Setenta e nove homens e mulheres assassinados por agentes da
ditadura militar brasileira foram sepultados em São Paulo, a maioria deles como
indigentes, em valas comuns.
“Para esconder as marcas de tortura e a verdadeira causa da morte dos militantes políticos, encenadas como
tiroteios ou suicídios, muitas vezes o caixão era entregue à família lacrado e
as cerimônias fúnebres acompanhadas pelos agentes da repressão.
Na maior parte das
vezes, o corpo sequer era entregue à família, mas sim sepultado
clandestinamente nos cemitérios municipais da Prefeitura. Esta Comissão
identificou 47 militantes políticos enterrados como indigentes, muitas vezes
com identidade falsa, sem o conhecimento de seus familiares, em uma ação
coordenada com os órgãos de repressão e o Instituto Médico Legal. Para impedir
a descoberta dos crimes, foram feitas alterações nas ruas e quadras do
cemitério de Vila Formosa e criada a vala clandestina em Perus, os dois
cemitérios onde a maioria dos corpos foram sepultados. Tais ações impedem até
hoje a localização e identificação de 17 vítimas da ditadura sepultadas na
capital, como apontam os documentos
oficiais.”
O texto acima faz parte do pronunciamento de Tereza Lajolo,
presidente da Comissão da Memória e da Verdade da Prefeitura de São Paulo,
realizado durante a cerimônia oficial de apresentação dos resultados do
trabalho ao prefeito Fernando Haddad.
O evento foi realizado no auditório da Prefeitura de São
Paulo, no histórico prédio Matarazzo, no viaduto do Chá, que foi o destino de
minha caminhada de hoje, trigésimo-primeiro dia de minha jornada para tentar
completar um percurso de seiscentos quilômetros até 14 de fevereiro, quando
completo sessenta anos.
Tive a alegria de mais uma vez encontrar em um palco da
defesa dos direitos humanos o ex-líder sindical, jornalista e escritor Audálio
Dantas, que integrou a comissão.
Também encontrei o eterno senador por São Paulo, Eduardo
Suplicy, o ex-deputado e superativista Adriano Diogo, membro da comissão, e
muitos outros ex-presos políticos, lutadores que não abandonam o campo e seguem
firmes no combate por um mundo melhor.
A cerimônia culminou com o discurso de Fernando Haddad, que
fez o pedido de desculpas oficial às vítimas e aos familiares de vítimas da
ditadura militar em São Paulo.
O discurso de Lajolo fez um breve resumo das conclusões da
comissão; por isso, faço dele a conclusão desta mensagem.
Acompanhe, ao longo
do texto, entradas com pequenos vídeos com depoimentos de cada um dos membros
da Comissão da Memória e da Verdade; também filmei a fala de Haddad.
Segue, então, o pronunciamento de Tereza Lajolo.
“Para que o país alcance
a plena democracia é necessário que a verdade sobre sua história seja
conhecida, bem como a justiça e as reparações sejam feitas. As violações aos
direitos humanos cometidas pelo Estado na ditadura militar começaram a ser
denunciadas ainda durante a repressão. Desde então, uma série de publicações,
ações judiciais e Comissões de Inquérito buscaram investigar o que aconteceu
neste período. A instalação da Comissão Nacional da Verdade, em 2012, foi um
marco, e revelou um capítulo importante da história do nosso país e deu um novo
impulso à busca pela verdade.
A Comissão da Memória
e Verdade da Prefeitura de São Paulo nasce neste contexto, com a missão de
compreender o papel da Prefeitura de São Paulo na repressão, ao colaborar com a
organização e manutenção dos aparatos da repressão, assim como investigar os
crimes cometidos contra agentes públicos municipais.
Os trabalhos desta
Comissão começaram em 25 de setembro de 2014 e se estenderam por 27 meses – os
dois anos previstos pela lei nº 16.012/2014, que a criou, somados à uma
prorrogação de 3 meses para a finalização do relatório que hoje é entregue à
Prefeitura e à sociedade. Em sua primeira formação, foi composta pelos membros
Audálio Dantas, Cesar Cordaro, Fermino Fechio, Fernando Morais e Tereza Lajolo.
Com a renúncia de Cesar Cordaro e Fernando Morais, foram nomeados membros da
Comissão Adriano Diogo, em abril de 2015, e Camilo Vannucchi, em fevereiro de
2016.
Ao longo do mandato
desta Comissão, foram realizadas 14 audiências públicas, além de oitivas e extensas
pesquisas em arquivos da Prefeitura, da Câmara Municipal, da Alesp, no Arquivo
Nacional, entre outros tantos.
Falar em violações aos
direitos humanos imediatamente remete às mortes, torturas, desaparecimentos e
ocultação de cadáveres cometidos durante a ditadura militar. Mas além de
investigar os episódios e denúncias relacionadas às estas graves violações,
esta Comissão também se debruçou sobre as violações aos direitos, como
demissões, perseguições, aposentadoria forçada, associadas ao modus operandi da
ditadura e praticadas pela Prefeitura de São Paulo.
A pesquisa ao longo
desses dois anos revelou a participação e a colaboração da Prefeitura Municipal
com o sistema repressivo. Desde o golpe de 1964, uma série de atos
institucionais e decretos foram criados para inibir e perseguir quem lutava
contra a ditadura, as organizações políticas, movimentos sociais e os
servidores municipais.
O sistema da ditadura se estrutura e passa a
trabalhar de forma totalmente articulada em 1970, com a criação do Sistema de
Segurança Interna. Neste momento, a Prefeitura estreita a contribuição com
aparelhos como o Doi-CODI, o Deops, e todo o mecanismo da repressão. A
investigação desta Comissão revelou um constante monitoramento praticado pela
Prefeitura, além da perseguição aos sindicatos e trabalhadores, aposentadorias
forçadas e repressão aos movimentos sociais. As violações extrapolam o período
da ditadura militar. Conforme determinou a lei que criou esta Comissão, o
período entre 1985 e 1988 também é alvo de nossas investigações.
Em 1985, foram
realizadas as primeiras eleições municipais, que escolheram o ex-presidente
Jânio Quadros como prefeito de São Paulo. Seu governo, no entanto, foi marcado
por violações de direitos humanos e repressão política e social, claramente
influenciadas pela doutrina de segurança nacional. O período foi marcado pela criação
da Guarda Civil Metropolitana, que participou da repressão aos movimentos
sociais, além das mais de mil demissões de funcionários públicos grevistas.
Neste sistema
coordenado com as esferas federal e estadual, a Prefeitura colaborou com a
ocultação de cadáveres nos cemitérios municipais de São Paulo, subordinados ao
Serviço Funerário do Município. As pesquisas desta Comissão revelaram que foram
sepultadas na capital 79 vítimas da ditadura militar. Para esconder as marcas
de tortura e a verdadeira causa da morte dos militantes políticos, encenadas
como tiroteios ou suicídios, muitas vezes o caixão era entregue à família
lacrado e as cerimônias fúnebres acompanhadas pelos agentes da repressão.
Na maior parte das
vezes, o corpo sequer era entregue à família, mas sim sepultado
clandestinamente nos cemitérios municipais da Prefeitura. Esta Comissão
identificou 47 militantes políticos enterrados como indigentes, muitas vezes
com identidade falsa, sem o conhecimento de seus familiares, em uma ação
coordenada com os órgãos de repressão e o Instituto Médico Legal. Para impedir
a descoberta dos crimes, foram feitas alterações nas ruas e quadras do
cemitério de Vila Formosa e criada a vala clandestina em Perus, os dois
cemitérios onde a maioria dos corpos foram sepultados. Tais ações impedem até
hoje a localização e identificação de 17 vítimas da ditadura sepultadas na
capital, como apontam os documentos oficiais.
A condição de
indigência, que foi usada para desaparecer com o corpo de opositores políticos
na ditadura, até hoje impede que muitas famílias tenham o direito de sepultar
seus parentes. Um levantamento do Ministério Público Estadual identificou que
muitos corpos são enterrados como desconhecidos nos cemitérios municipais
apesar de dados que permitam sua identificação. Tal recurso é uma ameaça
especialmente contra a população que vive na periferia e é alvo da Polícia
Militar, que pode usar a condição de indigente para ocultar seus crimes, como
fazia a ROTA na década de 80.
Por essa razão, o
conhecimento do passado é tão importante para a construção da democracia. A pergunta
que temos que fazer é como vamos trabalhar para que as violações cometidas
durante o período da ditadura militar nunca
mais se repitam.“
Ao que eu digo:
DITADURA NUNCA MAIS!!!
VAMO QUE VAMO!!!
DITADURA NUNCA MAIS!!!
VAMO QUE VAMO!!!
600
aos 60 – etapa 31 – 2016 dez 15
5,30 km caminhados em 1h02min59
Quilometragem acumulada: 138,16 km
Tempo acumulado: 28h45min58
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