30.11.15

Governo do Quênia quer saída de cartolas da federação de atletismo

O governo do Quênia pediu a demissão dos principais dirigentes da federação de atletismo do país depois que um grupo de atletas ocupou a sede da entidade em protesto contra o que consideram corrupção generaliza e falta de ação contra o doping.

“Estou muito orgulhoso da decisão dos atletas”, disse em entrevista a este repórter o jornalista e escritor britânico Adharanand Finn, autor do premiado livro “Running with de Kenyans” (Correndo com os quenianos).

Segundo ele, “é preciso muita coragem para enfrentar a federação, pois há muita corrupção e ela pode punir os atletas”.

Ao que parece, porém, são os cartolas que correm o risco de punição no atual momento.

A entidade é acusada de corrupção; executivos teriam metida a mão no dinheiro de um contrato de patrocínio com a Nike. Além disso, a federação também seria conivente com esquemas de dopagem, deixando de investigar e punir redes organizadas para fraudar competições.

O Ministério do Esporte do país pediu a renúncia dos executivos envolvidos em acusações, pelo menos enquanto durarem as investigações dos casos.

Alguns dos chefões já tiveram de responder a inquérito policial, como o ex-eterno presidente Isaiah Kiplagat (que se licenciou para concorrer à IAAF, o vice-presidente David Okeyo e o ex-tesoureiro da federação Joseph Kinyua. Todos eles disseram ser inocentes.

Nos meios esportivos, porém, a credibilidade deles está bem abalada. Recentemente, Dick Pound, coordenador da comissão de investigação que escancarou a dopagem generalizada na Rússia, disse: “O doping no Quênia é preocupante”.

O país continua na mira das autoridades internacionais antidopagem, que suspeitam da existência de poderosos esquemas funcionando sob o olhar complacente da cartolagem local.

Não é o que pensa o jornalista britânico com quem eu conversei por e-mail. A entrevista com Finn serviu de base para reportagem publicada na Folha neste último domingo (confira aqui)

Agora, com exclusividade para os leitores deste blog, trago a íntegra da entrevista com Finn. Para escrever seu livro, viveu seis meses na Meca queniana das corridas de longa distância, entrevistou dezenas de atletas e consultou pesquisas e especialistas em esporte.

Britânico Finn corre com quenianos em 2011,
quando viveu no país  - foto Arquivo Pessoal
Baseado no seu conhecimento, o senhor diria que há doping generalizado no Quênia?
Claramente há doping, sim, mas não acredito que seja tão organizado e amplo como é na Rússia.

De acordo com seu livro, os bons resultados dos quenianos são fruto de treinamento duro. Com as recentes denúncias de doping, o senhor se sente enganado?
Não. Eu ainda acredito que a maioria dos corredores do Quênia é limpa. Não sei quantos estão se dopando, mas sei que alguns dos principais corredores são limpos, com certeza. A história da corrida no Quênia não é uma mentira –sua incrível dominação na corrida de longa distância não foi construída com base no doping.

Lamento, no entanto, pelos corredores quenianos honestos. O fato de que alguns corredores do Quênia estão se dopando coloca todos eles sob suspeita. Em qualquer lugar em que um queniano tenha um bom resultado poderão pensar que ele ou ele correu sob doping. Isso é uma vergonha para os corredores limpos, que trabalham duro para conseguir seus resultados.

Qual sua opinião sobre as acusações que pesam sobre a Federação de Atletismo do Quênia(AK)?
A Federação do Quênia está no coreção de todos os problemas. Eles  se mostraram inúteis no combate ao doping e parece que também andaram roubando. A entidade sempre esteve longe dos atletas, e me senti muito orgulhoso dos atletas que fizeram a ocupação, defendendo suas próprias bandeiras. Foi uma atitude muito corajosa, porque a federação é muito corrupta e pode punir os atletas que se levantam contra ela.

No seu livro, o senhor afirma que as razões do sucesso queniano combinam biologia, história, economia e treinamento duro. Se eles são tão bons, por que o doping?
A competição no Quênia é tão dura que pode ser difícil até mesmo conseguir vaga em uma corrida. Eu acredito que os corredores que estão se dopando, em sua maioria, são aquelas que não estão se saindo bem. Ficam tão desesperados para conseguir uma corrida, para fazer algo em suas carreiras, que recorrem ao doping. Os corredores do primeiro time costumam ficar satisfeitos com seus resultados, mesmo quando chegam em segundo ou no terceiro lugar. Na minha opinião, eles não são tão fanáticos por ganhar sempre, como, por exemplo, Lance Armstrong.


24.11.15

Futurologia olímpica: empresa diz que Brasil leva 23 medalhas no Rio


A exemplo do que nos dizia a personagem “Feiticeira” em um comercial de anos atrás, uma consultoria especializada em análise de dados prevê quantas medalhas o Brasil vai ganhar nos Jogos Olímpicos do Rio e afirma que não é magia, é tecnologia.

Segundo o modelo matemático desenvolvido pela Marketdata, atletas brasileiros vão conquistar nada menos do que 23 medalhas na Olimpíada brasileira, meia dúzia a mais do que o obtido nos Jogos de Londres.

“A partir dos históricos de bancos de dados, aplicamos técnicas estatísticas para prever ocorrências futuras”, diz Karin Ayumi Tamura, superintendente da área de Analytics da Marketdata, em comunicado distribuído à imprensa.

A fórmula adotada pela empresa se baseou principalmente na ponderação de três informações: quantidade média de medalhas conquistadas no histórico, quantidade de países que competiram em cada Olimpíada e quantidade de medalhas na Olimpíada anterior, caso o país tenha sido sede.

A empresa também afirma que o fato de sediar a Olimpíada leva o país a conseguir cerca de 73% a mais de medalhas do que levaria se não fosse o anfitrião dos Jogos.

Bueno, esse dado fez levantar a pulga atrás da orelha, como se diz. Claro que não entendo nadica de nada das modelagens matemáticas citadas pela consultoria, mas fiquei com a dúvida: se, de fato, é tão grande o peso de ser o país-sede e se o Brasil ganhou 17 medalhas em Londres-2102, no Rio o número não deveria ser 29 ou 30?

Independentemente disso, considero o cálculo dos analistas de dados exageradamente otimista, especialmente quando olho o meu querido território do atletismo e não veja nada nem ninguém. O país tem grandes valores, por certo, e vários atletas dedicados, mas dizer hoje que temos medalhista olímpico nas pistas e no campo me parece difícil.


De qualquer modo, fica o registro da primeira futurologia olímpica que me chegou às mãos. Sonhar ou brincar com dados não faz mal a ninguém. Depois a gente confere as previsões com a dura face dos números na vida real.

19.11.15

Reflexões sobre treinar no calor

Ontem foi um dia muito ruim para meu treinamento. Saí para fazer um longo –não sei se alguém ainda considera 20 quilômetros treino longo, mas, para mim, neste momento, é—e empaquei pouco depois do terceiro quilômetro.

Até que vinha correndo bem, mas, aos poucos, fui sentindo as pernas pesadas e dores musculares na musculatura posterior das coxas. Para piorar as coisas, o calor aumentava –em vez de largar às seis horas da manhã, como tinha planejado, comecei o treino às oito.

Resultado: fui ficando cada vez mais lerdo e deprimido, abortei o treino. Melhor dizendo, mudei seu caráter: passou a uma caminhada acelerada e longa, uns dez quilômetros e caquerada.

Apesar de ter feito alguma coisa, deixei que o desânimo me pegasse. Mas não por muito tempo.
Fui olhar minha planilha para ver o que eu poderia fazer no dia seguinte, o amanhã de ontem, o hoje, por assim dizer.

O primeiro dia de treino na semana é sempre uma caminhada; o subsequente é um intervalado com blocos pequenos, de 300 metros caminhando e 1.200 correndo, fechando um bloco de 1.500 metros. Deveria fazer dez blocos desses, totalizando 15 quilômetros.

Mentalizei, programei, organizei e acordei mais tarde ainda... Talvez estivesse menosprezando o treino, pois os blocos são curtos e mil e duzentos metros correndo qualquer um faz a qualquer hora... Mas: e quando esses mil e duzentos foram o oitavo de uma série??

Bueno, o certo é que saí para correr às 9h, já com o sol à toda.

Em percurso absolutamente plano, fiz os primeiros nove quilômetros quase sem sentir, rodando numa boa. Depois, porém, o caldo engrossou.

Do km 9 para o km 12, perdi um minuto. Parece pouco, mas foi um sofrimento desgraçado. Parei no 13,5 km para uma terceira rodada de hidratação (havia bebido água no km 6 e no km 12), desta vez com água de coco.

Mesmo assim, o bloco final não apontou nenhuma recuperação. Ao contrário: suava às pampas, sabia que perdia ritmo, mas estava resolvido a não caminhar quando deveria correr.

Completei o treino dentro das regras, mas absolutamente exausto. Fiz breves alongamentos, bebi mais água, tomei um banho gelado e consumi um iogurte natural desnatado.

Enquanto isso, ficava pensando no que dizer sobre esse treino, como comentá-lo com meu treinar, qual o meu estado de espírito.

“Exausto, mas feliz”??? Será?? Ou simplesmente exausto?

Não, alguma dose de satisfação tive, porque consegui completar o treino conforme o planejado, e ainda com um minuto e meio de vantagem sobre a meta.
Mas será que esse treino serviu para alguma coisa? Ou apenas me deixou mais cansado?; por causa da exaustão, a recuperação provavelmente vai ser mais lenta do que eu gostaria ou do que seria esperado.

Vai daí voltei a lembrar lições de experientes treinadores: a gente deve buscar fazer os treinos nas melhores condições possíveis, a fim de que possamos exigir do corpo o que queremos tirar dele.

Claro que, conforme a prova escolhida, em algum momento deveremos enfrentar supersubidas ou horários de muito calor. Mas isso não deve ser a regra.

Donde se conclui que é melhor não treinar no calor, buscar horário mais ameno, ainda que isso signifique dormir mais cedo para acordar de madrugada.

Nos dias de hoje, com sol cada vez mais poderoso, pretendo não começar treinos depois das sete horas. Os longos, vou tentar fazer a partir das seis ou mesmo antes.

Ou seja, pretendo programar tudo para que os treinos estejam concluídos até as nove da manhã. É uma forma de proteger minha saúde, fazer treinos melhores e ter um processo mais rápido de recuperação.

Para completar, é claro, há que reforçar a hidratação, beber muita água (nesse calor todo, acho que água nunca é demais) e comer bem (eu abuso, mas não recomendo), além de garantir um tempo razoável para descanso.


Enfim, é o que pretendo fazer. O que você acha?

Vamo que vamo! 

17.11.15

Aos 103 anos, morre mais velho sobrevivente de competições de atletismo em Jogos Olímpicos


Morreu no último domingo, na China, o mais velho sobrevivente de competições olímpicas de atletismo. Guo Jie, que representou a China nos Jogos de Berlim-1936, tinha 103 anos.

Especialista em lançamento de disco, Guo nasceu em Dalian em janeiro de 1912. Praticou diversos esportes em sua juventude e foi campeão nacional no disco em 1935.

Classificou-se para representar sua pátria nos Jogos do ano seguinte estabelecendo novo recorde chinês da modalidade, lançando o disco a 41,07 m.

Em Berlim, melhorou aquela marca, chegando a 41,13 m, mas não foi suficiente para chegar à final.

De volta para casa, continuou a militar no atletismo; nos anos 1950, passou a atuar com treinador e pesquisador em esporte. Seguiu trabalhando muito tempo depois de se aposentar, em 1987.


Nos Jogos de 2008, em Pequim, foi um dos responsáveis pela tocha olímpica, que carregou pelas ruas de Xian.

10.11.15

“O Brasil é cheio de caminhos”, diz maestro que andou duzentos quilômetros até o Pico da Bandeira



A atividade de Cesar é supercerebral. Precisa prestar atenção a detalhes, ouvir muito bem, concentrar-se no que está ocorrendo ao seu redor, reagir de acordo com os estímulos e sons de cada momento.
Cesar Cerasomma, paulista de Santo André, é mastro –“regente coral”, diz ele. Aos 50 anos, comanda os corais Alphaville, Monte Líbano e Fundap.
Nas horas de folga, busca opções que lhe deixem amente voar. Em casa, faz arte com vidro, cria cores e formas. No mundo externo, caminha.
Ele completou no mês passado o Caminho da Luz, por montanhas mineiras, chegando até o Pico da Bandeira, numa jornada de 200 quilômetros até o terceiro ponto mais alto do país.
“É uma rota magnética que fascina a todos”, diz ele nesta entrevista que serve também como guia para quem quiser se testar nessa caminhada (as fotos são do arquivo pessoal de Cesar).

Quando e por que você começou a fazer grandes caminhadas?
A primeira grande caminhada que fiz foi em 2012, o Caminho de Santiago, 800km atravessando a Espanha desde Saint Jean Pied de Port (França) até Santiago de Compostela.
Desde os meus 15-16 anos sempre tive vontade de percorrer esse caminho. Há uns dez anos me associei à ACACS (Associação de Confrades e Amigos do Caminho de Santiago) e comecei  a fazer umas caminhadas preparatórias de um ou dois dias com eles. E depois dessa tenho feito outras mais. O Brasil é cheio de “caminhos”.

Uma vez tendo começado, o que achou de bom nelas? O que achou de ruim?
Gosto muito de andar sozinho, para mim é um período de reflexão além de ter contato com cultura local, culinárias, pessoas que vc vai encontrando.
Coisas ruins fazem parte da caminhada: administrar algumas bolhas, uma eventual dor nos músculos, ... mas nada  tira o prazer da caminhada em si.

Como é a rota do pico da Bandeira?
O Caminho da Luz é um caminho localizado na Zona da Mata Mineira, precisamente na divisa com o norte Rio de Janeiro e o sul do Espírito Santo, e o mesmo presta-se para aqueles amantes de longas caminhadas.
O seu trajeto é bastante acidentado, pois possuí uma grande variação de altitudes entre Tombos (238m) e o alto do Pico da Bandeira (2.890m). A abertura do caminho foi feita em 14 de julho de 2001 e a partir dessa data, tornou-se um caminho misto de peregrinação religiosa, ecológica e histórica.


Alguns consideram o caminho mágico tanto pelas belezas naturais que encontramos durante o percurso quanto pelo povo da região. Os moradores passaram a fazer parte do caminho, recebendo os caminhantes com aquele peculiar carinho, ajudando e prestando todas as informações solicitadas pelos mesmos.
O percurso tem cerca de 200 quilômetros de extensão, saindo da cidade de Tombos (Portal de Minas), passando por Catuné, Água Santa, Pedra Dourada, Faria Lemos, Carangola, Caiana, Espera Feliz, Caparaó, terminando em plena serra no Alto do Caparaó, ao lado da Igreja de São Paulo, o Apóstolo.
O famoso pico da Bandeira encontra-se na proximidade, pois se situa em plena Serra do Caparaó no Parque Nacional do mesmo nome. O caminho encontra-se todo demarcado e devidamente sinalizado.
O trajeto tem início na base da cachoeira que dá nome à cidade (Tombos), sendo a quinta maior em volume d’água do Brasil e que possui a segunda hidrelétrica implantada no Brasil ainda em funcionamento. Termina no Pico da Bandeira, o terceiro maior do Brasil e o primeiro mais alto acessível.
Durante todo o percurso do Caminho da Luz fragmentos de mica e cristais emergem do solo, proporcionando-lhe um brilho especial. São 200 quilômetros percorridos pelas montanhas de Minas, passando por fazendas centenárias, matas, cachoeiras, santuários e antigas estações ferroviárias. A rota é carregada de um magnetismo que fascina a todos.

Quando e por que decidiu fazer a rota do pico da Bandeira?
Já havia feito este caminho em dezembro de 2013 (sozinho) porque tinha uns nove dias de folga e busquei na internet algum caminho que desse tempo de percorrer inteiro. Gostei tanto que levei a proposta de montar um grupo na Acacs e fazê-lo novamente. Dessa vez fomos em 26 pessoas.

Dê uma geral da caminhada: quantas dias levou, como foi o clima, o que você encontrou pelo caminho, quantos quilômetros percorreu por dia em média.
Foram 12 horas em ônibus até Tombos e depois oito dias de caminhada:
Tombos – Catuné (25 km)
Catuné – Pedra Dourada (20 km)
Pedra Dourada – Faria Lemos( 25 Km)
Faria Lemos – Carangola  (21 km)
Carangola – Caiana (26 km)
Caiana–Espera Feliz–Galileia(Caparaó) (27km)
Galileia(Caparaó) – Alto Caparaó (13 km)
Alto Caparaó – Pico da Bandeira (15km)
Em cada etapa ficamos hospedados em pousadas ou mesmo em casa de família, o que pode ser organizado através de um operador local que reserva os locais (O Vitor da Rastro de Luz).
Quanto ao clima, foram oito dias caminhando embaixo de muito sol (em outubro), bem diferente de quando vim em dezembro quando praticamente andei debaixo de chuva todos os dias) mas as paisagens compensaram muito.
Basicamente se anda em estradas de terra (uns 70% do trajeto), uns 10% em estradas e cortando cidades e uns 20% em trilhas. No caminho encontramos cacheiras, pequenos vilarejos, muitas fazendas, etc.



Equipamento: que tipo de roupa você usou, o que levava na mochila, quantos quilos tinha sua mochila, foi suficiente? Como se abasteceu de água e comida?
Levei: lanterna, mochila, um par de botas de caminhada (já amaciadas), cantil de água, roupas leves para caminhar (duas camisetas dry-fit), uma calça e duas bermudas, três pares de meias coolmax, três cuecas,  Fleece, corta-vento, chapéu de abas,  capa de chuva,  medicamentos pessoais,  repelente,  protetor solar,  bastão de caminhada (dois), chinelos, celular, saquinhos de lixo para colocar roupas e tênis molhados, nécessaire. (A mochila dava uns dez quilos).
Água é possível abastecer nas casas ao longo do caminho e é bom levar um lanche (fruta, sanduíche, barrinha, etc)

Qual foi o pior dia da caminhada? Por que?
O primeiro dia foi bastante difícil, o corpo ainda não está acostumado e encontramos uma fazenda com um pasto muito íngreme para atravessar, uma subida muito forte e o calor de mais de 30 graus dificultou um pouco.

Qual foi o melhor dia da caminhada? Por que?
A chegada no Pico da Bandeira, a vista é espetacular e a sensação de meta cumprida é deliciosa.

Como é a alimentação no percurso?
No trajeto não se encontram muitos lugares para comer, a não ser nas cidades, mas comi bastante bem e muita comida mineira. Na casa onde dormimos em Catuné fomos muito bem recebidos com um superjantar.

O que você pensava na caminhada?
Alguns momentos caminhava junto com outras pessoas que andavam no mesmo passo que eu, e quase sempre o assunto eram outros caminhos legais a se percorrer, equipamentos, bolhas, ... E  quando andava sozinho pensava em tudo ... desde a minha cachorra que ficou em casa, nos trabalhos que deixei ainda por terminar, na família, amigos, ... ...

Você cantou? O que cantou? Compôs?
Tinha um  outro caminhante que tocava violão muito bem (O Hugo), sempre que encontrávamos um instrumento disponível cantávamos muito, tomando umas cervejas (mas sempre nas cidades de chegada).



Como foi a chegada ao pico?
A última subida é um desafio à parte, extremamente íngreme mas com o facilitante de existir uma trilha já bem demarcada. Demoramos umas quatro horas para chegar ao topo e ficamos mais de uma hora lá olhando a paisagem.

E a volta?
Foram mais umas três horas de descida até a tronqueira (local onde carros chegam) e aí pegamos um jipe de retorno até a pousada. Depois disso fomos jantar para comemorar a chegada e no dia seguinte cedo encaramos mais 12 horas de ônibus de retorno a SP.

Essa caminhada foi preparatória a outras jornadas?
Possivelmente em dezembro estarei trilhando o Caminho Frei Galvão que sai de São Bento do Sapucaí e vai até a casa de Frei Galvão em Guaratinguetá.

Nos próximos anos quero voltar ao Caminho de Santiago fazendo outra rota, conhecer a via Francígena, Caminho de Le Pui, e outros.

2.11.15

Fernanda Paradizo, fotógrafa e maratonista, tem trabalhos expostos no Museu de Nova York

Três cenas captadas pela câmera da fotógrafa brasileira Fernanda Paradizo integram exposição sobre a Maratona de Nova York em cartaz no Museu da Cidade de Nova York, conforme contei em reportagem publicada nesta terça-feira na Folha.

O texto foi baseado em entrevista que fiz com a jornalista, que nasceu em São Paulo há 48 anos e também é corredora, tendo nove maratonas no currículo.

Confira a seguir os principais trechos de nossa conversa por e-mail.

Conte para nós o que é a exposição montada no Museu da Cidade de Nova York.

É uma exposição de fotos da Maratona de Nova York com o nome “The New York City Marathon: The Great Race”,  e que está sendo exposta no Museu da Cidade de Nova York, localizado na 1220 Fifth Avenue (na 103rd St.).

A exposição foi organizada pelo Museu, mas claro que tem ligação com os eventos da maratona, até porque foi aberta oficialmente no dia 20 de outubro, aproveitando todos que estão na cidade para fazer ou assistir à prova. A exposição vai até 8 de março de 2016. O valor da entrada é de 16 dólares e a exposição é aberta à visitação todos os dias, das 10h às 18h.


O material foi selecionado pelos curadores do museu, depois de um comunicado soltado em julho, e teve  milhares de inscrições. De todas as imagens submetidas a análise, 120 fotografias foram escolhidas, de profissionais e amadores, que conseguiram de alguma forma captar e contar em imagens a grandeza e o espírito da grande Maratona de Nova York ao longo dos últimos anos.

Eu mandei 12 fotos (que era o limite que poderia mandar),  e três delas foram escolhidas. 

Por favor, fale de cada uma das três fotos.


A primeira delas é uma imagem de um posto de água logo na entrada da Primeira Avenida, porta de acesso a Manhattan. A foto foi tirada em 2013. A lembrança que tenho dessa parte da prova, após a ponte Queensboro, é a melhor possível. É ali que tem a marca dos 25 km, local em que se ouvem gritos ensurdecedores da plateia. Foi ali que Marílson escapou do pelotão dos líderes para avançar para sua primeira vitória em Nova York. Das minhas cinco participações em Nova York, entrei em todas elas na Primeira Avenida renovada.

Fotos escolhidas para a exposição - Fernanda Paradizo/cortesia MCNY
Tenho boa lembranças dessa parte da prova, que é também um dos pontos mais fáceis de fotografar para quem quer pegar os corredores de ponta depois quase na chegada, no Central Park, faltando uma milha para o final. 

A outra imagem em exibição é uma foto clicada no Central Park, em 2009, a poucos metros da chegada, e mostra as folhas amarelas e alaranjadas espalhadas pelo chão.


A maratona é realizada no Outono e é lindo ver o Central Park pintado com aquela folhagem típica da estação. E a poucos metros dali acontece a chegada da prova, que é indescritível.

A terceira e última é um registro de 2008, ano em que a norueguesa Grete Waitz, que venceu nove vezes a Maratona de Nova York, foi homenageada com sua imagem estampada na medalha. 


Quando corri pela primeira vez a prova, em 1997, fui fazer um trote e umas fotos com um grupo de amigos na linha de chegada da maratona na segunda pós-prova. Waitz saiu do The Tavern on The Green, restaurante famoso e onde acontece as coletivas de imprensa pré e pós-prova. O Wanderlei de Oliveira, meu técnico, a reconheceu e pediu que ela tirasse uma foto comigo para uma matéria da Boa Forma. Eu nem sabia de quem se tratava. No ano seguinte, voltei a NY e me deparei com ela na Expo. Pedi que autografasse meu número de peito para dar sorte. Em 2008, a maior vencedora da Maratona de Nova foi homenageada com essa medalha. Três anos depois, Grete perdeu a batalha para o câncer e faleceu aos 57 anos.

Bom, agora vamos falar de você. Como a fotografia entrou na sua vida?

Sempre gostei de fotografia, mas não associava a nada na época. Não pensava que poderia ser fotógrafa. Na verdade, eu gostava de artes em geral e cheguei até a pintar quadros quando pequena e a ganhar um concurso de desenho para crianças da minha idade. Lembro que quando eu tinha uns dez anos pedi uma câmera Xereta de aniversário. Fui para um acampamento com amigos,  feliz da vida com a câmera. Quando o filme foi revelado, só havia fotos de paisagem e de outras crianças. Minha mãe falou: “É para isso que você quis a câmera. Para tirar fotos dos outros”.

Depois disso, ganhei uma câmera um pouco melhor, uma Yashica, e comecei a fotografar as festas comemorativas da escola da minha mãe. Lembro que eu estudava no colégio Objetivo da Avenida Paulista e sempre passava pela Nove de Julho. Havia uma escola de fotografia ali, chamada Imagem&Ação. Um dia fiz minha mãe parar e acabei saindo dali matriculada num curso de fotografia Preto&Branco. Comecei o curso com minha antiga Yashica, mas logo ganhei do meu avô uma câmera melhor.
Aos 14 ou 15 anos ganhei uma Canon AE1 com uma lente 50mm 1.4, que era uma câmera excelente na época, ainda mais para quem tinha tão pouca idade e estava só começando. Nas primeiras aulas, aprendi a “puxar filme”, que é uma técnica utilizada para aumentar o ISO (a sensibilidade do filme) e poder tirar fotos em baixa condição de luz, como shows, e depois compensar na hora da revelação.

Lembro que, com pouco tempo de curso, fui ao show do Van Halen, no Ibiraquera, e fiquei na boca do palco. Fiz várias fotos ali. Cerca de dois meses depois, ganhei um concurso de fotografia com uma foto tirada nesse show. Na mesma época, ganhei também do meu avô um laboratório para revelar fotos em P&B, que deu para brincar bastante.

Como começou a trabalhar como jornalista?
Fiz Jornalismo na FIAM. Eu gostava muito de escrever. Entrei muito nova na faculdade, com 16 para 17 anos, achando que essa profissão ia me proporcionar viajar pelo mundo. Mas logo vi que não era bem assim e me desiludi. Ironia do destino foi que o tempo me provou o contrário. Afinal, foi o que me fez viajar pelo mundo anos mais tarde.

Resolvi então prestar Letras na USP. Entrei em Português/Latim. Foi uma experiência incrível poder estudar letras clássicas. Tranquei Jornalismo faltando apenas seis meses para terminar, sendo que o curso era anual. Não aguentava mais. Eu tinha apenas 20 anos, estava prestes a me formar,  mas resolvi jogar tudo para o alto naquele momento. Depois, pensei melhor e voltei no ano seguinte só para terminar.

Já formada em Jornalismo e cursando Letras, resolvi que era o momento de trabalhar. Fiz um teste na Abril para compor o time de revisores e passei. Fui trabalhar no turno das 6h às 12h. Foi uma experiência fantástica. Fazia faculdade à noite e passava a tarde toda estudando na biblioteca da USP. Paralelamente a isso, comecei a fazer revisão de textos de livros. Foi um época que aprendi bastante.

A revisão de textos que me levou para a revista Boa Forma, onde fiquei por três anos como revisora. Modéstia à parte, eu era boa no que eu fazia. Aos poucos a revisão começou a ficar igual e percebi que aquilo não me levaria mais a lugar nenhum. Era apenas regras a serem aprendidas e uma hora esgotou. Foi então que comecei a me interessar novamente por escrever e as oportunidades foram surgindo, na Boa Forma e em outras revistas.

Logo  apareceu a chance da minha vida. A Boa Forma, que era uma revista feminina, lançaria três edições voltadas ao público masculino e havia uma pauta muito específica, sobre corrida, que fui incumbida de tocar. Eu deveria entrevistar profissionais para montar um treino de seis meses para correr a Maratona de Nova York. Como eu era a única da redação que corria, a oportunidade caiu como uma luva.
Engraçado porque eu tinha acabado de ler o livro do James F. Fixx (The Complete Book of Running), considerada a bíblia dos corredores, indicado por meu irmão, que também corria. Foi aí que minha vida de corredora se misturou com minha carreira profissional.

Fui apresentada à equipe que me daria entrevista pelo editor da revista. O Wanderlei de Oliveira seria o responsável pelos treinos, o dr. Turíbio de Leite Barros e o dr. Renato Lotufo seriam os fisiologistas e o dr. Antonio Masseo de Castro o ortopedista.

Terminada a matéria, o Wanderlei, que na época era diretor técnico do Pão de Açúcar Club, me desafiou a experimentar o programa de treino e me preparar para correr a Maratona de Nova York.

A redação topou. Acabei me juntando ao grupo de treino e oito meses depois fiz minha primeira maratona. A experiência foi relatada na edição de dezembro de 1997 da Boa Forma.

A partir daí, não queria escrever sobre outra coisa a não ser de corrida. Fiquei mais cinco meses na revista, e o Wanderlei, com quem continuei treinando, me convidou ir para trabalhar no Pão de Açúcar. Montei um projeto de jornal interno. Comecei a trabalhar lá em 1998 e fiquei por dez anos.

Como começou a trabalhar com fotógrafa de corrida (e esportes correlatos)?

No começo eu apenas escrevia. Nem tinha mais material fotográfico. Eu tive que vender tudo numa época difícil financeiramente para juntar dinheiro e pagar algumas contas. Quando comecei a tocar o jornal, eu sentia necessidade de ter algumas fotos específicas para fechar a edição. Aí resolvi comprar equipamento e ir eu mesma à luta.

No começo foi difícil porque não fotografava havia muito tempo e clicar esportes era completamente diferente. Não estava ainda na fase do digital. Mas eu ficava observando e perguntava algumas coisas para o Luiz Doro, que fotografava alguns eventos do Pão de Açúcar.

Com o tempo, fui conseguindo fazer algumas fotos melhores. Mas demorou bastante. Acho que de tudo o que fiz na vida fotografar esportes foi o que mais levou tempo para que eu conseguisse fazer algo satisfatório.

E como a corrida entrou na sua vida?
Lembro que me dava sempre bem nos aquecimentos pré-treino quando jogava voleibol. Era algo tranquilo de fazer. As meninas do time reclamavam. Intuitivamente, eu começava mais devagar, cadenciada, e conseguia terminar na boa. É a única lembrança de corrida que tenho da infância.

Já adulta, só comecei a correr de fato em 1993. Meu irmão saía às seis da manhã de casa para correr e voltava sempre meio anestesiado.

Como sempre fui atrás do que meus irmãos faziam, quis tentar também. Ele me deu umas dicas. Disse que o segredo era ir devagar. Comecei a andar e depois a correr em esteira de academia. Mas logo me enchi e fui para a rua.

Aproveitava que estudava na USP e fazia os 2,5 km de raia. Em pouco tempo já estava correndo 8 km, que sempre foi minha maior distância até conhecer o Wanderlei. Não pensava em aumentar essa quilometragem. Queria apenas correr. Achava apenas que poderia completar uma São Silvestre antes dos 30 anos.

Quando surgiu a oportunidade da matéria da Boa Forma, veio junto a chance de correr uma maratona. Agarrei porque achei que era uma oportunidade profissional. Apenas por isso.

Você se lembra de sua primeira corrida? Como foi? Onde e quando? O que você sentiu?

Só lembro que minha primeira corrida foi uma prova de 6k da Corpore. Não lembro da prova, mas lembro que fazia um aquecimento com um casal de amigos, a Elza e o Carlos Cezareto, na pista de atletismo da USP antes da prova. Lembro também que corri a prova numa média de 5 por km. É a única lembrança que tenho.

Mas me lembro do meu primeiro treino com o Wanderlei, na pista de atletismo, e da sensação de estar ali. Ele me colocou para fazer uma série de 1.000 m com um grupo de corredores, e eu tinha apenas que ficar atrás e segui-los. Eram tiros de 4'40 e não era muito fácil manter.

Mas o que mais me marcou foi que,  depois do treino, sentamos na pista para alongar e naquele momento eu pensei: “Eu poderia fazer isso o resto da minha vida”. A sensação foi inexplicável. Tanto que me lembro disso até hoje.

E a maratona? Por que resolveu correr sua primeira maratona? Qual é a atração da maratona? Fale um pouco sobre sua vida de maratonista... Qual a melhor? Qual a mais sofrida?

Como disse, não pensava em correr maratona, mas o desafio veio como um desafio profissional. Aceitei porque sabia que poderia ser algo importante e inédito. E acabou definindo o que fiz dali para a frente na minha vida.

Já gostei muito de correr maratona, mas já faz algum tempo que prefiro as meias. Não que eu não goste dos 42 km, mas acho o treino muito desgastante e a recuperação muito lenta. Fiz algumas seguidas no início, até pela oportunidade dada pelo Pão de Açúcar, mas tive um desgaste muito grande, fisicamente e emocionalmente.

Fui deixando aos poucos de lado e me encontrando nas provas de 21 km. Isso basta para mim hoje. Por isso tenho poucas maratonas no currículo. São apenas nove. Para quem tem tanto tempo corrida, é pouco se comparar com os corredores que vemos hoje, que mal começam já emendam maratona atrás de maratona.

Fiz cinco vezes Nova York (1997, 1998, 2000, 2005 e 2007), três vezes Paris (1998, 2000 e 2001) e uma meio fora da curva, em Harrisburg (2009), na Pensilvânia, para tentar o índice para Boston.

Eu já estreei bem em maratona. Fiz 3h49 na primeira, quando fiz a matéria, correndo de forma totalmente progressiva e nem sentindo o tal do muro que as pessoas tanto falavam. A melhor em tempo foi a segunda, cinco meses depois, em Paris, quando fiz 3h37.

Apesar de esse ser meu recorde pessoal, considero minha melhor maratona a de 2005, em Nova York, quando dobrei as duas meias em 1h50, fechando para 3h40 (foto). Foi perfeita. Prova de que é possível sim correr Nova York no ritmo.

A mais sofrida com certeza foi a última, em Harrisburg. Eu tentava o índice para Boston e achei que conseguiria com o pé nas costas porque minha média de maratona ficava entre 3h40 e 3h44. Eu precisava de 3h50. E aí que aprendi que não se deve subestimar uma maratona.

Cobri a Maratona de Nova York  e na semana anterior peguei um trem na companhia de uma amiga, a Flavia Kurtz, para Harrisburg para renovar meu índice para correr Boston em 2010.  Foi um erro colocar essa prova logo após Nova York.

Andei tanto em Nova York que parecia que tinha feito a prova de tão cansada que fiquei. Cheguei a repensar se valeria a pena mesmo ir para a Pensilvânia.

Comecei bem a prova, mas depois dos 25 km foi um desastre. Eu sentia dor em tudo e me odiava por estar ali. Além de tudo eu estava acostumada com provas grandes, com muita gente. Correr numa prova com menos de mil pessoas era completamente diferente.

Havia um revezamento junto e vire e mexe um corredor passava por mim como uma bala. Tudo me irritava. A Flavia seguia de bicicleta. Pensei em parar muitas vezes, mas só não desisti por que eu havia arrastado ela para lá, que tinha deixado filho e marido em casa só para me acompanhar. Fui até o final.

Nos últimos 2 km, fiz algumas contas e percebi que terminaria a prova acima de 4h. Resolvi reagir e terminei em 3h58. Não consegui o índice e essa prova ficou engasgada.

E sua vida de fotógrafa, como é?
Eu não procuro trabalho como fotógrafa e não vivo full time disso também. Tenho alguns bons contatos que me proporcionam alguns trabalhos legais ao longo do ano. Os fixos que tenho hoje são ligados a conteúdo e a fotografia é um complemento. Um excelente e rentável complemento. Eu fotografo corrida, triathlon e atletismo. São modalidades muitos específicas. Não dá para viver de fotografia só com essa especialidade. Se eu quisesse ter a fotografia esportiva como ganha-pão hoje, teria que migrar para outros esportes.

Qual a foto mais legal que você já fez (não valem as da exposição)?

Uma vez vi uma frase de um fotógrafo, que nem lembro quem é, mas que se encaixa perfeitamente no que penso. Só não sabia expressar: “A foto mais legal ainda está por fazer”.

Fotografar é sempre um aprendizado. Por mais que você acredite que sabe tudo, sempre aparecem oportunidades diferentes que o desafiam.

Tirando algumas fotos da Maratona de Nova York, que tem um significado especial porque faz parte da minha história ali, tenho poucas fotos que me emocionam.

Poderia citar entre elas a chegada do Adriano Bastos na Maratona da Disney de 2013, quando ele conquistou o octacampeonato. 

Os personagens estão todos perfilados atrás dele e com a mão levantada. E temos que convir que o Adriano, que é amigo pessoal de anos, sabe cruzar uma linha de chegada como ninguém. Depois de tantos anos cobrindo a Disney (são 14 anos), esta foto acho que é perfeita.

Outra que me emociona bastante é a sequência de fotos de chegada do Solonei Silva, quando ele ganhou a Maratona de São Paulo em 2012. Poderia ser uma foto como outra qualquer, de chegada, mas tem um significado. Eu estava em Londres em abril do mesmo ano quando o Solonei tentava o índice para os Jogos Olímpicos de Londres 2012. Eu vi de perto todo a frustração dele pelo resultado. Fotografei sua chegada (não divulguei nas mídias sociais na hora) e preferi guardar a câmera e sair dali de perto. Só peguei um depoimento dele quando tive certeza de que ele estava pronto para falar. Ainda me certifiquei se era a hora com o Adauto Domingues, que acompanhava o Marílson ali e também o Solonei. Depois nunca mais falei com ele. Sei que muitos jornalistas ou fotógrafos na minha posição teriam registrado aquele momento. Optei por não fazer.


Na chegada dele na Maratona de São Paulo aconteceu algo que só confirmou que agi certo em Londres. A Globo entrou ao vivo para pegar uma entrevista com ele. Ele pediu que a Globo esperasse e levantou a bandeira na minha frente e do Tião Moreira, grande amigo, para que nós dois fizéssemos uma foto dele. Depois disso, o Solonei me mandou uma mensagem aberta pelo twitter: “Obrigado por ter respeitado aquele meu momento em Londres”. Isso não tem preço.

Qual a cena que você perdeu e lamenta até hoje?

Sem dúvida nenhuma uma foto de percurso do Marílson Gomes dos Santos, quando conquistou o bicampeonato na Maratona de Nova York em 2008. Deveria ter ficado numa posição em que dava para ver os atletas se aproximando, mas fiquei numa curva porque a luz era melhor. Quando você está fotografando uma prova como Nova York, não tem tempo de ficar de olho nas mídias sociais para saber o que está rolando. Eu estava às cegas ali, num ponto do Central Park, sem saber o que estava acontecendo na prova. O marroquino liderava e surgiu na minha frente faltando cerca de uma milha para o final. Não vi que o Marilson vinha logo atrás, na cola dele. Abaixei a câmera e não deu tempo de reposicioná-la para fazer a foto do Marílson. Foi meio frustrante estar ali e não conseguir sequer um clique do brasileiro que se tornou bicampeão da prova. Fora isso, acho que a cobertura do Ironman do Havaí em 2011 foi também meio frustrante. Perdi a chegada dos campeões.

Você precisa se movimentar bastante para cobrir as provas. Qual é o peso do equipamento que você carrega?

Nunca pesei minha mochila, mas sei que a mala que levo equipamento em viagens, com equipamento fotográfico e computador, pesa quase 20 kg. Acredito que levo nas costas numa cobertura algo em torno de 10 kg, entre câmeras, lentes e outras coisas.

Tenho um problema de ombro e pescoço crônico por causa desse peso, que ameniza quando fotografo mesmo e piora bastante quando emendo finais de semanas seguidos de cobertura. Além disso, quando vou para uma prova em que uso moto, levo meu próprio capacete, aberto, o que facilita fotografar em cima da moto e até de costas.

Falando em moto, já caí uma vez numa cobertura em Caiobá, em 2004, quando estava fotografando uma prova de triatlo de costas na mota. Tive uma distensão muscular no pescoço e sofro até hoje com isso. Mas são ossos do ofício.

Hoje, se vejo que o motoqueiro não faz o trabalho direito e chega até a colocar em risco a vida dos atletas, principalmente na etapa da bike, desço e faço o trabalho só em terra firme.

E quando você sai para uma corrida, como você se veste e se prepara? Você treina com alguém? Quais são seus melhores tempos?

Sou uma corredora simples. Short, camiseta, tênis e relógio são os itens que uso. Não corro com GPS, a não ser quando viajo e quero mapear o percurso ou saber a distância.

Parei um ano de treinar porque estava meio saturada da corrida e achei que tinha que dar um tempo. Estou voltando agora aos poucos.

Meu técnico é e sempre será o Wanderlei de Oliveira, que foi a pessoa responsável por tudo o que aconteceu na minha vida profissional. Agradeço todos os dias por ter tido a oportunidade de conhecê-lo numa situação tão especial. Meus melhores tempos são:
- 42 km - 3h37 na Maratona de Paris 1998
- 21 km – 1h38 na Meia maratona de Lisboa 2004
- 10 km – 44min18 num teste de 10 km no Ibira antes do recorde pessoal da Maratona de Paris em 1998
- 5 km – 20min56 num teste de 5 km no Ibira antes do recorde pessoal da Maratona de Paris em 1998

Infelizmente não havia tantas provas para participar na minha melhor fase de corredora, quando bati meu recorde em Paris, em 1998. São tempos que agora é difícil de bater, porque a idade pesa. Mas convivo bem com isso. Já fiz boas provas depois disso. Para mim, basta estar bem treinada e conseguir fazer o meu melhor no momento.

Qual a maratona de seus sonhos?

Desisti de maratonas por enquanto. Mas sonho em voltar a correr Nova York em 2017, quando completo 20 anos da minha primeira vez. Vamos ver. Mas minha maratona dos sonhos é Berlim.

Tenho uma grande amiga na corrida, a Simone Machado, que também é técnica de corrida, e estamos programando um prova juntas fora do Brasil. Talvez Berlim. Sempre sonhei com essa prova e, quando tive a oportunidade de cobrir em 2013, só aumentou minha vontade. Mas isso será mais para a frente ainda. Quero aproveitar que é uma prova plana e boa para fazer tempo e correr para performance.

Profissionalmente, sonho em cobrir os Jogos Olímpicos, mas sei que será difícil porque meu vínculo maior são com as marcas e veículos muito específicos. Existe uma burocracia para credenciamento. Mas vou tentar até o final. No entanto, há uma chance de cobrir a paraolimpíada, que já seria incrível.

Um pouco sobre sua vida pessoal...

Sou solteira e não tenho filhos. Moro com meu irmão e minha mãe.
Adoro viajar para lugares diferentes e poder conhecer um pouco da história do lugar. Ano passado fui para Havana, Cuba, e este ano para Torres del Paine, Patagônia. Minhas viagens sempre estão associadas à corrida e sempre tento manter uma viagem por ano diferente, e fora do comum, para poder conhecer locais diferentes e vivenciar outras culturas.

Gosto de ler, quando tenho tempo, mas acho que essa coisa de trabalhar com mídia social e internet me tirou um pouco o hábito que tinha de pegar um livro e ler sem preocupação com tempo e tudo mais. Hoje em dia, leio bem menos. Mas, quando viajo sozinha para curtir, sempre levo um livro junto e isso me ajuda a desligar um pouco da internet. De resto, gosto de correr.