8.1.16

Apesar da crise, velhinho faz percurso inédito de 16 km em homenagem ao Ano Novo

Quase não acreditei: finalmente, enfim, fiz minha primeira corrida deste novo ano. Para marcar a data, resolvi tentar completar –e consegui—um percurso de 16 km, saudando os 16 anos deste milênio.
Pode parecer pouco para você, mas, para mim, foi um verdadeiro sucesso internacional!!
Não corria desde o ano passado, jogado às traças por dores e uma tristeza profunda, causada por sucessivas falhas em completar treinos de longa distância.
Era o sol forte, a lombar, a preguiça, e tudo somado dava como conta final falta de determinação, de garra, de ânimo. Um cansaçozinho à toa, e eu parava nos 20 quilômetros de um treino de 24 ...
Quando era para fazer 32, então, ficava dias me preparando, como se o desafio fosse grande coisa. Planejava percurso, organizava alimentação, bebia água mais que um camelo se preparando para a travessia do Saara, dormia cedo, acordava de madrugada... E voltava a dormir.
Tanto que, somatizando ou não, sabe-se lá por quê, a musculatura se engruvinhou toda, a panturrilha travou... Pelo menos, tive uma razão para suspender por uns dias as corridas.
Daí não teve treino no primeiro do ano, nem no segundo nem no terceiro... Será que ia continuar assim?
Pois continuou, até que a dor pareceu arrefecer. Foi quando eu me disse: não tem tu, vai tu mesmo. Acordei mais tarde do que deveria, mas o dia estava nublado, colaborou comigo, e eu enfiei no tênis a tristeza, nas meias a depressão, e saí pro asfalto, que a gente aqui é corredor de rua.
Saí para um percurso inédito em minha carreira. A bem da verdade, conhecia e já percorrer boa parte do trajeto que imaginava ser capaz de fazer. Menos o coração do caminho, aquele que faria a diferença.

Havia que rodear um morro, enfrentar estrada que só tinha visto no mapa, imaginava perigosa, solitária.
De fato, ela tem uns tantos quilômetros de asfalto e bloquete, mas depois sobe um morrinho, rodeia a montanha e vira puro chão batido. De cada lado, mato e montanha.
Medo de nada. Receio de cachorros soltos, essas propriedades rurais sempre têm uns cuscos meio ladinos. Depois de passar por dois ou três que só latiram de longe, peguei umas pedras e passei a correr preparado para enfrentar eventuais ataques.
Não houve nenhum. Eu que me ataquei com a paisagem. Vi morros ao longe, coroados por nuvens escuras,  e fui me acalmando. Aos poucos, ganhei confiança, passei a acreditar que poderia voltar a correr, a cumprir o treino dado.
É que eu não sou um corredor de nascença, um sujeito musculoso e longilíneo, pau para toda obra, saltador, atlético, flexível e veloz.
Que nada. Sou mais baixo do que gostaria, mais pesado do que deveria, lento e preguiçoso.
Para correr, tenho de treinar. Fazer das tripas coração para ganhar coragem de sair da cama e, aos poucos, botar uma perna à frente da outra, dar um passo e mais outro.
O peso além do recomendado pelas tábuas dos mestres do exercício cobra sua conta, a velocidade não é a mesma, tudo precisa de esforço, concentração, determinação...
E é tão fácil desistir, tão fácil parar, tão fácil cair na preguiça.
Mas não quero. Passo por um riacho que corta a estrada pelas profundezas da terra e só vai aparecer murmurante lá embaixo, no meio da mata. Me alegro com ele.

Descanso subindo mais um morrinho, percebo que a estradinha rural está prestes a acabar, estou terminando o contorno da montanha, em breve volto para terreno conhecido.
É quando a preguiça me chama, pede para eu desistir. Negocio: vamos correr até a praia, convido meu corpo.
Será uma espécie de desafio à autoridade: meu treinador desrecomenda fortemente qualquer treino nas areias da praia. Mas é tão bom correr com a brisa marinha refrescando o corpo, o mar se fazendo de infinito ao meu lado...
Chego às areias da praia de constato que meu treinador tem razão: o terreno é por demais inclinado, cheio de ondulações perigosas, melhor obedecer às regras traçadas e seguir por outro caminho. Apenas capturo uma imagem para me acompanhar pelos quilômetros restantes.

São os piores. Mais duros, menos interessantes, mais quentes. O corpo já está dolorido, a idade pesa e a falta de determinação ajuda, mas um pouco de cabeça dura é suficiente para dar o contra na preguiça, na malemolência e no mimimi.
Sigo. E completo minha primeira corrida do ano. Dezesseis quilômetros suados e sofridos, mas alegres e bisbilhoteiros, pesquisadores de meus demônios internos, desafiadores de minhas fraquezas e fragilidades. Uma homenagem a 2016.
Que venham outros.

Vamo que vamo!! Feliz Ano Novo!

2 comments:

  1. Feliz ano novo. E siga em frente. Bem sei como às vezes é complicado.

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  2. Gustavobala@yahoo.comJanuary 9, 2016 at 6:27 AM

    Que praia é essa? Praia da baleia é retinha, famosa por corredores lá....musculação é solução para os problemas relacionados

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