13.10.15

Melhor brasileiro na maratona de Chicago festeja como campeão


Olha, não desminto ninguém que diga que eu sou bairrista, mas a cada dia surgem novas comprovações de que tenho razão. É gaúcho o melhor brasileiro na maratona de Chicago deste ano. É bem verdade que, nascido em Porto Alegre há 43 anos, ele só começou a participar de corridas quando se mudou para São Paulo, já lá se vão 16 anos.

Estou falando de Jacques Jochims Fernandes, leiloeiro de profissão e atleta amador dedicadíssimo. O cara é daqueles para quem a frase “movido a desafios” se encaixa mesmo como uma luva.

Quando chegou a São Paulo, foi convidado por amigos para participar de uma prova de dez quilômetros. Tendo praticado outros esportes até então, resolveu aceitar. Para botar fogo na coisa, os amigos duvidaram que conseguisse fechar em menos de 50 minutos. Pois completou sua prova de estreia em 48 minutos.

De lá para cá, o entusiasmo virou “uma vontade louca de sempre melhorar os tempos”, como ele me disse em mensagem por e-mail. Fez muitas corridas de 10 km, participou de meias maratonas, chegou ao tratlo, completou dois IronMan, tem no currículo três Cruce de Los Andes e uma Comrades –o Jacques não é fraco não.

Fiquemos pois com o texto que ele escreveu especialmente para este blog. Obrigado, Jacques, pela colaboração e pelas fotos. Vamos ao relato da participação do gaúcho que foi o melhor brasileiro na maratona de Chicago.
 

"Corri em Chicago a minha primeira maratona, em 2005. Depois dela, foram outras 18 provas, nos mais diversos lugares. Voltei agora para fazer minha maratona número 20.

Tive várias provas marcantes, como quando pela primeira vez completei a distância em menos de três horas, em Berlim, ou a maratona de Boston no ano do atentado.

Aquilo foi muito triste, e me fez voltar lá no ano seguinte. Essa prova me marcou muito: neste ano de 2015, retornei a Boston mais uma vez, agora em homenagem ao meu pai, que havia morrido semanas antes.

Eu nem estava inscrito para a prova, mas mandei um e-mail para a organização, liguei para eles, conversei sobre a homenagem, e eles me aceitaram. Pronto: eis aí mais uma prova do que essa maratona é para mim. Voltarei todos os anos para Boston se eu conseguir. Já está tudo certo para 2016.

Mas a maratona mais emocionante de todas foi sem dúvida a de Buenos Aires em 2013, quando corri empurrando minha filha Gabi no carrinho. Em alguns treinos já a levava para correr comigo, até que, com essa premissa de sempre achar alguma forma de se motivar e se superar com desafios, tive a ideia de querer fazer sub3 empurrando minha filha!!!

Foi demais essas prova, nada fácil e bem dura, mas, como digo sempre, a cabeça forte, foco, e claro muito treino e dedicação, fazem chegarmos perto do que queremos. A chegada foi emocionante e com o tempo de 2h58:  a Gabi era uma sub3.

Chegamos a Chicago!

Essa cidade é demais. Quando corri aqui minha primeira maratona, quis ousar,  mas quebrei no final da prova e terminei com 3h22. Voltei no ano seguinte e mais consistente e entendendo que não é só festa correr uma maratona, seguindo os treinos à risca, terminei com 3h05.

A cidade de Chicago e a população abraçam a prova com carinho, o que ajuda muito durante a prova. A organização aqui é impecável. Muitos hotéis próximos à largada colaboram para a logística no dia da prova.

É uma prova plana e bastante rápida, o que a credencia para quem queira  buscar performance e baixar seus tempos. O clima aqui tem variado muito, mas sempre com tendência de ser uma prova fria, o que não aconteceu neste ano.

Diante de todas essas variáveis, e por ter corrido aqui havia muitos anos, sem um resultado muito bom, decidiu voltar e fazer uma prova muito forte, tudo ou nada. Iria para a morte, como costumamdizer.

Treinei realmente muito forte, fazendo muito volume semanal --cerca de 130 quilômetros--,  com dieta restrita para estar o mais leve possível, o que faz uma grande diferença.

Queria melhorar meu recorde pessoal, que era de 2h53 em Boston em 2014. Estava muito focado e determinado.

Quando começou o assunto de que faria calor no dia, o que realmente fez, pensava em não deixar isso abalar minha confiança e determinação. Foco é foco, e a cabeça tem que mandar no corpo.

Todas as provas uso isso a meu favor. Mentalizo quando corro o tempo inteiro. E assim larguei esse ano aqui em Chicago com a meta de fazer 2h50 !

Nessa prova iria seguir a risca o planejado pelo Emerson, meu técnico da MPR, com um início de prova um pouco mais lento, aumentando depois do km 3, para administrar no final.

Comecei como planejado. Quando acelerei, acabei encontrando um pelotão de uns seis ou oito corredores com camisetas iguais, que estavam muito pouco abaixo do que era para eu manter de ritmo. Pensei que seria melhor correr junto com eles do que ir sozinho tomando vento na cara, pois também ventou bastante em alguns pontos.

Funcionou bem, mas não contava que o pelotão quebrasse tão cedo: no km 32 já estava sozinho. Mas, como sempre digo, maratona é uma prova de 10 km com um aquecimento de 32 km, era naquela hora que tudo começava, era a hora de fazer força.

Cabeça forte, cabeça...mentalizo e converso comigo mesmo que vou fazer !! Mesmo que esteja cansado nunca digo ou penso nisso durante a prova quando estou correndo. Passei no km 35, onde estava meu técnico, e mandou segurar firme o ritmo, pois estava no programado, mas não poderia perder ritmo.

No km 38 entramos na avenida Michigan, que leva para a chegada. Um cansaço pesou as pernas, mas consegui segurar bem por mais 2 km. No km 40 tive uma sensação de melhora, mas não melhora nada, é só psicológico, pois vai terminar, mas é o suficiente para ajudar.

Pensei em acelerar um pouco e tentar chegar com 2h49, mas via pessoas que estavam correndo bem ao meu lado e, de uma hora para a outra, tinham câimbra e paravam.

Resolvi não arriscar o que teoricamente já estava construído. No final, após a subida que entra na reta final no meio do parque, faltando uns 400 metros, olhei no meu relógio e cogitei ainda chegar em 2h49.

Acelerei muito, mas as pernas já estavam meio sem controle, dei umas duas tropeçadas. Diminuí um pouco, mas segui forte, até que o tempo virou para 2h50 e desacelerei para chegar muito, mas muito feliz, com aquela sensação de que tinha sido o vencedor da maratona, em 2h50min09!


Isso é fantástico! É difícil explicar a sensação que sentimos, só quem corre sabe dimensionar este sentimento. Chicago é demais ! 


E, como surpresa, por neste ano não ter vindo nenhum profissional correr a prova, ela ainda se tornou mais marcante. Além de ter feito meu recorde pessoal, tive a grata satisfação de ser o melhor brasileiro na Chicago Marathon 2015."


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