27.2.16

Caminhada em Bragança Paulista reúne família de Manoel Fiel Filho

Dona Thereza estava feliz –e emocionada. 

Na manhã deste sábado, a viúva de Manoel Fiel Filho tinha à sua volta toda a família: duas filhas, três netos e dois bisnetos, mais genro e a esposa de um dos netos. Esperavam todos o início de uma caminhada em homenagem ao patriarca, nona etapa da CORRIDA POR MANOEL.

“É difícil reunir todo mundo assim”, comentou alguém. Como em todas as famílias, cada um tem seus horários de trabalho, seus compromissos, vontades e desejos. O encontro foi na casa da filha caçula de Manoel e Thereza, Márcia, em Bragança Paulista, onde todos moram atualmente.


De pé, a partir da esq.: Gabriel e sua mãe, Márcia; Thadeu, Thiago e sua esposa, Luciene; Aparecida e o marido, Osvaldo; sentados, dona Thereza e os bisnetos Maria Beatriz e Vinícius Augusto - foto Rodolfo Lucena


A filha mais velha, Aparecida, foi a desbravadora, a primeira que se mudou de São Paulo. Depois de viver por mais de 15 anos no mesmo sobrado de onde o pai foi levado, em 1976, para nunca mais voltar, decidiu que era hora de mudar de ares.

Ela e o marido, Osvaldo, já costumam levar os filhos para um sítio de lazer em Bragança. Resolveram se transferir de mala e cuia para a “Capital da Linguiça”.

Depois foi a vez da mais nova, que morava com mãe em São Vicente, para onde as duas tinham ido logo depois do assassinato de Manoel Fiel Filho.

 “A situação na época era meio estranha”, lembra Márcia. A família não chegou a ser perseguida, mas costumava haver gente rondando a casa em que moravam, na zona leste de São Paulo.

A pressão foi maior depois que dona Thereza entrou com processo para responsabilizar a ditadura militar pela morte do marido.

A família foi representada pelos advogados Marco Antonio Rodrigues Barbosa e Samuel Mac Dowell de Figueiredo. Na manhã deste sábado, quase vinte depois da última vez em que estiveram juntos, Marco Antonio esteve também na casa de Márcia para participar da caminhada com a família de Manoel Fiel Filho.


Dona Thereza mostra xícara de conjunto de porcelana que ganhou de presente de casamento - Fotos Eleonora de Lucena


“Vocês estão me fazendo lembrar de coisas que eu não queria lembrar”, disse, emocionada, dona Thereza, quando viu Marco Antonio subindo as escadas da casa. Os dois se abraçaram em silêncio, sorrisos de cada um encobrindo a emoção.

Não houve choro nem tampouco muitas reminiscências, apenas algumas histórias do tempo em que Manoel estava vivo. 

Osvaldo, marido de Aparecida, lembrou que foi ele quem contou ao sogro sobre a morte de Vladimir Herzog. Trocaram poucas frases, Manoel quis logo mudar de assunto.

“Meu pai não gostava de falar de política nem de religião nem de futebol”, disse Aparecida. Osvaldo, palmeirense, reafirma: nunca chegou a ter discussões esportivas com o sogro corintiano.


A partir da esq.: Gabriel, Osvaldo, Laura, Aparecida, Marcia, Marco Antonio, Carmen e Rodolfo 


O papo estava bom, mas o asfalto nos chamava para a caminhada. O grupo que foi para a rua foi menor: Aparecida e o marido, Marcia e o filho, Gabriel, Marco Antonio com sua mulher e filha, Carmen e Fabiana, mais os Lucenas: Eleonora, eu e nossa filha mais velha, Laura, que é historiadora e está ajudando na pesquisa e produção da Corrida por Manoel.

A caminhada foi curta, um passeio de amigos e conhecidos. Demos uma volta na praça conhecida como “Do Matadouro”, porque ali funcionava um abatedouro de gado. A antiga construção, erguida em um dos cantos do parque, é hoje um centro cultural.

Quando havíamos quase completado a primeira volta na praça, começa a chuva que vinha se armando desde o início da manhã. Não chegou a ser um aguaceiro, mas deu para refrescar corpos e espíritos.

No final, estávamos todos rindo. A despedida virou uma promessa de reencontro.

CORRIDA POR MANOEL - nono  dia

Destino: Caminhada com a família de Manoel Fiel Filho em Bragança Paulista, 1 km em 20min.

Distância acumulada: 88,25 km

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