivíduo, não há barreiras para se trabalhar com a mente. É a mente que irá alavancar a capacidade do indivíduo entender e lidar com o sofrimento, com a dor. A dor aqui não é considerada apenas dores físicas, mas qualquer dor que o paciente considera como tal. O sofrimento nunca deve ser subestimado.

QUE MEDIDAS HOMENS E MULHERES MAIS VELHOS PODEM TOMAR PARA ENFRENTAR A DOR?

É importante procurar especialistas em dor, pois essa é uma área relativamente nova no Brasil, mas já contamos com profissionais preparados para lidar com o fenômeno da dor. Além de Exercícios físicos regulares, alimentação saudável, vida familiar e social positiva, psicoterapia...

ALIMENTAÇÃO E ATIVIDADE FÍSICA PODEM SER ALIADAS? COMO? POR QUÊ?

Sem dúvida alguma. Alguns hormônios inibidores da dor serão secretados justamente durante a atividade física, como por exemplo, a endorfina. Hoje em dia entender como e por que a dor acontece é fundamental, mas é preciso mover-se. O pensamento está para a mente assim como o movimento está para o corpo.


Eis alguns aspectos úteis no tratamento da dor: boa qualidade de vida; boa nutrição; regulação do peso; mobilidade; aumento das atividades (com acompanhamento); boa qualidade do sono; interação social; boa interação familiar; autoaceitação; saúde no trabalho; equilíbrio financeiro; iniciativa; autoconhecimento; entusiasmo; não uso de substâncias psicoativas; bom humor; e lazer.

1 comment:

  1. Rodolfo, não tenho os mesmos anos que ti, porém, estes mesmos anos tem começado a interferir no meu modesto desempenho de atleta amador...
    Especificamente em relação ao parágrafo imediatamente acima, de todos os aspectos citados, considero que a "autoaceitação" merece uma atenção especial.!
    Abços
    Marco
    @marcoprimeiro

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