30.11.16

Primeiro balanço de um joelho machucado e uma jornada

Minha caminhada de hoje rendeu exatos 3.140 metros, a crer no relógio com GPS que uso para acompanhar meus treinos. Assim, percorri neste mês 60.350 metros de um total sonhado de 600.000 metros. Comecei a jornada no dia 14 de novembro, tive desde então apenas um dia de folga e pretendo encerrar esta etapa no dia do meu aniversário de sessenta anos, 14 de fevereiro próximo.
Não vai ser fácil.
O percurso de hoje foi ao encontro do médico ortopedista-maratonista que acompanha meu projeto, Henrique Cabrita. Foi ele quem me liberou caminhar modestos três quilômetros por dia, esforço que não comprometeria o trabalho de meu corpo para se recuperar de uma fratura por estresse na ponta inferior do fêmur esquerdo.
Caminhei com medo. Será que ele avalizaria meu projeto? Diria que é muito arriscado, que não vai dar?
E a dor? Ele e o fisioterapeuta Marcelo Semiatzh, que também me acompanha, são unânimes em dizer que não posso andar com dor. Qualquer esforço tem de ficar aquém da dor; qualquer pontada exige parada...
Assim, acreditando que devagar se vai ao longe, comecei esse projeto caminhando, pensando em acumular forças e quilômetros até o dia primeira de janeiro, quando –imaginava eu—estaria liberado para correr, nem que fosse um pouquinho só de cada vez.
Ledo engano.
Tudo está melhor. O joelho já não está inchado, não há mais sinal de edema, a dor não é constante, ainda que apareça de vez em quando, mais vezes do que eu gostaria, sou obrigado e subir e descer escadas com cuidado redobrado, quase mancando, mas consigo fazer o processo sem dor.
O que não significa que vá seguir assim.
Por isso o médico decidiu que é melhor esperar ainda um pouco. Não dá para confiar só no tempo, é preciso avaliar o progresso antes de eu sair correndo por aí. Resumo: liberação ou não só depois de nova consulta, na primeira semana de janeiro.
Vou dizer que bateu um desespero. Será que serei obrigado a abandonar esse projeto antes mesmo de chegar a 2017?
No dia primeiro de janeiro de 2017, chova ou faça sol, vou dar a largada para tentar realizar a empreitada de percorrer distância equivalente à de sessenta maratonas no ano de meus sessenta anos –2.532 quilômetros. É o projeto 60 aos 60.
Antes disso está em andamento outra empreitada amalucada, de chegar aos 600 quilômetros até o daí 14 de fevereiro apesar de uma fratura por estresse no fêmur esquerdo – no conjunto que chamamos joelho.
Bueno, o médico não mandou que eu abortasse o projeto. Disse que talvez fique mais difícil do que eu imaginava. Em contrapartida, neste resto de ano de caminhadas, poderei tentar conquistar mais quilômetros: em vez de ficar nos limitados 3.000 metros por dia, propôs que a distância fosse aumentado a cada semana.
É um alento.
Vamos continuar, um passo de cada vez, um dia de cada vez, uma dor de cada vez, uma alegria de cada vez.
Vamo que vamo!



600 aos 60 – etapa 16 – 2016 nov 30

3,14 km caminhados em 39min33

Quilometragem acumulada: 60,35 km

Tempo acumulado: 12h19min35



29.11.16

Dia de dor e luto para o futebol, o jornalismo e o povo brasileiro

“#ForçaChape”, vi no painel eletrônico de um dos relógios de rua da avenida Paulo 6º, na zona oeste de São Paulo, na manhã de hoje. A morte e o luto estavam presentes na minha caminhada, estão presentes no sofrimento de todo o Brasil, que acompanha com dor solidária a tragédia que se abateu sobre o time da Chapecoense.
“O avião que transportava a delegação da Chapecoense para Medellín, na Colômbia, sofreu um acidente na madrugada desta terça-feira (29). Segundo autoridades colombianas, há 75 mortos e seis sobreviventes. O avião da LaMia, matrícula CP2933, decolou de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, com 81 pessoas a bordo: 72 passageiros e 9 tripulantes.”
A notícia, publicada no site G1, segue:
O voo que transportava a equipe da Chapecoense partiu na noite de segunda-feira de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, em direção a Medellín. Segundo a imprensa local, a aeronave  perdeu contato com a torre de controle às 22h15 (local, 1h15 de Brasília), entre as cidades de La Ceja e Abejorral, e caiu ao se aproximar do Aeroporto José Maria Córdova, em Rionegro, perto de Medellín. O Comitê de Operação de Emergência (COE) e a gerência do aeroporto informaram que a aeronave se declarou em emergência por falha técnica às 22h (local) entre as cidades de Ceja e La Unión.
“Os motivos do acidente ainda são desconhecidos. A imprensa colombiana chegou a cogitar possível falta de combustível como causa do acidente, mas também informou que o piloto despejou combustível após perceber que o avião iria cair. Uma operação de emergência foi ativada para atender ao acidente.
“O time da Chapecoense embarcou para a Colômbia na noite de segunda (28), para disputar a primeira partida da final da Copa Sul-Americana, contra o Atlético Nacional, na quarta (30). Inicialmente, o voo iria diretamente de Guarulhos (SP) para Medellín, mas o voo foi vetado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Em razão do veto, a equipe tomou um voo comercial até a Bolívia e, de lá, o grupo pegou o voo da LaMia.”


O canal Fox Sports informou que o avião que levava a delegação do Chapecoense TAM,bem transportava 22 jornalistas brasileiros que cobririam a partida contra o Atlético Nacional (COL): “Seis profissionais do Fox Sports, três da TV Globo, quatro da RBS, um do Globoesporte.com e oito jornalistas de rádios locais estavam no avião. Entre os nomes mais conhecidos estavam o repórter Victorino Chermont, o narrador Deva Pascovicci e os comentaristas Paulo Julio Clement e Mário Sérgio, todos do canal Fox Sports”.
 Jogador de altíssima qualidade e elegância, Mário Sérgio se manteve fiel ao futebol depois de sua aposentadoria como atleta profissional: trabalhou com treinador e agora atuava como comentarista esportivo.
Os gremistas lembramos dele como carinho, emoção e orgulho: foi peça fundamental no time montado em 1983 para disputar –e vencer—o Mundial de clubes. Para Mário Sérgio, foi uma espécie de redenção, como ele conta em reportagem publicada em 2013 pelo Globo Esporte Reproduzo a seguir alguns trechos da história:
Abordado por uma moto desenfreada, Mário Sérgio cai de sua bicicleta, quebra quatro costelas e tem um pulmão perfurado. Eram 1h30m da madrugada de setembro de 2013. Saiu da sua familiar Lagoa da Barra, no Rio de Janeiro, quase sem ar, roubado pelos ladrões e direto para uma sala de cirurgia. Era para ganhar alta em uma semana, mas precisou de mais 20 dias, vítima de infecção hospitalar. Mas se recuperou. E despertou novamente à vida.
“- Quase morri - confidencia.
“O telefone toca. Do outro lado da linha, a voz rouca do parceiro Valdir Espinosa, seu colega nos tempos de Vitória, então técnico do Grêmio. O tempo voa para trás, é segundo semestre de 1983. Aos 33 anos, disposto a encerrar a carreira na Ponte Preta, Mário Sérgio recebe o convite para jogar o Mundial Interclubes pelo Grêmio. Caía em seu colo, macio como seus passes, um improvável despertar para o futebol. O próprio Espinosa revela, 30 anos depois:
“- Ninguém queria o Mário Sérgio no Grêmio. Eu que insisti. Na primeira vez que falei, todo mundo pipocou: 'Ah, ele é isso, aquilo, é bagunceiro...'. Mas eu conhecia ele. Joguei com ele, morei com ele. Eu reconhecia nele a sua qualidade extraordinária. Jogar contra alemão só com força não adianta. Tem que ter técnica para contrapor. Precisávamos do Mário Sérgio.
“- Era a minha última chance de ser campeão do mundo. Faltava isso na minha carreira, um título mundial. E o Grêmio me deu isso, Foi a minha maior alegria, meu grande título - conta o ex-meia.”
Fica aqui um abraço amigo a todos os familiares, parentes e amigos das vítimas do acidente –o Brasil inteiro.
#FORÇACHAPECÓ!
VAMO QUE VAMO!


600 aos 60 – etapa 15 – 2016 nov 29

3,40 km caminhados em 40min36

Quilometragem acumulada: 57,21 km


Tempo acumulado: 11h40min02

28.11.16

Confira em vídeo como foi a CORRIDA FORA TEMER

A sabedoria popular insiste que uma imagem vale mais que mil palavras (diga isso sem palavras...).
Bueno, se juntar imagem e palavras, então, a comunicação se aperfeiçoa mil vezes – ou, pelo menos, é o que esperamos.
Por isso, aproveito este solene momento para apresentar a você não só palavras e imagens, mas imagens e movimento, música e tudo o mais que vem embalado em uma bela videorreportagem.
É que acaba de ficar disponível o vídeo que conta como foi a segunda edição da CORRIDA FORA TEMER, organizada pelos Corredores Patriotas Contra o Golpe, grupo do qual sou um dos orgulhosos sócios fundadores.
A manifestação cívico-esportiva foi realizada no dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, na avenida Paulista, região central de São Paulo.
O vídeo que você vai assistir agora é uma produção de Tadeu Anderson, que fez tudo: capturou as imagens, realizou entrevistas, cortou, editou, montou e fez a sonorização.


Tadeu é experiente militante da área de vídeos, já tendo horas e horas de rodagem em filmagens, produção e edição.
Foi assistente de produção do documentário cult “Sabotage: Maestro do Canão” e cuidou da preparação de imagens e edição de DVD do grupo de reggae Natiruts, para ficar apenas em alguns dos trabalhos do cara, a quem agradecemos pela  gentileza e dedicação a esse projeto.
O som de agogô que perpassa o vídeo foi produzido pela minha digníssima irmã, Teresa, que estava passando uns dias aqui em Sampa e nos deu o prazer de sua companhia.
Obrigado a ambos e, principalmente, obrigado a todos que participaram da Corrida Fora Temer, firmes e fortes na luta por um Brasil mais justo, democrático, livre e soberano.
Vamo que vamo!


600 aos 60 – etapa 14 – 2016 nov 28

3,44 km caminhados em 40min24

Quilometragem acumulada: 53,81 km


Tempo acumulado: 10h59min26

27.11.16

Suco de milho é uma delícia e cura até unha encravada

Meu desjejum de hoje, em preparação a mais uma caminhada desta jornada jornalístico-esportiva rumo aos sessenta anos, teve um visitante inesperado, exótico, muito diferente do chazinho com banana amassada e aveia modificada que eu consumo a cada dia.
Tive a satisfação de consumir um copo de um delicioso suco de milho. Além de ótimo, protege os olhos da degeneração macular e reduz os efeitos do envelhecimento, segundo me informa a sabedoria internética.
Para muitos, talvez seja algo costumeiro. Para mim, é talvez apenas a terceira ou quarta vez que aproveito essa gostosura.
Meu debute no empapuçamento com suco de milho é recente, tipo dois ou três anos atrás, talvez menos. Foi numa viagem a trabalho, numa daquelas paradas em posto para aliviar a água do joelho e acalmar os vermes que, no estômago, clamam incessantemente por comida.

Pois bebi e adorei. É uma bebida forte, algo que não se consome todos os dias –imagino eu--, mas que dá vontade, dá.
E ontem ganhei nada menos do que uma garrafa desse manjar. Nem sabia que se vendia assim. Não é algo de que pretendo ficar freguês, mas, de vez em quando, vale a pena variar.
Tomei um copão ontem, já pensando que seria ótimo no desjejum de hoje.
Não há uma receita única e infalível para fazer suco de milho verde. Uma rápida pesquisa na internet revelou vários caminhos, cada qual aparentemente mais delicioso e inspirador que o outro.
Todas levam tempo e dão certo trabalho, pois envolvem não apenas bater no liquidificar, mas também cozimento, esfriamento e outras etapas. Mas, com paciência, dá para fazer em casa sem maiores transtornos –pelo menos, é o que me pareceu avaliando algumas das alquimias propostas na internet
O que importa é que é muito bom, nutritivo e bonito, o amarelo do suco fica lindo num copo de vidro bem brilhante –talvez em copo de cristal fique mais belo ainda, mas não tinha disponível para fazer o teste.
Não sei se cura até unha encravada –o título deste texto é uma brincadeira com aquela história de soluções milagrosas--, mas a internet está repleta de informações sobre os reais ou supostos benefícios do suco de milho.

Um site chamado Suco & Saúde diz o seguinte: “O suco de milho é uma fonte de vitamina A, vitamina C e vitamina do complexo B. Acido fólico, fósforo e magnésio são também encontrados no suco, que é uma boa fonte de ácidos graxos essenciais, carboidratos complexos e fibras. O milho amarelo é rico em luteína, que protege o corpo contra doenças cardíacas. O suco protege os olhos da degeneração macular, que ocorre principalmente durante a velhice. É antioxidante, atua no sistema nervoso central, reduz o colesterol e combate o envelhecimento. Por fim, o suco de milho colabora para a saúde dos ossos, permitindo o crescimento de dentes e ossos saudáveis nos bebês.”  
Falando sobre o milho em geral, não especificamente sobre o suco, o site Dicas de Saúde afirma: “O Milho não só proporciona as calorias necessárias para o metabolismo saudável, diariamente, mas também é uma rica fonte de Vitamina A, Vitamina B, Vitamina E e muitos minerais. O seu elevado teor de fibra assegura que ela desempenhe papel significativo na prevenção de doenças digestivas tais como Prisão de Ventre e Hemorroidas, bem como o câncer colorretal. Os antioxidantes presentes no Milho também atuam como agentes anticancerígenos e previnem a doença de Alzheimer”.
Enfim, é gostoso e faz crescer. Pela minha experiência, é melhor consumir ANTES do treino, como fiz hoje –ainda que muita gente não considere treino a caminhadinha de três quilômetros que venho fazendo a cada dia, dia após dia. É o que posso fazer agora, em respeito ao meu joelho fraturado.

Como se diz na gíria, agora é já, depois é mais tarde.

Vamo que vamo!



600 aos 60 – etapa 13 – 2016 nov 27

3,36 km caminhados em 49min25

Quilometragem acumulada: 50,37 km

Tempo acumulado: 10h19min12


26.11.16

FIDEL! FIDEL! FIDEL! Presente, agora e sempre!!!

O mundo amanheceu mais triste hoje, com a notícia da morte de Fidel Castro Ruiz, até ontem o maior símbolo vivo, em nosso planeta, da coragem, do heroísmo, da generosidade, da fraternidade, da gentileza, do desprendimento e da disposição de trabalhar e de se entregar inteiro na construção de um mundo mais justo e democrático, mais divertido e mais humano.
Herói dos trabalhadores e do povo, Fidel entra para a história como um dos grandes arquitetos do mundo moderno, ao lado de Marx e Lênin, Stalin, Mao e Ho Chi Min.
O anúncio da morte foi feito pelo seu irmão, Raul, presidente de Cuba, às 22h29 de ontem, em transmissão pela TV cubana (ASSISTACLICANDO AQUI):
Querido pueblo de Cuba:
Con profundo dolor comparezco para informar a nuestro pueblo, a los amigos de nuestra América y del mundo, que hoy 25 de noviembre del 2016, a las 10:29 horas de la noche, falleció el Comandante en Jefe de la Revolución Cubana, Fidel Castro Ruz.
En cumplimiento de la voluntad expresa del compañero Fidel, sus restos serán cremados.
En las primeras horas de mañana sábado 26, la Comisión Organizadora de los funerales brindará a nuestro pueblo una información detallada sobre la organización del homenaje póstumo que se le tributará al fundador de la Revolución Cubana.
¡Hasta la victoria siempre!



Minha caminhada de hoje foi chorosa e dolorida, dedicada a esse gigante que povo os sonhos de adolescentes, homens e mulheres do mundo inteiro ao anunciar, comandar, defender e garantir a revolução libertária, a vitória contra tudo e contra todos. No início da adolescência, bebi e comi cada palavra do livro “A Ilha”, de jornalista Fernando Morais, um dos primeiros relatos públicos sobre a esperança socialista se tornando realidade concreta e apaixona numa pequena ilha caribenha.
Fidel foi um formulador, gênio do discurso, advogado da justiça. Se você não leu ainda, não deixe de conhecer a famosa peça de defesa que produziu contra as acusações que lhe foram impingidas pela ditadura de Fulgêncio Batista. Clique AQUI para saber um pouco sobre as circunstâncias do julgamento; clique AQUI para ter acesso ao texto “A História Me Absolverá”, em espanhol.

O escritor Eduardo Galleano, autor de “As Veias Abertas da América Latina”, retratou Fidel com as seguintes palavras:
Seus inimigos dizem que foi rei sem coroa e que confundia a unidade com a unanimidade.
E nisso seus inimigos têm razão.
“Seus inimigos dizem que, se Napoleão tivesse tido um jornal como o Granma, nenhum francês ficaria sabendo do desastre de Waterloo.
“E nisso seus inimigos têm razão.
“Seus inimigos dizem que exerceu o poder falando muito e escutando pouco, porque estava mais acostumado aos ecos que às vozes.
“E nisso seus inimigos têm razão.
“Mas seus inimigos não dizem que não foi para posar para a História que abriu o peito para as balas quando veio a invasão, que enfrentou os furacões de igual pra igual, de furacão a furacão, que sobreviveu a 637 atentados, que sua contagiosa energia foi decisiva para transformar uma colônia em pátria e que não foi nem por feitiço de mandinga nem por milagre de Deus que essa nova pátria conseguiu sobreviver a dez presidentes dos Estados Unidos, que já estavam com o guardanapo no pescoço para almoçá-la de faca e garfo.
“E seus inimigos não dizem que Cuba é um raro país que não compete na Copa Mundial do Capacho.
“E não dizem que essa revolução, crescida no castigo, é o que pôde ser e não o quis ser. Nem dizem que em grande medida o muro entre o desejo e a realidade foi se fazendo mais alto e mais largo graças ao bloqueio imperial, que afogou o desenvolvimento da democracia a la cubana, obrigou a militarização da sociedade e outorgou à burocracia, que para cada solução tem um problema, os argumentos que necessitava para se justificar e perpetuar.
“E não dizem que, apesar de todos os pesares, apesar das agressões de fora e das arbitrariedades de dentro, essa ilha sofrida, mas obstinadamente alegre, gerou a sociedade latino-americana menos injusta.
E seus inimigos não dizem que essa façanha foi obra do sacrifício de seu povo, mas também foi obra da pertinaz vontade e do antiquado sentido de honra desse cavalheiro que sempre se bateu pelos perdedores, como um certo Dom Quixote, seu famoso colega dos campos de batalha.” (Do livro “Espelhos, uma história quase universal”)
Aqui no Brasil, a presidenta eleita Dilma Rousseff publicou a seguinte mensagem: “Sonhadores e militantes progressistas, todos que lutamos por justiça social e por um mundo menos desigual, acordamos tristes neste sábado, 26 de novembro. A morte do comandante Fidel Castro, líder da revolução cubana e uma das mais influentes expressões políticas do século 20, é motivo de luto e dor. Fidel foi um dos mais importantes políticos contemporâneos e um visionário que acreditou na construção de uma sociedade fraterna e justa, sem fome nem exploração, numa América Latina unida e forte. Um homem que soube unir ação e pensamento, mobilizando forças populares contra a exploração de seu povo. Foi também um ícone para milhões de jovens em todo o mundo. Meus mais profundos sentimentos à família Castro, aos filhos e netos de Fidel, ao seu irmão Raul e ao povo cubano. Minha solidariedade e carinho neste momento de dor e despedida. Hasta siempre, Fidel!”

O ex-presidente Lula também manifestou seu pesar:
DESCANSE EM PAZ, COMPANHEIRO FIDEL
“Morreu ontem o maior de todos os latino-americanos, o comandante em chefe da revolução cubana, meu amigo e companheiro Fidel Castro Ruz.
“Para os povos de nosso continente e os trabalhadores dos países mais pobres, especialmente para os homens e mulheres de minha geração, Fidel foi sempre uma voz de luta e esperança.
“Seu espírito combativo e solidário animou sonhos de liberdade, soberania e igualdade. Nos piores momentos, quando ditaduras dominavam as principais nações de nossa região, a bravura de Fidel Castro e o exemplo da revolução cubana inspiravam os que resistiam à tirania.
“Eu o conheci pessoalmente em julho de 1980, em Manágua, durante as comemorações do primeiro aniversário da revolução sandinista. Mantivemos, desde então, um relacionamento afetuoso e intenso, baseado na busca de caminhos para a emancipação de nossos povos.
“Sinto sua morte como a perda de um irmão mais velho, de um companheiro insubstituível, do qual jamais me esquecerei.
“Será eterno seu legado de dignidade e compromisso por um mundo mais justo.
“Hasta siempre, comandante, amigo e companheiro Fidel Castro.”
Encerro reproduzindo texto publicado no Portal Cuba. Tomo a liberdade de colocar nele novo título, mas mantenho o original em espanhol. Tenho certeza de que você vai entender tudo.

COMANDANTE EM JEFE, ORDENE!
“Fidel Castro murió. Cuba y millones de seres humanos alrededor del mundo lloran hoy su partida.
“El hombre que dedicó toda su vida a luchar contra la injusticia, que se erigió como el líder indiscutible de los que no tienen voz, dejó de existir a los 90 años de edad.
“Desde hoy, su estrella legendaria de comandante brillará en el firmamento, y su nombre quedará inscripto por siempre, como memoria imperecedera de los que aspiran a un mundo más justo y mejor.
“Fidel, estudiante rebelde, abogado revolucionario, comandante guerrillero, comunista convencido, líder de todo un pueblo que lo siguió desde el primer día, dijo adiós a la vida dejándonos su ejemplo de persistencia, su radicalismo y sobre todo, su luz eterna de pensador y futurista, que dedicó casi 70 años de su vida a la construcción de su mejor y más completa obra: la Revolución cubana.
“Amado por su pueblo y odiado por sus enemigos, Fidel conquistó el respeto de todos, con esa fuerza moral que lo caracterizó durante toda su vida, siendo protagonista de primera fila en los principales acontecimientos que vivió Cuba en los últimos 60 años.
“El imperialismo jamás le perdonó su permanente irreverencia ante la injusticia, su lealtad a los humildes y su fidelidad a la independencia y soberanía de su Patria, de ahí que pretendieran asesinarlo en más de 600 ocasiones, pero nuestro Fidel era un hombre que estaba por encima de los deseos mezquinos de sus enemigos, y sobrevivió victorioso a cada intento.
“Martiano hasta la médula, se inspiró en el Héroe Nacional cubano, José Martí, para cimentar su pensamiento ideológico, que terminó siendo la guía que tomó esta isla irredenta en el duro camino de la libertad.
“Aún nos cuesta asumir su muerte como un hecho real. Quizás porque recordamos a Martí cuando afirmó que 'la muerte no es verdad cuando se ha cumplido bien la obra de la vida'. Por eso Fidel jamás dejará de estar entre nosotros, por las eternidades.
“A pesar que nos repitan mil veces que Fidel está muerto, seguiremos repitiendo con gallardía: ¡Comandante en Jefe, Ordene!”
VAMO QUE VAMO!!!


600 aos 60 – etapa 12 – 2016 nov 26

3,74 km caminhados em 44min

Quilometragem acumulada: 47,01 km


Tempo acumulado: 1h29min47

25.11.16

Aposentados de SP marcham contra ataque golpista aos direitos do povo

Olha que era quase só cabeça branca! Quem não estava careca, tinha cabelos brancos; quem porventura ainda guardasse cinza na juba, tinha a barba encanecida. Isso, os homens. As mulheres, não: elegantes e decididas, estavam na frente da caminhada para esse dia de luta dos trabalhadores.
Estou me referindo à briosa turma de aposentados que, liderada pelos dirigentes do Sindicato Nacional dos Aposentados, participaram hoje de uma passeata contra os ataques que o governo golpista tenta fazer sobre os direitos da classe trabalhadora. Como era uma passeata, coisa de caminhada, tratei de me somar à turma, aposentado que também sou, para juntar mais uma vez a fome com a vontade de comer: faço meu exercício e contribuo para as lutas democráticas de nosso país.
Apesar da dor que, de vez em quando, volta a atingir meu joelho atingido por fratura por estresse, deu para encarar bem a primeira etapa do percurso, desde o bairro até chegar à sede do sindicato, no histórico prédio da não menos histórica rua do Carmo, palco de fabulosas jornadas de luta sindical no século passado.

Tive a oportunidade de fazer uma transmissão ao vivo, pela internet, entrevistando Carlos Ortiz, presidente do Sindnapi, que por nome completo é Sindicato Nacional dos Aposentados, pensionistas e Idosos. Confira a seguir o vídeo de nossa breve conversa.

Nossa passeata saiu rumo ao encontro de outras passeatas, todas convergindo para o viaduto Santa Ifigênia, em frente à sede da Superintendência do INSS. 
Ali foi a grande concentração do Dina Nacional de Luta, uma manifestação organizada e promovida de forma conjunta e unitária por todas as centrais sindicais.

Não tinha muita gente, talvez umas mil pessoas, na minha avaliação. Ao que parecia, cada central levou uma espécie de grupo representativa, com militantes e ativistas sindicais de diversas entidades –uma espécie de reunião de delegados e ativistas.

De fato, o ato era mais uma demonstração de unidade  do movimento sindical do que de força de massa –essa, segundo me disseram alguns dirigentes, ainda está nas fábricas, onde as manifestações começam na madrugada de hoje. 

Veja, a seguir, depoimentos de dois importantes líderes, um comandante dos metalúrgicos, outra dirigente do movimento feminino.

A jornada de hoje, explica o site dos metalúrgicos, é denominada “Dia Nacional de Mobilizações e Paralisações pelos Direitos”.
A pauta da mobilização é: Nenhum direito a menos na reforma da Previdência; Contra a reforma Trabalhista, que retira direitos; Menos Juros; Mais empregos; e Em defesa da Saúde e da Educação. 
 Além dos atos unificados, sindicatos e associações lideraram paralisações em fábricas e empresas, por pelo menos uma hora, para explicar aos trabalhadores a luta por mais empregos e informar sobre a questão das reformas trabalhista e da Previdência.
Além, é claro, de trazer ativistas e militantes para as manifestações mais amplas. Dona Ivanete, conhecida em sua turma como “Colega”, era um deles. Veja no vídeo ao lado o que ela me disse.
Muita gente determinada e corajosa esteve na manifestação, como as figuras a seguir:





Encerro com o grito dos aposentados:

Vamo que vamo!!!


600 aos 60 – etapas 11 e 11A – 2016 nov 25

8,11 km caminhados em 1h44min30

Quilometragem acumulada: 43,27 km


Tempo acumulado: 8h45min47

24.11.16

Caminhada dos mais velhos exige NENHUM DIREITO A MENOS

Caminhar está sendo uma alegria para mim, apesar de ser uma espécie de prisão, condenação ou tratamento médico: caminho agora porque não posso correr, tenho o joelho machucado ferido e esboroado por uma fratura por estresse. Há outra forma de ver e viver este momento: caminho agora para poder correr mais tarde; ou, pelo menos, acreditando que os cuidados presentes resultarão em benefícios futuros.
O que será será, dizia a canção. Hoje, agora, já, o que importa é que a caminhada não é prisão, mas libertação. Deixa os pensamentos fluírem livres, permite à mente borboletear pelo espaço, oferece aos músculos um bocadinho de ação, solta o elemento do mundo próprio e particular que constrói enquanto circula pelas ruas e avenidas da cidade.
Ainda que tudo isso seja bem verdade, e eu consiga construir na caminhada momentos de paz e isolamento, não significa que esteja desatento ao mundo, ao Brasil, a São Paulo e às atribulações, problemas, dúvidas e desafios que envolvem ser velho e continuar no mundo.
Nos municípios e nos Estados, no país todo, vivemos um momento de ataque aos mais elementares direitos dos cidadãos em geral, agressões à democracia e ao Estado de Direito. Vai desde questões muito graves –entrega do pré-sal, invasões de casas, violência policial—até coisas do ramerrão cotidiano.
Cá em São Paulo, por exemplo, o prefeito eleito, João Dória –que muitos teimam em chamar de John Dollar--, tem se dedicado a estudar maneiras de dificultar a liberdade de ir e vir dos mais velhos e tornar ainda mais cara a existência dos maiores de sessenta anos.
Examina a possibilidade de cortar o passe gratuito ao povo da Terceira Idade no transporte público municipal. Esse é um benefício estabelecido em lei nacional, o Estatuto do Idoso, para maiores de 65 anos; em São Paulo, Estado e município já há alguns anos estenderam a liberação para o povo de 60+.
Texto publicado no jornal “Folha de S. Paulo” na última terça-feira (22 de novembro), diz o seguinte: “A equipe do prefeito eleito João Doria (PSDB) planeja que a gratuidade de ônibus para pessoas de 60 a 64 anos seja válida só a aposentados. Segundo Sérgio Avelleda, que assumirá a pasta dos Transportes no novo governo, pessoas dessa idade que ainda trabalham voltariam a pagar a passagem integral. "O benefício da gratuidade é destinado aos estudantes e aos idosos porque são dois grupos com renda baixa ou inexistente. Não faz sentido manter o benefício para quem está no mercado de trabalho", afirmou Avelleda”.
Como não, senhor Avelleda? Exatamente os velhos que estão no mercado de trabalho são os que provavelmente mais necessitam dessa pequena, mas importante, vantagem. Ganham pouco, como acontece com todos nós veteranos, e usam bastante o transporte público, precisam se deslocar a cada dia de casa para o trabalho, do trabalho para casa.
A desvairada ideia provoca revolta mesmo em quem votou no candidato tucano –que já por várias vezes desmentiu ou relativizou suas promessas de campanha.
O registro está na mesma reportagem da “Folha”: “"Eu não sou de reclamar, mas pela gratuidade eu seria a primeira a protestar lá na frente da prefeitura", afirma em voz alta a desempregada Maria Aparecida da Silva, 63, "Não lutei tanto para chegar agora, nessa idade, e tirarem meus benefícios", completa. No terminal Princesa Isabel, no centro de São Paulo, Maria Aparecida aguardava um ônibus, na manhã desta terça, para Santo Amaro (zona sul), onde faz tratamento contra um câncer. Na fila, outras pessoas concordavam com ela. "Um absurdo", "eles não podem fazer isso", eram algumas das frases. "É safadeza [a reanálise do benefício]. Se soubesse, não teria votado nele [Doria]. Se for preciso, vou para a rua também", afirma a pensionista Ana Maria Santos, 63, que pegava um ônibus para buscar remédios para uma amiga.
Indicado por dona Maria Aparecida, protestar é o caminho. Sindicatos e entidades que reúnem e representam aposentados e idosos estão discutindo o assunto, indo para a rua, respondendo a todos esses ataques com um grande e unificado grito nacional: “NENHUM DIREITO A MENOS!”.
Minhas caminhadas –e, quem sabe, no futuro, corridas--, seguirão acompanhando essas lutas.

Vamo que vamo!



600 aos 60 – etapa 10 – 2016 nov 24

3,11 km caminhados em 37min01

Quilometragem acumulada: 35,16 km


Tempo acumulado: 7h01min17

23.11.16

Repetição e constância são essenciais para iniciante no mundo das corridas

Hoje o dia acordou feliz. Não tinha sol, não tinha chuva, estava nublado, com temperatura amena: ótima para mais uma caminhada de um corredor que não pode correr.
Mal terminei o café da manhã, porém, e tratei de calçar os sapatos de caminhada, e as nuvens se debulharam em chuva.
Êpa, opa!, me disse eu, já ensaiando ficar no resguardo, para evitar que uma reincidente gripe volte a me atacar.
Mas as águas pararam, e eu me fui.
Caminhadinha curta em circuito conhecida, boa para fazer algumas reflexões sobre a prática esportiva.
Muitas vezes me perguntam  como é que se faz para começar a correr ou para iniciar um programa de caminhadas.
A resposta é óbvia, ainda que aparentemente poética: “Dando o primeiro passo”.
Pode parecer algo acaciano –e talvez seja--, mas isso nãol basta. O primeiro passo não é suficiente para sustentar um programa pessoal de combate à preguiça pessoal e ao sedentarismo.
A coragem maior –e a vida exige coragem, ensina Guimarães Rosa—é acordar no dia seguinte e mais uma vez sair. Ou ainda acordar para o dia de chuva, voltar à cama e preguiçar, mas no dia seguinte estar pronto para encarar o asfalto, a trilha, a praça, a praia.
Quem deseja iniciar um programa de combate ao sedentarismo pode começar por uma consulta ao médico, especialmente se já estiver passado dos 50 anos –mesmo antes, é sempre recomendável fazer uma avaliação geral da condição física.
Se houver condições financeiras e interesse em atingir algum tipo de desempenho esportivo, é bom buscar ajuda profissional.
Para maioria de nós, porém, que deseja apenas ficar em paz com sua saúde e ganhar um tempo para deixar que os pensamentos voem, basta sair a caminhar. Bastam de três a cinco sessões por semana, de meia hora cada uma, com exercícios leves a moderados, para o corpo já começar a anunciar sinais de melhora, para aumentar a disposição e a vontade de viver.
Aos poucos, a gente vai querendo mais. Ampliar as caminhadas ou passar às corridas. Tudo precisa ser feito com calma, progressivamente, sem sobressaltos que sobressaltem o corpitcho. Mas dá para encarar.
O mais importante é resistir à preguiça, mantendo a constância no exercício, mesmo que cada dia seja a mesma coisa.
Depois de várias repetições –três ou quatro semanas, por exemplo, com caminhadas de meia hora três vezes por semana--, é bom dar um descanso ao corpo. Diminuir por uma semana o número de dias, para ter melhores condições de aumentar na semana seguinte.
Enfim, é preciso saber ouvir o corpo e colocar na cabeça esse mantra: repetição e constância, recomeçar e seguir em frente, mais um dia, mais um vez.
Para alguns, funciona colocar uma meta –é o que estou fazendo com este projeto de tentar percorrer distância equivalente à de sessenta maratonas, combinado com o de tentar chegar aos seiscentos quilômetros até 14 de fevereiro próximo. Para outros, isso é bobagem.
Enfim, cada um com seu cada qual.

Vamo que vamo!



600 aos 60 – etapa 9 – 2016 nov 23

3,05 km caminhados em 35min59

Quilometragem acumulada: 32,05 km

Tempo acumulado: 6h24min16


22.11.16

Um jeito mutcho loco de fotografar e filmar suas corridas

Mais da metade de minha vida profissional, que já se estende por mais de 40 anos, foi dedicada à cobertura da área de alta tecnologia.
As primeiras reportagens que fiz sobre o mundo da informática foram publicadas lá por 1983 nas páginas de economia do “Hora do Povo”, então um aguerrido jornal de oposição à ditadura militar. A partir do ano seguinte, tive a satisfação e a honra de integrar a equipe de “Dados&Ideias”, primeira revista de informática do Brasil, nascida no Serpro e, na minha época, já sob a égide do grupo gazeta Mercantil.
Atuei na editoria de informática da “Folha” por quase vinte anos, sendo 16 deles como editor do caderno de alta tecnologia.
Eu adoro máquinas, computadores, celulares, traquitanas e badulaques em geral. E olha que não é de hoje: na adolescência, me dediquei a estudar a linguagem de programação Fortran, imaginando que poderia vir a ganhar dinheiro e me divertir na área.
Antes ainda, lá pelos dez, onze anos, ganhei de meu pai um livro que me acompanhou por um longo período, o sensacional “A Cibernética Está em Nós”, da escritora soviética Yelena Saparina. Era uma obra de divulgação científica pioneira e muito boa de ler –até hoje rola por aí nos sebos, tanto em português quanto em inglês--, misturando quetsões de ciência, de psicologia e de alta tecnologia.
Vai daí que uma das coisas que me deixam saudades do tempo na vida da redação era a oportunidade de testar produtos muitos antes de eles chegarem ao mercado, fuças nas suas entranhas, descobrir falhas ou encontrar milagres. Não que eu seja um técnico, um especialista: sou um jornalista curioso e acredito que, em boa parte das vezes, é disso que o leitor precisa, de alguém gente com a gente que analise os novos produtos com a perspectiva de quem vai usar os novos.
A boa notícia, pelo menos para mim –e, espero, para você e todos os meus leitores e minhas leitoras—é que continuo tendo oportunidade de avaliar produtos de tecnologia. Agora, procuro brincar com coisas que estejam próximas de nossa vida de corredor e de velho, além de fuçar em calçados esportivos, roupas tecnológicas e o que surgir que possa parecer interessante para você e para mim.
Tudo isso é um longo nariz de cera –um jargão jornalístico para indicar uma conversa fiada antes de entrar direto no assunto—para te mostrar minha mais recente resenha de um conjunto de equipamentos muito bacanas.
Com eles, acredito, nossas corridas –e, eventualmente, nossa vidas ou, pelo menos, a captação de imagens em nossas vidas e corridas—nunca mais serão as mesmas.

A cosa é mutcho loca, mermão!

Desculpe aí você apaixonado ou apaixonada pelas delicadezas da última flor do Lácio, mas foi só na grossura e no colorido de uma combinação de gírias de diversos momentos de nosso idioma é que consegui encontrar o devido rigor do léxico para definir a experiência que tive testando equipamentos para produção e consumo de realidade virtual.
Realidade virtual é coisa velha no mundo da informática: lá por meados da última década do século passado já estava em franco desenvolvimento em um bom punhado de empresas.
No ano da Copa do Mundo nos Estados Unidos, visitei no Vale do Silício a Sun, uma das empresas que, na época, mais investia em pesquisa e desenvolvimento; lá coloquei um daqueles óculos gigantes que possibilitavam uma imersão em ambiente que não existia, criado apenas por bits e bytes, a combinação de zeros e uns que forma a linguagem dos computadores.
No laboratório da Sun, nos EUA em 1994, experimentando protótipo de óculos de realidade virtual

Naquele tempo era novidade; tão nova que levou anos para se transformar em produto e efetivamente chegar aos poucos ao mercado comercial. Não para as grandes massas, mas para uns poucos escolhidos.
Agora, não: produzir mundos virtuais e mergulhar neles virou coisa de criança, ao alcance da mão, criados por um clique, dois cliques, três cliques...
A compressão de o que é realidade virtual não é muito simples. Primeiro, digo-lhe o que não é, usando um conceito que já está mais mastigado por nós todos: não é 3D. Não tem nada a ver com aqueles filmes em que as coisas parecem pular da tela desde que você assita com oculosinhos nojentos com uma lente vermelha e outra verde.
Também não tem nada a ver com aqueles ambientes 360 graus que viraram comuns em sites de imobiliárias e museus, em que você visita o ambiente, mexe aqui e acolá, abre portas, dá zoom em quadros. De fato, esse tipo de ambiente dito de 360 graus na prática é meramente bidimensional; o usuário fica de fora e interfere na forma como cada coisa é apresentada. Não deixa de ser bacana, mas nele há um claro distanciamento entre o mundo criado e o usuário do ambiente.
Na realidade virtual, mermão, a coisa é diferente.
Realidade virtual é um ambiente ilusoriamente tridimensional que envolve o usuário. --os tais 360 graus. Você entra no mundo inexistente, e ele parece existir; nele, você pode olhar para baixo, para cima, para trás, para a frente, ouve os sons ao seu redor e pode se movimentar (com cuidado, pois a ilusão é tão perfeita que você esquece que está no mundo real e, no mundo real, pode levar tombos e escorregões).
Esses conceitos vêm sendo empregados já há algum tempo pela indústria de games, por empresas de turismo, por produtoras de conteúdo moderninhas. Usam equipamentos gigantes, fora do alcance de grande parte dos usuários –no ano passado, por exemplo, a GoPro lançou um conjunto para filmagens em 360 graus, que unia seis câmeras montadas numa plataforma circular (ou quase); preço: US$ 4.999,99 (mais de R$ 17 mil no momento em que escrevo).
Por isso, é surpreendente que a possibilidade de criação de ambientes virtuais chegue tão rapidamente ao usuário brasileiro, por preço comparativamente acessível.


Estou falando do conjunto de aparelhos que venho usando e testando ao longo do último mês: a câmera Gear 360, o óculos de realidade virtual Gear VR e o coração, pivô, cérebro e comandante de todo o conjunto, o celular Galaxy S7, tudo da Samsung (foto acima, Divulgação).
Dos três, o mais inusitado talvez seja a câmera, que é uma bolinha do tamanho de uma bola de bilhar (sinuca, vida, o nome de você quiser) com duas lentes olho de boi (ou olho de peixe, já não sei mais qual é a versão mais em voga; em inglês, é lente fisheye). Com ela, dá para capturar vídeos, fotos e animações de fotos em sequência.
É possível usar as duas lentes ao mesmo tempo, produzindo imagens e vídeos capazes de gerar ambientes virtuais imersivos. Mas também dá para usar cada uma das lentes individualmente para produzir imagens e vídeos com aquele estilo arredondado, como os que costumamos produzir com boa parte dessas câmeras esportivas usadas na cabeça ou montadas em capacetes.
O comando da câmera é absolutamente simples, com três botões: o liga/desliga, o que gira os menus (visíveis em uma microtelinha) e o de clicar para produzir a foto, iniciar e para o vídeo. Não há na câmera tela que permita ao usuário ver o que está sendo filmado. E usá-la direto segurando na mão não é nem um pouco confortável.
O melhor jeito de usá-la é montada em um tripé –na embalagem, vem um  minitripé que também pode ser um suporte para a gente carregar a câmera enquanto está filmando na rua –foi o que eu fiz nas minhas caminhadas e corridas de teste.
Imagem produzida com a Gear 360; infelizmente, não dá para mostrar os filmes, que exigem equipamento especial

O problema é que, como disse antes, usando a Gear 360 assim, você não sabe o que está capturando. Mas tem uma certeza: as imagens serão inusitadas, nem um pouco usuais, mutcho locas mesmo, mermão. Testei usando a câmera “reta”, com uma lente olhando para a frente e outra para trás na direção em que eu seguia; também testei com a câmera na “horizontal”, em que uma lente olhava para a esquerda e outra para a direita enquanto em caminhava para a frente.
Tudo na base da confiança de que a imagem gerada vai ficar legal, assim como o som –esse é ótimo, tanto captando o ruído ambiente quanto tendo a voz do narrador como principal.
Pelo que relatei, você já percebeu que a Gear 360 é um tanto capenga como câmera, já que não permite ao dono ver o que está sendo filmado.
Outro experimento feito com as duas câmeras da Gear 360

Isso se torna possível quando a gente casa a câmera com o celular, que precisa ser o Galaxy S7 equipado com um aplicativo específico, o Gear 360.
Aí a coisa fica uma maravilha, ainda que, em contrapartida, as opções filmagem fiquem mais limitadas, pelo menos se o “cineasta” gosta de conforto. É impossível, por exemplo, correr e comandar a câmera a partir do celular; com certeza, você vai levar um tombo e quebrar tudo.
Em ambiente controlado, porém, como uma sala ou algum lugar em que você deixe a câmera fixa no tripé, é sopa no mel fazer a produção a partir do celular, que se conecta à câmera sem fio, por sistema Bluetooth.
Não só a produção fica mais fácil, mas a exibição é sensacional.

Para imagens convencionais, a câmera do celular S7 oferece boa qualidade, mesmo à noite

Não por causa da ótima tela do S7, mas principalmente porque a tela é sensível a multitoque. Girando os dedos, o usuário muda completamente a orientação e o formato da imagem apresentada. Dá para transformar uma cena horizontal em uma imagem circular com impressão de profundidade ou gerar a ilusão de 360 graus.
Para mim, foi tão inusitado, inesperado, que me ficou difícil descrever; por mais que tente, tenho a sensação de que o leitor não vai entender. A imagem mais aproximada que me vem à mente é a de um caleidoscópio comandado com o movimento dos dedos, e não mexendo o dispositivo.
Até aí, porém, não chegamos à realidade virtual. Ficamos com distanciamento crítico, vendo as imagens no celular, ainda que possamos nos extasiar com as possibilidades de manipulação das cenas criadas.
Tudo muda com a entrada no jogo dos óculos Gear VR, que também funcionam casados com o celular; aliás, o telefone é ao mesmo tempo gerador de conteúdo e tela para o aparelho. Fica acoplado “do outro lado” dos óculos: com o aparelho ajustado na cabeça, olha-se pelas lentes e o que se vê é a tela do celular.
Minto.
O que se vê é um ambiente virtual imersivo, transmitido on-line na hora ou passado para gravar no aparelho, graça a outro aplicativo que também precisa ser instalado no celular. E aí, senhores, o mundo muda. Você está dentro de cavernas, mergulha com tubarões, acompanha corridas de motocicletas ou simplesmente caminha ao lado de si mesmo em uma jornada pelas ruas da cidade (foi um dos filminhos que eu fiz).
Claro que as produções feitas por amadores como eu, usando apenas a camerinha Gear 360 nem se aproximam dos jogos, vídeos e fotos 360 disponíveis on-line, à venda ou gratuitamente. As coisas que fiz foram toscas, grosseiras, permitindo perceber lados e limites; com mais experiência e leituras sobre a produção, acredito que os vídeos domésticos podem melhorar muito.
A experiência também possibilita melhorar bastante os comandos de navegação no ambiente imersivo, que são bastante simples. O óculos tem apenas três zonas de comando.
Ói eu aí experimentando os úclos de realidade virtual da Samsung, já com o celular montado no devido lugar - Foto Laura de Lucena

Uma, mecânica, é para fazer o foco (Maravilha!!! Mesmo gente com vista cansada ao meu nível, de um cara de quase 60 anos, consegue ajustar a visão para não precisar usar óculos dentro do Gear VR, o que é absolutamente possível e não muito desconfortável, pelo que me relataram outros usuários).
As outras zonas de comando são eletrônicas. Uma é uma botão convencional de “voltar”, que funciona com um simples toque –mas que precisa ser treinado até que funcione direito. Mantendo-se o botão pressionado- volta-se ao menu geral do aplicativo (tudo imersivo).
O comando mais usado e mais complicado para a gente se adaptar é o que permite fazer tduo andar para a frente, para trás, para cima e para baixo, assim como o “enter” ou ok.
Além disso, há comandos virtuais dentro dos ambientes imersivos: o usuário pode mover um cursor –um pontinho de luz pelo cenário ou pelos menus para fazer o que as guias lhe permitem. Tudo demanda um tempo de adaptação e, mesmo depois de alguma experiência, pode ser bastante frustrante. Mas acaba dando certo.
O ruim de tudo isso é que acaba sendo uma experiência apenas individual –não é a mesma coisa do que ir ao cinema ou ao teatro com alguém. Essa individualização da experiência também pode ser um tanto frustrante para o produtor, que nunca sabe exatamente o que seu “cliente” estará vendo nem como cada um vai acessar o que foi produzido.
Além disso, o público é muito limitado, contido pelas próprias compatibilidades (ou falta de) dos equipamentos. O óculos, por exemplo, aceita apenas uma pequena parte dos celulares da própria Samsung: Galaxy S7 Edge, Galaxy S7, Galaxy Note 5, Galaxy S6 Edge+, Galaxy S6 Edge e Galaxy S6.
Em contrapartida, os preços me parecem razoáveis, considerando o mercado. Não dá para cravar se algo é barato ou caro, pois isso depende do comprador.
Os óculos saem por R$ 799 na lojinha da própria Samsung. A câmera tem um preço bem mais salgado, R$ 2.599. E o celular é o mais caro da turma: o S7 custa R$ 3.499.
Se vale a pena, cada um tem de avaliar conforme suas possibilidades, desejos e necessidades. O certo é que é muito divertido. Produzir ambientes imersivos e vivenciar com tanta facilidade a realizada virtual é mesmo algo mutcho loco, mermão.
Bueno, acabei não falando de minha caminhada de hoje, que existiu, foi um pouco dolorida, mas não o suficiente para impedir que eu registrasse mais alguns quilometrozinhos no projeto de totalizar seiscentos quilômetros percorridos até o próximo dia 14 de fevereiro. E de percorrer, ao longo de 2017, ano de meus sessenta anos, distância equivalente à de sessenta maratonas.

Vamo que vamo!


600 aos 60 – etapa 8 – 2016 nov 22

3,41 km caminhados em 40min19

Quilometragem acumulada: 29 km

Tempo acumulado: 5h48min17