30.6.16

CONSUELO DE CASTRO, presente, agora e sempre!

A dramaturga Consuelo de Castro morreu na manhã desta quinta-feira, 30 de junho, vítima de câncer.

Seu trabalhou calou fundo na minha geração (que é também a dela): foi uma obra de resistência, denúncia da ditadura e anúncio de novos caminhos.

Nos anos 70, era quase um heroísmo produzir cultura que retratasse as lutas populares contra a ditadura. Mais ainda, montar e levar ao público aquelas denúncias –coisa que nosso grande Teatro de Arena, de Porto Alegre, fazia com audácia e desprendimento.

Foi lá, nos altos do viaduto Borges de Medeiros, que tive a satisfação de ver “À Flor da Pele”, e aprendi a acompanhar o trabalho de Consuelo (na foto, em 1969, ano em que escreveu a peça).

Há dois anos, falei pela primeira vez com ela. Não ao vivo e em cores, mas por e-mail. Fiz com ela uma breve entrevista para uma reportagem especial que estava produzindo para a “Folha de S. Paulo”.

Para marcar os 50 anos do golpe militar de 1964, entrevistei artistas, intelectuais, escritores, produtores culturais –você pode conferir a reportagem CLICANDO AQUI

Pedi a cada um que indicasse dez músicas que lhes lembrassem o período da ditadura, as canções mais emblemáticas dos anos de terror. Solicitei também que falassem um pouquinho de si mesmos.

Publico a seguir a íntegra da resposta de Consuelo de Castro. A ilustração deste texto é o convite para uma peça dela apresentada em Belo Horizonte em 2014 como parte das manifestações sobre os 50 anos do golpe de 1964.

  

"Caro Rodolfo

"Tenho 68 anos, sou escritora, dramaturga, publicitária e roteirista.

"Estreei em literatura aos 16 anos, com um livro de poesias : "A ULTIMA GREVE" - publicado pela Martins e prefaciado por Guilherme de Almeida.

"O golpe militar me pegou no primeiro dia de aula no Curso Livre de Ciências Sociais da USP. Fui militante do Movimemto Estudantil.

"A censura proibiu meu primeiro texto teatral, “PROVA DE FOGO”, em 1968.

"Passei minha juventude e grande parte de minha vida adulta sob a ditadura e a censura, mesmo não  tendo participado da luta armada fui presa três vezes, uma delas no DOI-Codi.

"Tive a maioria dos meus textos censurados integral ou parcialmente, mas consegui apesar disso escrever mais de 30 textos de teatro e TV e por em cena quase todos eles.

"Sou mãe de Pedro Paulo e Ana Carolina, ele jornalista, com 38 anos, ela fotógrafa, com 34. Tenho um netinho absolutamente lindo chamado Antônio, que é o que de mais feliz a vida me trouxe. 

"As músicas do tempo das trevas são: 

“Apesar de você” - Chico Buarque

“Prá não dizer que não falei de flores” - Vandré

“Eu quero é botar meu bloco na rua” - Sérgio Sampaio 

“Sunny”, com Johnny Rivers, e “Let`s twist again”, com Chubby Checker - não são exatamente musicas criadas NO PERÍODO, mas para mim se identificaram com ele.

"Vc pode tornar públicas estas informações. 

"Espero ter respondido ao seu pedido

Consuelo de Castro"