Um intrépido e trepidante grupo de corredores e caminhantes
democratas e patriotas realizou na noite deste dia 25 de julho de 2016 o
PRIMEIRO TREINO LIVRE NO ELVADO PRESIDENTE JOÃO GOULART.
Fazendo o que gostamos, afirmamos a luta pela legalidade em
nosso país, mais uma vez ameaçada hoje em dia, como ocorreu em 1964, quando
Jango foi apeado do poder por golpe militar.
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Turminha reunida antes de começar a caminhada/corrida -- Fotos Eleonora de Lucena |
Nosso treino noturno foi tão pioneiro quanto a iniciativa da
Prefeitura de São Paulo, eliminando de ruas e obras viárias nomes vinculados à
ditadura, ao golpismo e ao mais raso entreguismo da Nação.
Falo pioneiro com absoluta fidelidade aos fatos. Essa foi a
primeira mudança de nome de rua em São Paulo –no caso, de um elevado—aprovada pela
Câmara Municipal e sancionada pelo prefeito Fernando Haddad, do PT.
A assinatura da lei foi feita em ato público na manhã de
segunda-feira, com a presença de diversos representantes de movimentos populares
e associações de memória.
À noite, a comemoração foi do povo –ou, pelo menos de uma
parcela do povo que gosta de correr pela liberdade. E o nosso foi o primeiro
treino coletivo no elevado, ainda que o local tenha recebido muitos outros
corredores avulsos.
Tudo isso se refere ao monstrengo viário e arquitetônico
conhecido como Minhocão.
Foi idealizado e construído no final da década de 1960 pelo
então prefeito biônico Paulo Maluf. Inaugurada em 25 de janeiro de 1975, a obra
consumiu trezentos mil sacos de cimento, sessenta mil metros cúbicos de
concreto e duas mil toneladas de cabos de aço. Em alguns pontos, passa a menos
de cinco metros das janelas dos vizinhos.
Áulico dos ditadores, Maluf batizou o Minhocão de Elevado
Presidente Costa e Silva, homenagem ao general que comandou o Brasil em um dos
períodos mais sangrentos da ditadura –ele é a triuste figura que assinou o
AI-5, expressão jurídica do abuso e da violência contra o cidadão.
Pois apesar de a ditadura já ter sido derrotada há mais de
30 anos, até agora persistem homenagens a figuras envolvidas nessa ação
lesa-pátria.
Por isso, há que aplaudir a iniciativa paulistana de jogar
fora o nome de Costa e Silva e homenagear o patriota João Goulart -além de tudo, gaúcho de São Borja.
Foi o que fizemos, à nossa maneira.
Pouco depois das nove da noite já estávamos em um pequeno
grupo, esperando a hora de o elevado recém-batizado abrisse as portas para o
povo –às 21h3o o trânsito é interrompido, e o Minhocão vira um enorme parque
popular.
Claudinha e Nita, que já haviam participado de etapas da
nossa querida CORRIDA POR MANOEL, foram as primeiras a chegar, logo trazendo
com elas um colega radialista, parceiro de treinos.
O engenheiro Jurivaldo Santos, que mora em Jarinu, estendeu
seu dia em São Paulo para nos dar a satisfação de sua presença. Ele é apoiador
de um grupo chamado Mães pela Inclusão, muito bacana. E o grande escritor e
jornalista Luiz Claudio Duarte também disse presente! (aliás, mancheteiro de
primeira, foi ele quem criou o título deste artigo).
Duarte começou a passo, ao lado de Eleonora de Lucena,
autora de um formidável artigo sobre a conjuntura atual – para ler o texto,
clique AQUI. Nós outros partimos em ritmo de corrida brincante.
Não sem antes
tirarmos a histórica foto com a bandeira nacional –na verdade, uma canga, a mesma com que me esquentei depois de uma ultramaratona na maior praia do mundo, no Rio Grande do Sul ...
Numa noite muito agradável, as conversas foram muitas.
Fiquei impressionado e revoltado ao saber que, nos grupos de corrida,
corredores democratas e patriotas vêm sendo discriminados por gente enganada
pelos golpistas.
Em algumas assessorias esportivas, quem se manifesta contra
o golpe é simplesmente banido dos grupos internéticos. Gente, menos!! Os
golpistas não se dizem democratas? Pois que enfrentem o contraditório.
Nossa corrida teve pouco mais de cinco quilômetros, o que
já me deixou esfalfado por causa do ritmo que os companheiros resolveram
imprimir. Eles deveriam respeitar um velhinho quase sexagenário, mas, nada!!
Bueno, eu ia até escrever mais um pouco, mas vou parar por
aqui mesmo, usando como encerramento uma fala do já citado Duarte:
“Caminhar sobre o novo elevado João Goular
foi uma celebração, mais um ato simbólico do paulistano no sentido de superar
essa obra que exalta a engenharia bruta e um regime sanguinário, responsável
pelo AI-5, mortes e perseguições. A cada ano que passa o paulistano expressa um
novo modo de ver e usar o elevado. Fora, Costa e Silva! Fica, João Goulart,
para sempre!
Que beleza!!!!
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Bueno, terminei o meu texto, mas ficam
ainda algumas observações, avisos e outras coisas.
1. Fique atento, pois vamos prosseguir nos
encontros dos corredores patriotas e democratas. Se você tiver sugestão de
caminho ou evento, mande aí e a gente conversa. Pela legalidade! Contra o
Golpe! Pela Pátria!
2. A mudança de nome do elevado faz parte
de um projeto chamado Ruas da Memória, implementado pela Coordenação de Direito
à Memória e à Verdade, da Secretaria Municipal dos Direiros Humanos e da
Cidadania.
Ao saber de nosso PRIMEIRO TREINO LIVRE NO
ELEVADO PRESIDENTE JOÃO GOULART, Dyego de Oliveira, assessor da coordenação,
mandou uma simpática mensagem para mim. Ela vai reproduzida a seguir:
“Olá, Lucena!
“Olá, Lucena!
Genial
a ideia de fazer a corrida no elevado pra marcar a data! Parabéns!
Sobre
a mudança dos nomes estas são realmente as primeiras. Como a Carla disse já
temos outros PLs tramitando na câmara para fazer a alteração de outros nomes e
um em vias de ir para lá resultado de uma mobilização recém-realizada na zona
norte. O mais interessante desta última é que lá nós fomos convidados pelos
coletivos da região que já estavam se mobilizando para mudança do nome, nos
parâmetros do Ruas de Memória. Quer dizer que nossos objetivos de
territorializar o debate e envolver as comunidades estão acontecendo não
necessariamente por nossa iniciativa, o que é incrível. É a cidade se
apropriando do programa e da discussão deste tema.
Atualmente estão tramitando na câmara os
PLs 410 e 411 de 2015, enviados à câmara no dia de lançamento do programa Ruas
de Memória, e o PL 193 de 2016.
O PL 410/2015, de autoria do executivo,
introduz alterações na lei de logradouros de 2013 vedando a denominação de
logradouros públicos com nome de pessoas que tenham cometido crime de
lesa-humanidade ou atuado em graves violações aos direitos humanos, bem como
relacionado a fatos, eventos ou datas alusivas a essas ocorrências.
Na esteira do PL 410/2015 enviamos
também o PL 411/2015 que prevê a alteração do nome do viaduto 31 de Março, na
região do Pq. Dom Pedro, para Viaduto Therezinha Zerbini, lutadora pela
Anistia. A aprovação deste PL depende da aprovação do 410/2015 já que datas
alusivas a estes movimentos não estavam contempladas como motivo de alteração
na legislação corrente.
Já o PL 193/2016 de autoria da vereadora
Juliana Cardoso, altera a denominação da Rua Doutor Alcides Cintra Bueno Filho,
na Vila Amália, para Rua Zilda Arns, fruto de mobilização do Ruas de Memória
com os moradores em novembro passado.
Como disse lá em cima teremos logo mais
outro PL em tramitação para alterar o nome da Praça General Milton Tavares de
Souza (o Caveirinha). O nome para alteração já foi até escolhido pelos
freqüentadores da praça na mobilização feita lá no último dia 09 de julho.
Outro PL que está tramitando é o PL
243/2013 que altera a denominação da Rua Doutor Sérgio Fleury para Rua Frei
Titto. Este PL é de autoria de vários vereadores, puxado principalmente pelo
Orlando Silva, resultado de diálogos acompanhados pela Coordenação de Direito à
Memória e à Verdade. Este PL não está vinculado diretamente ao Ruas de Memória,
mas tem princípios muito parecidos e acompanhamos esta tramitação também.
Qualquer
outra dúvida, Lucena, pode entrar em contato conosco.
Um
forte abraço,
Dyego
Pegorario de Oliveira
Assessor
Coordenação
de Direito à Memória e à Verdade
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