26.10.15

Franck mostra armas na luta por vaga na maratona do Rio-2016

Desta vez, Franck Caldeira completou a prova. Não só foi até o fim como fechou a maratona em tempo suficiente para garantir o índice olímpico. Foi por pouco, apenas 25 segundos de margem, mas está valendo.

Neste momento, o garoto que um dia foi apontado como menino-prodígio, esperança brasileira de novas supermarcas na maratona, tem o terceiro melhor tempo dos maratonistas verde-amarelos.

Foi como esperança nacional, aliás, que ele começou a maratona em Toronto, nos Jogos Pan-Americanos. 

Mas não chegou ao final, tendo de abandonar a prova por causa de uma lesão no posterior da coxa.

Depois do processo de recuperação –coisa lenta e dolorida, chata que só ela--, Franck tratou de ver se conseguia voltar a correr bem uma maratona.

“Foi um ciclo de treinamento muito curto, voltado para obter o índice e para ver se ele já estava recuperado”, disse seu treinador, Ricardo D`Angelo, em comunicado à imprensa.

E assim Franck Caldeira entrou na prova em Frankfurt, Alemanha. Sentindo-se bem, fez grande parte da prova em ritmo na casa dos 3mi10/3min12 por quilômetro. Assim foi até o km 38.

 “No km 39, veio a zebra. Acho que foi falta de treino”, disse ele. O ritmo caiu para 3min20/km, despencou para 3min40, e Franck completou em 2h16min35 (o teto do índice é 2h17).

Isso não dá camisa a ninguém, pois outros corredores estão disputando o que parece ser apenas uma vaga –considerando o quadro atual, Marílson Gomes dos Santos (2h11) e Solonei Silva (2h13min15)  têm suas vagas virtualmente asseguradas.


Franck sabe disso. Afirmou que a maratona de Frankfurt foi um incentivo para ele trabalhar mais e melhor na sua preparação, buscando marca melhor no início do ano que vem.

Potencial para ser mais rápido ele já mostrou que tem; vamos ver se o confirma no asfalto.

22.10.15

Contra a depressão, uma divertida maratona em Budapeste

Foi por ordem médica que a paulista ANDREIA OLIVEIRA começou a correr. Por volta de 2004, sofreu um crise de pânico, teve diagnóstico de depressão, e o psiquiatra recomendou que ela escolhesse um esporte para praticar com regularidade.
Passou a correr três vezes por semana, sempre numa balada bem tranquila –vagarosa, alguém poderia dizer. Quando se mudou parta Lisboa, onde trabalha em uma empresa de telecomunicações, passou a se dedicar à corrida com mais afinco.
“Comecei com a Corri da Mulher, que são cinco quilômetros, e quase morri”, diz ela em depoimento para este blog. “Achei que não conseguiria mais.”
Pois aquela prova, há quatro anos, foi o início de uma jornada, uma história de paixão pela corrida e de alegria por correr. Vieram as provas mais longas, 10 km, meia maratona e a estreia na maratona, em dezembro de 2012.
“Como sou uma corredora lenta, mas resistente, passei a me dedicar mais às provas longas. Já fiz sete maratonas e quatro ultras, sendo uma de 43 km na areia”, conta Andreia, que tem 37 anos.
Ela acaba de incluir mais uma no currículo, a bela maratona de Budapeste. E mandou um relato especial para este blog. Fiquemos, pois, com a história de Andreia em Budapeste.

“Hospedei-me em um hotel nas proximidades da largada, pois praticamente iria fazer a prova sozinha. No sábado de manhã, fiz trote de cinco quilômetros para conhecer o local e soltar os músculos.

Durante todo o dia, houve várias corridas em diversas distâncias, de  400 metros a 10 km, ou seja para todos os gostos. Fui a Pasta Party e não me dei bem: a massa era estranha e tinha uns molhos doces, enfim diferente do que estou habituada encontrar em outras maratonas.

Domingo não precisei acordar tão cedo, já que estava a 1,5 km da partida. Fui a pé e apanhei logo uma chuva daquelas, com bastante frio.

Resolvi ir ao banheiro, mas havia um enorme congestionamento. Fila que fila que fila que fila: só saí dali às 9h28 e tive de correr para ficar pronta para a largada, que seria às 9h30.

Já não consegui entrar no brete do pessoal que previa terminar em quatro horas. Acabei ficando na última fila, daqueles que iriam para o tempo máximo da prova –5h30.

O começo foi muito estressante: só passei pela largada 12 minutos depois de a corneta ter soado, e ainda toda encharcada e com frio. Para piorar as coisas, era seguida pelo ônibus-prego, que pega os corredores que não cumprem o tempo limite em alguns pontos da prova. O corredor que passa pela meta volante depois da hora marcada é desclassificado.

Por tudo isso e mais um pouco, dei o maior gás nos primeiros quilômetros. Até o km 8 corri feito uma maluca, com os pés megacongelados. Foi dificil. 

Mas depois deixei rolar, e esqueci do tempo que queria fazer, ainda mais porque uma lesão em julho último me impediu de treinar como eu pretendia.
Então, resolvi relaxar e aproveitar a corrida e desfrutar a cidade.

Foi muito bom entrar nesse espírito, pois a maratona foi fantástica, muito apoio nas ruas. As pessoas carregavam cartazes de incentivo --eu não entendia nada, claro–, e não tiveram medo do frio e da chuva. 

Mesmo idosos e crianças vieram nos incentivar, bastante animados.

Adorei a prova. Havia comida e bebida em quase todos os postos de abastecimento, música, até moradores a tocar violino e saxofone (que luxo).

Muitos corredores fantasiados: tinha pantera cor de rosa, cubo mágico, anjos, nem sei como conseguem correr 42 km com tanta tralha.

Enfim meu objetivo foi cumprido. Acabei conseguindo fazer a prova em menos de 4h30 e ainda conheci uma nova cidade.

Recomendo vivamente Budapeste. Além da maratona, há uma prova de 30 km e a maratona de revezamento, portanto quem não se sente preparado para os 42 km pode se aventurar nas outras.


Já penso na próxima, mas não sou atleta, sou somente uma mulher que resolveu correr e foi feliz para todo o sempre!!!”

19.10.15

Chorando de soluçar, mineira vira melhor brasileira em Chicago

Para completar nossa cobertura da maratona de Chicago, trago hoje para você a história da melhor brasileira na Cidade do Vento. É uma mineira/paulista –nasceu em Minas, mas nunca morou lá, vive, trabalha e corre no calorzão de Ribeirão Preto.

Estou falando de NAIARA FARIA XAVIER, 39, oftalmogista por profissão e corredora por adoção. Como muitos de nós, ela começou a correr para manter o peso e ficar bem de saúde, mas não era muito rigorosa nos treinos. Quando resolveu fazer uma maratona, porém, a coisa mudou... A partir de agora, ela mesma conta sua história, que já tem um momento de campeã.



“Comecei a treinar para minha primeira e supostamente única maratona no final de 2010, quando me inscrevi para a prova de Berlim, que faria no ano seguinte. Até então mantinha uma rotina bem irregular de corrida e hábitos alimentares péssimos, isso para colocar as coisas de forma delicada...

Procurei a Gabriela Motta, nutricionista, e mudamos absolutamente tudo. Para minha feliz surpresa, foi bem fácil seguir e gostar da nova alimentação.

Passei a treinar de forma regular e fechei Berlim, em 2011, feliz da vida com 3h28. E aí começaram os “problemas”: meu resultado dava índice pra Boston 2013, então "bora" manter os treinos e alimentação adequados até lá e encaixar uma prova em 2012.

Escolhi a maratona de Porto Alegre, em que fui ainda mais rápida do que em minha estreia em Berlim. Comecei a gostar dessa história de melhorar os tempos.

Em 2013 passei a treinar com o Rodrigo Inouye, e os resultados foram ainda mais expressivos. Nesse ano de 2015, enfim, passei a considerar fortemente que seria possível completar uma maratona em menos de três horas.

Me inscrevi para Porto Alegre e Chicago. Na primeira, quebrei após o km 35 e fechei com 3h03. Tirei um mês para "pé na jaca total" e voltei a sonhar com o sub3.

Fiquei mais espartana com a dieta que a Gabi bolou e consegui "secar" bem. Me desdobrei pra encaixar todos os treinos de fortalecimento e de corrida que o Rodrigo passou e fui pra Chicago superconfiante.

Meu marido não poderia me acompanhar, então viajei com uma amiga que também correria, minha irmã mais velha e meu pai.

A cidade é impressionante! Linda, arborizada, cheia de flores, impecavelmente limpa. O rio e lago maravilhosos. As pessoas supereducadas e prestativas. Já estava deslumbrada.

A prova foi a cereja do bolo da viagem: organização perfeita desde a feira até a festa pós-prova. Doze mil voluntários sorrindo e trabalhando incansavelmente pra tornar tudo excepcional.

Como eles oferecem marcadores de ritmo para vários tempos, inclusive para completar em três horas, decidi me ajeitar com esse grupo pra evitar o vento e aproveitar o ritmo.

Ledo engano: não é possível evitar o vento em Chicago! Consigui acompanha-los até o km 41, e ali já tinha certeza que o sub3 era garantido.

Eis porém que surge uma subidinha, danada de maldosa, bem no finzinho. Resultado: 3h00min07. Demorei uns 20 minutos para cair a ficha e aí chorei, chorei e chorei mais um pouco...

Pode parecer meio ridículo, mas, para mim, naqueles instantes soava bem razoável chorar de soluçar! 

Me acalmei, fui encontrar minha família e esperar a grande amiga Fernanda terminar.
Eles já sabiam o resultado pois meu marido foi mandando mensagens de texto o tempo todo para atualizá-los. E avisou: “ela vai chegar bem tristinha”.

Na verdade, eu já estava ficando feliz por ter feito uma prova bem redondinha e ter melhorado o tempo em três minutos.

Todos já reunidos, fomos comer e comemorar. Horas mais tarde, recebi uma mensagem me contando que eu tinha sido a melhor brasileira!

Pensa numa criança feliz... Eu não acreditava... Ainda mais lindo foi ver o orgulho do meu pai. 

Minha irmã avisou pra cada ser vivo que encontrou que a irmã dela tinha sido a melhor brasileira em Chicago. Realização pra lá de completa. Incrível como família e amigos conseguem melhorar TUDO!

Quanto ao sub3, quem sabe mais pra frente? Agora esses oito segundos já não me parecem tão ruins assim..."

18.10.15

É no Paraná a nova etapa do MARATONANDO COM O MST

Queridos e queridas, companheiros e companheiras

Nesta semana, começo nova etapa da jornada MARATONANDO COM O MST. Vou visitar acampamentos e assentamentos de trabalhadores rurais sem terra no Paraná, correr pelos campos e contar suas histórias

Estão todos convidados para visitar minha página, mandar críticas, sugestões, curtir, compartilhar, divulgar::: http://mstmaratonando.wordpress.com

Além disso, você pode colaborar com o projeto comprando meu sensacional livro +CORRIDA pelo preço de apoio de R$ 60 (mais frete, o que dá um total de R$ 72,50).




O colaborador ganha um sensacional marcador de livro com reprodução de obra produzida pela artista plástica Teresa de Teresa Lucena​ (veja a foto)

Se quiser o livro, mas não está a fim de colaborar com o projeto, o preço é R$ 30 (com o frete, R$ 42,50).

Mais detalhes, mande e-mail para  lucenacorredor@gmail.com  que eu respondo na hora.

16.10.15

Confira avaliação do Ignite XT, novidade da Puma para corridas

Ignite XT - Divulgação
Fazia tempo que eu não testava um calçado de corrida da Puma. Se bem me lembro, o último que avaliei foi o Puma Mobium, que prometia uma “corrida adaptativa” –segundo a propaganda, o solado se expandia e contraía de acordo com a passada.

O tênis era muito bonito e levíssimo, mas nem um pouco adequado para corredores como eu, que sou lento e pesado.

Também não senti, nos testes, os tais movimentos do solado que prometiam tornar a corrida mais natural (talvez porque eu faça muito esforço para correr; não sou um atleta de nascença).

Bueno, passados pouco mais de dois anos, volto a avaliar um tênis da Puma, também lançado com pompa e circunstância –na apresentação internacional, teve até a cantora Rihanna, além de embaixadores mais ligados ao mundo do atletismo, como o homem mais rápido do mundo, o jamaicano Usain Bolt.

O tênis é o Ignite XT, evolução da linha Ignite, que tem desenho feérico como o nome pressupõe.

Só de olhar, dá para perceber que, desta vez, é uma calçado para corredores comuns: a sola tem boa camada de borracha e a área do calcanhar é mais alta do que a da frente do pé.

A primeira impressão foi confirmada quando calcei o tênis. É bem confortável e, diferentemente do outro modelo da Puma que avaliei, oferece um bom espaço para a parte da frente do pé. O dedo mingo agradece.

Fiz uma meia dúzia de corridas e caminhadas com o Ignite XT, completando cerca de 80 quilômetros. Não percebi o tal “maior retorno de energia” prometido pela propaganda do modelo.

Aliás, esses clichês são difíceis de entender e mais difíceis ainda de confirmar. Afinal “maior retorno” do que o oferecido por qual calçado? Como se mede isso? Como foi medido no caso específico do Ignite XT?

Não digo que a afirmação do material de divulgação não seja verdadeira. Imagino, porém, que ela só possa ser medida com testes específicos.

O que dá para comprovar, no asfalto e na terra, é que o calçado de fato é muito confortável e que oferece um bom amortecimento. 

Talvez o solado no calcanhar seja até flexível demais –em descidas mais fortes ou quando acelerei um pouco mais tive a sensação de que a borracha cedia demais. Mesmo assim, de modo geral a sensação é de segurança na passada –pelo menos, nas distâncias que percorri, de até 20 km.

Lingueta abre só de um lado - Foto Rodolfo Lucena
Não vi no material de divulgação nada explicando a razão e o por quê dessa novidade. Estranhei nas primeiras vezes em que coloquei o calçado, na hora de dar aquela puxada final na lingueta antes de amarrar o cadarço. Mas não senti diferença nenhuma em relação a conforto ou falta de conforto.

Longe do mundo minimalista, o XT pesa 286 gramas, o que é bastante razoável para calçados com bom amortecimento –um modelo que testei recentemente pesa 264 gramas. E continua abaixo do peso dos modelos mais tradicionais (o que uso para correr maratonas pesa mais de 320 gramas).

Seu preço de lista é R$ 449,90, mais barato do que modelos de ponta das grandes marcas, mas acima dos preços oferecidos por marcas que tentam ampliar sua fatia de mercado no Brasil. De qualquer modo, é um calçado que vale experimentar.

13.10.15

Melhor brasileiro na maratona de Chicago festeja como campeão


Olha, não desminto ninguém que diga que eu sou bairrista, mas a cada dia surgem novas comprovações de que tenho razão. É gaúcho o melhor brasileiro na maratona de Chicago deste ano. É bem verdade que, nascido em Porto Alegre há 43 anos, ele só começou a participar de corridas quando se mudou para São Paulo, já lá se vão 16 anos.

Estou falando de Jacques Jochims Fernandes, leiloeiro de profissão e atleta amador dedicadíssimo. O cara é daqueles para quem a frase “movido a desafios” se encaixa mesmo como uma luva.

Quando chegou a São Paulo, foi convidado por amigos para participar de uma prova de dez quilômetros. Tendo praticado outros esportes até então, resolveu aceitar. Para botar fogo na coisa, os amigos duvidaram que conseguisse fechar em menos de 50 minutos. Pois completou sua prova de estreia em 48 minutos.

De lá para cá, o entusiasmo virou “uma vontade louca de sempre melhorar os tempos”, como ele me disse em mensagem por e-mail. Fez muitas corridas de 10 km, participou de meias maratonas, chegou ao tratlo, completou dois IronMan, tem no currículo três Cruce de Los Andes e uma Comrades –o Jacques não é fraco não.

Fiquemos pois com o texto que ele escreveu especialmente para este blog. Obrigado, Jacques, pela colaboração e pelas fotos. Vamos ao relato da participação do gaúcho que foi o melhor brasileiro na maratona de Chicago.
 

"Corri em Chicago a minha primeira maratona, em 2005. Depois dela, foram outras 18 provas, nos mais diversos lugares. Voltei agora para fazer minha maratona número 20.

Tive várias provas marcantes, como quando pela primeira vez completei a distância em menos de três horas, em Berlim, ou a maratona de Boston no ano do atentado.

Aquilo foi muito triste, e me fez voltar lá no ano seguinte. Essa prova me marcou muito: neste ano de 2015, retornei a Boston mais uma vez, agora em homenagem ao meu pai, que havia morrido semanas antes.

Eu nem estava inscrito para a prova, mas mandei um e-mail para a organização, liguei para eles, conversei sobre a homenagem, e eles me aceitaram. Pronto: eis aí mais uma prova do que essa maratona é para mim. Voltarei todos os anos para Boston se eu conseguir. Já está tudo certo para 2016.

Mas a maratona mais emocionante de todas foi sem dúvida a de Buenos Aires em 2013, quando corri empurrando minha filha Gabi no carrinho. Em alguns treinos já a levava para correr comigo, até que, com essa premissa de sempre achar alguma forma de se motivar e se superar com desafios, tive a ideia de querer fazer sub3 empurrando minha filha!!!

Foi demais essas prova, nada fácil e bem dura, mas, como digo sempre, a cabeça forte, foco, e claro muito treino e dedicação, fazem chegarmos perto do que queremos. A chegada foi emocionante e com o tempo de 2h58:  a Gabi era uma sub3.

Chegamos a Chicago!

Essa cidade é demais. Quando corri aqui minha primeira maratona, quis ousar,  mas quebrei no final da prova e terminei com 3h22. Voltei no ano seguinte e mais consistente e entendendo que não é só festa correr uma maratona, seguindo os treinos à risca, terminei com 3h05.

A cidade de Chicago e a população abraçam a prova com carinho, o que ajuda muito durante a prova. A organização aqui é impecável. Muitos hotéis próximos à largada colaboram para a logística no dia da prova.

É uma prova plana e bastante rápida, o que a credencia para quem queira  buscar performance e baixar seus tempos. O clima aqui tem variado muito, mas sempre com tendência de ser uma prova fria, o que não aconteceu neste ano.

Diante de todas essas variáveis, e por ter corrido aqui havia muitos anos, sem um resultado muito bom, decidiu voltar e fazer uma prova muito forte, tudo ou nada. Iria para a morte, como costumamdizer.

Treinei realmente muito forte, fazendo muito volume semanal --cerca de 130 quilômetros--,  com dieta restrita para estar o mais leve possível, o que faz uma grande diferença.

Queria melhorar meu recorde pessoal, que era de 2h53 em Boston em 2014. Estava muito focado e determinado.

Quando começou o assunto de que faria calor no dia, o que realmente fez, pensava em não deixar isso abalar minha confiança e determinação. Foco é foco, e a cabeça tem que mandar no corpo.

Todas as provas uso isso a meu favor. Mentalizo quando corro o tempo inteiro. E assim larguei esse ano aqui em Chicago com a meta de fazer 2h50 !

Nessa prova iria seguir a risca o planejado pelo Emerson, meu técnico da MPR, com um início de prova um pouco mais lento, aumentando depois do km 3, para administrar no final.

Comecei como planejado. Quando acelerei, acabei encontrando um pelotão de uns seis ou oito corredores com camisetas iguais, que estavam muito pouco abaixo do que era para eu manter de ritmo. Pensei que seria melhor correr junto com eles do que ir sozinho tomando vento na cara, pois também ventou bastante em alguns pontos.

Funcionou bem, mas não contava que o pelotão quebrasse tão cedo: no km 32 já estava sozinho. Mas, como sempre digo, maratona é uma prova de 10 km com um aquecimento de 32 km, era naquela hora que tudo começava, era a hora de fazer força.

Cabeça forte, cabeça...mentalizo e converso comigo mesmo que vou fazer !! Mesmo que esteja cansado nunca digo ou penso nisso durante a prova quando estou correndo. Passei no km 35, onde estava meu técnico, e mandou segurar firme o ritmo, pois estava no programado, mas não poderia perder ritmo.

No km 38 entramos na avenida Michigan, que leva para a chegada. Um cansaço pesou as pernas, mas consegui segurar bem por mais 2 km. No km 40 tive uma sensação de melhora, mas não melhora nada, é só psicológico, pois vai terminar, mas é o suficiente para ajudar.

Pensei em acelerar um pouco e tentar chegar com 2h49, mas via pessoas que estavam correndo bem ao meu lado e, de uma hora para a outra, tinham câimbra e paravam.

Resolvi não arriscar o que teoricamente já estava construído. No final, após a subida que entra na reta final no meio do parque, faltando uns 400 metros, olhei no meu relógio e cogitei ainda chegar em 2h49.

Acelerei muito, mas as pernas já estavam meio sem controle, dei umas duas tropeçadas. Diminuí um pouco, mas segui forte, até que o tempo virou para 2h50 e desacelerei para chegar muito, mas muito feliz, com aquela sensação de que tinha sido o vencedor da maratona, em 2h50min09!


Isso é fantástico! É difícil explicar a sensação que sentimos, só quem corre sabe dimensionar este sentimento. Chicago é demais ! 


E, como surpresa, por neste ano não ter vindo nenhum profissional correr a prova, ela ainda se tornou mais marcante. Além de ter feito meu recorde pessoal, tive a grata satisfação de ser o melhor brasileiro na Chicago Marathon 2015."


12.10.15

“Velhinha” Deena Kastor é destaque na lenta prova de Chicago

As mulheres da elite bem que tentaram fazer da maratona de Chicago uma prova competitiva, vibrante, estimulante. 

Até a metade da prova, o primeiro pelotão feminino correu vários blocos de cinco quilômetros em ritmo que, se mantido, traria como resultado um tempo final sub2h20.

Não é grande coisa, se comparado com o recorde mundial, mas é melhor do que nada. Hoje em dia, aliás, a marca de 2h20 parece ser a que divide as supercorredoras da elite internacional.

Já os homens nem chegaram perto de tentar ao menos o recorde do percurso na prova realizada no último domingo. Rodando sem coelhos, mesmo os mais rápidos e experientes quenianos resolveram ficar cozinhando o galo, guardando energias para disputar apenas o título do dia –e uma grana bem razoável, cem mil doletas...

Talvez tenham achado que nem os US$ 5.000 de bônus para correr abaixo de 2h08 valessem a pena o esforço, talvez nenhum deles estivesse em um dia bom, vai saber... O certo é que ninguém se animou mesmo com os R$ 75 mil para recorde do percurso ou R$ 40 mil para sub2h05min30...

Apenas dois norte-americanos deram um pouco de sangue e energia para o asfalto. 

O grandalhão Luke Puskedra (mais de 1,90 m) ficou firme e forte com o primeiro pelotão e acabou fazendo o melhor tempo norte-americano do ano (2h10min24), que lhe valeu o quinto lugar.

Naturalizado norte-americano, tendo até servido ao Exército dos EUA, Elkanah Kibet –natural do Quênia— mostrou galhardia em sua estreia na distância. Sem medo do vento, puxou o primeiro pelotão por um bom tempo, completando em 2h11min31. O campeão foi Dickson Chumba, com 2h09min25.

Entre as mulheres de elite, a atração durante boa parte da prova foi a balzaquiana  Kayoko Fukushina, que combateu com firmeza atletas mais jovens e com melhor recorde pessoal, changando a liderar a prova por vários quilômetros. O esforço pesou, e ela acabou em quarto lugar. A campeã foi a queniana Florence Kiplagat, com 2h23min33.

Dito isso, vamos ao que interessa, àquela que correu com sangue nos olhos, contra o relógio e contra a idade.

Estou falando da medalhista olímpica Deena Kastor (bronze em Atenas 2004), 42, que bateu o recorde norte-americano da maratona para veteranos (maiores de 35 anos).

Eu sou um admirador da Kastor desde sua performance olímpica. Naquele ano, tive oportunidade de entrevistá-la e conversamos por e-mail sobre táticas de prova –em Atenas, sob forte calor, ela deu uma aula de paciência e resistência na maratona.

Pois neste domingo ela manteve a escrita, saindo com muita calma, conhecedora de suas limitações e de sua capacidade. Também sabia precisamente a marca que deveria ser batida –2h28min40, recorde que já durava uma década, estabelecido pela grande maratonista Colleen De Reuck aos 41 anos.

Kastor largou forte, com ritmo que a colocaria na casa das 2h27. Chegou a reduzir um pouco depois do km 15, mas sempre ficando perto da marca a ser batida. Passando a metade da prova, porém, tratou de queimar o chão, disposta a não deixar passar essa oportunidade de mostrar que as “velhinhas” também correm.

Dona do recorde norte-americano da maratona –2h19min36 (Londres-2006)--, ela agora é também a mais rápida veterana da história do país. Completou a prova em 2h27min47, o que leh valeu o sétimo lugar.

Não só: sua marca é agora o quarto melhor tempo entre as qualificadas para participar da seletiva para escolher a equipe norte-americana que vai correr a maratona olímpica Rio-2016.

 Ainda entusiasmada pelo ótimo resultado dominical, Kastor não fala sobre planos futuros. Mas disse à imprensa norte-americana que espera estar em boa forma em fevereiro, quase será realizada a seletiva. 

“Se eu tiver gana, estarei na linha de largada”.

Tomara. Mesmo que não se classifique para sua quarta olimpíada, é de se esperar que não vá fazer uma corrida medíocre.

8.10.15

No Dia da Criança, corrida denuncia violência contra os menores


No Dia da Criança, o povo de Cachoeirinha, cidade na região metropolitana de Porto Alegre, vai fazer uma festa diferente. Uma tradicional corrida do município lança os holofotes sobre um problema muito sofrido e pouco divulgado na nossa sociedade:a violência contra os menores de idade.

A 10ª edição da Rústica contra a Violência Infantil tem um percurso de 8,5 km para adultos e de 1,5 km para crianças. Haverá também atividades recrativas e sorteio de brindes.

Não dá mais para fazer inscrições pela internet, mas, de qualquer forma, se você morar na região, dê uma olhada no site oficial do evento (CLIQUE AQUI). Lá há informações de contato; de repente, ainda é possível fazer inscrições de outra maneira. Ou dá para ver como você pode colaborar com as entidades beneficentes que organizam a corrida.

Acho de extrema importância que colegas corredores comecem a usar eventos de rua para denunciar problemas graves de nossa sociedade. Já temos várias corridas que procuram divulgar informações sobre males que nos afligem; a violência contra a criança é uma doença social.

E não só brasileira. Estudo realizado pelas Nações Unidas (clique AQUI) mostra que, em 2002, quase 53 mil crianças morreram em todo o mundo em 2002 vítimas de homicídios.

A organização Mundial da Saúde estima que 150 milhões de meninas e 73 milhões de meninos abaixo de 18 anos foram forçados a manter relações sexuais ou sofreram outras formas de violência sexual que envolveram contato físico em 2002.

Segundo uma estimativa da OMS, entre 100 milhões  e 140 milhões de meninas e mulheres do mundo sofreram alguma forma de mutilação genital.

Estimativas da OIT (Organização Internacional do Trabalho) indicam que, em 2004, 218 milhões de crianças participaram de esquemas de trabalho infantil, das quais 126 milhões em atividades perigosas. 

Estimativas de 2000 sugerem que 5,7 milhões de crianças foram submetidas a esquemas de trabalho forçado ou escravo, 1,8 milhões se envolveram com a exploração sexual e a pornografia e 1,2 milhão foram vítimas de tráfico.

Além disso, há a violência secreta, no interior das casas. Os espancamentos, os abusos sexuais, a intimidação, os maus tratos.


É um tema espinhoso, dolorido para muitos. Mas é preciso que seja trazido ao debate. 

Encontrei na internet uma longa entrevista de um médico pediatra que fala sobre o assunto. Vale a pena dedicar um tempo para a leitura. Clique aqui para acessar o texto.

6.10.15

Confira avaliação da linha de tênis de corrida da Skechers


Acabo de testar a linha de tênis de corrida da Skechers, empresa norte-americana que se notabilizou por lançar calçados esportivos de baixo custo relativo.

Conquistou boa fatia do mercado de frequentadoras de academia no final da década passada com o lançamentos dos calçados shape-ups, que prometiam reforçar a musculatura de coxas e bumbum. 

A promessa custou caro à empresa, que foi processada por agentes reguladores de mercado dos Estados Unidos, acusada de propaganda enganosa. Não foi condenada, mas fez acordo para acabar com a ação judicial.

Águas passadas, a Skechers tratou de ampliar seus investimentos no mercado de calçados de corrida, fazendo logo de cara a contratação de um excelente garoto-propaganda.

Em 2010, aos 35 anos, o medalhista olímpico Meb Keflezighi terminou a maratona de Nova York em um modesto sexto lugar. No ano seguinte, recebeu da Nike o bilhete azul: seu contrato não foi renovado.

Pois a Skechers, que lançara em 2010 sua divisão de calçados de performance, aposto no cara. E viu sua estrela chegar em quarto lugar na maratona olímpico de Londres-2012. Melhor: Meb se tornou, em 2014, o primeiro norte-americano a vencer a maratona de Boston desde 1983!!! (saiba mais sobre a contratação neste texto em inglêsAQUI).

Claro que a empresa lançou um tênis de corrida com o nome de sua estrela. O GOmeb Speed 3 é o calçado mais especial entre os que testei. Foi desenvolvido com a colaboração do próprio maratonista, que usou o dito cujo em provas de grande exposição midiática.

Além do GOmeb, experimentei também o GOrun 4, mais modernoso da linha performance hoje disponível no país, o GOrun Ultra 2 e o GOrun Ride 4. Fiz de três a cinco corridas com cada um deles, além de usá-los também em várias caminhadas –a exceção foi o GOmeb, e já explico por quê.

A principal razão é que cada vivente tem um corpo, e nem tudo o que serve para uma pessoa serve para outra.

O tal calçado de maratonas criado com base em opiniões do maratonista olímpico dos EUA com certeza deve ser muito bom para alguém leve, rápido, com pés finos e baixos, que faz treinos de pouca duração. Tudo o contrário deste seu criado, que é gordinho, lento, tem pés chatos, altos e largos.

Para piorar as coisas, o desenho do cabedal do calçado faz com que ele seja bem justo sobre o peito do pé, apertando vigorosamente a parte lateral. 

ara corredores rápidos, isso talvez faça sentido. Não para mim. Vai daí que usei o calçado do Meb em apenas um treino. Achei que seria um risco seguir com a experiência.

O GOrun 4 é um pouco melhor para as minhas dimensões. Tem mais amortecimento do que o GOmeb e é bastante confortável e leve.
Seu cabedal se ajusta carinhosamente sobre os pés. 

A chamada toebox, área da frente do calçado, é bem larga, o que me agradou bastante –apesar de ser o número 11, e não o 11,5, que costumo usar, não ficou apertado. Mas ainda está mais próximo do mundo minimalista do que me parece confortável.

Já os outros dois modelos me conquistaram pelo conforto, leveza e alto grau de amortecimento.

O Ultra2 chega a ser meio monstro, com camada de borracha bem gordota e bastante flexível. O design do solado induz o corredor a uma passada que começa pelo meio do pé.

Nas primeiras caminhadas e corridas, a sensação é de instabilidade –algumas vezes, quase bambeei o pé--, mas a gente se acostuma e logo passa a aproveitar o ótimo amortecimento do calçado.


Espécie de meio termo entre o GOrun 4 e o Ultra 2 no que se refere a peso e amortecimento, o Ride 4 inspira confiança logo de cara. Tanto que, na primeira vez que o coloquei nos pés, já saí para um treino de 15 quilômetros.

Não tive problemas maiores e gostei da leveza do calçado –estou acostumado a tênis mais pesados e um pouco menos flexíveis.

Enfim, me parece uma linha de tênis para treino e corrida que vale a pena ser examinada na hora da compra de novos calçados.

Os preços podem ser fator decisivo na hora da escolha, pois são bem mais baixos que os de marcas mais conhecidas no mercado brasileiro.

O Ride 4, por exemplo, tem preço de lista de R$ 299,99, mas já vi na internet com desconto de 10%.


5.10.15

Mais jovem campeão mundial da maratona quer brilhar no Rio

A Folha publicou hoje entrevista que fiz com Ghrmay Ghebreslassie, mais jovem campeão mundial de provas de rua na história da IAAF, a Fifa do Atletismo. Aos 19 anos, ele venceu a maratona no Mundial de Pequim, em agosto último, deixando para trás superferas. Dadas as limitações de espaço no jornal, o texto publicado foi apenas um pedaço do material que produzi. A seguir, leia o texto integral.

Chegava a ser chato. O narrador do Mundial de maratona não se cansava de comparar o líder da prova com o grande corredor etíope Haile Gebrselassie, um dos maiores maratonistas da história. Não poucas vezes, fez alusões a um suposto parentesco entre o garoto que liderava a corrida e o monstro que chegou a ter 27 recordes mundiais.

A bem da verdade, o locutor esportivo brasileiro não está sozinho na sua confusão. No verbete da Wikipedia dedicado a Ghirmay Ghebreslassie –atleta da Eritreia que fez história correndo em Pequim em 22 de agosto último— aparece o aviso: “Não confundir com Haile Gebrselassie”. E até no site da sisuda IAAF que organiza o Mundial, um dos textos inicia falando do quase-homônimo.

Não tem nada a ver, é claro. Aliás, talvez os dois nomes nunca chegassem a aparecer juntos não fosse a cabeça dura do jovem eritreu. “Meus pais desejavam que eu me tornasse um estudante universitário, mas eu queria ser um bom atleta”, disse ele à imprensa internacional depois da prova.

E assim, desafiando a vontade paterna, tratou de se exercitar nos períodos em que não estava na escola, na pequena Kisadeka, onde Ghebreslassie nasceu em 14 de novembro de 1995, filho de uma família de trabalhadores rurais.

Mas só começou a participar de competições de verdade em 2009, conforme contou em entrevista que me concedeu por e-mail. 

“Minha primeira corrida foi uma prova de 1.500 m. Eu só me lembro de que era o menorzinho da turma. E de que fui o campeão.

Situação que se repetiu em Pequim, em agosto passado. Mirrado, com bigodinho fino e olhar de cenho carregado, que fazem com que aparente ser mais velho, o adolescente se tornou o mais jovem atleta a ganhar uma prova de rua em Mundial.

Em nenhum momento se intimidou frente aos nomões que lá estavam -–para começar, o atual recordista mundial da distância e seu antecessor, Dennis Kimetto e Wilson Kipsang, ambos quenianos e ambos mais velhos do que o eritreu.

“A experiência, por si mesma, tem grande valor”, reconhece Ghirmay, de 19 anos, acrescentando: “Mas também é preciso ter talento para saber controlar o ritmo na maratona”.

Foi o que ele fez naquele dia, em que seguiu as precisas orientações de seu treinador, o holandês, com quem trabalha desde 2013. “Corri como planejado. Apesar de eu poder ir mais rápido, fiquei com o pelotão até por volta do km 34, para guardar energias para os quilômetros finais e resistir à alta umidade”.

O plano funcionou. O jovem teve forças para uma dura disputa cabeça a cabeça com o etíope Yemani Tsegay, dez anos mais velho que o eritreu: “Ele me passou no km 38, mas eu respondi imediatamente. Fiquei nas costas dele, pensando que o ouro tinha de ser meu. Então disparei”.

Foi com tudo, mas sem perder a cabeça. Bem antes da largada, ele e seu treinador já acreditavam que Ghirmay poderia vir a ser o campeão.

Por isso, foi combinado que o técnico holandês ficaria na boca do túnel, na entrada da pista de atletismo do estádio Olímpico, onde seria o final da maratona, carregando uma bandeira da Eritreia.

Caso Ghirmay chegasse na frente, ergueria bem alta a flâmula nacional. Na hora, porém, o holandês estava conversando com um jornalista da Eritreia, e foi este quem acabou entregando a bandeira para Ghirmay.

O jovem então fez das tripas coração para botar mais força e velocidade, agora homenageando a pátria africana.

Parte de suas energias, acredita o jovem campeão, vem da sua alimentação.
Vive em Asmara, capital de seu também jovem país –a Eritreia conquistou sua independência da Etiópia em 1993--, mas sempre que pode busca alimentos produzidos por sua família.

“É tudo comida orgânica”, diz, afirmando que dá preferência a vegetais e sementes como base de sua alimentação.

Depois de fazer história no atletismo como mais jovem campeão mundial na maratona e primeiro medalhista de ouro em seu país, Ghirmai nem pensa em pendurar os tênis de corrida.


Nos seus planos imediatos está passar uma temporada de treinamento nos Estados Unidos  --que não estava confirmada quando concedeu a entrevista à Folha. E sonha, claro, com a Olimpíada: “Quero brilhar como um diamante na maratona no Rio de Janeiro”.