15.3.16

General de Quitaúna defendeu legalidade e tentou resistir ao golpe

O quartel de Quitaúna, em Osasco, foi o meu destino de hoje na 24ª etapa da CORRIDA POR MANOEL.

É um local que está no imaginário de todos os que estudam as lutas pela democracia no país: foi lá que serviu o capitão Carlos Lamarca, de lá ele saiu com 63 fuzis para comandar a resistência armada contra a ditadura militar.

Imaginava o quartel localizado em uma colina, distante de tudo, de tudo protegido. Mas não: está numa baixada, perto da movimentada avenida dos Autonomistas, atrás da linha de trem.

É relativamente próximo ao centro da cidade. Fica a cerca de dois quilômetros do local onde funcionava a metalúrgica Cobrasma, epicentro de um dos maiores movimentos operários que o país já viu, a Grande Greve de Osasco, em 1968.



Cheguei ali, aliás, ciceroneado por um ativista do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco. Assessor da diretoria, Wilson Costa, 39, correu comigo desde que atravessei o viaduto Único Gallafrio para atingir a região dominada pela estação de trem Presidente Altino.

Com a ajuda dele, foi fácil enfrentar as quebradas até chegar à avenida dos Autonomistas, que leva direto à frente do quartel, num percurso de cerca de cinco quilômetros –para mim, que vinha do alto da zona oeste paulistana, totalizou 18 quilômetros e mais uns troquinhos.

Enfim chegamos à frente do quartel, que foi comandando pelo general Euryale de Jesus Zerbini, um dos poucos oficiais de tão alta patente que se colocaram contra o golpe militar de 1964, em defesa da Constituição e da legalidade.

Quando veio a sublevação, Zerbini –irmão do cirurgião Euryclides, pioneiro do transplante cardíaco— já não estava mais no controle da unidade de Quitaúna. 

Comandava tropas no interior do Estado, e chegou a fazer uma movimentação para levar seus homens em direção ao Rio de Janeiro.

À medida que seguia, porém, recebiam notícias de que mais e mais comandantes aderiam ao movimento golpista. Zerbini (1908-1982) foi preso e levado ao Forte de Copacabana.

Foi um dos poucos generais que tentaram esboçar uma reação ao golpe, como ele mesmo disse em entrevista publicada no livro “Zerbini – Um General Muito Amado”, de sua mulher, a advogada Therezinha de Godoy Zerbini, ela também um símbolo da luta democrática no pais.

“O que restou na hora do confronto?”, pergunta ele. E responde a si mesmo: “Cunha Mello, que tentou resistir em Minas, o general Ladário Telles, no III Exército, e eu”.

E ensina: “O que deveria ter prevalecido era um juramento, uma legalidade e, sobretudo, uma Constituição intocável. Numa situação dessas, cada comandante sabe que tem de ser leal ao seu comandante. Não a homens, mas à Presidência da República”.

Que assim seja, penso eu, enquanto começo a retornar de Quitaúna, o quartel de Zerbini. E o quartel de Lamarca. Mas isso é outra história.



CORRIDA POR MANOEL – 24ª etapa

Destino – Quartel de Quitaúna, Osasco, percurso de 18,16 km realizado em 2h20min17

Distância percorrida até agora: 253,73 km

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