Para os padrões deste blog, ela é
quase uma menina. Nem chegou aos cinquenta anos ainda. Mas sua trajetória acaba
de incluir uma mudança importante, que ela chama de "continuidade" de sua carreira.
"Estou fundando um veículo de comunicação", diz Cynara Menezes, uma colega jornalista que muitos conhecem melhor pelo nome do blog que criou há três anos, Socialista Morena.
"Estou fundando um veículo de comunicação", diz Cynara Menezes, uma colega jornalista que muitos conhecem melhor pelo nome do blog que criou há três anos, Socialista Morena.
Lá ela fala de política e de outras coisas da
vida, dos perrengues cotidianos, dos heróis anônimos nque fazem este mundo tão
bacana, divertido e surpreendente.
Durante a maior parte desses já
citados três anos, o blog se hospedou em grandes sites de notícias, filhos das
empresas em que Cynara trabalhava. Pois há alguns meses, ela decidiu mudar,
partiu para voo solo, sem rede de proteção.
Vai daí que resolvi conversar com ela
para discutir exatamente essa questão da mudança de vida, que tantos de nós
enfrentamos depois da aposentadoria, e que Cynara resolveu agarrar de uma vez. O
papo foi eletrônico, digital, mas espero que seja interessante para você.
Primeiro, ela se apresenta; depois,
entramos no assunto propriamente dito.
RODOLFO LUCENA - Quem é você? Onde e
quando nasceu, um pouco sobre a evolução de sua carreira...
CYNARA MENEZES - Sou Cynara Moreira
Menezes, nasci em 1967 em Ipiaú, uma pequena cidade da região cacaueira, na
Bahia, mas nunca morei lá. Em compensação, morei na Bahia toda... Meu pai era
bancário.
Estudei jornalismo na UFBA, em Salvador. Comecei a carreira fazendo
estágio na imprensa sindical, estagiei como jornalista esportiva de TV e depois
de formada fui repórter do Jornal da Bahia. De lá, fui para Brasília, onde
atuei no Jornal de Brasília, IstoÉ/Senhor, Folha e Estadão.
Fui para a Espanha
fazer um doutorado em literatura (não concluí) porque queria migrar da
cobertura política para a área cultural e, na volta, fui trabalhar na Folha,
desta vez em São Paulo.
Consegui minha meta de escrever sobre literatura, mas
vi que na verdade gosto mesmo é de escrever sobre temas variados... Da Folha
passei pelo Estadão, Veja, VIP e depois CartaCapital. Há sete anos estou de
volta a Brasília.
Quando surgiu o blog Socialista Morena? Por que você escolheu o nome? Qual a mensagem que você quer mandar com esse nome? O blog teve hospedeiros diversos ao longo do tempo? Conte como foi.
Em 2012 criei o Socialista Morena
pensando em ter um espaço mais autoral para mim, para minhas ideias –na Carta
fazia reportagens, não opinava. O nome é inspirado nas ideias de Darcy Ribeiro
e Leonel Brizola, quando voltaram do exílio, de criar um socialismo novo,
brasileiro, “moreno”.
Na época, os dois foram massacrados
pelos jornais, ridicularizados ao extremo. E, para mim, trata-se de uma utopia
maravilhosa, que transmite a ideia central de que outro mundo é possível, de
que o Brasil não precisa ser uma cópia dos Estados Unidos para “vencer”, que
pode seguir um caminho próprio.
Quando começou, o blog era
independente. Daí passou um ano e meio, mais ou menos, hospedado no site da
CartaCapital. Há dois meses voltou a ficar “à deriva” dos grandes portais,
totalmente independente.
O que você pretende com o blog agora?
E com a sua vida?
Quero escrever, tenho muitas idéias
de pauta. E ver no que vai dar.
Viver de blog não é fácil. Como você pretende tratar a questão financeira?
Já
consegui cerca de 400 assinantes e tenho esperança de que posso alcançar os
2.000, o que seria suficiente para minha manutenção e gastos pessoais.
Também
tenho recebido muitos convites para palestras, algumas delas remuneradas, o que
complementa a minha renda.
Penso também em organizar eventos de jornalismo de
esquerda para estudantes de jornalismo, vamos ver.
O que vier acima disso será
investido na contratação de gente. Preciso urgente de um estagiário!
Conte o que você faz fora de suas
atividades profissionais. Será que de vez em quando dá uma corridinha? Praia?
Natação? Tricô?
Eu ando de bicicleta, faço musculação
e ioga. Adoro andar de bicicleta, agora tenho uma dobrável que é meu xodó.
Gosto muito de fazer atividades físicas e sigo à risca o conselho de Nietzsche
de não acreditar em nenhum pensamento que não tenha surgido com o corpo em
movimento, com os músculos participando da festa.
Você teve recentemente uma grande perda, a morte de seu ex-marido, pai de seu filho. Como isso impactou suas decisões profissionais?
Na verdade, eu havia decidido tudo
pouco antes da morte dele. Foi bem difícil manter os planos, sabendo que meu
filho passaria a só poder contar comigo (financeiramente, inclusive) em um
momento de mudanças tão radicais em minha vida.
Mas a sorte já estava lançada e
essa será mais uma aventura em nossa vida. Dará certo, assim espero.
Imagino que o blog tenha lhe trazido muita satisfação, mas também deve haver muito perrengue, gente xingando, ameaçando. Conte um pouco sobre as reações do público.
O Brasil está infestado de gente
ignorante, e eu lamento muito que a mídia participe da disseminação dessa
ignorância. É absolutamente provinciano atacarem pessoas apenas por se dizerem
socialistas.
É o que acontece comigo desde que criei o blog: em primeiro lugar,
me atacam por me dizer socialista. Mas também é muito gratificante sentir o
carinho dos leitores diretamente, saber que está chegando até eles uma mensagem
positiva e, sobretudo, sentir que estou compartilhando conhecimento, premissa
básica do jornalismo tal qual o vejo.
Muito boa a entrevista!
ReplyDeleteA Cynara é fantástica. E o teu trabalho também, Lucena!
Parabéns! Sucesso!