27.2.15

Fazer exercício e comer bem ajuda a enfrentar traumas, diz especialista em dor

As dores na perna esquerda, que me acometeram na semana passada e me deixaram fora dos treinos ao longo de toda esta semana, fizeram com que eu buscasse mais informação sobre os sofrimentos que enfrentamos, sejam físicos ou psicológicos –odeio fazer essa separação, porque tudo é do corpo, mas a deixo aqui porque é comumente usada, fica mais fácil de todos nós entendermos do que estou falando.

Claro que estou me tratando com a sensacional equipe do Vita e tendo apoio da espetacular Força Dinâmica, o que não diminui minha curiosidade sobre o assunto. Enquanto eles procuravam causas para meus problemas e davam orientações para que eu, aos poucos, possa voltar ao combate, saí a pesquisar uma questão talvez mais filosófica, mas também muito concreta, física ao extremo: a dor.

Muitos de nós temos dores no corpo para as quais a medicina não encontra explicação específica. As causas são difusas, inter-relacionadas; e o tratamento acaba sendo o de tentar diminuir o sofrimento. 

Há na medicina especialistas nesse terreno, vindos das mais diversas áreas –pelo que pesquisei, especialmente da ortopedia, da reumatologia e da geriatria, mas também psicologia.

Entrei em contato com vários desses pesquisadores, cientistas, militantes da luta contra a dor humana. Trago agora uma primeira entrevista, em que a psicóloga Sarah Costa, 35, especialista em dor formada pelo Einstein (sua tese foi “Contribuições da Psicoterapia no Processo Subjetivo e Dinâmico da Dor Crônica”).

Ela disse que boa alimentação e atividade física são fatores que ajudam a enfrentar a dor –o que alguns podem achar óbvio, pois o exercício parece ser hoje uma panaceia para todos os males. Mas não só: o autoconhecimento e autoaceitação também contribuem. São fatores que vêm com a experiência, acho eu –às vezes, com a idade, mas nem sempre ser mais velho significa ser mais experiente.

Os corredores exercitamos diariamente esses saberes: precisamos saber quem somos para que possamos seguir em frente. E para nós é imprescindível ser capaz de aceitar (ou enfrentar) nossas falhas, sem o quê o treino seguinte passa a ser quase impossível.
Bueno, mas já estou falando demais. Fiquemos com as dicas de Sarah Costa, que gentilmente respondeu às minhas perguntas por e-mail.

RODOLFO LUCENA - A PERCEPÇÃO DA DOR MUDA COM A IDADE?

SARAH COSTA - Sim. Além da óbvia degeneração temporal do corpo ou de condições específicas de evolução médica de cada caso, a percepção frente à dor também irá influenciar em diferentes quadros comportamentais. Comportamentos úteis (saudáveis) beneficiam um melhor funcionamento hormonal; comportamentos contraproducentes tendem a desbalancear a química relacionada à dor.

Nosso corpo pode ser considerado um laboratório. A mente e as percepções provenientes desta, sim, influenciam de maneira positiva ou negativamente na experiência da dor porque a percepção construirá as emoções e as emoções alteram substâncias relacionadas ao sistema límbico. É importante lembrar que há tratamento para dor.

A dor pode ser aguda ou crônica, e o tratamento deve ser interdisciplinar, incluindo, sobretudo o próprio paciente. Neste caso o “paciente” torna-se um “agente da própria mudança” contando também com ajuda profissional.

A CAPACIDADE DE ENFRENTAR A DOR MUDA?

Sim. A essa capacidade de enfrentamento diante de adversidades damos o nome de resiliência. É natural que em diferentes circunstâncias da vida a resiliência se manifeste de diferentes formas. Assim, algumas características devem ser cultivadas para uma boa performance no contexto da resiliência. Veja a seguir alguns exemplos.

Desenvolver e praticar: controle e canalização de emoções; habilidades de mediação e solução de problemas; boas conexões sociais; autoimagem como um sobrevivente e não como uma vítima; capacidade de pedir ajuda quando necessário

 E A CAPACIDADE DE RECUPERAÇÃO DE TRAUMAS?

Esse é um ponto interessante. Traumas são informações mais fortes e difíceis de serem compreendidas. Comumente essas informações “reverberam” e esse impacto de “reviver algo doloroso”  consciente ou inconscientemente envolve uma séria de emoções. Assim, é comum pacientes com alguma síndrome dolorosa crônica terem também transtornos de humor e/ou de ansiedade.

Dependendo do grau de consciência do indivíduo, não há barreiras para se trabalhar com a mente. É a mente que irá alavancar a capacidade do indivíduo entender e lidar com o sofrimento, com a dor. A dor aqui não é considerada apenas dores físicas, mas qualquer dor que o paciente considera como tal. O sofrimento nunca deve ser subestimado.

QUE MEDIDAS HOMENS E MULHERES MAIS VELHOS PODEM TOMAR PARA ENFRENTAR A DOR?

É importante procurar especialistas em dor, pois essa é uma área relativamente nova no Brasil, mas já contamos com profissionais preparados para lidar com o fenômeno da dor. Além de Exercícios físicos regulares, alimentação saudável, vida familiar e social positiva, psicoterapia...

ALIMENTAÇÃO E ATIVIDADE FÍSICA PODEM SER ALIADAS? COMO? POR QUÊ?

Sem dúvida alguma. Alguns hormônios inibidores da dor serão secretados justamente durante a atividade física, como por exemplo, a endorfina. Hoje em dia entender como e por que a dor acontece é fundamental, mas é preciso mover-se. O pensamento está para a mente assim como o movimento está para o corpo.


Eis alguns aspectos úteis no tratamento da dor: boa qualidade de vida; boa nutrição; regulação do peso; mobilidade; aumento das atividades (com acompanhamento); boa qualidade do sono; interação social; boa interação familiar; autoaceitação; saúde no trabalho; equilíbrio financeiro; iniciativa; autoconhecimento; entusiasmo; não uso de substâncias psicoativas; bom humor; e lazer.

25.2.15

Treinamento de aposentado para maratona é uma atividade de risco

Coloquei a palavra “aposentado” no título porque essa é minha condição atual e também porque, de fato, a preparação de pessoas mais velhas tem complicômetros –nós levamos mais tempo para nos recuperarmos, por exemplo, e não raro temos alguns problemas de saúde que podem dificultar a jornada.

O título continuaria verdadeiro, porém, se fosse genérico: “Treinamento para maratona é atividade de risco”. Pois a prova é longa, a preparação é demorada e tudo pode acontecer entre o momento em que o sujeito decide enfrentar o desafio glorioso e o que ele efetivamente se coloca na linha de largada.

Foi nos anos 1970 que a corrida teve seu primeiro boom, puxada pela popularização nos Estados Unidos. A vitória de Frank Shorter na maratona olímpica de Munique-1972 trouxe os 42.195 metros –lá, 26,2 milhas—para mais perto do homem comum, e logo Nova York viu sua prova deslanchar...

Hoje, o número de maratonas no mundo a cada ano está na casa dos milhares. Não há entidade que faça essa contabilização global, mas acho que dá para fazer um chute conservador de que existam mais de 5.000 provas no planeta –só nos Estados Unidos houve mais de 1.100 maratonas em 2013, com mais de 540 mil concluintes.

Por causa de seu caráter épico, desafiador, a maratona vira uma espécie de objetivo glorioso, domina o imaginário das pessoas. Não é raro alguém que está muito doente ter como meta de sua recuperação fazer uma maratona –ou, pelo menos, a São Silvestre, aqui no Brasil.

E pululam na internet as promessas de regime de treinamento “à prova de erro”, com “resultados garantidos” e assim por diante. De certa forma, lembram manchetes que prometem emagrecimento sem deixar de comer bacon e sorvete ou regimes para ganhar músculo sem fazer exercício.

Fique tranquilo: na vida, nada é garantido (bueno, por enquanto, a morte é garantida, mas a ciência está trabalhando para que vivamos cada vez mais). Com o treinamento para a maratona, não seria diferente.

Um iniciante , que já corra há pelo menos dois anos e tenha feito algumas provas de meia maratona, vai precisar de um regime de treinamento de 16 semanas a 20 semanas; e não pode perder treinos, sob o risco de deixar seu desempenho ameaçado na hora do vamos ver.

Há gente que faz sua preparação em menos tempo? Há, com certeza, assim como há corredores amadores que fazem a prova em menos de duas horas e meia –e há os que fazem em mais de cinco horas. Há também os que não conseguem treinar direito ou que, mesmo treinando direito, acabam se vendo incapazes de completar a prova ou a completam em condições desagradáveis.

É por isso que digo que o treinamento para a maratona é uma atividade de risco. Não me refiro a ameaças à saúde –uma batelada de estudos mostra que é bom fazer exercício; ainda que a atividade física intensa possa causar algum mal estar ao coração, vale a pena por conta dos benefícios para a qualidade de vida vale a pena pelo prazer.

A busca desse prazer é que me faz trazer de volta a maratona como um objetivo na minha vida. Tenho 58 anos, passei por duas fraturas por estresse, tive faciite plantar três vezes (duas no pé esquerdo, uma no direito), enfrentei a dolorosa terapia por ondas de choque, sofri de tendinites várias, distensões, contraturas, degeneração de articulações, dores nas costas e não sei mais o quê.

Por tudo isso e mais um pouco, fiquei dois anos sem nem pensar em fazer maratona. Não podia me imaginar enfrentando semanas após semana de treinamento, sabendo que haveria dor e que o desempenho seria ridículo –nada é ridículo na corrida, mas, mesmo assim, a gente se impõe modelos e cria réguas de medição (estas, sim, ridículas, por serem inúteis).

No segundo semestre do ano passado, mais ou menos na época em que efetivamente me aposentei e ainda antes de começar a ganhar os minguados caraminguás, passei a treinar de leve. O combinado com meu treinador era que o objetivo era correr um dia, depois outro; a meta era ter uma boa semana de treino. Depois, recomeçar... Lembrava o desafio dos alcoólatras: “Só por hoje...”.

Na minha cabeça, porém, já se desenhava o indizível. Prometia a mim mesmo, a cada dia: se eu conseguir ir bem hoje, no ano que vem vou treinar para a maratona.

Nunca consegui treinar bem, bem, bem. Mas não me machuquei e, às vezes, fazia um quilômetro em menos de sete minutos. Cada um desses se transformava em vitória a impulsionar meu sonho, o projeto que em silêncio, em segredo, eu construía em algum esconderijo do meu cérebro: vou voltar a correr uma maratona.

Mesmo conhecendo minhas fraquezas, calculei que fosse possível, viável, fazer uma preparação em 20 semanas, contadas a partir do início deste mês de fevereiro. Queria até mais prazo: começaria o projeto “primeira maratona como aposentado” na virada do ano.

Daí veio a facada com que cortei meu dedo e atorei o tendão; depois, a cirurgia e o período de recuperação. Quando cheguei ao início do treinamento, de fato, estava mais fraco e mais despreparado do que no final do ano. A condição física conquistada fora perdida...

Mas vamo que vamo.

Construí duas semanas de treinamento, mas a terceira se revelou fatídica. Vieram dores no corpo como há muito não as tinha. Pontadas no joelho, lancetadas na articulação do fêmur no quadril, piriforme berrando, banda iliotibial em fogo, e o ânimo jogado no chão, a esperança se esfrangalhando...

Essas dores de velho, essa reação ao volume de treino não tem uma causa facilmente identificável. Não há um osso quebrado para consertar, um nervo pinçado para desobstruir ou algo do gênero. É preciso tirar a dor para reparar o corpo, deixando-o mais uma vez em condições de aguentar a carga.

É esse o risco que sonhamos. Para pessoas mais novas ou em melhor condição geral de saúde, é mais fácil. Mas o risco imposto pela carga de treinamento também existe; podemos sentir dores que nos deixam um, dois, três dias sem treinar. O mais difícil é não permitir que esses revezes nos abatam o ânimo.

O problema é que muitos de nós somos passionais ao extremo. Apesar de ser dito que o maratonista é um sujeito que sabe dosar suas forças, que tem a experiência da derrota e a confiança na vitória, sei por mim e pela observação de vários colegas que pequenos abalos nos jogam na sarjeta, assim como mínimos sucessos se transformam em glórias sem fim.

Faz parte, diria o outro. Para mim, neste momento, faz parte do treino para a maratona aprender a enfrentar estes dias sem treino e tentar fazer com que eles me deixem mais bem preparado, mais fortalecido internamente para a hora em que eu possa voltar a correr.

Agora faltam cerca de 16 semanas para a maratona do Alasca. É possível que a data chegue e eu não tenha condições de correr; é possível que a dor não compense o sonhado prazer. Mas o treinamento para a maratona é uma atividade de risco. E esse aviso vale também para o lado positivo: é possível que eu me recupere, é possível que, mesmo não chegando aos 100%, eu saiba dosar minhas forças e controlar minhas dores, é possível que eu vença o quilômetro dez, o quilômetro vinte, o quilômetro trinta, o quilômetro quarenta, que eu corra mais dois quilômetros e ainda desfile cento e noventa e cinco metros.

Quem viver verá. Vamo que vamo!




23.2.15

Aposentado precisa se cuidar contra golpes de escroques engravatados


Não basta a gente trabalhar a vida inteira para enfim conseguir se aposentar; não basta a gente ganhar pouco na hora da aposentadoria; é preciso agora tomar cuidado contra alguns espertalhões que tentam meter a mão no nosso dinheirinho duramente conquistado.

Eles estão por toda a parte e aparecem até mesmo em escritórios refrigerados, vestidos de terno e gravata: advogados que não honram sua carteirinha da OAB têm praticado golpes contra aposentados, fingindo que estão ajudando.

É o que mostrou reportagem do “Fantástico” que foi ao ar em janeiro passado. 

Eu volto ao assunto porque me parece ser de interesse público deixar o maior número possível de pessoas avisado das tramoias e trapaças desses espertalhões.

Nos casos revelados pelo programa da Rede Globo, as vítimas foram trabalhadores rurais de cidades interioranas; mas todos nós precisamos ficar alertas, porque há golpistas e salafrários em todo o canto.

O golpe vem disfarçado de oferta de ajuda.

A história se dá assim: às vezes, o pedido de aposentadoria do trabalhador rural (ou do urbano) o trabalhador vai parar na Justiça. A decisão pode levar um tempão para sair, mas, quando o caso é resolvido, o trabalhador recebe uma bolada, pois tem direito a todos os atrasados desde que iniciou o processo.

O problema é que grande parte desse dinheiro não chega ao bolso do aposentado, que está pagando a advogados honorários que a Justiça considera extorsivos. Um batelão deles já foi identificado e está sendo processado pelo Ministério Público Federal.

O advogado chega para o trabalhador rural e diz que consegue acelerar o processo ou que garante a aposentadoria, promete mundos e fundos. E embolsa um tantão do dinheiro ganho tão sofridamente pelos homens e mulheres do campo.

No interior da Bahia, 28 advogados foram denunciados na Justiça Federal por essa cobrança abusiva.
A reportagem do Fantástico conseguiu falar com um deles, Romilson Nogueira. Ele disse que cobra “O que o estatuto da ordem fala: 20%”.

De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal, Romilson Nogueira cobrou 50% de uma de pelo menos uma de suas clientes, Ercília Rodrigues, de 64 anos. Ela tinha direito a R$ 12 mil de retroativo, mas só ganhou metade, segundo a denúncia apresentada à Justiça.

 Há casos ainda mais graves, que vão além da cobrança de metade dos retroativos. Alguns advogados, mostrou a reportagem dói Fantástico, cobram também parte do benefício mensal do trabalhador. A vítima é obrigada a dividir com o causídico a aposentadoria de um salário mínimo.

 “A gente é livre para trabalhar e elas são livres para contratar. Ninguém está forçando”, disse o advogado Fábio Oliveira de Souza, que fez a dita cobrança.

Mas tudo pode piorar, conforme mostrou a reportagem, que encontrou em São João Del Rei o senhor Domingos, que perdeu as pontas dos dedos moendo cana. Ele tinha direito a R$ 9,3 mil de atrasados. Mas nunca viu a cor desse dinheiro. E procurou o advogado para saber por quê.

“Ele pegou e falou que o direito era dele, dos atrasados, dez salários e 35%. Ele ainda falou que se, fosse cobrar atualmente o valor certo, que eu ainda ficava devendo para ele”, conta o aposentado Domingos Sales de Sá.

A coisa ganha ares de armação quando se descobre que os advogados do senhor Domingos (e de outras vítimas da região) foram indicados a ele pelo presidente do sindicato dos trabalhadores rurais e vereador do PSD, Geraldo Kenedy.

“Eu tento de todo jeito auxiliar as pessoas na aposentadoria”, disse ele à TV. Mas confirmou que os advogados ficavam com tudo mesmo: “Era cobrado o valor total do retroativo. Alguns casos. Estranho a gente acha, mas se foi combinado, a pessoa aceitou no início, depois eu não tenho. Como que eu vou fazer?”.

Um dos advogados, Leonardo de Almeida Magalhães, disse o seguinte: “Uns que eu recebi, que eu fiquei com os atrasados, a proposta foi exatamente do cliente. A questão de alegar que são analfabetos ou semianalfabetos isso aí, infelizmente eu considero uma desculpa. Porque eu não tenho que dar satisfação para o Ministério Público Federal ou Estadual. A tabela da OAB, ela especifica o mínimo que deve ser cobrado, não estipula o máximo”.

O corregedor nacional da OAB, Claudio Stabile, diz que não é assim: “Existe regra que impede que o advogado receba um valor maior do que o cliente ao final do processo”.

Caso como esses –centenas deles, segundo a reportagem do “Fantástico”—estão sendo investigados pelo Ministério Público Federal.

A Ordem dos Advogados do Brasil contesta a ação do Ministério Público Federal. “Não cabe ao Ministério Público Federal punir ou julgar infração ética de advogado. Nos termos da lei, cabe ao tribunal de ética e disciplina da OAB julgar a infração ética”, segundo Stabile.

A procuradora da República Ludmila Oliveira retruca: “O Ministério Público está pedindo que seja limitada a cobrança de honorários nessas causas previdenciárias de baixa complexidade, até 20%. E os valores que foram cobrados além desse limite que sejam ressarcidos para os clientes”.

Há mais, segundo mostrou a reportagem televisiva.

“São investigados os crimes de apropriação indébita, que é o crime exatamente de uma pessoa que se apropria de um valor que não é seu. Há também o crime de sonegação fiscal. Há ainda o crime de patrocínio infiel, que é a situação na qual o advogado trai confiança do seu cliente”, diz o procurador Lucas Gualtieri.

Na cidade de Guanambi, na Bahia, advogados denunciados pelo Ministério Público foram condenados pela Justiça Federal a devolver em dobro todo o dinheiro que receberam a mais. E ainda ao pagamento de uma multa que equivale à metade dos valores que ultrapassaram o teto máximo de 20% de honorários.

Os advogados da Bahia recorreram da condenação da Justiça Federal de Guanambi. Agora a decisão cabe ao Tribunal Regional Federal, em Brasília.

“É bom deixar claro também que quem pratica ilícito são a minoria. A minoria da advocacia. Hoje no país nós temos quase 1 milhão de advogados, e a grande maioria é formada por advogados honestos”, destaca Alex Barbosa de Matos, presidente da OAB-Manhuaçu (MG).


O certo é que a gente precisa ficar esperto e se proteger. Como se vê, espertalhões estão de olho mesmo em quantias pequenas. Há que desconfiar de ofertas que parecem miraculosas. E procurar ajuda em sindicatos e associações de trabalhadores e de aposentados, ouvir amigos e colegas de trabalho, enfim, tentar estar bem informado para não cair na coinversa fiada de escroques engravatados.

19.2.15

Casal de aposentados na praia serve de modelo para escultor que atrai multidões


Não foi um encontro ao vivo e em cores, isso é certo. Pelo pouco que se sabe do estilo de trabalho do escultor australiano Ron Mueck, ele nunca utiliza modelos vivos –disse que não saberia lidar com outra pessoa, um estranho, ocupando espaço em seu estúdio.

Por isso, produz suas obras hiper-realistas (exageradamente reais, digamos assim) com base em imagens guardadas na memória, fotos, figuras vistas em alguma revista ou qualquer outra coisa.

Apesar de construir cada figura humana nos mínimos detalhes, suas obras nunca são em tamanho natural  --algumas são gigantescas, como a cabeça que criou baseado em si mesmo, uma escultura selfie, digamos assim.



“Eu nunca faço figuras em tamanho real, porque nunca me pareceu interessante. Nós conhecemos pessoas em tamanho real todos os dias.”

Também vemos, na praia, pessoas mais velhas, aposentados, pensionistas que conseguiram de alguma forma tempo e condições financeiras para aproveitar o sol, a areia, o mar. Não raro, porém, passamos por eles –por nós mesmos—como se fossem invisíveis, não merecessem ser olhados.

O australiano Mueck não permite que isso seja feito. Na exposição de suas obras, em cartaz na Pinacoteca de São Paulo apenas até este domingo (confira AQUI informações sobre a mostra), os velhinhos apaixonados não passam em branco.

Primeiro, porque são gigantescos –a escultura tem mais de três metros de altura, e cada um do casal olharia muito para baixo para conversar com qualquer gigante do basquete norte-americano.

Em segundo lugar, porque a obra está isolada, colocada no espaço central da Pinacoteca, um local chamado Octógno.


Terceiro –e mais importante, talvez—porque são emocionantes.

Os dois velhinhos [este blog usa velho, velhinho, idoso e outras palavras assemelhadas para se referir a quem está na chamada Terceira Idade ou próximo a ela, como este blogueiro] parecem em perfeita paz com o mundo, consigo mesmo e com o outro.

Ele apoia a cabeça nas coxas dela e tem um braço por detrás do braço da mulher, apoiando e acarinhando a parceira. Ela olha para ele como se não houvesse amanhã.

O povo circula em volta, para, tira fotos, comenta, observa os detalhes. Na perna do homem, há até manchas de idade. E cada uma fica imaginando uma história, acredita a curadora da exposição, Grazia Quaroni.

“Quando éramos crianças e íamos à praia com nossos avós, nós tínhamos um corpo pequeno perto do deles, então eles pareciam enormes para nós. E, agora, crescidos, nos confrontamos com esses grandes corpos e voltamos à memória dessa situação. Mueck fala sobre a memória. Por isso, ele é tão popular”, diz ela.

Não sei se é por isso. Talvez seja pelos detalhes, pela perfeição, pelo que imaginamos do trabalho de Mueck –perfeccionista, ele produz com extrema lentidão e tem apenas 40 esculturas prontas, realizadas ao longo de cerca de 20 anos de trabalho.

Mueck, que completa 57 anos nesta 2015, é outro exemplo de gente que mudou de vida e encarou uma nova profissão em idade considerada tardia. Começou a investir profissionalmente em esculturas quando tinha quase 40 anos. E o fez por incentivo da sogra –donde se conclui que nem sempre é verídica a figura sogrística engendrada pelo imaginário popular.


Antes, era marioneteiro, criava bonecos para shows televisivos e filmes de animação –um dos mais famosos é “Labirinto”, em que a estrela do rock David Bowie diz presente. Também fez sucesso trabalhando na TV australiana.

Um dia, a sogrinha, que era artista plástica, pediu que ele fizesse a escultura de um bonequinho para uma exposição que ela estava montando.  Tem marchas e contramarchas, mas o resumo é que a primeira criação de Mueck acabou vendida por US$ 460 mil...

O cara, é claro, parou tudo e investiu no plano B, que ele talvez nunca tivesse imaginado que existiria.

Hoje atrai multidões pelo mundo todo com suas esculturas gigantescas ou figuras em tamanho bem menor que o real, como a mulher abaixo.

E expõe velhinhos apaixonados para quem quiser ver.

Ah, todas as fotos fui eu que fiz, durante visita à exposição na semana passada, acompanhando a velhinha por quem sou apaixonado.


Vamo que vamo!

17.2.15

Ortopedista corre maratona, treinador pedala para o trabalho

Minha turma é demais.

Estou falando dos homens e mulheres que, em nome de suas empresas e instituições, decidiram apoiar com seu trabalho o projeto de devolver para o asfalto este punhado de músculos, ossos e gordura que me tornei ao longo do tempo. 

Eles esticam, puxam, orientam, incentivam, reclamam, comandam, sorriem e, de vez em quando, até aplaudem o nosso esforço para conquistar mais uma vez a tão querida maratona.

Querida em termos. A maratona é justa, ainda que perversa. É o que dizem, pelo menos. Se você treinar para ela, se preparar direitinho, comer, dormir e escovar os dentes três vezes ao dia, o que você treinou você faz no dia da prova.

Só que não. Dá vento contra, dá frio na barriga, dá tremedeira, a gente bate no vizinho, torce pé sem saber como, leva meia velha, leva meia nova, algum erro faz... 

Sei que, depois de mais de 30 provas de longa distância, ainda fico nervoso quando digo a mim mesmo: chegou a hora, você vai treinar para uma maratona.

Ainda bem que tenho esses apoiadores, o Instituto Vita e a Força Dinâmica.

O InstitutoVita eu conheci no final do século passado: o doutor Wagner Castropil, judoca que tem no currículo a participação na Olimpíada de Barcelona, terminou de me curar de minha primeira fratura por estresse, com o suporte da sensacional fisioterapeuta Maris Noronha, que hoje segue caminhos próprios.

Já o povo da Força Dinâmica me foi apresentado dez anos depois, por uma colega jornalista, que tinha a turma na mais alta conta: “Ele me tiraram do bico do corvo”, me disse ela quando reclamei de alguma das tantas dores que me afligem ao longo dos anos.

No Vita, a bem dizer, virei móveis e utensílios: talvez seja o paciente mais antigo na instituição, que cresceu aos montes desde aquele tempo em que atendiam em algumas salas na Capote Valente; hoje são várias unidades, incluindo uma monumental no Anhembi.

Lá, quem cuida dos meus ossos é o ortopedista Henrique Cabrita, que começou a me acompanhar no início deste século. Nas primeiras consultas, dava até medo de falar com o cara, que, além de ser gigante, é ex-jogador de rúgbi: “Menos que fratura exposta é mimimi para ele”, rezava uma lenda apócrifa.

Que nada, o sujeito é de uma gentileza sem par e, com o passar do tempo, até virou maratonista  =a estreia dele, em 2007, está registrado em meu outro blog, que VOCÊ PODE CONFERIR AQUI (tem de rolar a página até chegar ao texto sobre a maratona de Paris).

Na reabilitação, o comando está com a osteopata Luciana Mameri, que todo mundo conhece por Luca. Ela é formada  pela Escola Britânica de Osteopatia, onde também foi professora. Ficou em Londres até 2007, atuando ainda  na Clínica Winchmore de Osteopatia, no Hospital Saint Leonards, no departamento de pós-graduação do Hospital Chase Farm. Está no Brasil desde 2007 e começou a me atender em 2011 –junto com o pessoal da Força Dinâmica, me deu esperanças de voltar a correr maratonas (e, de fato, consegui correr duas em 2012 e uma em 2013).

Mas já falo da turma da FD.

Antes, é preciso lembrar que, semana atrás de semana, quem me desempena a coluna e ajeita o quadrado lombar é a fisioterapeuta Graziella Candido. Apesar de superjovem, tem bastante experiência. Já trabalhou com atletas olímpicos e hoje ajuda a juntar os cacos de gente como eu.

No Vita, porém, a tarefa mais complicada talvez seja a da nutricionista Andrea Matarazzo. Como a Grazi, tem menos da metade da minha idade. Às vezes me pergunto, invertendo a questão da música: será que dá para confiar em quem tem menos de 30 anos?

A minha experiência mostra que dá, mas tenho dúvida se a experiência de Andrea como corredora de aventura –-além de seu conhecimento científico, é claro-- será suficiente para me ajudar a baixar a barriga, que venho cultivando com sorvetes e chocolates. A culpa não é dela –ou talvez seja, quem mandou escolher paciente tão turrão? 

E chego enfim à turma da Força Dinâmica, que é uma empreitada criada pelo fisioterapeuta Marcelo Semiatzh, que atualmente trabalha no seu doutorado na USP, e pelo treinador (ex-boleiro) Alexandre Blass, mestre em esporte de alto rendimento pela Universidade do Porto, ambos profundos estudiosos do movimento humano (foto a seguir).

A dupla criou um método de avaliação da postura, da marcha e da corrida, desenvolvendo proposta de como a gente deve aplicar a força no andar. O slogan do grupo, que pode soar até meio poético, é “postura em movimento”. Para entender melhor, confira alguns vídeos AQUI.

O certo é que eles recuperam gente que já tinha perdido as esperanças de voltar a praticar seu exercício predileto (como a minha amiga que pratica yoga e dizia estar “no bico do corvo”). 

Para mim, foi uma ajuda e tanto: começamos treinamento em maio de 2011, quando praticamente só andava mancando, e corri uma meia maratona inteirinha no segundo semestre, com direito até a sprint final.

Para tornar mais palpável as teorias que desenvolveram, produziram o livro “Força Dinâmica – Postura em Movimento”, que foi lançado no ano passado (saiba mais AQUI).

Marcelo gosta de pedalar e adora fazer fotos, tanto para usar em seu trabalho de avaliação postural quanto para se divertir. Alexandre tem o esporte no coração: hoje corre quando pode e pedala para o trabalho quase todos os dias. Ele é que prepara as planilhas e me orienta no treinamento –sobre isso ainda vou voltar a falar bastante nas páginas deste blog.

Bueno, eis aí um pouco do povo que está dando apoio e suporte para ajudar com que eu saia do quase-sedentarismo e volte a pode me chamar de maratonista. Vamos ver se dá certo.

Ah, antes de você ir embora, saiba que tive também uma importante colaboração para colocar de pé esse blog. O jornalista Gustavo Villas Boas, que trabalhou comigo no caderno Informática, da Folha, deu algumas horas de seu tempo e adiantou ótimas dicas para me ajudar a tourear os comandos do Blogspot. Hoje ele já não se prende nas quatro(centas) paredes de uma redação; virou empresário empreendedor e é um dos sócios do ótimo site de turismo “Muita Viagem” (confira AQUI um dos textos dele).


Vamo que vamo!

14.2.15

Além dos 42: o tamanho exato dos metros quebrados ao final de cada maratona

Tá, tá, você já sabe isso, está cansado de saber: são cento e noventa e cinco os metros que vêm depois do quilômetro quarenta e dois e servem para completar a maratona.
Não só sabe, mas já fez todas as piadas sobre o assunto, começando por aquela tal que diz que os quarenta e dois são fáceis, o que mata mesmo são aqueles cento e noventa e cinco metrinhos no final.
Se você fizer parte da turma que também adora estudar um pouco de história do esporte e acompanha o mundo das maratonas com alguma atenção, talvez saiba até mesmo a razão e o porquê da existência desses metricos quebradinhos depois dos tão elegantes e redondos quarenta e dois quilometrozões.
Se não sabe, eu conto: essa distância foi estabelecida na maratona dos Jogos Olímpicos de Londres em 1908. O trajeto da corrida foi aumentado para que a família real britânica pudesse ver a largada das janelas do castelo onde vivia e, depois, aplaudir a chegada bem defronte ao camarote real, no estádio olímpico.
Alguns anos mais tarde, as 26 milhas 365 jardas traduzidas em 42.195 metros foram referendadas como distância oficial da maratona pela entidade internacional que rege o atletismo.
Pois isso é o que está escrito na regra; nas ruas, a coisa é diferente.
Aqui, cada vez que a gente sai para um treino é uma maratona que enfrentamos. Talvez não a épica, gloriosa, oficial e assustadora em sua monumental distância; mas a das calçadas quebradas, do suor que entra no olho, do calor abrasador, da preguiça maldita que precisa ser derrotada, da barriga que teima em crescer apesar dos esforços em contrário.
Há até a maratona da idade, a maratona da luta para enfim se ver livre do trabalho enlouquecedor. Como você sabe, uma delas eu venci faz pouco tempo: depois de 40 anos de carteira assinada e mais de 35 anos de contribuição à previdência, finalmente consegui minha aposentadoria.
Sou um dos poucos –menos de 10% do conjunto—dos aposentados por tempo de contribuição. A vantagem é que saímos quando ainda não estamos totalmente acabados pelo tempo. Dá até para comemorar um aniversário ou mesmo vários...
Pois foi o que fiz hoje. Saí para correr em homenagem aos 58 anos que completei por volta das dez da manhã desde 14 de fevereiro.
Aproveitei o dia para acordar tarde e fui para a rua quando o sol já estava alto. Não era para correr muito; afinal, como talvez você saiba, estou retomando o treinamento para maratona depois de quase dois anos sem conseguir me dedicar a essa distância tão querida.
Apesar de minhas mais de trinta provas de longa distância e dos quase quarenta mil quilômetros percorridos em treinos, hoje começo como um debutante, que aos poucos acumula volume corrido, metro sobre metro.
Na minha planilha, por exemplo, estava escrito que minha “maratona” de hoje teria um total de seis quilômetros. E nem todos corridos. Para tentar fugir de lesões e, mesmo assim, ganhar quilometragem, meus treinos são quebrados entre caminhada e corrida. Hoje seriam quatro blocos de 1.100 metros corridos e 400 metros caminhados.
Escrevia “seriam” porque pretendia festejar na corrida meu aniversário. Pensei em chegar, por exemplo, aos catorze quilômetros, por causa da data. Mas, considerando a hora tardia em que comecei o treino e a canícula que já dominava o dia, parti para algo mais modesto.
Faria o treino comme Il faut, tal e qual o mestre mandou. No final, porém, não terminaria (gostou dessa? Deve haver alguma figura de linguagem que explique a contradição...); seguiria em frente por mais 580 metros, dez para cada ano de vida. Uma homenagem a mim mesmo, se é que isso é permitido, e um agradecimento à corrida, ao asfalto, à terra, à grama, às árvores, ao ar, às montanhas e a todas as gentes deste mundo velho sem porteira.
Vai daí que os metricos quebrados de minha “maratona” seriam 580 depois dos seis quilometrões oficiais (finalmente, eis aqui explicado aquele título, que parecia não ter coisa com coisa).
O último bloco, subindo a Sumaré, foi bem sofrido. Saí sem dinheiro, sem cinto de água, sem lenço nem documento, só eu e meu GPS. Já na metade do treino tinha sentido a falta de água, fiquei me recriminando pelo desleixo com o treino, supostamente pequeno. Isso que eu sempre digo: qualquer distância é distância, precisa ser coberta e enfrentada, respeitada e admirada...
A sorte é que havia um vendedor de água de coco instalado numa sombra pouco antes de iniciar a parte mais íngreme, digamos assim (“digamos” porque aquele trecho está longe de ser íngreme, é apenas uma subidinha leve que fica mais acentuada). Eu não tinha dinheiro para comprar uma água gelada, mas meti as caras e perguntei: “Consegue um pedaço de gelo aí, chefia??!!”
O cara talvez não tenha gostado muito, mas, na maior simpatia, catou um gelão lá do meio do carrinho e deu para este esfaimado de líquido (pode isso, produção, ter fome de bebida??). Foi um Carnaval nas internas deste corpo cinquentaoitão. Ainda tive a cara de pau de meditar sobre a assepsia do gelo, mas o pensamento foi muito mais lerdo do que o ato...
Refrescado, completei os seis quilômetros, passei mais um pouco, quando me dou conta já estou nos 490 metros. Olhei firme para o relógio, caminhei uns passos para ter parâmetros das mudanças de metragem no visor, combinei comigo mesmo que voltaria a olhar nos 550 metros, e segui viagem.
Pois viajei mesmo, me perdi em pensamentos, planos, projetos, sonhos. É incrível o quanto a corrida permite ao vivente mergulhar em si mesmo em breves instantes.
Cadê?, me perguntei, onde estou?, olhei para o relógio, e o GPS foi inclemente: 6.61 (ele marca assim, com ponto em vez de vírgula).
Fiquei furioso! Quase me bati, arranquei os cabelos, imaginei até se seria possível fazer algo para voltar a algum ponto antes dos 580 metros. Claro que o tempo não para, não volta, tal como a flecha disparada, mas a gente pensa cada coisa na hora do aperto.
Pensei então que não havia o que fazer, só parar o cronômetro, desligar o relógio, me maldizer por mais essa falha, essa desatenção, esse descuido  --pelo menos, não foi tão grave quanto aquele em que deixei escorregar a faca para me atorar o dedo indicador esquerdo...
Assuntei comigo mesmo se os 61 não seriam um sinal, uma indicação, um prenúncio, um presságio. Mas, ai de mim!, sou incréu de carteirinha, papel passado, carimbado e registrado em cartório; nem em bruxas acredito, ainda que, dizem, que las hay las hay.
Assim meus 58 anos não foram homenageados por 580 metros extras, quebraditos no final da corrida do dia, mas por 610 metros exatos, calculados e registrados pela alta tecnologia gepessística mais modernosa que meu dinheiro pôde comprar. E também quebrados depois de quilometrozões, tal como os cento e noventa e cinco que servem para completar a maratona.
Fiquei chateado, peço desculpas a mim mesmo e ao leitor pela falta de precisão, mas devo dizer que me perdi nos cuidados do GPS por boas razões: aqueles tais sonhos de que falei antes.
Durante aqueles metros corridos entre a marca de 6,49 km e 6,61 km, fiz toda uma história sobre o ano que vem, teci planos, imaginei projetos. Até ganhei dinheiro!
É que em maio de 2016 completam-se dez anos do lançamento de meu primeiro livro de corridas, o “MARATONANDO”.
Claro que isso estava sabido desde o dia em que foi lançado, bastava fazer uma conta simples na própria sessão de lançamento (foto). Mas a marca me veio à cabeça naquela subida ensolarada da avenida Sumaré, e fiquei imaginando as comemorações.
Talvez fazer uma nova edição, mais bonita, cheia de fotos, comemorativa, celebrativa e muito cara –uma obra de arte para ter na estante. Quem sabe produzir uma versão revista, ampliada e melhorada, em formato eletrônico, muito barata, para todo mundo poder comprar, ler, discutir...
Fiquei pensado nas cartas que recebi de leitores do “MARATONANDO”, em gente que disse ter começado a correr por causa do livro ou ter escolhido essa ou aquela prova graças às coisas lá escritas. Fiquei muito agradecido a todos os leitores, pensei que iria precisar de muito apoio, patrocínio, que preciso ir atrás disso logo se quiser realmente produzir algo...
Pensei, sonhei, viajei e passei dos 580 metros... Mas ganhei mais um projeto na vida.
Se você souber de empresas, instituições ou pessoas que possam querer apoiar esse sonho novo, não se avexe, não: avise, mande mensagem eletrônica, zapzap , o que quiser. A gente está sempre correndo; qualquer hora se encontra pelo asfalto do mundo.

Vamo que vamo! 

13.2.15

O pequeno prazer de ser capaz de amarrar os cadarços do próprio tênis

Hoje, pela primeira vez em mais de 45 dias, fui capaz de amarrar os cadarços de meu tênis sem ajuda de terceiros. Para segurar o cordão esquerdo, usei o polegar, o dedo médio e o anular; o indicador continua sonso, durão, inútil –espero, porém, que um dia ele volte a funcionar.

Desde a tarde da última quarta-feira, dia 11, recebi licença para ficar algumas horas por dia sem a proteção para meu dedo cortado, operado, cicatrizado e hoje em processo de recuperação –lento, gradual e nem um pouco seguro (o tendão cortado e suturado pode nunca voltar a ser o mesmo...).

Foi uma grande alegria. Afinal, já houve momento, durante essa retomada nos movimentos do dedo indicador esquerdo, em que pensei que iria tudo para o ralo, a cicatriz iria infeccionar, fazer um estrago danado (foto).

Mas tudo andou bem, ainda que mais lentamente do que eu gostaria e exigindo mais cuidados ainda.

Correr com a tala não é impossível nem sequer difícil, mas acho que me deixava um pouco vergado para o lado esquerdo, por mais que eu cuidasse para correr de forma equilibrada. 

Uma dessas corridas, por exemplo, teve de ser interrompida antes de o treino chegar ao final porque fui atingido por uma dor superaguda. O jeito foi caminhar, abortar o treino e deixar para depois.

Agora, porém, o que importa é o dedo. Cortado, suturado e entalado, nem ele nem a mão esquerda me foram de muita serventia desde o dia 30 de dezembro do ano passado, quando se deu o maldito e vergonhoso acidente.

Aprendi a “dar tope” nos cadarços de meus calçados quando estava no Jardim de Infância, talvez até um pouco antes, da forma deselegante e desastrada, imprecisa, que caracteriza a obra de crianças ainda sem completo controle de suas habilidades motoras. Pois nem isso pude fazer nos últimos dias.

Por isso, usei apenas chinelos e sandálias em que pudesse enfiar os pés; para correr, porém, os tênis são necessários, e foi inescapável a necessidade de pedir ajuda.

Agora, não, posso fazer por mim mesmo, ganhar o prazer de mais essa pequena independência.

Tive outras alegrias, desde quarta-feira. Naquele dia, por exemplo, pela primeira vez no ano, pude lavar as mãos esfregando uma na outra... Passar xampu nos cabelos usando as duas mãos para esfregar a cabeça...

Hoje, fui capaz de colocar o relógio no pulso esquerdo, fechar a pulseira, acionar o equipamento, travá-lo, desligá-lo, abrir a pulseira...  E escrevo este texto usando as duas mãos. Que maravilha.

A corrida é que não foi lá essas coisas. Para variar, ando assombrado por pequenas dores, resultado de anos e anos e de incúria posicional e má postura ao longo do dia (quem sabe, da noite também). Assim, corro devagar, ajeito o corpo como posso e vou em frente. 

Quando dá vontade de desistir, paro um pouco e desisto de desistir, que é muito melhor para minha cabeça, ainda que possa fazer meu corpo sofrer um pouquinho.

Dei uma parada no meio do caminho para uma água e coro, e segui direto e reto, completando meus cinco blocos de 1.100 m correndo e 400 caminhando. No total, 7.500 m, mais uns tantos antes e depois, deu talvez uns nove. Está bom por hoje.


O trajeto foi o indicado no mapa acima, saindo do quarteirão das flores, em frente ao cemitério do Araçá, e terminando bem na entrada do metrô Vila Mariana.

Ah, você é novo por aqui e não sabe exatamente o que aconteceu com o meu dedo. Pois nem te conto, meu amigo, minha amiga. Foi um furdúncio... 

CLIQUE AQUI e conheça a história tintim-por-tintim, com fotos sanguinolentas e imagens inspiradoras (ou não, sei lá).

Beijo para quem é de beijo, abraço para quem é de abraço.

Vamo que vamo!



10.2.15

Atividade física ajuda a enfrentar depressão na aposentadoria, diz psicóloga

“Nunca tive coragem de correr uma maratona”, ela me conta. Mas diz que “ama” correr, fazendo até 12 quilômetros em seus treinos por Olinda e Recife. De vez em quando, sobe na bicicleta e pedala para sentir o vento quente de Pernambuco.

Isso nas horas vagas, que não são muitas. Aline Lopes Ribeiro é psicóloga e, apesar de ainda bem jovem –nasceu em 1980--, tem boa experiência em trabalhar com aposentados e o pessoal mais experiente, digamos assim: ela presta serviços na Associação Brasileira de Aposentados e Pensionistas e também faz palestras direcionadas para a terceira idade.

Por isso, pedi a Aline uma colaboração para este blog. Gentilmente, ela mandou o texto que reproduzo a seguir, junto com a foto de uma das pedaladas da psicóloga.

O SONHO DA APOSENTADORIA?

"O sonho da aposentadoria: não ter hora para acordar, ler livros interessantes, descansar e ter todo o tempo do mundo! Mas ter todo o tempo do mundo pode se tornar um grande pesadelo na vida de um aposentado.


"Tempo é algo visto como precioso, raro, restrito. Assim passamos anos de nossa existência, correndo “contra” ele. Ficamos escravos do relógio e sonhamos com o momento em que finalmente teremos a recompensa merecida: a APOSENTADORIA.

"Normalmente coincide com a entrada na Terceira Idade; para muitos idosos é muito difícil encarar a falta de rotina do trabalho quando se aposenta. 

"A falta de uma vida produtiva e prazerosa pode interferir diretamente no equilíbrio físico e emocional do idoso.

"Muitos aposentados sentem-se perdidos, inutilizados e sem motivação. É comum o surgimento de transtornos emocionais como depressão, ansiedade, problemas para dormir e alterações físicas como aumento de peso e surgimento de doenças provenientes do sedentarismo e alimentação inadequada.

"O trabalho de tempo integral, rotineiro e repetitivo, quase sempre impede que o trabalhador desenvolva outras atividades ao longo da vida, seja ela laboral ou de lazer, mas o ser humano é por natureza um ser criativo, consciente de suas habilidades e capaz de refazer sua história, seus projetos e planejar a vida mesmo com muitos anos já vividos.

"Assim, a aposentadoria pode se apresentar como um momento de reconstrução de novos investimentos e de novas descobertas.


"A prática de atividade física, entre outros hábitos que sugiram estímulo corporal, torna-se grande aliado no aproveitamento do tempo livre, na conscientização do sujeito com capacidade de ser ativo e capaz de alcançar a velhice bem-sucedida, sem depressão, sem solidão, sem sentimento de inutilidade, engendrando novas práticas de vida para ser e se sentir valorizado."

9.2.15

A primeira maratona como aposentado

Que ninguém se engane: sou um corredor experiente, ainda que lento. Já fiz mais de 30 provas longas, de maratonas até um enorme desafio de cem quilômetros, que me tomou mais de 15 horas para completar.

O tempo, a distância e o asfalto, porém, cobram seu preço em dores. Tenho hérnias, lesões musculares, estiramentos, encurtamentos, tendinites, fraturas, inflamações e unhas maltratadas.

Por tudo isso e mais um pouco, estou há quase dois anos sem condições físicas –e, não poucas vezes, psicológicas-- de sequer treinar para uma maratona.

O pior é que o tempo não para, como provam minhas barbas brancas. Em agosto passado, depois de diversas idas e vindas ao INSS, documentos recuperados, declarações de empresas, retificação de dados e não-sei-mais-o-quê, finalmente entrei na maravilhosa –-terrível? apavorante?—condição de aposentado por tempo de contribuição (foto Rivaldo Gomes/Arquivo Pessoal).

Mereci. Meu primeiro registro em carteira é de fevereiro de 1975, dias depois de ter completado 18 anos. Trabalhei num banco, fazendo conferência de dados de empréstimos da carteira rural. Depois fiz traduções, dei aulas e enveredei afinal pelo jornalismo, em que milito há quase 40 anos.

Fui noticiarista, redator de programa de rádio, repórter de buraco de rua e morte na esquina. Durante a ditadura, vi na escrita o caminho para a liberdade: trabalhei na imprensa sindical e em jornais de oposição, estive em reuniões clandestinas e em manifestações de rua.

A redemocratização me pegou casado e com duas filhas. Enveredei pelo que chamávamos então de grande imprensa. Um recomeço: de novo repórter, passando a editor-assistente, chefe de reportagem e, por muitos anos, editor.

Foi um longo período de sedentarismo, décadas a fio. Depois dos 40 anos, comecei a correr. Um pouquinho hoje, mais um tanto amanhã; quando vi, estava fazendo maratonas, apaixonado por um esporte em que cada passo é uma conquista, uma realização. Viajei o mundo para correr, escrevi livros, derramei encantos e emoções por espaços virtuais e páginas de jornal.

Ficar sem correr é um martírio. Os últimos meses de dores me deixaram mais gordo, mais fraco, menos determinado, menos capaz, mais triste. Preciso virar o jogo.

Por isso inventei este desafio: a primeira maratona como aposentado. Tendo a corrida como meta, vou tentar enrijecer e emagrecer, ficar mais flexível e mais feliz, mais forte e mais rápido. Se tudo der certo, em junho próximo estarei na largada de uma prova no Alasca.

Não começo sozinho. Minha mulher e minhas filhas são inspiração, apoio, carinho, fonte de vida e calor.

Há mais. Para enfrentar as dores, consertar os defeitos do corpo, combater a gordura e aprender a comer melhor, tenha a ajuda do sensacional povo do Instituto Vita; para orientar meu treinamento e preparação física, conto com o apoio, suporte e companheirismo do excelente pessoal da Força Dinâmica –ao longo dos próximos meses, você vai conhecer melhor cada um deles.

Não menos importante: espero ter sua honrosa companhia nessa jornada, que contarei nestas páginas. Vou falar de treinamento e saúde, entrevistar especialistas e outros veteranos corredores, discutir a aposentadoria, as dores e os prazeres da vida depois dos 50 –dos 60, dos 70...--, trazer dicas para quem também quer (re)começar.

Venha comigo. Gostaria muito de ouvir suas críticas e sugestões, saber de suas dúvidas, comemorar seus feitos. O convite está feito, agora é hora de partir para a rua. Vamo que vamo!


5.2.15

CONTAGEM REGRESSIVA: LARGADA É NESTA SEGUNDA, 9 DE FEVEREIRO

Obrigado pela visita a esta página ainda em montagem.

Em poucos dias, estará cheia de conteúdo, contando histórias da vida corrida, discutindo problemas de corredores e viventes em geral, celebrando o mundo.

Fique comigo, participe do lançamento nesta segunda-feira, 9.2, e volte sempre.

Deixe seus comentários, faça suas críticas, compartilhe suas emoções: sua opinião é muito importante para nós.

Beijo para quem é de beijo, abraço para quem é de abraço.


Vamo que vamo!