Minha última visita ao
médico não cortou minhas esperanças de completar com sucesso o primeiro de meus
desafios do ano em que chego oficialmente à velhice, mas deixou claro que a
jornada será bem mais difícil e exigente do que eu tinha pensado inicialmente.
O processo de regeneração
do osso atingido por fratura por estrese não é exato. A recuperação, em casos
semelhantes ao meu, em que o fêmur está lesionado, em geral leva dois meses.
O que não significa que
poderei voltar a correr imediatamente –coisa que estava nos meus planos. A
retomada da corrida, se e quando for possível, será lenta, gradual e insegura.
Em contrapartida –talvez apenas
para não me deixar mais louco ainda e me dar forças para combater eventuais
quedas depressivas--, o médico permitiu que eu aumentasse um pouco –UM POUQUINHO—o
volume das caminhadas diárias, com incremento de 500 metros por semana.
Não é nada, não é nada, é
melhor do que nada.
Afinal, quanto mais
quilômetros eu tiver acumulado até 31 de dezembro, menos quilômetros terei de
fazer entre 1º de janeiro e 14 de fevereiro –a meta é chegar naquela data com
seiscentos quilômetros acumulados.
Vai daí que a cada dia não
só caminho como também transformo minha cabeça em calculadora, fazendo
estimativas de quilômetros por dia, calculando médias, prevendo distribuição de
distãncias caminhadas e corridas...
Hoje, meus exercícios de
cálculo se estenderam para a vida, acompanhando o noticiário do dia. Saíram
resultados de estudos falando sobre o meu povo, a turma dos sessentões, o grupo
dos maiores de idade.
O IBGE (instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou sua análise anual das
condições de vida dos brasileiros. O documento se chama SIS (Síntese de
Indicadores Sociais) 2016.
O estudo constatou que,
entre 2005 e 2015, a proporção de pessoas com mais de 60 anos na população
brasileira cresceu em um ritmo superior à média mundial.
Isso é mais um indicador
de que nesse período melhoraram bastante as condições de vida do povo brasileiro.
Durante todo o século passado, a turma dos idosos no Brasil representava menos de 10% da população, uma média equivalente à dos países menos desenvolvidos no mundo.
Durante todo o século passado, a turma dos idosos no Brasil representava menos de 10% da população, uma média equivalente à dos países menos desenvolvidos no mundo.
Em 2015, a taxa atingiu
14,3%, contra 9,8% registrados em 2005. O índice do país, destaca o relatório
do IBGE, está se aproximando da taxa projetada em países desenvolvidos. E mais
de três quartos dessa turma (75,6%) de maiores de 60 anos era aposentado ou
pensionista em 2015.
A gente vai continuar
vivendo, apesar das reclamações em contrário.
A ONU (Organização das
Nações Unidas) informa que idosos representavam 12,3% da população global no
ano passado. E projeta que essa taxa deve dobrar em 55,8 anos.
No Brasil será tudo mais
rápido, ainda segundo os cálculos da ONU: a turma dos velhinhos deve dobrar em
24,3 anos. E olha que a base de cálculo deles é inferior à real: estimavam que,
em 2015, a população brasileira de maiores de 60 anos fosse de 11,7 do total,
quando, como constatou o IBGE, essa taxa foi de mais de 14%.
Estamos vivendo
mais –e melhor, muitas vezes--, mas a sociedade parece refratária à nossa capacidade de contribuição para o bem comum e o enriquecimento geral. Isso fica claro na análise feita sobre a presença de velhos no mercado de trabalho.
De 2005 a 2015 houve
queda de 62,7% para 53,8% na proporção de pessoas com 60 anos ou mais que
estavam empregadas e recebiam aposentadoria.
O nível de ocupação dos idosos, no geral, também caiu nesse período, passando de 30,2% para 26,3%.
O nível de ocupação dos idosos, no geral, também caiu nesse período, passando de 30,2% para 26,3%.
Quase dois terços dos
empregados trabalham por salários baixos ou muito baixos, em ocupações que
exigem pouca qualificação. Segundo o relatório, 65,5% dos idosos empregados
tinham como nível de instrução o ensino fundamental incompleto, "o que
desnuda uma inserção em postos de trabalho que exigem menor qualificação".
Para piorar as coisas, a
maioria de nós chega à velhice alquebrada por muitos e muitos anos de trabalho.
Eu me aposentei oficialmente depois de 40 anos de trabalho, mas há muita gente,
MUITA GENTE, que enfrenta períodos ainda mais longos, como informa o IBGE.
Entre os maiores de
sessenta anos que continuam ocupados, 24,7% começaram trabalhar com MENOS DE
NOVE ANOS DE IDADE, e 43% fizeram sua estreia no mercado de trabalho entre os
dez e os 14 anos. O estudo ressalta que “o trabalho para os menores de 14 anos
é proibido pelas leis atualmente em vigor", acrescenta.
Enfim, os números gerais
provocam alento e indicam um país melhor, mas também apontam problemas graves
que a sociedade precisa enfrentar para termos uma nação mais justa, que propicie
oportunidades a todos.
A justiça não está em tratar todo mundo do mesmo jeito,
mas sim em tratar desigualmente os desiguais.
Enquanto isso, sigo na
minha caminhada. Hoje estou mais perto dos seiscentos quilômetros do que ontem.
VAMO QUE VAMO!!!
600
aos 60 – etapa 18 – 2016 dez 02
4,14 km caminhados em 48min58
Quilometragem acumulada: 65,16 km
Tempo acumulado: 14h11min55
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