30.3.15

Velhinhos de Limeira dão exemplo de velocidade e resistência

Hoje trago para você uma história muito bacana, que mostra a tenacidade dos corredores mais velhos. Trata-se das aventuras da turma de Limeira, no interior de São Paulo, onde um grupo de veteranos mantém acesa a chama do esporte, inspirando e mobilizando gente muito mais jovem.

Até dois meses atrás, quando lancei este blog, nunca tinha ouvido falar desse grupo.Quem chamou minha atenção para os masters de Limeira foi a jornalista Daíza Lacerda, uma jovem de 30 anos que está se iniciando nas artes da corrida –orientada por um veterano que tem mais que o dobro de sua idade, o Fumaça (olhaí os dois na foto/Arquivo Pessoal).

Pois a Daíza mandou para mim uma simpática cartinha eletrônica me convidando para conhecer a turma e participar das corridas que organizam na cidade. E falou também dos problemas que enfrentam: a cidade perdeu há pouco sua principal pista de atletismo, por causa de obras para contenção de enchentes. Os treinos são feitos numa pista nova, improvisada, mas a turma não dá o braço a torcer.

Conversa vai, conversa vem, foi a minha vez de fazer o convite, chamando a Daíza para uma colaboração para o blog, deixando que ela mesma contasse a história dos seus companheiros de treinos e inspiradores para a corrida.

Ela gentilmente aceitou e acabou mandando o texto que publico a seguir; também mandou uma batelada de fotos. Infelizmente, não dá para publicar todas. Espero que as imagens que escolhi já sirvam para você conhecer melhor essa sensacional turma de corredores que enfrentam o tempo e as adversidades em nome da saúde e do prazer de correr.

Bueno, fique agora com o texto da DAÍZA LACERDA, a quem mais uma vez agradeço pela contribuição.




VETERANOS DE LIMEIRA PERDEM A PISTA, MAS NÃO A POSE

Para eles, a idade parece quase um detalhe. Circulando com suas rugas, cabelos brancos e peles flácidas, parte dos vovôs e vovós de Limeira quer saber mesmo é de correr. Nas trilhas com pedra e areia fofa do Horto Florestal de Limeira, eles não perdem o riso e nem a competitividade. Do alto dos seus 60, 70 ou quase 80 anos de idade, começam cada ano com uma nova medalha na coleção.

Com recorde de 230 inscritos, o Campeonato Municipal de Pedestrianismo de Limeira está sendo realizado pelo 22º ano consecutivo, atraindo cada vez mais velhinhos para as corridas gratuitas que acontecem mensalmente em distintos bairros.

Para quem não para de correr, é o termômetro do poder de fogo das canelas, em evento organizado de forma artesanal: fichinhas feitas à mão, que faz às vezes do chip, e linha de chegada delimitada por um barbante, o funil. Mas tem suquinho na chegada, lanche comunitário e sorteio de camisetas para quem participa.

Há também enfrentamentos com a turma dos veteranos da região, que participam do Campeonato Máster do Interior. Não é proibido para menores (até 34 anos), que podem se meter a besta, sem pontuação para equipes. Mas os novinhos têm de ser humildes e se sujeitarem a engolir poeira da véiarada, um bando de homens e mulheres inspiradores. Afinal, o máster é disputa de verdade para nervos e músculos lapidados em anos e quilômetros sem fim de asfalto ou terra, sem páreo para ratos de academia.

DE REPENTE, 72

Essa história toda começou com o Fumaça, que alguns até conhecem como José Carlos da Silva. Aos 72 anos, ele também não larga o osso. Está há meses na lida com “uns probleminhas” no nervo ciático, que deve deixá-lo de molho por outros meses. Mas a aposentadoria não está nos seus planos. Reduzir, sim. Parar, jamais. Está firme e forte no propósito de participar dos Jogos Regionais do Idoso (Jori) e Jogos Abertos do Interior deste ano, e faz planos para quando mudar de categoria.



Figura lendária no atletismo de Limeira e região, Fumaça corre desde os 18 anos, quando trocou o futebol (que lhe rendeu o apelido) pelas pistas. É da época em que o município sequer tinha local para reunir a dúzia de corredores que estavam perdidos por aí. Ele calcula cerca de 500 troféus e outras 500 medalhas no gigante histórico de competições.

A mais recente é a melhor colocação do Estado nos Jogos Abertos do Interior de 2014. Trouxe para Limeira o ouro nos mil metros, vencidos em 3min42 em sua categoria. “Ainda dou trabalho para eles!”, celebra. De todas as premiações, acredita que pelo menos umas 50 vieram depois dos 60 anos.

Sem aviso, a idade chegou na vida corrida. “De tanto que corri, nem percebi. Não parei. De repente, estou com 72”, conta, paciente, em meio a inúmeras interrupções de atletas ou colegas de trabalho que insistem em lhe consultar, ora sobre as próximas provas, ora sobre a parte burocrática da Associação Limeirense de Atletismo (ALA), da qual é treinador.

Fumaça conta que a idade não lhe trouxe muitos problemas de saúde, o que credita à vida de treinos. Para ele e para os pupilos entre 10 e 80 anos. Trata a fisgada no ciático como algo pontual, provavelmente adquirido em outras atividades que não a corrida. “É claro que a corrida também caleja. Mas essa dor não desejo para ninguém. É uma das piores, mexe com tudo. Mas agradeço aos médicos que estão me ajudando”.

Ele dá bronca na terceira idade. “Não tem nada que esperar a aposentadoria para iniciar no esporte. Ficar só no dominó, esperando o infarto, ou só começar quando o médico mandar”, prega ele, sobre a vontade que deve prevalecer à necessidade.

No campeonato municipal, as cabeças brancas (ou tingidas) são mais numerosas nos últimos cinco anos, como ele calcula. E a necessidade de o município ter um time de velhinhos para representação no Jori contribuiu para que uma parcela deixasse, de fato, o dominó de lado para correr. Praticar o esporte é bom. Mas a coisa muda quando há disputa pelo pódio.

“Na pista, a pessoa tem a chance de andar, parar, sentar. Sem a responsabilidade de participar, vai bem. Colocou responsabilidade, daí pesa. Não é fácil carregar 300 habitantes nas costas, nas competições”.

A contragosto, reconhece a necessidade de aliviar o passo. “Tem que controlar, aprender a dosar. Quando eu chegar nos 75, vou correr 800 metros. Aí vou pegar uns velhinhos mais fracos”, planeja.


UM LUGAR PARA CHAMAR DE NOSSO

A história de Fumaça se mistura com a da pista de atletismo de Limeira. O traçado oval de 300 metros com pedriscos, recheado com grama, foi inaugurado em 1967. Desde agosto é uma cratera cheia de barro, concreto, máquinas e homens, que constroem ali um piscinão para conter a água da chuva e evitar enchentes naquela e outras regiões.

O projeto existe há uma década e saiu do papel em convênio de R$ 25 milhões com o governo federal. O plano é devolver a pista nas mesmas condições de treino de antes da obra, que deve ser concluída em dois anos. Mas já houve atrasos devido à lentidão do governo em liberar a verba para continuidade dos trabalhos.

Para quem esteve ali desde sempre, a despedida não foi fácil. "Vi jogarem a primeira grama no campo. Acompanhei os tratores passando, as minas d'água. Presenciei a construção dos alicerces das arquibancadas. Depois, treinavam velho, novo, gordo, magro, branco, preto. Só não podia fumar, jogar bola, e levar cachorro e papagaio”, conta Fumaça sobre a antiga casa, frequentada não só pelos atletas da ALA, mas alunos de academias e anônimos em geral, usando o local para garantir um passo à frente do sedentarismo.

Na defesa da corrida como base para qualquer esporte, a agenda de disputas se misturou com o trabalho desenvolvido na pista que nascia, e ele não competiu na estreia. Mas competiu em outras, ou mandou “seus meninos” disputarem – e ganharem – por ele. A pista já não era apta a receber jogos abertos ou regionais, devido às exigências "a nível de seleção".

As oficiais têm de ter 400 metros, com piso de tartan, uma espécie de borracha, e não de carvão, como a pista limeirense. "Mas já vi algumas de tartan piores que a nossa de carvão", alfineta o treinador.

A casa nova e provisória fica próxima da antiga, em área pública que passou por adequações para receber os atletas, que agora são desafiados com subida e descida em mais de 400 metros do traçado oval. É a topografia do local onde não foi possível mexer, resultando numa pista com desníveis. Mas isso não foi problema, considerando o lado masoquista dos usuários. O que dizem é que a subida desafiadora de hoje vai calhar com tempos melhores quando a velha pista for retomada.

Fumaça lembra que os poucos atletas da época da construção treinavam na rua. Mas a pista própria do município fomentou o esporte, com a criação de escolinha para crianças. Com o crescente número de atletas, faltava uma identidade.

m 1991, os praticantes se organizaram em grupo e criaram a Associação Limeirense de Atletismo (ALA), que tem sede na pista. "Daí para frente, formamos muitos campeões, como o Odair dos Santos, paralímpico que começou conosco. Doutores, industriários e engenheiros da cidade passaram por aqui. E a população tem que aproveitar o que tem".


O MÁSTER CHEGA AOS 30

Limeira tem outra figura jurássica das corridas. E ela é sempre vista por aí com um chapeuzinho, carregando pastas, a pé ou de bicicleta. De cabelos muito brancos e olhos bem azuis, seu Rui Camargo é idealizador, junto com Fumaça, do Campeonato Máster do Interior, que completa 30 anos em 2015.

À frente da Camal (Corredores Amigos Másters do Atletismo de Limeira), seu Rui gosta de exatidão nos números. Tem 77 anos de idade, 390 medalhas, 101 troféus e 753 corridas concluídas. Aliás, 754 corridas e 391 medalhas, considerando o pódio da abertura do campeonato municipal.



Para desespero da esposa, não enche os cômodos da casa só com as medalhas e troféus, mas com cadernos e mais cadernos de anotações de suas competições e do máster. Dita que, em 2014, foram 39 participantes acima de 60 anos, 29 com mais de 65, 18 acima dos 70, nove que passaram a linha dos 75 e um que representa os 80+.

Se lá nos anos 1980 a idade média dos participantes era 40 anos, na última década explodiu a invasão dos aposentados. Nos aquecimentos, atividades da terceira idade e o orgulho dos netos são assuntos. Na hora da prova, fim de papo e o bicho pega entre os concorrentes, a maioria correndo por equipes independentes ou vinculados aos departamentos de esporte de municípios.

Nos mesmos moldes artesanais do “filhote” municipal, o pega pra capar regional deste ano já tem data e local: 29 de março, às 8h, com largada e chegada na pista da ALA em Limeira (Rua Capitão Antonio Esteves dos Santos, Jardim Piratininga, ao lado da Câmara Municipal). Com expectativa de 200 participantes no campeonato, durante o ano, as outras cidades da liga sediarão outras etapas: Cordeirópolis, Jundiaí, Cajamar, Sumaré, Mogi Mirim, Mogi Guaçu e Campinas.

O ÚLTIMO GOLE
Corredor e organizador de corridas, seu Rui era refém da bebida no início dos anos 1960. Trocou os copos pelas ruas numa data marcante para ele: 1º de maio de 1962, sua estreia na Corrida do Trabalhador. Não parou mais e garante que nunca precisou de médicos na trajetória, sem histórico de lesões. Ou quase. A esposa o desmente e entrega, contando o dia que o marido chegou com o rosto sangrando, após um tropeço num treino. Nada além de um susto. Ou, azar, nas palavras dele.

Mas seu Rui tem exemplos para não abusar. Já viu dois colegas idosos morrendo em meia maratona, nos últimos cinco anos. Os dois casos ocorreram em Campinas, e os atletas não alcançaram a linha de chegada, tomados por ataques cardíacos no percurso.

“Na época, pressionamos para que não participassem, mas insistiram. Assinaram um termo de responsabilidade e mesmo assim deu problema depois”, lembra. “Se passou dos 60, não adianta querer o ritmo de quem tem 30 ou 40. Tem de se conhecer. O corpo avisa dos limites”, alerta ele. Embora muitos de 60+ passem brincando pelos de 30+, como já testemunhei.

A SÃO SILVESTRE MORREU

Quando seu Rui começa a relembrar das corridas das antigas, pergunto da São Silvestre e recebo uma avalanche de fúria. “Não existe mais São Silvestre. É corrida para 10 pessoas, cinco homens e cinco mulheres. O resto é figurante”. Instantaneamente perco o riso, sendo que me esforcei no ano passado para ser uma “figurante”. Depois é que entendo suas razões.

“Corri quatro vezes a São Silvestre, quando havia eliminatórias no interior para poder participar. O Fumaça, em 1966, ficou na 31ª colocação geral, foi o 1º do interior e 11º brasileiro. Participavam no máximo 460 pessoas, era tudo gratuito. Eram premiados os melhores do interior e do Estado, além dos estrangeiros.

Naquele ano foram 34 países”. Para comprovar o passado perdido, saca edições da Gazeta Esportiva e outros jornais com notícias das eliminatórias e as classificações. Ele e Fumaça são identificados em fotos, além de outros atletas da região.



Crítico ferrenho do modelo atual de corridas de “ostentação”, seu Rui queria mesmo é protestar contra o esporte como comércio. Mas ele mesmo reconhece que é “bater em ferro frio”. Ainda que para ele o modelo certo seja o das antigas, as ilusões também ficaram lá atrás.

“A corrida é uma distração, não é cara. É melhor do que passar o dia inteiro no sofá em frente da TV ou no computador. Enquanto eu tiver saúde, corro. Senão, caminho. Corro para manter a forma, sem a ilusão de ganhar. Antes, partia pra cima. Agora, se alguém me passa, deixo que vá”.



27.3.15

Aposentado faz mais longo treino do ano, cansa, mas não chora

Na manhã de hoje fiz o meu mais longo treino deste ano, cumprindo a maior distância desde que iniciei este projeto de me reinventar como maratonista. 

Doeu, cansei, mas completei. Foram 14 km, começando sob uma temperatura agradável e terminando sob sol forte nesta primavera paulistana.

Já lá se vão dois anos sem que eu tenha sequer conseguido arrebanhar coragem e músculos capazes de enfrentar a preparação para a rainha de todas as distâncias. Agora, não. Com condições ou nem tanto, estou me preparando para reaprender as delícias e as desgraças que envolvem o treinamento maratonístico.

Uma delas, ao mesmo tempo delícia e desgraça, é o treino longo –longão, dizem alguns, longa, falam outros. Não importa. É o dia em que a gente executa a corrida de maior distância na semana. É quando a gente começa a testar a preparação, começa a ver como o corpo reage a ficar tanto tempo sob estresse.

Talvez pela ausência de treinamento organizado ao longo de tanto tempo, acabei pegando um certo receio do dito longão –a distância é relativa, pois cada etapa do treinamento encerra seus próprios desafios; no início, por exemplo, uma pernada de cinco quilômetros já pode ser considerada treino longo para alguns corredores.

Já na semana anterior fico pensando em como vai ser e organizo trajetos possíveis, sempre imaginando duas possibilidades: ida e volta correndo ou ir para sempre e voltar com auxílio motorizado, seja ônibus, seja metrô. Gosto mais desta última, ainda que acabe tomando mais tempo.

Bueno, o meu primeiro longo do ano seria ontem. Dormi pouco, acordei mais tarde do que deveria, larguei às 9h já com sol alto e temperatura acima de 24 graus. Saí para fazer 14 km, fracionados em sete blocos de 1.700 m de corrida por 300 m de caminhada.

Desde que criei barbas brancas e que as dores dificultam a movimentação mais escorreita, meus treinos vêm sendo assim, divididos em blocos, combinando corrida e caminhada. O arquiteto desse desenho é o treinador Alexandre Blass, que você pode conhecer melhor CLICANDO AQUI.

Pois saí ontem lépido e fagueiro, queimando o chão. Apesar do sol, as pernas saíram leves e fiz o primeiro bloco em ritmo imprevisto, fechando os dois quilômetros iniciais em cerca de 12 min, mesmo com o trecho de caminhada.

Beleza, pensei, e segui na mesma balada no segundo bloco. Na metade dele, ao longo da avenida Brasil, já vi que tinha feito c***. As pernas não rendiam, a respiração estava irregular, e a mente dizia: Que saco! Não tinha dores, mas também não tinha vontade de seguir no treino.

Quando deu o quinto quilômetro, metade do terceiro bloco, já estava no Ibirapuera. Finalmente, parei para beber alguma coisa, sorvi de gut-gut uma garrafa de água inteira, em cima de um dulcíssimo sachê de carboidrato.

Nada disso adiantou. Quinhentos metros para a frente e de novo eu estava remelento, inquieto, cansado. Caminhei mais um pouco, volteia  correr e chutei o pau da barraca: Chega!

Bem que eu poderia ter sido mais esperto e abortado o treino mais perto de um ponto de ônibus: caminhei ainda um quilômetro e meio, me xingando o tempo todo e prevendo o fracasso do treinamento, a degringolada da maratona, a vergonha e a débâcle moral  completa.

No ônibus, no caminho de volta, fui colocando a mente em ordem –se é quem dá para se dizer algo assim de minha mente—e comecei a preparação para dar a volta por cima. Só tinha um caminho: fazer o longão no dia seguinte, hoje.

De novo, acordei mais tarde do que tinha planejado, mas nada que me prejudicasse: 6h30 em vez de 6h não é a pior coisa do mundo. Até dar água e comida pros cachorros e alimentar o esqueleto deste quase idoso, abluções matinais e tal e coisa e coisa e tal, uma hora se foi.

O treino iniciou de verdade às 7h28, e meu primeiro objetivo era completar inteiro o terceiro bloco, onde tinha parado na tentativa anterior.

Pois fui. Estou longe de ser um corredor elegante e com boas passadas; as dores velhas rondam meu espírito e, ao correr, meu corpo busca fugir de cada dor passada; assim, músculos se contraem em lugares errados, tentando evitar dores que não vêm e, assim, tornando-se eles mesmos artesãos de novos problemas.

Enfim, vou com calma, devagar, tentando deixar as costas eretas, com o tronco levemente inclinado. Posso ir mais rápido, mas não posso descuidar de como os pés batem no chão. Também não quero me cansar antes da hora.

Mesmo com todas essas tensões chamando minha atenção, consigo acompanhar o que está rolando à minha volta. Afinal, é por isso que corro na rua (veja abaixo o meu caminho de hoje); afinal, corredor de rua corre na rua, precisa aproveitar surpresas do terreno e eventuais sustos com automóveis e bicicletas, fazer de tudo aprendizado para ficar mais esperto na hora da corrida propriamente dita.



Passos pelos Jardins e, mais uma vez, fico impressionado com a riqueza das mansões. Desço até a marginal Pinheiros e sigo para o parque do Povo, onde corri poucos dias depois da inauguração. Para chegar lá, cruzo essa bela passarela...



Eu gosto tanto dessa ponte sobre os automóveis que passam chispando que resolvi fazer uma selfie (autorretrato, como se dizia em outros tempos).
A imagem ficou uma porcaria, mas, enquanto, remexia o celular para devolvê-lo à minha pochete, saiu mais uma chapa. Esta, mais inusitada, vale a pena compartilhar. 


Mal comparando (bem mal comparando, para ser mais preciso), lembra o estilo de certo fotógrafo que costumava produzir imagens geniais, mas absolutamente incompreensíveis (aquilo ali é o quê?, às vezes a gente tinha de perguntar para o cara).

Bom, passei dos dez quilômetros sem parar, com dores, mas sem desânimo. No parque, cheguei aos 12 km e ainda pude cumprir um objetivo de minha jornada, que era fotografar mais uma vez uma escultura  que considero a cara de São Paulo.



Trata-se de “Executivo Fugindo da Chuva”, de Christina Mota. O engravatado corredor estava de novo com seu guarda-chuva, que foi roubado algum tempo atrás...

Assim, enganando o corpo com pequenos prêmios, engatei marcha final para completar o último bloco, que finalizei em frente ao Museu da Casa Brasileira –recomendo a visita; o restaurante também é muito bom--, na Faria Lima.

Sentado, esperando o ônibus, suado, fedendo, contabilizava as dores do primeiro longo do ano, o primeiro longo do resto da minha vida. Foram apenas 14 km e ainda misturados com caminhadas –com certeza, há quem ria desse esforço, mas, aviso aos navegantes: cada um com seu cada qual--, mas me dão esperança de ser capaz de enfrentar meu caminho.

Ainda mais que tenho apoios maravilhosos. Ao chegar em casa, fui longo cuidar da recuperação do velho corpitcho, comendo e bebendo enquanto aproveitava o balouçar da rede.




Assim sim! Vamo que vamo!

25.3.15

Velhinhos brasileiros vão bem de saúde mental, mas precisam ter mais amigos

A rigor, a rigor, considerando os critérios da Organização Mundial da Saúde e do IBGE, o título acima está errado. Isso porque essas instituições consideram “velhos” pessoas de 60 anos ou mais. Acontece que nem todas as pesquisas do mundo usam os mesmo critérios.

Esta que estou usando neste texto, por exemplo, examina as condições de pessoas de mais de 50 anos em 12 países para tentar chegar a um denominador comum sobre o bem estar dos veteranos em cada um dos lugares analisados. 

A pesquisa foi feita para a construção do Indicador Global da Situação da Velhice (o nome em inglês é Global AgeWatch Index 2014) e analisou dados de 96 países.

O Brasil está na parte alta da metade de baixo da tabela, no posto número 58. Mas se saiu bem em alguns dos critérios da pesquisa, como segurança de renda (14ª posição) e saúde da nossa turma (43º lugar). Desandou, porém, quando foram analisadas as condições de inclusão social e oferta de oportunidades para o idoso se manter ativo, como você pode ver no quadro abaixo.


O pessoal do jornal britânico “Guardian” deu uma olhada mais amiudada sobre os dados e produziu uma tabela sobre bem estar geral, baseada em três critérios: bem estar mental relativo (% de pessoas de mais de 50 anos que consideram que sua vida tem sentido, em comparação com % de pessoas de 35 a 49 anos); taxa de pobreza na velhice (% de pessoas maiores de 60 anos com renda inferior à média nacional); e sociabilidade (% de maiores de 50 anos com amigos ou parentes que podem recorrer em caso de problema).

Bueno, o jornal escolheu 12 países, de forma arbitrária, e criou três estágios –melhores, médios e piores. O Brasil fica entre os melhores no primeiro item --bem estar mental relativo; está na média no que se refere à taxa de pobreza e entre os piores nas conexões sociais. Veja como ficou o gráfico produzido pelo “Guardian”.


Como você se sente em relação a esses critérios?

23.3.15

Idade ajuda a melhorar corrida, que melhora a vida, diz atleta de 64 anos

Escrevo estas linhas um pouco emocionado, depois de mais uma vez ler o artigo que BIBA RISSO mandou especialmente para este blog.

Se você não a conhece, não se avexe não. Ela é simplesmente uma cidadã corredora disposta a viver a vida, aproveitando com sofreguidão cada momento, especialmente agora, quando passa dos 60 anos.

Nem sei como conheci a BIBA. Deve ter sido em alguma rede social ou em alguma das centenas de corridas paulistanas –se bem me lembro, ela participou de um teste de percurso de uma São Silvestre em que também estive.

Não importa. O que vale é que agora tenho a oportunidade de dividir com você a experiência que ela generosamente nos relata.

Neste texto, escrito no início de março, ela diz, por exemplo: “A corrida me ajudou quando sofri acidentes, contribui para acelerar minha recuperação, me ajudou a superar momentos tristes e difíceis”. E completa: “A corrida fez um bem enorme ao meu casamento, já que o meu marido acabou indo correr também, nos uniu. Fizemos viagens ótimas correndo por esse mundão”. 

Com o quê, paro de falar e deixo que BIBA fale por ela mesma, enquanto agradeço a ela pela contribuição. As fotos são da página dela em uma rede social, usadas com autorização.



“Meu nome é SILVIA MARIA RUSSO BURGIERMAN, mas todo mundo me chama de BIBA, desde que eu nasci. Tenho 64 anos, sou casada há quase 43 anos com um dos melhores homens que eu conheço.

Tenho três filhos já quarentões, um netão de 15 anos e uma netinha de um anos e oito meses, dois presentes que a vida me deu.

Tive por muito tempo, uma lojinha em uma academia de ginástica, mas ela já fechou há alguns anos. Hoje em dia vivo ocupada, tratando de ser feliz e de curtir a vida. Vivendo e convivendo!

Estou chegando de uma corridinha deliciosa pela Fonseca Rodrigues ao parque Villa Lobos e me lembrei de que o Rodolfo Lucena me pediu um depoimento sobre ser mulher, estar envelhecendo e ser corredora.

Como dizer não a alguém que sempre foi minha inspiração e com quem eu topei tantas vezes nas minhas corridinhas matinais?

Quem me conhece sabe a "Poliana" incorrigível que eu sou. Tem gente que até se irrita. Sempre falo que a melhor fase da vida é a que eu estou.

Tive fases ótimas. A da juventude, a do namoro, a do casamento, a dos filhos pequenos, tantas! Belos momentos!

Mas, se eu fosse escolher a melhor época, escolheria a que estou, a dos 60, 64 e meio para ser exata!

Esse negócio de não precisar mais provar nada para ninguém, de se cobrar cada dia menos, de sentir-se segura, de ser cada dia mais leve, mais desocupada, de aprender a rir de si própria e das besteiras que faz, é bom demais!

De não se importar com os detalhes do seu corpo, e sim em ser uma pessoa melhor a cada dia que passa.

Fora os netos, neto é bom demais!

Quanto a ser corredora, a idade também ajuda.

Costumo falar que habita em mim uma carrasca interior exigente e disciplinada. Uma horrorosa que me tira da cama antes das 5h para correr e depois me manda para academia, fazer alongamento, localizada ou Pilates. Carrasca interior de velhinha é velhinha também, fica mais leve e menos rigorosa.

Hoje o meu maior objetivo é continuar correndo, ouço os sinais que o meu corpo me dá, se estou cansada me permito descansar, respeito meus limites, já não faço mais provas longas e difíceis, não preciso mais ser a primeira da categoria nas corridas que eu participo. Só quero ser feliz!

Devo muito a esse hábito adquirido há quase 20 anos atrás.

A corrida me ajudou quando sofri acidentes, contribui para acelerar minha recuperação, me ajudou a superar momentos tristes e difíceis.

A corrida fez um bem enorme ao meu casamento, já que o meu marido acabou indo correr também, nos uniu. Fizemos viagens ótimas correndo por esse mundão. 

A corrida me deu qualidade de vida, saúde, garra, autoestima, momentos incríveis e amigos maravilhosos.

Enquanto der, enquanto eu puder, quero continuar correndo. Porque quem corre é mais feliz. Tenho certeza!


Bons treinos para todos e vamoquevamo!"

18.3.15

Aos 77, Jane Fonda diz fumar maconha de vez em quando

Pronto, bastou você ver o título e já saiu me xingando, dizendo que estou abusando, fazendo jornalismo marrom, investindo no sensacionalismo. Ou talvez não: você é um apreciador da Maria Joana, como se apelidava a maconha nos anos 1970, ou você é fã de carteirinha da Jane Fonda.

Bueno, eu sou fã de carteirinha da Jane Fonda (foto Reuters), mas não me incluo entre os apreciadores da cannabis. De qualquer forma, achei interessante a declaração da oscarizada atriz. Não porque joga água no moinho da turma do “Legalize Já!” mas porque mostra que uma pessoa que ruma celeremente para os 80 anos pode ter hábitos e atitudes costumeiramente atribuídos a gente com um quarto ou um terço de sua idade.

Para ser fiel aos fatos, em entrevista à revista de luxo “DuJour”, Fonda efetivamente disse que queima um baseado de vez em quando, mas deixou claro que não é muito a sua praia. Não gosta, por exemplo, de fumar um e ir ao cinema, porque perde seu poder de avaliação mais crítica: “Fico achando que é o melhor filme do mundo e, mais tarde, quando me dou conta, me pergunto: o que eu estava pensando?”, disse ela.

Nessa entrevista para a DJ e em outras conversas tidas recentemente com a imprensa, Jane também deixa claro que não abandonou seu lado militante e sua disposição de luta por um mundo melhor.

Ela assistiu, por exemplo, a um documentário sobre ações deletérias de companhias petrolíferas na África e logo entrou em contato com o diretor, Leonardo DiCapprio: “O que nós podemos fazer agora?”

Uma das coisas que Jane faz é lançar o verbo contra a discriminação sexual na própria área onde trabalha: “Precisamos deixar os estúdios envergonhados por causa de seu machismo”, ela conclamou os colegas durante entrevista para promover “Grace and Frankie”, uma série cômica que estreia em maio no Netflix e tem Fonda e Lily Tomlin nos papéis principais.

Ela não se furta a abordar assuntos pessoais, como o envelhecimento. Conta que fez plástica, sim, e que passou por cirurgias  no quadril e no joelho, por problemas ligados a osteoporose.

“A gente tem de se adaptar. Seria fácil para mim parar de fazer exercícios depois das cirurgias e por causa das dores que sinto de vez em quando. Mas quando, muito por vaidade pessoal, eu voltei a me exercitar, percebi que caminhadas, natação, musculação e alongamentos faziam meus músculos e articulações se sentirem muito melhor. Quando eu estava sedentária, a artrite piorava –e meu humor também”.

O humor da ex-líder pacifista hoje está tão bom que, para homenagear os 40 anos de uma amiga, mandou para ela um vídeo em que aparece pelada, de quatro, em uma performance de seis segundos.

Sexo, por sinal, também não é tabu para a jovem quase-octagenária. Depois de se separar do multimilionário Ted Turner (o criador da CNN), ficou celibatária por sete anos. Aí, aos 74 anos (três anos atrás, portanto), abriu o verbo para contar ao mundo que estava tendo na época a melhor vida sexual de toda a sua vida.

Com o quê, vos digo, “Ave, Jane!


Vamo que vamo!

13.3.15

Rumo à maratona, aposentado faz em Jerusalém prova de 10 km

E aí, tchurma, não é que eu conseguir terminar sem dores minha primeira corrida de verdade dentro do projeto "Primeira Maratona como Aposentado"?

Pois corri a prova de 10 km, um das integrantes no superevento Maratona de Jerusalém, que reuniu cerca de 25 mil pessoas nesta sexta-feira. Na maratona mesmo teve pouca gente, cerca de 1.500 pessoas; a prova mais recheada foi exatamente a de 10 km.


O evento é muito bem organizado, pena que o trajeto inclua muito pouco na Cidade Velha, que é a área mais bacana da cidade --também é cheia de ruelas e pontos históricos.

Bueno, aí vão algumas cenas da corrida, que teve a participação de muitos grupos religiosos --havia até quem fizesse suas orações no gramado pouco antes da largada geral.



Na largada, por sinal, havia muita animação e animadores, como esse gigante da pernas de pau vestidos com as bandeiras do Brasil e dos Estados Unidos.



O precurso foi bem sinalizado e superbem policiado, havia centenas de soldados, todos eles bem armados, como mostra a imagem abaixo, em que os líderes da maratona aparecem em primeiro plano.


A cidade se envolve com o evento, ainda mais que o prefeito é corredor; aliás, hoje Nir Barkat participou da meia maratona e foi de medalha no peito entregar o troféu ao vencedor da maratona, o etíope Tadesse Yae Dabi.


Todo mundo queria fazer uma foto com o senhor Dabi, como o registro a seguir.



Bom, o cara já devia ter ido para a cama quando eu comecei a chegar na prova de 10 km, que começou três horas depois da maratona.




Bueno, meu amigo, minha prezada leitora, é isso por enquanto. Deixei aqui apenas uma provinha, pois a cobertura compelta da maratona e também do avanço de meus treinos no projeto Primeira Maratona Como Aposentado você poderá ler na próxima edição (abril) da revista "O2", que foi convidada pela organização do evento.

Nesta página, todas as fotos são de Eleonora de Lucena, com exceção do carinha de perna de pau e roupa colorida, que fui eu quem registrou.

Beijos, abraços, Vamos que vamo!

10.3.15

Primeiras impressões de um aposentado em Jerusalém

Bueno, depois de quase vinte horas de viagem, finalmente chegamos a Jerusalém na madrugada de hoje.

Aqui, este seu aposentado corredor (mas espero que, por muito tempo ainda, não um corredor aposentado) vai fazer sua primeira corrida neste projeto rumo a uma maratona depois de virar beneficiário do INSS.

Pois fiquei muito bem impressionado.

Jerusalém é uma bela cidade, cheia de colinas --o povo que vai encarar os 42.195 metros na sexta-feira vai sofrer. Trata-se, como já tantos disseram, de um museu a céu aberto.

Não vou ficar falando muito aqui, pois estamos na correria e o legal é mostrar algumas imagens.

Depois de um breve descanso, saímos para o primeiro passeio pela cidade, subindo ao monte das Oliveiras, de onde se tem uma visão panorâmica da Terra Santa.

Pois lá nos esperava este simpático camelo, conduzido por um mercador de breves passeios com o dito cujo --não testamos, mas as moças fotografadas pela Eleonora deram o maior berro quando o bicho se ergueu para iniciar a caminhada.

As casas de oração das grandes religiões monoteístas estão ao longe; cá pertinho, bem sob nossas vistas, há um grande cemitério. E a Eleonora capturou a bela cena que você vê abaixo (aliás, todas as fotos desta mensagem foram feitas por ela).


Saindo do monte das Oliveiras, fomos ao mercado, que deve ser um dos lugares mais divertidos da cidade (e saborosos, com certeza). Lá havia grupos de soldadas bem animadas, dispostas até a participar de fotos com a turistada.

Mais legal são as bancas, como a deste peixeiro (aqui, a foto é de minha lavra).



As cores e cheiros dos temperos cativam (de novo, foto da Eleonora).



Já a cena de rua, abaixo, fui eu quem capturou.



E a Eleonora me pegou fazendo uma cantoria com essa ensemble de bronze instalada numa área de lojas caríssimas --não gravei o nome, mas me disseram que é a Oscar Freire de Jerusalém.


Para encerrar o dia, uma visita ao museu da Torre de David (foto minha). Foi sensacional.

6.3.15

Aposentado vai à Terra Santa em busca da alegria da corrida


Na próxima sexta-feira, este seu velho blogueiro de barbas brancas estará participando da Maratona de Jerusalém, em plena Terra Santa, buscando reencontrar a alegria que a corrida sempre proporcionou a seus praticantes.

Ih, não me entenda mal. Meus planos e projetos estão mantidos, e também não virei crente ou fiel de repente.

A maratona de Jerusalém é um desses simpáticos e hospitaleiros evento-ônibus: além da desafiadora corrida de 42.195 metros, tem ainda meia maratona, corrida de dez quilômetros e ainda outros provas menores, incluindo uma provinha para toda a família participar junta.



E é realizada na cidade que três religiões consideram sagrada.

Texto do historiador Voltaire Schilling nos conta as razões de cada uma:

"Para os judeus, provavelmente os seus mais antigos habitantes, ela é a Eretz Israel, a terra dada por Jeová ao Povo Eleito, tendo Jerusalém, cujo terreno original foi tomado dos filisteus pelo rei Davi, como sua eterna capital (circa do ano 1.000 a.C.). Ela é a Terra da Promissão, o local que Deus apontou a Moisés como o lar definitivo dos judeus logo que eles conseguiram escapar do Egito, onde eram mantidos como escravos pelo faraó."

"Para os cristãos, Jesus Cristo, o messias, aquele que além de anunciar a chegada do Reino dos Céus sacrificou-se pelo bem da humanidade inteira, nasceu e morreu nela. O filho de Deus veio ao mundo em Belém, cresceu em Nazaré, pregou na Galiléia e foi crucificado em Jerusalém ( circa do ano 33). Local de onde logo ressuscitou para vir animar seus discípulos a que seguissem na difusão do Evangelho."

"Ela é também o Nobre Lugar dos muçulmanos, visto que foi do alto do Haram as-Sharif, o Domo da Rocha - situado na parte elevada de Jerusalém, que depois chamou-se de a Esplanada da Mesquita -, que o profeta Maomé, em espírito, foi encontrar-se com Alá nos céus, no episódio conhecido como a Jornada Noturna do Profeta."

Bueno, independentemente da fé –ou falta de fé—de cada um, o certo é que a região é prenha de vibrações, inclusive bélicas, pois lá continuam a se desenrolar os conflitos entre judeus e palestinos. Espero que fique em paz, e que este corredor possa usufruir das boas mensagens que atletas do mundo inteiro estarão mandando por lá.

Não vou correr a maratona, é claro –por enquanto, estou apenas começando meu treinamento , renascendo como corredor... Cheguei a pensar em participar da meia maratona, mas meu treinador e meu médico desaconselharam, depois de dores terem me deixado fora de combate por toda a semana passada.

Modestamente,  tentarei correr a prova de dez quilômetros. Será minha primeira corrida em quatro meses –todos eles muito atribulados--, a minha primeira corrida no ano.  Espero que ela me ajude a reencontrar a alegria de correr, pois participar de uma prova é sempre a culminância de um processo, é onde a gente testa os resultados do treinamento.

Vou me examinar a cada quilômetro, vou economizar, vou prestar atenção no terreno, vou sorrir para os companheiros de jornada, vou filmar tudo que estiver à minha frente. Em algum momento, espero, vou largar tudo de mão e mandar ver, me entregar à corrida e fazer das pernas coração.

Ao longo da próxima semana, trarei fotos, talvez pequenos filmes, impressões sobre a visita a Jerusalém. A história completa da corrida, porém, você poderá acompanhar na edição de abril da revista "O2", que foi convidada a participar da prova pelo Ministério do Turismo de Israel.

Espero que você goste.

Vamo que vamo!!! (Devagar, mas vamo!)


PS.: A foto que ilustra esta mensagem é apenas isso, ilustração, trata-se de um momento da maratona de Jerusalém no ano passado, e está disponível no site oficial da corrida. 

5.3.15

Quando a questão é grana, depois dos 40 anos a vida é só lomba abaixo

E ainda tem gente que se impressiona, exclamando: "Mas tu te aposentaste a inda estás trabalhando???!!", numa pergunta cheia de acusação.

Não sou eu, meu caro, é o mundo que é assim.

Ao longo da vida, dificilmente o trabalhador consegue poupar o suficiente para ter uma aposentadoria totalmente livre de emprego ou bicos eventuais.

E não somos apenas eu e você, o Brasil tá cheio. E o mundo é assim mesmo, como demonstra um estudo realizado pela Receita federal dos Estados Unidos.

Claro que os dados são de lá, mas acho que eles dão uma boa ideia do que vive o trabalhador no mundo desenvolvido --aqui deve ser até pior.

Resumo da ópera é o seguinte: considerando uma vida de trabalho dos 25 aos 60 anos, até os 40 anos o sujeito está em franca ascensão. É quando casa, tem filhos, compra isso ou aquilo, acredita que tem um futuro promissor, faz dívidas...

Mas o futuro é muito diferente, mostra a dura realidade dos números, que você pode conferir neste quadrinho simples. Ele mostra os ganhos médios por idade; ainda que ele não use valores absolutos do rendimento, o desenho é absolutamente claro, você não concorda?

Ou seja: há crescimento expressivo até os 40 anos. Depois, o caminho é a estagnação. Durante algum tempo, o trabalhador ainda vê seu salário aumentar um bocadinho, mas não se trata exatamente de crescimento, segundo os responsáveis pelo estudo, mas apenas recuperação frente à inflação.

Nos cálculo dos norte-americanos, o aumento real nos ganhos dos 40 aos 50 anos fica em torno de US$ 1.000 sobre o máximo recebido até então.

Depois, meu amigo, minha amiga, é só lomba abaixo.

Então fica claro como é complicado fazer uma poupança substancial. Enquanto a gente está crescendo na vida, dificilmente vamos nos preocupar com os anos menos polpudos; queremos mesmo --com toda a razão-- aproveitar, investir no prazer, dar o melhor possível para os filhos pequenos, para que eles possam se encaminhar na vida.

Quando começamos a perceber que somos dispensáveis, que poderemos vir a perder o emprego, que a idade está chegando e que precisamos construir um colchão de segurança para o futuro, os ganhos já são praticamente da mão para a boca, como se diz: sobre mais mês no fim do salário do que salário no fim do mês.  


Se você gosta do assunto e quer saber mais detalhes sobre a situação dos ganhos dos norte-americanos ao longo da vida, o estudo completo, em inglês, está AQUI.

3.3.15

Corredor revive em treino “maratona” para conseguir a tão sonhada aposentadoria

Desde que eu fiz 50 anos que penso no que iria fazer quando me aposentasse.

Como muita gente, imaginava um período livre das trocentas horas de trabalho
que a militância na redação envolve, uma vida sem patrões e sem chefiados, tempo para dedicar ao ócio e ao prazer. Pensava também, e ficava louco de raiva só de pensar, na burocracia envolvida em todo o processo da aposentadoria.

Pois quando chegou a hora, de fato não foi o melhor dos mundos. Mas o INSS funcionou muito melhor do que eu esperava, ainda que minha aposentadoria demorasse para sair quase cinco vezes mais do que o tempo médio divulgado pelo Instituto. Amarguei filas e conversei com funcionários –todos eles educados, cordiais, alguns até simpáticos—em três postos na cidade de São Paulo, que visitei cinco vezes ao longo de seis meses.

No fim, pensei, bem mais duro do que a burocracia para obter a aposentadoria foi o trabalho todo que tive, ao longo de quase quarenta anos, e que me deu o direito de enfim buscar esse prêmio –pago por mim e por todos os trabalhadores brasileiros.

Comecei a trabalhar com 17 anos, e a primeira entrada na minha Carteira do Trabalho é de três de fevereiro de 1975, menos de quinze dias antes de eu completar a maioridade. 

Meu primeiro emprego registrado –antes, já ganhara dinheiro fazendo algumas traduções como free-lancer—foi numa instituição que já nem existe mais. Na época, porém, meu empregador era um jovenzinho, digamos assim.

O banco Sul Brasileiro fora criado em 1972, da fusão de três outras instituições financeira dos Rio Grande do Sul, o  Banco Nacional do Comércio (Banmercio), o Banco da Província e o Banco Industrial e Comercial do Sul. Desses aí, lembro com carinho de uma agência do banco da Província que ficava em uma esquina da rua Uruguai, bem no centro de Porto Alegre.

Meu pai, funcionário do estado, recebia pagamento lá. E eu, gurizão ainda, adorava ir com ele até o banco, especialmente no verão. Aquela agência tinha um ar condicionado superpoderoso, coisa desconhecida nos lugares que eu então frequentava –escola, minha casa e casas de parentes.

Mas o melhor, mesmo, eram as escadas rolantes –posso estar errado, mas, para meu conhecimento de menino, estiveram entre as primeiras na cidade, em meados dos anos 1960. Enquanto meu pai curtia uma fila, eu, moleque, ia para cima e para baixo naquelas fabulosas escadas automáticas, espécie de tapete mágico elétrico na imaginação do garoto.

Mesmo com os aportes dos três bancos, o Sul Brasileiro não vingou. Dias depois de terem se completado dez anos de minha entrada, o banco sofreu intervenção no dia sete de fevereiro de 1985, por falta de grana, e seguiu ladeira abaixo até ser incorporado a outro banco.

Que fique registrado: eu não tive culpa nenhuma nisso. Para ser totalmente fiel aos fatos, não durei uma semana na nobre função de auxiliar de escritório. Por alguma razão que foge à minha sabedoria e imaginação, não fique de mandalete ou office-boy, que era a função normal do tal auxiliar de escritório.

Fui alocado na área de crédito rural e incumbido de conferir as contas diárias de empréstimos e recebimentos. No final, era obrigatório dar soma zero.

No primeiro dia, fiz e refiz mais de dez vezes todas as contas, usando uma enorme máquina de calcular daquelas de manivela, que eu mal tinha aprendido a dominar; na dúvida, voltava a conferir na mão, sempre usando um lápis de ponta muito fina.

Sempre dava errado. No fim do expediente, o expediente não terminava para mim. Quando, afinal, conseguia fechar as contas, tinha pela frente outro suplício: escrever à máquina um relatório padrão com o resumo das operações e sem erros.

Eu datilografava com dois dedos (como faço até hoje) e era  muito rápido –passei com vantagem no teste que exigia mínimo de 160 caracteres por minuto--, mas não garantia a precisão e limpeza do documento final. Vai daí que também era um tal de tirar e botar papel até conseguir o zero erro.

No segundo dia de trabalho, já estava quase louco. No terceiro, aproveitei o intervalo do cafezinho para ir até o emprego do meu pai, que tinha ficado superfeliz com a minha contratação, para dizer a ele que iria pedir as contas. Se ficou chateado, não sei; o certo é que me apoiou, disse para eu fazer como achasse melhor.

Vai daí que minha experiência como bancário se resume a três momentosos dias. Mas aprendi muita coisa, sendo a mais importante o respeito aos bancários e a admiração pela sua capacidade de concentração e abstração.

Claro que a gente odeia ir a banco e, não poucas vezes, acaba estourando com o funcionário que nem de longe é o responsável pelas filas e pelo desrespeito que sofremos. Mas, mesmo nesses momentos de raiva, tento lembrar a dureza que é a vida daquele cara que está atrás do balcão.  

Mas me deixei levar pela memória e voltei 40 anos no tempo, mais de mil quilômetros no espaço. É bom retornar à história que estava contando antes que meu leitorado durma.

Para resumir a história, acabei me aposentando em agosto do ano passado –a primeira grana só fui receber em outubro e, apesar de toda a minha preparação, não fiz nada de especial com o dinheiro, apenas ajudou a pagar as contas e continuar levando a vida.

Aposentado, fui, como muitos, pensar no que fazer. Claro que, também como muitos, continuo trabalhando, pois a aposentadoria não dá camisa a ninguém. Mas alguma sensação de liberdade e de esperança acompanha a nova condição. Até uma certa coragem inesperada, uma capacidade de fazer bravata e de enfrentar desafios...

Foi por isso, talvez, que inventei este projeto. Depois de dois anos só cuidando de lesões, tentando diminuir dores e participando de algumas poucas e curtas corridas, resolvi desafiar o corpo e o tempo, colocando de novo a maratona como meta. É uma forma de, digamos assim, reviver, remoçar, reencontrar o próprio ser e reencontrar essa distância, essa corrida pela qual sou tão apaixonado.

Nasceu assim o projeto Primeira Maratona como Aposentado. E o primeiro treino foi no dia primeiro de fevereiro, vinte semanas antes da maratona do Alasca, que é meu objetivo neste programa. Quis que a jornada fosse especial e, assim, usei aquela corrida para reler, relembrar, reviver a “maratona” que fiz entre diversos postos do INSS para enfim conseguir a alforria.

Às sete horas daquele domingo, estava postado em frente à APS SP Pinheiros (APS quer dizer Agência de Previdência Social), no número 68 da rua Butantã. Sem mais aquelas, me fui –veja o filminho dos primeiros passos.


Foi naquela agência que protocolei o início do processo burocrático. Não sabia que era uma das dez mais movimentadas da cidade, com 647 atendimentos diários e média de 13.418 atendimentos por mês. Talvez se tivesse escolhido outra as coisas andassem mais rápidas –ou não, sei lá.

Os caras disseram que precisavam verificar os dados de minhas carteiras do trabalho (tenho duas, cheias), e que eu receberia uma carta avisando de quando poderia ver o resultado. A carta chegaria em um mês, acho eu, mas o novo atendimento ainda levaria uns 90 dias...

Ainda bem que não preciso esperar documentos para queimar o asfalto.

Parti direto pela rua Butantã em direção à marginal Pinheiros, pois o meu segundo encontro com o INSS seria do outro lado do rio, na agência da avenida Vital Brasil. Foi a primeira vez que, como aposentado, cruzava o Pinheiros correndo e registrei o fato num filminho que produzi com a minha câmera esportiva. Taí ele, ó.


Pois cheguei até o tal posto, mas não cheguei. Corria pelo lado par da avenida, lembrando que o posto ficava do outro lado da avenida, pouco depois da estação do metrô. Perdido em meus pensamentos, passei da estação, passei do posto e, quando vi, já estava quase pegando o rumo da saída de São Paulo.

Voltei atrás, perdi tempo, ganhei mais de um quilômetro no meu percurso, que havia calculado inicialmente em cerca de dez quilômetros. Era uma temeridade enfrentar tal distância, considerando as dores do corpo e o estágio do meu treinamento, que até então envolvia sessões de quatro e seis quilômetros, combinado corrida e caminhada. Fui assim mesmo, considerando o momento especial.

O erro que me obrigou a passar duas vezes pelo posto do INSS na Vital Brasil foi emblemático. Afinal, durante as tratativas para minha aposentadoria, também tive de ir lá duas vezes, uma para saber o resultado daquele primeiro exame de minha carteira e outra para levar um catatau de documentos que me exigiram (cópia de todas as páginas das duas carteiras e declarações de ex-empregadores).


Tudo bem. O dia estava lindo e eu não me sentia cansado. Voltei para o que chamo de “lado de cá” do rio, preparando espírito para a parte mais longa daquele treino. Também tive o pior trecho, subindo a Teodoro Sampaio na mão do trânsito. É horrível, porque a gente tem de confiar na habilidade e controle dos motoristas, a quem não vemos –por isso, sempre que corro na rua prefiro seguir na contramão, pelo menos eu sei onde estão os adversários.

Em compensação, tive uma grande alegria no final do trecho. Eleonora vinha acompanhando, de carro, meu percurso, e parara quase na esquina da Teodoro com a Henrique Schaumann. Ele tinha água gelada e todos os equipamentos para eu renovar meu curativo –estava correndo de tala, com curativos para proteger os ferimentos de uma cirurgia recente (mas essa história você já conhece; se não conhece, por favor, clique na aba Acidente!, no alto da página, que vai ter toda a história, tintim por tintim).



Depois daquele refresco, quase na metade do meu percurso (veja acima o mapa completo), saí renovado. Desci a Sumaré, que é meu playground, e pretendi seguir reto. O suporte para minha câmera de cabeça estava incomodando um pouco, e eu também já sentia a musculatura mais cansada.

Resolvi fazer uma segunda parada no final da avenida. Tomei uma água de coco e, com um monte de guardanapos dobrados, improvisei num protetor para a minha testa. Daí segui lépido e fagueiro para o final (foto abaixo).

O ponto culminante de minha jornada, tal como na maratona burocrática pelo INSS, seria no posto da Francisco Matarazzo, pouco depois do parque da Água Branca. Lá também tive de ir duas vezes. Por culpa de erro do pessoal que fez o atendimento no posto da Vital Brasil, segundo me disse uma simpática atendente.

Era uma senhora um pouco mais nova que eu, que tinha sido jornalista no início de sua vida de trabalho. Conhecia, assim, um pouco dos perrengues da profissão. Disse que eu precisaria voltar ao outro posto e pedir a devolução dos documentos que eu havia entregue, porque os caras não tinham completado todas as lacunas.

Abusando um pouco da simpatia dela, abri meu coração com reclamações. Expliquei que trabalhava havia 40 anos (39 anos e meio, para ser exato) e que não tinha culpa de falhas de empregadores ou mesmo falência de empresas (além do Sul Brasileiro, outras firmas por onde passei desapareceram –mas a culpa não é minha, volto a dizer).


Enfim, ela acabou dizendo que talvez fosse melhor eu buscar novamente os documentos solicitados, em vez de solicitar uma abertura de processo na outra agência. Afinal, minha “maratona” já durava meio ano, muito mais do que a média oficialmente informada pelo INSS.
Em reportagem publicada no “Agora” em 2013, é dito o seguinte: “O segurado do INSS que pede a aposentadoria na capital de São Paulo leva, em média, 33 dias para conseguir o benefício, de acordo com dados obtidos pelo Agora por meio da Lei de Acesso à Informação. Os números da Previdência mostram ainda que, a agência do Anhangabaú, na região central, é a mais rápida, com tempo de concessão do benefício em 17 dias. O resultado negativo ficou a cargo da agência Aricanduva, na zona leste. Nesse posto, a liberação da aposentadoria leva 48 dias, 15 dias a mais do que a média na capital paulista.”
Para mim, foram cerca de sete meses, pois só na visita seguinte ao posto da Francisco Matarazzo é que deram a aprovação final. Fui atendido por uma funcionária mais sisuda que a ex-jornalista –ríspida, até, mas eficiente. Ela olhou a carta que eu levei com os pedidos do INSS, os documentos que incluí, escreveu algo num papel e mandou que eu assinasse.
“Pronto”, falou ela, me dispensando: a partir de então só precisava esperar a carta de confirmação e as informações sobre onde buscar os minguados caraminguás que o governo me reservou.
Com minha corrida, encerrada depois de quase duas horas e pouco mais de onze quilômetros percorridos, festejei tudo isso e mais um pouco, comemorei estar vivo e disposto a sonhar. Que o venha o Alasca e que essa seja a primeira maratona do resto de minha vida.
Ganhei até beijim de prêmio. Quer coisa melhor?

Vamo que vamo!