Neste Sete de Setembro, dia de lembrar que prezamos,
desejamos e amamos a independência de nossa Pátria –hoje vilipendiada pelo
golpismo entreguista—, fiz a mais populosa jornada deste projeto de homenagem
corrida a meu pai, Joaquim de Lucena, e a todos os joaquins de luta de nossa
história.
Para começar, a corrida não largou solitária: saí com meu
irmão Rafael, que recentemente veio morar em São Paulo. Mais tarde, encontramos
Eleonora, parceira de vida –comemoramos hoje 39 anos de comunhão--, e minha filha
mais velha, Laura.
Assim foi que chegamos em quarteto ao ponto desejado, ao
destino joaquim do dia, a praça Oswaldo Cruz, no início da avenida Paulista,
onde centenas de pessoas já se concentravam para participar de uma grande
manifestação em defesa dos direitos do povo, da vida e da liberdade.
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Grupo de animação participa do Grito dos Excluídos |
O manifesto convocatório para o ato serve também como forma
de contar sua história. Leia a seguir:
“A jornada do Grito dos Excluídos deste ano será conduzida pelo lema Desigualdade gera violência: basta de privilégiosA manifestação trará também na sua composição a luta por LULA LIVRE, pela Democracia e contra os privilégios, sobretudo do Poder Judiciário. Desde a ruptura da Democracia com o golpe, a classe trabalhadora vem perdendo o pouco do que tinha conquistado e avançado em direitos econômicos e sociais. O golpe trouxe de carona o trio de maldade; crise econômica, desemprego e precarização do trabalho, com o fim da CLT, que atingiu em cheio a classe trabalhadora. A situação para o povo trabalhador tem se agravado ainda mais, com a desigualdade e violência acentuada no ilegítimo governo Temer, com a escalada da violência contra as mulheres e o genocídio da juventude negra e periférica.Pelo fim desse ciclo de miséria, exclusão e violência, o Grito dos Excluídos/as ocupará a Avenida Paulista, no dia 07 de Setembro.Venha participar e traga sua bandeira.”
E embandeiradas as pessoas apareceram. Muitas com flâmulas
de seu sindicato ou de centrais, outras com pequenos cartazes em que faziam reivindicação
ou simplesmente diziam de onde vinham.
Grupos políticas mais organizados levavam grandes faixas,
sendo um dos destaques o enorme cartaz pedindo a liberdade do presidente Lula.
Aluta pela democracia, aliás, marcou a manifestação, que
teve também, animação de um grupo do MPA, o Movimento dos Pequenos Agricultores.
E não poderia faltar, como efetivamente não faltou, a presença de um
trompetista para animar a cantoria entusiasmada de “Olê, olê, olê, olá, Lu-lá,
Lulalá” (confira no vídeo ao final deste texto).
A todas essas, faltou explicar por que, afinal, o Grito dos
Excluídos foi incluído nos meus destinos Joaquim, se não tem nada de Joaquim no
nome nem no sobrenome nem no local de encontro, nem no destino da passeata –as centenas
de pessoas que se reuniram na praça Oswaldo Cruz saíram em caminhada pela Paulista
e depois se dirigiram para um ato no parque Ibirapuera.
Eu explico: meu pai dedicou sua vida a lutar pelos excluídos,
a luta por igualdade, a mourejar por justiça social. Nos seus tempos de
juventude, fez disso uma prática individual, solitária e solidária –não poucas
vezes, contam seus irmãos, tirava casaco do próprio corpo para dar a algum
mendigo ou morador de rua que estivesse a sofrer mais do que ele com a
monumental friaca porto-alegrense.
Nunca perdeu esse sentimento de solidariedade que, mais
tarde, foi enrijecido, fortalecido, ampliado com a mudança da mentalidade de
caráter mais religioso para uma consciência política mais profunda, que marcou
sua atuação na vida e marcou a vida política do Rio Grande do Sul.
Demonstração disso é o depoimento que trago a seguir, de ninguém
menos que o Galo Missioneiro, Olívio Dutra, que foi prefeito de Porto Alegre e
Governador do Rio Grande do Sul representando o Partido dos Trabalhadores –meu pai
nunca foi filiado ao PT; ele militava e lutava com quem que estivesse ao lado
do povo.
VAMO QUE VAMO, RUMO AOS 100!
Percurso de hoje: 7,45 km (o vídeo abaixo mostra como foi,
trazendo também o trompetista e Lulalá)
Quilometragem acumulada: 61,30 km
POR QUE RUMO AOS 100
Meu pai morreu no dia 10 de julho. Seu
último aniversário, em 16 de setembro de 2017, foi passado no hospital.
Dias antes, a família havia recebido o
resultado de uma série de exames que se desenrolavam a passos de tartaruga
desde o final de agosto: câncer no estômago.
Por causa dos exames e das dores, meu
pai recebia medicamentos que, às vezes, o deixavam meio grogue. Mesmo assim,
estava lúcido, conversava e gostava de lembrar momentos do passado.
No dia do aniversário, a ordem do
hospital foi subvertida com a chegada das gentes mais próximas, que trazia
bolo, docinhos, refrigerante.
Como a presença das visitas era
restrita, os festejos acabaram sendo em várias levas. Eu apareci para a segunda
rodada de bolo, apagar as velinhas, cantar o “Parabéns”, repetindo também a
versão gauchesca da canção, que termina assim: “Que tu tenhas, sempre e todo o
dia, paz e alegria na lavoura da amizade”.
Apesar de parecer meio de saco cheio,
meu pai enfrentou com galhardia as brincadeiras. Cantou junto, meio arrevesado,
fez esforço para soprar as velinhas, posou para fotos e mais fotos, deu
beijinhos, ofereceu a careca para outros beijinhos.
De vez em quando, dava uma risada meio
tossida, falava qualquer coisa, enquanto eu chorava por dentro, tentando
represar a emoção e me preguntando, em silencia, por que eu achava que tinha de
segurar o choro.
Era melhor.
Chegou a hora das despedidas, os
presentes já abertos, abraços apertados, copos largados pelos lados, docinhos
devorados.
Fui ainda mais uma vez abraçar e
cumprimentar meu pai. E falei: “Oitenta e oito anos, hein, que beleza!”
Ao que ele respondeu na lata, sem
perder o embalo da conversa: “Rumo aos cem!”
É esse o espírito que quero guardar
comigo, que quero aprender e tentar ensinar. É esse espírito que quero
homenagear nesta série de corridas, que devem somar, até o dia 16 próximo, 89
anos do nascimento de Joaquim de Lucena, um percurso total de cem quilômetros.
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