É um local que está no imaginário de todos os que estudam as
lutas pela democracia no país: foi lá que serviu o capitão Carlos Lamarca, de
lá ele saiu com 63 fuzis para comandar a resistência armada contra a ditadura
militar.
Imaginava o quartel localizado em uma colina, distante de
tudo, de tudo protegido. Mas não: está numa baixada, perto da movimentada
avenida dos Autonomistas, atrás da linha de trem.
É relativamente próximo ao centro da
cidade. Fica a cerca de dois quilômetros do local onde funcionava a metalúrgica
Cobrasma, epicentro de um dos maiores movimentos operários que o país já viu, a
Grande Greve de Osasco, em 1968.
Cheguei ali, aliás, ciceroneado por um ativista do Sindicato
dos Metalúrgicos de Osasco. Assessor da diretoria, Wilson Costa, 39, correu
comigo desde que atravessei o viaduto Único Gallafrio para atingir a região
dominada pela estação de trem Presidente Altino.
Com a ajuda dele, foi fácil enfrentar as quebradas até
chegar à avenida dos Autonomistas, que leva direto à frente do quartel, num
percurso de cerca de cinco quilômetros –para mim, que vinha do alto da zona
oeste paulistana, totalizou 18 quilômetros e mais uns troquinhos.
Enfim chegamos à frente do quartel, que foi comandando pelo
general Euryale de Jesus Zerbini, um dos poucos oficiais de tão alta patente
que se colocaram contra o golpe militar de 1964, em defesa da Constituição e da
legalidade.
Quando veio a sublevação, Zerbini –irmão do cirurgião Euryclides,
pioneiro do transplante cardíaco— já não estava mais no controle da unidade de
Quitaúna.
Comandava tropas no interior do Estado, e chegou a fazer uma movimentação
para levar seus homens em direção ao Rio de Janeiro.
À medida que seguia, porém, recebiam notícias de que mais e
mais comandantes aderiam ao movimento golpista. Zerbini (1908-1982) foi preso e
levado ao Forte de Copacabana.
Foi um dos poucos generais que tentaram esboçar uma reação
ao golpe, como ele mesmo disse em entrevista publicada no livro “Zerbini – Um General
Muito Amado”, de sua mulher, a advogada Therezinha de Godoy Zerbini, ela também
um símbolo da luta democrática no pais.
“O que restou na hora do confronto?”, pergunta ele. E
responde a si mesmo: “Cunha Mello, que tentou resistir em Minas, o general Ladário
Telles, no III Exército, e eu”.
E ensina: “O que deveria ter prevalecido era um juramento,
uma legalidade e, sobretudo, uma Constituição intocável. Numa situação dessas,
cada comandante sabe que tem de ser leal ao seu comandante. Não a homens, mas à
Presidência da República”.
Que assim seja, penso eu, enquanto começo a retornar de
Quitaúna, o quartel de Zerbini. E o quartel de Lamarca. Mas isso é outra
história.
CORRIDA POR MANOEL – 24ª etapa
Destino – Quartel de Quitaúna, Osasco, percurso de 18,16 km
realizado em 2h20min17
Distância percorrida até agora: 253,73 km
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