24.2.17

Despertar esportivo com a turma dos sem teto agita a Paulista na sexta-feira de Carnaval

Mulheres, homens, jovens e até uma criança de colo, levada em carrinho de bebê, participaram na manhã desta sexta-feira de Carnaval da MARATONA FORA TEMER, nome que militantes do movimento dos trabalhadores sem teto deram para a atividade esportiva que realizamos hoje no #OcupaPaulista.
Montado pelos sem-teto no dia 15 de fevereiro, o acampamento na avenida Paulista, em frente ao escritório paulistano da Presidência da República, marca a decisão do MST de não arredar pé da luta por moradia e de denunciar as investidas do governo golpista contra os direitos e os interesses do povo trabalhador.

Mais de duzentas pessoas estão nos barracos montados na esquina da Paulista com a rua Augusta, participando de programação política e cultural que inclui palestras de políticos e dirigentes sindicais assim como apresentações de cantores e poetas.

Na manhã de hoje, a turma dos Corredores Patriotas Contra o Golpe foi dar sua colaboração. Criamos o Despertar Esportivo no #OcupaPaulista, que teve como destaque a Maratona Fora Temer!!! –uma animada caminhada acelerada ou trote justo, como queira, percorrendo alguns quarteirões da avenida, inundando de som o vão do MASP (Museu de Arte de São Paulo), transformando o farfalhar de tênis e chinelos no asfalto em afirmação de disposição de luta.

A atividade começou com uma brincadeira para aquecer os corações, animar a turma e chamar quem quisesse vir para a brincadeira. Com musiquinha quase carnavalesca marcada pelo conhecido ritmo do “pórópópó”, ninguém do grupo conseguiu ficar parado.

Foi a deixa para o educador físico Jopa Fiuza, dos Corredores Patriotas, tomar o comando das ações. Deu explicações sobre a necessidade de a gente se movimentar, arrumar o corpo e organizar o espírito para enfrentar com mais galhardia os perrengues e desafios cotidianos.

Comandou uma atividade divertida, uma brincadeira de roda que, de mansinho, deixou todo mundo mais alegre e já começando a sua. Com mais alguns alongamentos e um agito para esquentar o corpo, estávamos prontos para começar a caminhada.

Daí foi a vez de Clayton Veloso, corredor do MTST que já tem algumas São Silvestre no currículo, organizar a turma para sairmos em uma coluna bem bacana. Não uma fila de colegiais, mas sim fileiras de militantes caminhando juntos.

Ao som do pórópópó, com gritos de “Fora, Temer!” e muitas palavras de ordme do movimento, nossa coluna avançou pela Paulista. A caminhada logo se transformou em trote sereno e firme, mostrando a disposição da turma.

Foi a primeira vez em que participei de uma jornada desse tipo, ainda que já tenha colaborado com a organização de caminhadas e corridas em áreas de atividades de movimentos populares.
O que mais gostei foi que qualquer um no grupo se sentia à vontade para puxar palavras de ordem.

Com isso, a cada momento mudava o líder ou animador do grupo, cada um que chamava os companheiros para a ação, apesar de o trio de abre-alas ser o responsável para dar o ritmo da maratona Fora Temer!
Assim, ouvi a voz firme de um garoto que estava na segunda fila, assim como o canto de mulheres mais no meio do grupo e o chamado feito por um senhor mais velho –acho que era meu único parceiro sexagenário na caminhada de hoje.


A participação das mulheres foi marcante  --no olhômetro, acho que formavam a maioria de nosso grupo. Uma levou seu bebê num carrinho, procurando sempre se manter o mais próximo possível do grupo.
Elas puxaram o grito de alerta, aviso, advertência: “Nem recatada e nem do lar, a mulherada tá na rua prá lutar!”

Com esse espírito, seguimos todos de volta para o acampamento no que foi o mais curto percurso de toda a jornada deste meu projeto de percorrer, ao longo do ano, distância equivalente à de sessenta maratonas. 
Se a distância foi pequena, a energia foi fenomenal, assim como a parceria, a diversão e o entusiasmo.
Fica aqui uma pequena demonstração das brincadeiras e do alegre suor despejado na Paulista ao longo do Despertar Esportivo da manhã de hoje. Clique no vídeo abaixo, montado com imagens captadas por Eleonora de Lucena, e aproveite...



VAMO QUE VAMO!!!



Percurso de 24 de fevereiro de 2017
1,49 km percorrido em 16min56

Acumulado no projeto 60M60A


460,62 km percorridos em 86h48min23

23.2.17

Doutor Rosarinho, chegando aos 90 anos, dá dicas para correr com saúde e alegria

Até quando é possível correr? Com que idade é mais prudente descalçar os tênis e deixar de lado os calçados de corrida, os meiões, o cronômetro, a caneta gravando quilômetros?
Sabe-se lá. De vez em quando, alguém deita falação sobre isso, baseando-se em argumentos supostamente científicos.
Ou, sem quaisquer argumentos, filhos, parentes e amigos infernizam a vida do corredor provecto dando-lhe a gentil informação de que ele ou ele não é mais crianças e deveria parar com essas aventuras.
Filho de lavradores, João Rosário é prova viva de que a diversão não precisa parar nunca –ou, pelo menos, não antes que a gente queira. Preparando-se para, em dezembro próximo, completar 90 anos, corre pelo menos três vezes por semana, dedicando outros dias para caminhadas e trabalho de força.
Os exercícios especiais variam. Agora, por exemplo, tem se dedicado, pelo menos uma vez por semana, a treinos subindo e descendo as escadarias em seu prédio de dez andares. Se os joelhos aguentarem, diz ele, pretende participar de uma prova nas escadarias do Monte Serrat, em Santos.
Foto Eleonora de Lucena - 12 de fevreiro de 2017
Ele foi um dos corredores que me deram a honra de compartilhar comigo a etapa final do projeto 600 quilômetros aos sessenta anos. No último dia 12, corremos juntos na avenida Paulista, e hoje fui correndo até a casa dele, em Osasco, para agradecer sua presença.
Encontro de corredores em apartamento não funciona. Saímos os dois até um belo parque nas redondezas, o parque Fito, onde rodamos alguns quilômetros por uma alameda tranquila, coberta de sombra.
Conseguimos não ser atacados pelo exército de gansos que circula na área, protegendo seus domínios com energia, e conversamos um monte sobre as corridas do passado e nossos sonhos para o futuro.
Rosarinho, por exemplo, está planejando como será o cartaz que vai levar na São Silvestre deste ano, que será parte dos festejos de seu nonagenário –nasceu no dia 20 de dezembro de 1927.
Organiza ainda planos para mais além: já escreve as linhas do poema que vai declamar para sua muito amada Elza nas bodas de diamante do casal, que vai completar em 2019 sessenta anos de casório.
Em entrevista transmitida ao vivo na manhã de hoje, ele contou um pouco de suas experiências e ainda declamou o Poema do Corredor e trecho da poesia com que pretende saudar a permanência do casal. Guardei o vídeo especialmente para você; clique na imagem abaixo e se delicie com a sabedoria e a alegria do Dr. Rosarinho.


VAMO QUE VAMO!!!

Percurso do dia 23 de fevereiro de 2017  - Trajeto A – até Osasco


12,96 km percorridos em 2h12min31

Trajeto B – no Parque Fito, Osasco

2,98 km percorridos em 36min12

Acumulado no projeto 60M60A

459,13 km percorridos em 86h23min14

21.2.17

Atuação protocolar da Justiça contribui para perpetuação da tortura contra presos

Juízes, promotores e até advogados de defesa não dão a menor bola quando ouvem presos denunciarem torturas sofridas na mão da polícia. É tudo quase natural –aliás, em alguns casos, nem as próprias vítimas se dão ao trabalho de apontar os maus tratos, carecas de saber que ninguém vai levar o caso à frente.
No trato com os presos, os juízes, supostamente os atores mais bem preparados no processo judicial, demonstram não apenas frieza, mas franca hostilidade contra os acusados.
Um deles, por exemplo, perguntou: “Um tapa na cara, só?” ou ouvir denúncia de maus tratos. Outro foi mais além, inquirindo assim o acusado: “Só choque? Você ficou com alguma lesão? Chute também? Você falou para o delegado que levou chute? Do nada eles te agrediram?”
E olha que os acusados não são sequer réus em qualquer tipo de processo, mas sim cidadãos detidos pela polícia sob suspeita de algum crime e levados à Justiça para que o juiz decida se os procedimentos legais devem prosseguir e em que condições a pessoa vai responder ao processo, se preso ou em liberdade.
São as chamadas AUDIÊNCIAS DE CUSTÓDIA, uma medida muito positiva implementada no país pelo Conselho Nacional de Justiça, que determinou a apresentação de pessoas presas em flagrante a um juiz em até 24 horas. O objetivo é evitar prisões ilegais e identificar abusos ocorridos no momento da detenção.
Tudo muito lindo, desde que seja tratado com a seriedade que o tema merece. E que não tem sido dada a ele pelos envolvidos no processo, como demonstra pesquisa divulgada hoje pela Conectas, uma ONG que atua na área de direitos humanos.
A apresentação foi no Memorial da Resistência, destino de minha corrida d ehoje, que me deu muita satisfação. Corri sem dor todos os trechos previstos e ainda acrescentei algumas centenas de metros a mais pro minha conta para aproveitar alguns lugares bacanas por onde passei.
Foi delicioso, por exemplo, cruzar o viaduto Antártida por sobre os trilhos do trem, seguindo pela ciclovia quase vazia –rima rica, hein... Corri o viaduro inteiro, sem dor e bebendo as imagens em volta, tudo coisa feia, sem graça, disforme, que no conjunto, cria um pedacinho de cidade curiosa e instigante.
Depois cruzei pela rua Norma Pieruccini Giannotti, que sempre me traz boas lembranças pois fica no percurso da São Silvestre. Aliás, em todas as vezes que cruzei por ela, vinha-me sempre a pergunta à mente: quem foi, afinal, essa Norma?
Imaginava alguma heroína, figura atuante na política, na ciência ou na literatura, sabe-se lá. E justo hoje resolvi tentar descobrir. Perdoe-me, portanto, esse breve digressão.
Mãe extremosa, dona de casa perfeita, Norma atuou no apoio aos necessitados  do bairro da Barra Funda, onde morou durante quase toda sua vida. Morta em 1985, aos 82 anos, foi homenageada pelos moradores da rua Lusitânia, que pediram e receberam a troca de nome.
Na justificativa do projeto de lei aprovado na Câmara Municipal no ano seguinte, o currículo de Norma é uma pérola do machismo que grassa na sociedade. Ela vale porque foi casada, porque teve um marido com quem ficou por sessenta anos, porque foi mãe, teve dois filhos que se formaram e se tornaram cidadãos ilustres.
Sobre Norma, ela mesmo, o currículo quase nada diz. Em meras cinco linhas da página inteira cheia de letras, ficamos sabendo que era “dotada de excepcionais qualidades” e que “desenvolveu junto a comunidade amplo trabalho de assistência social, em favor dos necessitados e carentes”.
Finda a digressão, volto ao percurso. Passo pelo bosque da Luz, que abraço e penetro, cruzando a seguir pela centenário prédio da estação de trem e enfim chegando ao conjunto da antiga estação Júlio Prestes.
Além da parada do caminho de ferro, fulguram por ali a Sala São Paulo, a Estação Pinacote e, no mesmo prédio desta última, o Museu da Resistência, onde conversei com Vívian Calderoni, uma das coordenadoras da pesquisa realizada pela Conectas Direitos Humanos.


O trabalho, me contou ela, que é uma jovem advogada, é resultado de monitoramento presencial e quase diário em audiências de custódia realizadas no Fórum Criminal da Barra Funda, observando audiências realizadas de julho a novembro de 2015 acompanhando o encaminhamento das denúncias de violências de dezembro de 2015 a maio de 2016.
Foram analisados 393 casos em que houve relatos ou sinais de torturas ou maus tratos. O perfil das vítimas é o conhecido PPP (preto, pobvre e da periferia). Em números: homens são 95% dos denunciantes de tortura, dos quais 67% são negros.
Com habilidade e clareza, Vivian Calderoni falou mais sobre a pesquisa em entrevista que transmiti ao vivo na manhã de hoje e que agora trago aqui especialmente para você. Basta clicar na imagem abaixo para acompanhar nossa conversa.


Com o que pretendia encerrar este texto, considerando que você já tem agora todas as informações básicas. Mas, se quiser, pode saber mais ainda, conferindo o texto completo do relatório “TORTURA BLINDADA – Como as Instituições do Sistema de Justiça Perpetuam a Violência nas Audiências de Custódia”. CLIQUE AQUI para ter acesso ao documento.
Se quiser ir logo para os finalmente, reproduzo a seguir as recomendações feito pela turma da Conectas para que as audiências de custódia deixem de ser desperdício do dinheiro público e passem a ser efetivos meios de defesa dos direitos humanos e aprimoramento do sistema judicial brasileiro.

RECOMENDAÇÕES

“1. As audiências de custódia devem ser aplicadas a todas as pessoas presas, independentemente do crime que baseia a detenção e do dia, horário e local em que ocorreu o flagrante.
2. As audiências de custódia devem ser realizadas presencialmente em ambiente seguro que permita a coleta de relatos de tortura e maus-tratos sem pressão e coação. A pessoa presa não deve ser algemada. Policiais militares não podem estar presentes nas audiências nem nas entrevistas prévias com o defensor público. A linguagem utilizada pelos representantes do sistema de Justiça deve ser simples.
3. A chamada audiência-fantasma, realizada quando a pessoa presa está hospitalizada, não deve acontecer em nenhuma hipótese. Quando não houver a apresentação da pessoa presa em razão de internação ou atendimento médico, deverá ser determinada sua apresentação à audiência de custódia imediatamente após a alta hospitalar, além da instauração de procedimento para apurar possível violência policial. A justificativa para a não apresentação deve ser respaldada por laudo ou relatório médico detalhando as razões da internação, extensão de possíveis lesões físicas e psicológicas, assim como, se possível, o que as teria causado.
4. Os juízes devem questionar a pessoa presa sobre a ocorrência de tortura e maus-tratos em
todas as audiências, pedindo detalhes que auxiliem na apuração dos fatos. A atuação dos magistrados deve seguir a resolução 213 do CNJ.
5. Os relatos de violência policial apresentados nas audiência de custódia devem ser tabulados
e sistematizados pelo Judiciário visando subsidiar políticas públicas de prevenção e combate à
tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos e degradantes.
6. Os promotores devem perguntar obrigatoriamente sobre a ocorrência de tortura e maus-tratos e, em caso de resposta positiva, buscar novos elementos de prova para a apuração do crime. Devem, ainda, instaurar procedimento investigatório criminal ou determinar a instauração de inquérito policial, quando houver suspeita, ou apresentar denúncia imediatamente quando houver indícios suficientes.
7. Os defensores públicos devem dispor de um espaço adequado para a entrevista prévia, em
que devem questionar, obrigatoriamente, se a pessoa foi vítima de tortura e maus-tratos. Devem, ainda, informá-la sobre os possíveis encaminhamentos para a apuração da violência.
8. A Defensoria deve tabular todas as denúncias relatadas na entrevista prévia, mesmo que a pessoa opte por não mencioná-las na audiência, a fim de produzir dados para subsidiar políticas públicas de prevenção e combate à tortura.
9. Quando houver suspeita fundamentada de ocorrência de tortura ou maus-tratos, deve ser garantida a integridade física da pessoa presa, de seus familiares e de eventuais testemunhas. A pessoa presa não deve retornar à guarda de agente públicos suspeitos.
10. Diante de relato de violência policial (física ou psicológica), a Magistratura, o Ministério Público e a Defensoria Pública deverão formular quesitos específicos para a elaboração de laudo de exame de corpo de delito. Esses critérios deverão fazer parte do ofício de encaminhamento ao Instituto Médico Legal. Esse documento deverá, ainda, informar o tipo de violência que a pessoa narrou ter sofrido, de modo a contribuir com a qualidade do exame.
11. A perícia deve ser realizada em ambiente equipado nos termos do Protocolo de Istambul.
Sempre que necessário, exames complementares para atestar a extensão dos ferimentos ou a existência de lesões de difícil constatação devem ser solicitados.
12. A perícia forense deve estar integrada às políticas de combate e prevenção e combate à tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos e degradantes, sendo fundamental o fortalecimento do Instituto Médico Legal como instituição independente e autônoma da Secretaria de Segurança Pública estadual.

É o que eu tinha para dizer hoje.
VAMO QUE VAMO!!!


Percurso realizado no dia 21 de fevereiro de 2017
13,04 km percorridos em 1h59min17

Acumulado no projeto 60M60A
435,78 km percorridos em 82h06min34  

Governo Temer corta apoio ao programa brasileiro de atletismo

O governo Temer vai cortar verbas do programa brasileiro de atletismo. A Caixa Econômica Federal, principal mecenas no setor, ainda não renovou seu contrato com a Confederação Brasileira de Atletismo; quando o fizer, será em valores inferiores ao do ano passado, diz a CBAt. Um dos programas prejudicados é o apoio aos corredores de rua de elite, cujo futuro está, no mínimo, indefinido.
Os cortes foram confirmados pelo presidente da Confederação Brasileira de Atletismo, José Antonio Martins Fernandes, em mensagem que mandou para mim nesta segunda-feira (20.2) respondendo a perguntas enviadas por e-mail.
Fernandes disse que até agora o contrato da CBAt com a Caixa não foi renovado, o que era voz corrente entre atletas e treinadores nos últimos dias e vinha provocando muita preocupação sobre o futuro dos corredores de rua de alto rendimento.
Um treinador, que pediu para não ser identificado, disse: “Veio a surpresa. Nenhum atleta receberá a verba prevista no regulamento, ou seja, CBAt e Caixa Econômica Federal não cumpriram com o compromisso firmado diante de um contrato publicado inclusive no site da CBAt. (...) Não acho justo às vezes atletas deixarem de comer para realizar um sonho e dois órgãos de alto nível nacional e internacional fazer uma vergonha dessa com nossos atletas”.
De acordo com o regulamento do Ranking, os três mais bem classificados em cada categoria –masculino e feminino – recebem prêmio em dinheiro. A cerimônia de entrega está marcada para o dia 30 de março. O campeão leva R$ 10 mil, o segundo colocado, a metade, e o terceiro recebe prêmio de R$ 3.000.
Além disso, diz o regulamento, “os dez (10) melhores colocados no Ranking CAIXA CBAt em 2016, tanto no masculino como no feminino, integrarão o Programa Nacional CAIXA de Apoio a Corredores de Rua de Elite da CBAt para o ano de 2017, em conformidade com critérios a serem estabelecimentos pela CBAt”.
Atletas de alto rendimento acreditam que isso não está assegurado porque o contrato com a Caixa não foi ainda renovado.
Fernandes confirma: “De fato, não temos o contrato assinado com a Caixa, até esta data.”
Diz, porém, ter recebido informação da Caixa dando conta de que contrato seria renovado, com cortes de cujas dimensões ele ainda não tinha conhecimento. Isso vai provocar enxugamento em todos os programas da CBAt e até demissões no quadro de funcionários da entidade.
“Ainda não sabemos os valores, mas será com valores menores do que no ano de 2016, portanto todos os setores da CBAt terão cortes nos seus programas, atletas olímpicos, administração, federações, corte de pessoal. Logicamente este Programa de Corridas de Rua também irá sofrer cortes”, diz o texto da mensagem enviada pelo presidente da CBAt.
Ele afirma: “O Programa de Corredores de Rua foi pago durante o ano de 2016, resta apenas a premiação que será paga na festa (jantar), no dia 30 de março, a qual todos os atletas foram avisados desse jantar, assim como ocorreu no ano anterior. Portanto o programa foi realizado e pago relativamente no ano de 2016.”
De fato, porém, a ajuda de custo mensal paga em 2016 atendeu aos atletas vencedores do ranking de 2015. Os atletas vencedores do ranking de 2016 devem receber a ajuda de custo mensal ao longo deste ano, como consta do regulamento, que não especifica o valor da mensalidade.
E é esse dinheiro que será cortado, como deixa claro o texto do presidente da CBAt: “Quanto ao Programa de 2017, estamos em reunião a partir desta semana, com a Caixa, para ver qual a orientação sobre o Programa, mas haverá sim corte na verba e portanto os valores serão revistos”.
Fernandes acrescenta ainda que o governo Temer está atacando todo o mundo esportivo, reduzindo fortemente o apoio até agora dado por empresas estatais: “Todas as entidades esportivas (confederações) estão tendo cortes expressivos de verbas das estatais, não seria diferente com o Atletismo”.
Os 20 atletas vencedores do Ranking CAIXA CBAt de Corredores 2016 são os seguintes: Maria Regina Santos Seguins, Maria Aparecida Ferraz, Rosiane Xavier dos Santos, Marizete Moreira dos Santos, Joziane da Silva Cardoso, Luzinete Andrade dos Santos Miranda, Rozilene Silvestre de Jesus, Conceição Maria Carvalho de Oliveira, Adriana Domingos da Silva, Erika Maria José Vieira, Wellington Bezerra da Silva, Pablo Fagundes da Costa, Fabio Ramos dos Santos, Jonilson Pinto Prates, Vagner da Silva Noronha, Samuel Ribeiro, Mercio Silva Ferreira, Jurandyr Couto Junior, Willian Salgado Gomes, Ronaldo Ferreira Lopes.
Leia abaixo a íntegra da mensagem de José Antonio Martins Fernandes, presidente da CBAt, data de 20 de fevereiro.
A Caixa até agora não respondeu aos vários e-mails que enviei à sua assessoria de imprensa no dia 9 de fevereiro.



“Prezado Rodolfo Lucena
 Existem muitos boatos falsos em todas as áreas profissionais, no caso do Atletismo também existem. De fato, não temos o contrato assinado com a Caixa, até esta data.  Mas fomos informados pela Caixa que o contrato com o Atletismo será renovado, ainda não sabemos os valores, mas será com valores menores  do que no ano de 2016, portanto todos os setores da CBAt terão cortes nos seus programas, atletas olímpicos, administração, federações, corte de pessoal.
Logicamente este Programa de Corridas de Rua também irá sofrer cortes.
O Programa de Corredores de Rua, foi pago durante o ano de 2016, resta apenas a premiação que será paga na festa (jantar), no dia 30 de março, a qual todos os atletas foram avisados desse jantar, assim como ocorreu no ano anterior.  Portanto o programa foi realizado e pago relativamente no ano de 2016.
Quanto ao programa de 2017, estamos em reunião a partir desta semana, com a Caixa, para ver qual a orientação sobre o Programa, mas haverá sim corte na verba e portanto os valores serão revistos.
Todas as entidades esportivas (confederações) estão tendo cortes expressivos de verbas das estatais, não seria diferente com o Atletismo.
O Brasil passa por grave crise política e financeira, então todos teremos de fazer um esforço enorme para nos adequarmos à situação atual.
 Atenciosamente,

 José Antonio Martins Fernandes


Presidente”

20.2.17

Primeiras impressões sobre o mais recente modelo da linha Vomero, da Nike

Antes de começar o texto de avaliação do mais novo calçado de corrida da maior fabricante de equipamentos esportivos do mundo,  permita-me festejar com você: completei hoje percurso equivalente –de fato, superior—ao de dez maratonas somadas e empilhadas. Faltam, portanto, outras cinquenta para a consecução de meu projeto 60 MARATONAS AOS 60 ANOS. Fique comigo, chegaremos lá.
Já há mais de quinze dias venho me dedicando a testar o mais recente modelo da família de tênis de corrida Vomero, da Nike. A fabricante norte-americana apresenta o calçado como  “indicado para treinos longos, de velocidade e progressão”.
Diz ainda que o modelo 12 dessa linha apresenta “equilíbrio perfeito entre suporte adaptativo e amortecimento responsivo”, seja lá o que se possa entender desta última característica. Mas deve ser muito mega blaster, porque contribui para fazer do tal calçado um dos mais caros modelos de corrida da Nike, custando cem reais a mais do que os tênis da linha Pegasus, que considero os melhores que a empresa fabrica.
Acompanho a evolução da linha Vomero desde a década passada. 
Uma das avaliações que fiz integrou reportagem de página inteira publicada no caderno “Vitrine”, da “Folha de S. Paulo”, em 2007.
Tive oportunidade, nos últimos dez anos, de testar várias edições dessa família. De modo geral, apenas consolidei a opinião emitida inicialmente, de que o tênis era muito confortável, mas fofo demais para ser confiável.
Ainda que oferecendo ótimo amortecimento, faltava-lhe estrutura, firmeza. Correr com ele em descidas acentuadas foi um risco nas várias oportunidades em que fiz testes com o Vomero nos últimos anos –foi uma das observações que fiz no texto publicado na “Folha”, por sinal.
Por tudo isso, a experiência dos últimos dias com o Nike Air Zoom Vomero 12, que é o nome completo do modelo atual da família, tem sido surpreendente.
A fofura está lá, como esperado, assim como o conforto geral e a largura aceitável na parte da frente do pé (podia ser melhor), dando ao Vomero 12 uma aparência geral que inspira confiança para corredores mais pesados, como é o meu caso.
Agora, porém, diferentemente do que ocorreu com os modelos que testei anteriormente, a confiança não se esfumaça quando a gente calça os tênis e caminha ou corre ladeira abaixo. A fofura do Vomero agora está mais sustentada por uma estrutura mais firme do que a vista em modelos anteriores, o que faz do 12 o melhor de sua família que já passou pelos meus pés.
Das caminhadas e corridas que fiz com o novo modelo dessa linha de bom amortecimento, só tenho elogios a fazer. O tênis é bem confortável e macio, com amortecimento extra na parte da frente do pé –coisa que, ao que eu saiba, foi lançada na década passada pela linha Dyad, da Brooks, que eu adorava.
Independentemente de quem tenha sido o “pai” dessa construção, acho ótimo que mais modelos de calçados de corrida tragam amortecimento na área do antepé, que sofre bastante nas corridas (o Pegasus mais recente também apresenta essa carecterística).
O fato de só ter elogios para o desempenho do Vomero 12 não significa que ele não apresente problemas. O principal me parece ser um vício da construção dos calçados Nike em geral: a falta de largura no antepé. Não são tão afilados como costumam ser os calçados da Adidas, mas carecem de amplitude.
O tênis que experimentei estava ótimo no meu pé, mas isso talvez seja porque fiz os testes com o tamanho 12, quando em geral uso 11,5 (numeração norte-americana). Isso pode ser indicador da modéstia das proporções do molde do Vomero. Se você decidir comprar um, sugiro que experimente um número maior do que o que costuma usar.
Longe de ser um modelo minimalista, o Vomero 12 é um calçado grandalhão para corredores grandes.  O custo também é de amplas proporções: R$ 599,90 é o preço de lista, mas dá para encontrar por menos pela internet.
Sua sola é grossa, sendo um centímentro mais alta no calcanhar em relação à parte da frente (drop de 10 mm). Pesa 334 gramas (42, masculino), cerca de dez por certo a mais do que o Pegasus mais recente. Nos testes, não senti diferença.
Em resumo, o novo modelo pode ser saudado como um avanço e melhoria na linha. Tomara que siga nessa passada.
VAMO QUE VAMO!!!


Percurso do dia 19 de fevereiro de 2017
7,66 km percorridos em 1h30min09

Acumulado no projeto 60M60A

422,74 km percorridos em 80h07min17 

18.2.17

Corredor do MTST participa de ocupação na avenida Paulista

O pé torcido não me impediu de sair hoje para correr. Dois dias de repouso foram suficientes para diminuir bastante a dor; ainda que o pé não esteja completamente recuperado, dá para fazer caminhadas e dar breves trotes. Ele precisa se regenerar com o movimento.
E minha jornada de hoje foi muito movimentada. Comecei rodando pela avenida Doutor Arnaldo. Pude observar que os muros do cemitério do Araçá já recebem pichações contra as mudanças no sistema de aposentadoria que o governo golpista pretende impor à nação.
Fiquei satisfeito em ver linhas cor-de-rosa anunciando: “Mulheres contra a Reforma da Previdência!”.
Fica aqui, pois, enquanto corro, uma saudação a essas mulheres de luta.
Enveredando pela avenida Paulista, passo por barracas construídas com  plástico preto, papelão, cordão e pedaços de madeira. É o acampamento do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, instalado em frente à sede da Presidência da República em São Paulo.
O movimento, chamado Ocupa a Paulista, começou na última quarta-feira (15.2) em grande estilo, com uma enorme passeata reunindo mais de trinta mil pessoas e comandada por Guilherme Boulos, principal dirigente do MTST (foto abaixo).


“Se os governantes não vierem falar com a gente, teremos um novo endereço a partir de hoje: a Avenida Paulista. Ou a gente sai daqui com resolução, ou a gente vai morar aqui", foi a afirmação de Boulos.
Trata-se de um protesto contra as modificações feitas pelo governo golpista no programa de habitação popular. Com as mudanças, foram prejudicados, no entender do MTST, exatamente os mais necessitados, as famílias enquadradas na faixa 1, com renda de total de até 1.900 reais, que representam 84% do povo sem casa no Brasil.
"As 600 mil moradias anunciadas por Temer foram para outra faixa da população. Aumentaram o limite de crédito do Minha Casa Minha Vida para R$ 9.000,00, ou seja, transformaram um programa social em programa de crédito imobiliário para financiar casa própria para setores que não são os mais necessitados, que não são os sem-teto e não são aqueles que mais precisam de moradia no Brasil", afirma o texto de convocação da manifestação.
Agora, algumas centenas de pessoas se reúnem no acampamento, que todos os dias vem recebendo artistas, intelectuais e representantes de movimento, que fazem shows, dão aulas e participam de rodas de conversa como forma de apoiar a turma dos sem teto.
Também passei por lá hoje para levar um abraço para o Boulos, que não tinha chegado ainda.
Em compensação, encontrei um grande amigo, o militante do MTST e corredor de quatro costados Clayton Veloso, veterano de várias São Silvestres e um montão de corridas de rua aqui em São Paulo.
Ele estava atuando como uma espécie de segurança na área do dormitório do acampamento, mas tirou um tempinho para conversar com a gente e contar um pouco do que rolava no acampamento.
Fiz uma transmissão ao vivo de nosso bate-papo, que agora está disponível nas redes sociais; para facilitar, uma cópia pode ser vista a seguir. Clique para assistir ao vídeo.


No vídeo não tive muito tempo para apresentar de forma mais adequada o meu entrevistado. Aproveito agora para contar um pouco mais sobre essa figura simpática e dedicada ao movimento.
Eu conheci o Clayton em Taboão da Serra (Grande São Paulo), no condomínio João Cândido,  que foi o primeiro conjunto habitacional construído diretamente sob a orientação do MTST.
Os 192 apartamentos do complexo foram entregues pelo MTST em dezembro de 2014. Na época, conforme registrou a imprensa, Boulos afirmou que aquela modalidade de obra, supervisionada pelos movimentos populares, tinha mais qualidade do que os trabalhos de empreitaras contratadas para o programa Minha Casa, minha Vida:
“Não tenho dúvidas de que quando fazemos algo com dignidade, as pessoas valorizam. Muita gente diz por aí que, no Minha Casa, Minha Vida, a turma ganha o apartamento e vende. Quando você joga o cara num lugar longe, com o apartamento numa caixinha de fósforo, que não cabe nem uma cama no quarto, é difícil reclamar que ele vá vender. Agora, vamos voltar aqui daqui a cinco anos e ver se alguém terá vendido. Tenho certeza de que nós vamos encontrar essas mesmas pessoas aqui, morando nesses apartamentos", disse o dirigente do MTST.
Tive oportunidade de visitar o conjunto no final do ano passado, quando começamos os primeiros passos de um projeto novo, que ainda está embrionário, o MARATONANDO COM O MTST.
Aquecimento pré-caminhada com moradores do cond. João Cândido, do MTST; Clayton está de camiseta do Grêmio (foto Eleonora de Lucena)

Realizamos diversas reuniões com os moradores, falando sobre saúde, qualidade de vida, combate ao sedentarismo.
Juntos fizemos várias caminhadas pelo bairro, sempre com a companhia preciosa do Clayton Veloso e do José Carlos dos Reis, dois grandes corredores de rua que adotaram a ideia do MARATONANDO COM O MTST e passaram a coordenar, no condomínio, as caminhadas com a turma.
O Clayton é um pernambucano naturalizado paulista –veio para cá com seis meses de vida. Nascido em 1981, começou a correr em 2001, mas já tinha jeito para a coisa: foi graças à sua agilidade que, meses antes, conseguiu escapar de uma emboscada e evitar saraivada de tiros disparados por três atacantes.
Passou a treinar, descobriu as corridas de rua, e elas mudaram sua vida. Na Corrida dos Bombeiros, por exemplo, teve a inspiração de fazer um curso de salva-vidas, conquistando assim nova profissão.

Zé Carlos, de boné, e Clayton, ao fundo, são corredores que comandam caminhadas com moradores do João Cândido (foto Eleonora de Lucena)

“Cada corrida é uma história”, me disse ele depois de uma caminhada que fizemos com moradores do condomínio João Cândido. E continuou:

“Nessa caminhada que a gente fez agora, um problema que eu tive ontem, eu fui pensando como solucionar ele hoje. A gente tem tempo para pensar, tem tempo para refletir, esse tempo que a gente usou agora, eu particularmente usei para definir uma situação que eu estava em dúvida. Então a gente consegue se aliviar e pensar duas vezes antes de agir, tomar qualquer tipo de atitude. A caminhada e a corrida nos proporcionam isso. Por isso que é bom.”

De fato, não posso deixar de concordar com o Clayton. E desejar a ele e à toda a turma do MTST sucesso nas suas lutas.

VAMO QUE VAMO!!!


Percurso do dia 18 de fevereiro de 2017
10,24 km percorridos em 1h33min04

Acumulado no projeto 60M60A
415,09 km percorridos em 78h37min08


17.2.17

Vaiado, ministro de Temer ofende Raduan Nassar na entrega do Prêmio Camões

Sob vaias e gritos de “Fora, Temer!, o ministro da Cultura do governo golpista, Roberto Freire, assacou insultos contra o escritor Raduan Nassar e impropérios contra a plateia que acompanhava a cerimônia de entrega do prêmio Camões, a mais importante honraria para quem escreve em português.
As cenas grotescas transcorreram na manhã de hoje no bucólico jardim do museu Lasar Segall, na Vila Mariana, em evento que começara embalado pela voz de um coral de meninas –graciosas, cantaram “Aquarela do Brasil”, “Maria, Maria” e “Garota de Ipanema”.
Depois de tanta poesia musical, Nassar usou de prosa precisa para caracterizar o Brasil de hoje. “Vivemos tempos sombrios”, disse ele, para logo em seguida denunciar o governo “repressor”, que age “contra o trabalhador, contra aposentadorias criteriosas, contra universidades federais de ensino gratuito, contra a diplomacia ativa e altiva de Celso Amorim. Governo atrelado por sinal ao neoliberalismo com sua escandalosa concentração da riqueza, o que vem desgraçando os pobres do mundo inteiro”.
O autor de 81 anos, agora oficialmente no panteão dos maiores escritores em língua portuguesa, encerrou lembrando que, quando Dilma foi afastada pelo Senado, “o golpe estava consumado”. E proclamou: “Não há como ficar calado”.
A frase foi saudada com fortes palmas, gritos de “Bravo!” e um potente coro de “Fora, Temer!”.
A cerimônia seguiu seu curso com um discurso protocolar do embaixador de Portugal, Jorge Cabral, que cumpriu seu papel com elegância e discrição.
O mesmo não se pode dizer do ministro do governo golpista –que havia sido caracterizado por Nassar como “governo em exercício”--, que abandonou seu pronunciamento previamente escrito para tentar dar lição de moral e assacar ofensas exatamente contra o homenageado do dia. O octogenário Nassar a tudo ouviu em silêncio, mesmo quando Freire xingou a “estultice” dos que caracterizam como golpe a tomada do poder sem voto.
A plateia, porém, não ficou calada ante as grosserias de Freire, que passou a ser interpelado diretamente.
Professor da USP, o poeta Augusto Massi falou para que o ministro e todos ouvissem:  "Acho que você não está à altura do evento!".
Na mesma linha, a filósofa Marilena Chauí recomendou que o ministro ficasse em silêncio. Mas Freire seguiu com sua arenga, tentando caracterizar como democrático o governo golpista –afinal, estava concedendo prêmio de alto coturno a um escritor de oposição ao regime golpista.
De fato, porém, Freire estava se adonando de uma decisão que não era sua nem da turma que ele representava, com bem destacou a repórter Camila Moraes, do “El Pais”, que registrou a cena a fala ministerial e a reação dos presentes:

Diante da declaração de Freire de que [Nassar] “é um adversário político do Governo recebendo um prêmio do Governo que ele considera ilegítimo”, escritores presentes no evento ressaltaram que o Prêmio Camões 2016 foi anunciado em maio de 2016, quando o impeachment ainda não havia sido concluído.

“É preciso ressaltar que ele aceitou o prêmio em maio do ano passado, quando o Governo ainda era o de Dilma Rousseff”, destacou Milton Hatoum. Segundo o escritor amazonense, autor do premiado romance "Dois Irmãos", entre outros, o governo atual “adiou por muito tempo a entrega desse prêmio, justamente por medo dessa repercussão”. No meio, o discurso político de Nassar – que se manifestou contra o impeachment anteriormente – já era esperado por todos.”

Nas redes sociais, a repórter Carol Pires também denunciou a apropriação indébita, como demonstra a imagem.

A plateia protestou. Alguém gritou não se podia seguir ouvindo aquilo em silêncio, e foi apoiado por boa parte do grupo. Sob vaias, Roberto Freire enfim saiu do palanque e abandonou o evento –a repórter Carol Pires registrou tudo em vídeo, a que você pode assistir clicando AQUI.

Por lá ficamos nós outros, os amigos e admiradores de Raduan Nassar, de sua escrita brutal e de seu desabrido papel na luta democrática.



Estavam lá Celso Amorim, ministro dos governos Lula e Dilma, o senador Eduardo Suplicy, o jornalista Mino Carta, a cineasta Petra Costa, professores, escritores, amantes da literatura e da democracia.
Além das emoções do dia, fomos brindados com o belíssimo discurso de Nassar, que reproduzo a seguir.

“Excelentíssimo Senhor Embaixador de Portugal, Dr. Jorge Cabral.
Senhor Dr. Roberto Freire, Ministro da 
Cultura do governo em exercício.
Senhora Helena Severo, Presidente da Fundação Biblioteca Nacional.
Professor Jorge Schwartz, Diretor do Museu Lasar Segall.
Saudações a todos os convidados.
Tive dificuldade para entender o Prêmio Camões, ainda que concedido pelo voto unânime do júri. De todo modo, uma honraria a um brasileiro ter sido contemplado no berço de nossa língua. 
Estive em Portugal em 1976, fascinado pelo país, resplandecente desde a Revolução dos Cravos no ano anterior. Além de amigos portugueses, fui sempre carinhosamente acolhido pela imprensa, escritores e meios acadêmicos lusitanos.
Portanto, Sr.Embaixador, muito obrigado a Portugal.
Infelizmente, nada é tão azul no nosso Brasil.
Vivemos tempos sombrios, muito sombrios: invasão na sede do Partido dos Trabalhadores em São Paulo; invasão na Escola Nacional Florestan Fernandes; invasão nas escolas de ensino médio em muitos estados; a prisão de Guilherme Boulos, membro da Coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto; violência contra a oposição democrática ao manifestar-se na rua. Episódios todos perpetrados por Alexandre de Moraes.
Com curriculum mais amplo de truculência, Moraes propiciou também, por omissão, as tragédias nos presídios de Manaus e Roraima. Prima inclusive por uma incontinência verbal assustadora, de um partidarismo exacerbado, há vídeo, atestando a virulência da sua fala. E é esta figura exótica a indicada agora para o Supremo Tribunal Federal.
Os fatos mencionados configuram por extensão todo um governo repressor: contra o trabalhador, contra aposentadorias criteriosas, contra universidades federais de ensino gratuito, contra a diplomacia ativa e altiva de Celso Amorim. Governo atrelado por sinal ao neoliberalismo com sua escandalosa concentração da riqueza, o que vem desgraçando os pobres do mundo inteiro.
Mesmo de exceção, o governo que está aí foi posto, e continua amparado pelo Ministério Público e, de resto, pelo Supremo Tribunal Federal.
Prova da sustentação do governo em exercício aconteceu há três dias, quando o ministro Celso de Mello, com suas intervenções enfadonhas, acolheu o pleito de Moreira Franco. Citado 34 vezes numa única delação, o ministro Celso de Mello garantiu, com foro privilegiado, a blindagem ao alcunhado “Angorá”. E acrescentou um elogio superlativo a um de seus pares, o ministro Gilmar Mendes, por ter barrado Lula para a Casa Civil, no governo Dilma. Dois pesos e duas medidas
É esse o Supremo que temos, ressalvadas poucas exceções. Coerente com seu passado à época do regime militar, o mesmo Supremo propiciou a reversão da nossa democracia: não impediu que Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados e réu na Corte, instaurasse o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Íntegra, eleita pelo voto popular, Dilma foi afastada definitivamente no Senado.
 O golpe estava consumado!
 Não há como ficar calado.

 Obrigado.”

Com o que também concluo o registro da manhã de hoje, em que não corri nem caminhei por causa de uma impertinente dor no tornozelo. Dias atrás sofri uma leve torsão, que estou tratando com carinho e cuidado. É melhor não abusar do corpo para poder seguir firme na luta.
Afinal, esta jornada não é um sprint nem uma maratona, mas sim percurso equivalente ao de sessenta maratonas. Sigamos juntos.

VAMO QUE VAMO!!!!




16.2.17

Mesmo com pé torcido, jornalista agora sexagenário persegue meta de sessenta maratonas

Escrevo sentado em minha confortável cadeira de rodinhas, modelo Diretoria, com assento e encosto reguláveis e fundilhos devidamente acolchoados. Minha perna esquerda está regularmente dobrada em um ângulo de noventa graus, e o pé da mesma perna se  apoia no chão, fazendo leve força para tentar manter o corpo erguido e um tantinho só inclinado para a frente. A perna direita, não: estende-se para a frente, semidobrada em ângulo aberto, de modo que o pé que é seu complemento fique inclinado, com os dedos apontando para a diagonal à direita, e não para cima, como seria o mais natural; o pé se apoia sobre pano de chão dobrado em quatro, que reduz a intensidade do calor emanado de bolsa de água quente colocada sobre um banco, que é o apoio de todo o conjunto –perna, pé, pano e bolsa.
Trata-se de medida profilática para tentar reduzir a dor e contribuir para a recuperação de tecidos esgarçados no lado de fora do tornozelo, fruto de entorse enquanto corria em ondulado circuito de mil metros no agradável e sombreado bosque da Cidade Universitária.
Que eu me lembre, é a primeira vez que torço o pé desde que comecei a correr, no final do último milênio. A bem da verdade, tanto quanto a memória seja confiável, é a primeira vez que torço o pé, ponto.
As torções são pesadelo para corredores. Dependendo do local, do grau, da intensidade, recuperar-se de uma delas leva mais tempo do que regenerar-se de uma fratura por estresse ou mesmo de alguns procedimentos cirúrgicos. E dói.
Não uma dor permanente; episódica, vem sem ser chamada, surpreende e maltrata. Sabendo a área atingida, a vítima –eu, neste caso--, trata de pisar com cuidado, movimentar-se quase em câmara lenta para evitar o estresse do território machucado. No instante em que se esquece, porém, lá vem a dor.
Sabia que havia risco. Em qualquer trilha há risco. O terreno é irregular pela própria natureza, há saliências e reentrâncias, vegetação, folhas caídas escondendo raízes traiçoeiras que caprichosamente serpenteiam pelo caminho dos humanos. Um delas, mimetizada entre as cores do chão, foi a vilã.
Quando pisei, senti que tinha virado vítima. A torção foi dolorida, uma fração de segundo, mas o corpo todo agiu para puxar o pé do perigo, e a passada seguinte foi firme e forte. Mantive o trote e segui.
Era minha corrida de aniversário. No dia 14 de fevereiro, saí de casa para correr e caminhar 14 quilômetros, numa solitária e particular celebração em que me reencontrei com caminhos trilhados por São Paulo nestes quase vinte anos de corrida.
Com a corrida, conquistei uma cidade que jamais descortinara antes. Fui para territórios distantes, embrenhei-me por vielas, subi pirambeiras, desci ameaçadores peraus, encontrei cidadãos que não frequentam nem leem páginas de jornal e mergulhei na memória das lutas de nosso povo por democracia, independência e melhores condições de vida.
Por isso, celebro a corrida e a homenageio com mais corrida.

Rio Pinheiros; do lado esquerdo, aquele verde todo é a Cidade Universitária

Fui embora pela zona oeste, caminhando lomba acima e rampa abaixo até chegar a lugar em que pudesse correr com menor risco de fustigar meu joelho esquerdo, quem vem desde novembro passado em arrastado processo de recuperação de uma fratura por estresse.
Corro pouquinho, apenas meio quilômetro de cada vez, seguido por outros quinhentos metros caminhados. Os períodos de trote, porém, me enchem de alegria, é quando me permito soltar o corpo, observar as pernas se mexendo, olhar para mim mesmo como se eu fosse um extraterrestre a observar o estranho vivente lá embaixo, no solo, deslocando-se no asfalto para incerto destino.
“Quem corre chega mais rápido a lugar nenhum” é uma frase que vi escrita em muro, num desses lambe-lambes que trazem poesia impressa. Talvez o dito, que, imagino, pretendia combinar humor com algum sentido outro, hermético ou contraditório, fosse grafado diferente; o texto aqui escrito é o que me vem à memória, ainda que eventualmente não seja o certo, preciso, gravado com tinta sobre papel colorido colado no corrimão protetor de um viaduto na rua Oscar Freire.
Não importa. Quem escreveu não imagina os desejos de quem corre. Talvez o corredor nem chegar queira, basta o correr; a travessia já é, a seu modo, a chegada, pois de chegança são todos os instantes da vida, assim como de partida, de quietude e de semovente.

Filosofando pelo asfalto, cheguei à Cidade Universitária e fui surpreendido pela mudança da entrada lateral que costumava usar. Acesso secundário ao terreno de mais de sete milhões de metros quadrados, custava ser apenas uma simples portinhola no alambrado, guardada por vigilante instalado em modesta guarita. Pois virou uma obra de envergadura, até com calçada ampliada, refeita e arrumada, tudo muito bonitinho.
Impressionado, adentrei o asfalto do território da cultura e da sabedoria, seguido pelo retão da raia, que, em maio de 1998, foi palco da primeira corrida de rua em que participei.
Era uma prova de oito quilômetros, se bem me lembro, com duas voltas completas por trecho demarcado no dito retão, que tem por nome oficial avenida Professor Mello Moraes. A chegada, gloriosa, ocorreu na pista do estádio da USP, sob aplauso da turma das arquibancadas -um público modesto, mas maravilhoso.
Naquele dia, eu só queria alcançar a primeira curva, que parecia tão distante, lá no final do segundo quilômetro de muitíssimos metros.
Depois do primeiro retorno, passei a lutar contra a certeza de que jamais conseguiria chegar à metade da prova, não naquele ritmo insano que empreendia.
A solução foi tentar ser ainda mais rápido, procurando encontrar alvos entre os rivais, quem sabe algum corredor que eu pudesse perseguir, alcançar, vencer.
O que me importava em suar e seguir, completar, conquistar. Exausto e satisfeito, fui abraçado e beijado por minha mulher e minhas filhas, então pitoquinhas chegando à adolescência. Elas me entregaram um troféu que haviam especialmente decorado. Foi fantástico.
Agora, no dia em que entrei no mundo dos idosos, no meu aniversário de sessenta anos, percorria de novo aqueles caminhos.

Percurso de minha corrida aniversário
Foi também buscando os escaninhos da memória que me embrenhei no bosque, cenário de tantas caminhadas com minha e mulher e as crianças desde muito antes que eu começasse a correr. Nós pulávamos por lá, experimentávamos os equipamentos de exercícios, inventávamos brincadeiras, cheirávamos flores, sentíamos o perfume daquilo que parecia uma floresta...
Lembrar é um dos prazeres dos velhos –pelo menos, enquanto a memória está viva, pulsante, contando os instantes que se foram, colorindo as cenas do percurso.
Quero ter a alegria das lembranças, mas quero também construir mais história.
Por isso sigo.
Meu percurso de aniversário inclui a subida da Biologia, rampa de mais de um quilômetro que enfrento com galhardia e satisfação, recordando as tantas vezes que já cruzei por ali, as centenas de treinos que fiz naquelas alamedas.
O mais sensacional talvez tenha sido a última etapa de minha preparação para minha primeira ultramaratona. Fiz quatro vezes a “volta da USP”, percurso encabritado de dez quilômetros que inclui a dita subida. Uma corrida solitária, em que tive o apoio da Eleonora, minha mulher muito amada, a me entregar água a cada cinco quilômetros, incentivando sempre e enfrentando, como eu, o sol que tomava a manhã depois de uma amena madrugada.
Daquela vez descobri a música na corrida. Não ouvindo canções em fones de ouvido simples ou gigantes, coisa de que não gosto: prende os sentidos e dificulta a apreensão do mundo. Cantei sem cantar, só deixando o som rolar na memória. Fiz de uma canção de Djavan meu hino de então candidato a ultramaratonista:
Vou andar, vou voar, pra ver o mundo; nem que eu bebesse o mar encheria o que tenho de fundo.”
De fato, sabe-se lá.
Atravesso o portão principal da USP, estou de novo na rua, rodando o trecho final de meu percurso de aniversário. Termino em frente a um estação de metrô, onde vou testar um dos poucos benefícios que a idade dá: viajar sem pagar pelos trens urbanos de São Paulo.


Não tem burocracia. O agente Miquéas conferiu meu RG, até me cumprimentou pelo aniversário, e liberou a passagem, pela catraca.
Minha corrida tinha terminado, mas eu iniciava um novo percurso.
Quando cliquei o botão de encerramento das atividades de meu relógio com GPS naquele dia também encerrei a primeira etapa deste meu projeto jornalístico-esportivo-cultural que faz da corrida instrumento para debater questões de saúde, qualidade de vida e inserção social dos maiores de sessenta anos.
Terminei ali, de fato, a meta de inteirar seiscentos quilômetros no dia de meu aniversário, contando desde três meses anos, em jornada iniciada em 14 de novembro de 2016.
A festa-corrida foi no dia 12, quando suplantei os seiscentos quilômetros com a gloriosa companhia de grandes corredores, cidadãos do mundo e do meu coração.
Agora foi o encerramento, solitário como o dia da largada.
O projeto 600 aos 60 durou 93 dias, sendo nove deles de descanso. Nos 84 dias de ação, percorri um total de 621.360 metros, que exigiram esforço ao longo de 122 horas, 42 minutos e 32 segundos.



O ganho de elevação (diferença entre o total de subidas e o acumulado de descidas em longo de todo o percurso) chegou quase ao topo do Aconcágua: 6.737 metros, contra os 6.962 metros do maior pico do Ocidente.
Minha velocidade média foi de pedestrianíssimos 5,1 km/h –segundos abaixo de doze minutos por quilômetro, que é a velocidade calculada na linguagem dos corredores. Obtive esse ritmo dando em média 55 passos por minuto.
O projeto 600 aos 60 se embrenha em outro plano, o de percorrer, ao longo deste ano de 2017, distância equivalente à de sessenta maratonas, o que totaliza 2.532 quilômetros. Trata-se do projeto 60 MARATONAS AOS 60 ANOS, que acaba de ganhar marca especial criada pelo meu irmão caçula, João de Lucena.
É um objetivo inédito para mim. Na maior parte de minha vida corrida, completei em média 2.400 quilômetros por ano; nesta década, o volume total caiu bastante, ficando em torno dos 1.900 quilômetros por anos, chegando mesmo a mirrados 1.800 quilometrozinhos em uma certa feita.
Apesar disso, acho que dá para conseguir –confiança que é compartilhada por meu treinador, Alexandre Blass, e os amigos e apoiadores da Força Dinâmica e do Instituto Vita.
É bem verdade que a torção no pé direito assusta, incomoda e me obriga a ter inesperado dias de descanso antes da retomada dói projeto. Apesar disso, ontem tratei de voltar ao asfalto, fazendo minha primeira caminhada depois do aniversário, a primeira jornada no entrudo da Terceira Idade.
Foi até o serviço municipal que cuida do Bilhete Único do Idoso, passaporte para maiores de sessenta anos andarem gratuitamente de ônibus por São Paulo. Só o terei dentro de vinte dias –pelo menos, essa foi a promessa da simpática atendente.
Tomara que chegue logo, pois esse é um dos tantos direitos dos veteranos da vida que estão ameaçados do Brasil de hoje, mantido sob o tacão de um governo golpista e entreguista, que trabalha para destruir as riquezas da pátria e as condições de sobrevivência do nosso povo.
Lutar contra isso é um dos objetivos da vida deste novo velho brasileiro.
VAMO QUE VAMO!!!


Percurso de dia 15 de fevereiro de 2017
6,69 km percorridos em 1h20min25

Acumulado no projeto 600 aos 60, iniciado em 14 de novembro de 2016 e encerrado em 14 de fevereiro de 2017
621,36 km percorridos em 122h42min32

Acumulado no projeto 60 Maratonas aos 60 Anos desde 1º de janeiro de 2017
404,84 km percorridos em 77h04min04