7.9.18

Grito dos Excluídos tem trompetista e cantoria de Lulalá


Neste Sete de Setembro, dia de lembrar que prezamos, desejamos e amamos a independência de nossa Pátria –hoje vilipendiada pelo golpismo entreguista—, fiz a mais populosa jornada deste projeto de homenagem corrida a meu pai, Joaquim de Lucena, e a todos os joaquins de luta de nossa história.
Para começar, a corrida não largou solitária: saí com meu irmão Rafael, que recentemente veio morar em São Paulo. Mais tarde, encontramos Eleonora, parceira de vida –comemoramos hoje 39 anos de comunhão--, e minha filha mais velha, Laura.
Assim foi que chegamos em quarteto ao ponto desejado, ao destino joaquim do dia, a praça Oswaldo Cruz, no início da avenida Paulista, onde centenas de pessoas já se concentravam para participar de uma grande manifestação em defesa dos direitos do povo, da vida e da liberdade.

Grupo de animação participa do Grito dos Excluídos 
Trata-se do GRITO DOS EXCLUÍDOS, que é uma celebração de vida e de luta organizada por sindicalistas, grupos políticos e movimentos populares –mais um tanto de fermento lançado por agrupamentos religiosos-- há mais de duas décadas.
O manifesto convocatório para o ato serve também como forma de contar sua história. Leia a seguir:
“A jornada do Grito dos Excluídos deste ano será conduzida pelo lema Desigualdade gera violência: basta de privilégiosA manifestação trará também na sua composição a luta por LULA LIVRE, pela Democracia e contra os privilégios, sobretudo do Poder Judiciário. Desde a ruptura da Democracia com o golpe, a classe trabalhadora vem perdendo o pouco do que tinha conquistado e avançado em direitos econômicos e sociais. O golpe trouxe de carona o trio de maldade; crise econômica, desemprego e precarização do trabalho, com o fim da CLT, que atingiu em cheio a classe trabalhadora. A situação para o povo trabalhador tem se agravado ainda mais, com a desigualdade e violência acentuada no ilegítimo governo Temer, com a escalada da violência contra as mulheres e o genocídio da juventude negra e periférica.Pelo fim desse ciclo de miséria, exclusão e violência, o Grito dos Excluídos/as ocupará a Avenida Paulista, no dia 07 de Setembro.Venha participar e traga sua bandeira.
E embandeiradas as pessoas apareceram. Muitas com flâmulas de seu sindicato ou de centrais, outras com pequenos cartazes em que faziam reivindicação ou simplesmente diziam de onde vinham.
Grupos políticas mais organizados levavam grandes faixas, sendo um dos destaques o enorme cartaz pedindo a liberdade do presidente Lula.


Aluta pela democracia, aliás, marcou a manifestação, que teve também, animação de um grupo do MPA, o Movimento dos Pequenos Agricultores. E não poderia faltar, como efetivamente não faltou, a presença de um trompetista para animar a cantoria entusiasmada de “Olê, olê, olê, olá, Lu-lá, Lulalá” (confira no vídeo ao final deste texto).
A todas essas, faltou explicar por que, afinal, o Grito dos Excluídos foi incluído nos meus destinos Joaquim, se não tem nada de Joaquim no nome nem no sobrenome nem no local de encontro, nem no destino da passeata –as centenas de pessoas que se reuniram na praça Oswaldo Cruz saíram em caminhada pela Paulista e depois se dirigiram para um ato no parque Ibirapuera.
Eu explico: meu pai dedicou sua vida a lutar pelos excluídos, a luta por igualdade, a mourejar por justiça social. Nos seus tempos de juventude, fez disso uma prática individual, solitária e solidária –não poucas vezes, contam seus irmãos, tirava casaco do próprio corpo para dar a algum mendigo ou morador de rua que estivesse a sofrer mais do que ele com a monumental friaca porto-alegrense.
Nunca perdeu esse sentimento de solidariedade que, mais tarde, foi enrijecido, fortalecido, ampliado com a mudança da mentalidade de caráter mais religioso para uma consciência política mais profunda, que marcou sua atuação na vida e marcou a vida política do Rio Grande do Sul.
Demonstração disso é o depoimento que trago a seguir, de ninguém menos que o Galo Missioneiro, Olívio Dutra, que foi prefeito de Porto Alegre e Governador do Rio Grande do Sul representando o Partido dos Trabalhadores –meu pai nunca foi filiado ao PT; ele militava e lutava com quem que estivesse ao lado do povo.




VAMO QUE VAMO, RUMO AOS 100!


Percurso de hoje: 7,45 km (o vídeo abaixo mostra como foi, trazendo também o trompetista e Lulalá)
Quilometragem acumulada: 61,30 km



POR QUE RUMO AOS 100

Meu pai morreu no dia 10 de julho. Seu último aniversário, em 16 de setembro de 2017, foi passado no hospital.
Dias antes, a família havia recebido o resultado de uma série de exames que se desenrolavam a passos de tartaruga desde o final de agosto: câncer no estômago.
Por causa dos exames e das dores, meu pai recebia medicamentos que, às vezes, o deixavam meio grogue. Mesmo assim, estava lúcido, conversava e gostava de lembrar momentos do passado.
No dia do aniversário, a ordem do hospital foi subvertida com a chegada das gentes mais próximas, que trazia bolo, docinhos, refrigerante.
Como a presença das visitas era restrita, os festejos acabaram sendo em várias levas. Eu apareci para a segunda rodada de bolo, apagar as velinhas, cantar o “Parabéns”, repetindo também a versão gauchesca da canção, que termina assim: “Que tu tenhas, sempre e todo o dia, paz e alegria na lavoura da amizade”.
Apesar de parecer meio de saco cheio, meu pai enfrentou com galhardia as brincadeiras. Cantou junto, meio arrevesado, fez esforço para soprar as velinhas, posou para fotos e mais fotos, deu beijinhos, ofereceu a careca para outros beijinhos.
De vez em quando, dava uma risada meio tossida, falava qualquer coisa, enquanto eu chorava por dentro, tentando represar a emoção e me preguntando, em silencia, por que eu achava que tinha de segurar o choro.
Era melhor.
Chegou a hora das despedidas, os presentes já abertos, abraços apertados, copos largados pelos lados, docinhos devorados.
Fui ainda mais uma vez abraçar e cumprimentar meu pai. E falei: “Oitenta e oito anos, hein, que beleza!”
Ao que ele respondeu na lata, sem perder o embalo da conversa: “Rumo aos cem!
É esse o espírito que quero guardar comigo, que quero aprender e tentar ensinar. É esse espírito que quero homenagear nesta série de corridas, que devem somar, até o dia 16 próximo, 89 anos do nascimento de Joaquim de Lucena, um percurso total de cem quilômetros.


  

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