Meu desjejum de corredor hoje transformado em caminhante é
simples, ainda que não frugal.
Antes dos treinos, como uma mistura de granola e aveia com
banana amassada, bebendo apenas um canecão de chá sem açúcar.
A questão é que essa tal de granola já está me dando nos
nervos. A relação de ingredientes está publicada na embalagem; muitos deles são
vistos a olho nu. A gente nuca sabe, porém, como a mistureba foi feita: cozido
com que óleo, frito, assado, foi açúcar ou adoçante mel ou melado, daqui ou
dacolá.
Algumas são muito boas, agradam ao meu paladar; outras têm
um travão desagradável. E os preços estão ficando também cada vez mais
desagradáveis.
Vai daí que venho criando uma mistura que combina mais ou
menos uma parte de granola tradicional –em geral, light—como quatro partes de
aveia em flocos. Ainda deixo a granola para dar um gostinho diferente e para
atiçar os dentes, tornar o conjunto um pouco crocante.
A cada dia que faço minha meleca, porém, fico menos
satisfeito com essas coisas compradas prontas, ainda que apresentada como artesanais,
naturebas e quejandos.
Hoje resolvi tomar uma atitude que alimenta: aproveitei a
caminhada do dia para fazer uma visita ao Mercado Municipal da Lapa, também
chamado Mercadão da Lapa, que tem por nome oficial Mercado Municipal Rinaldo
Rivetti (antigo morador da Lapa que sempre lutou por melhorias no bairro).
Apesar de o Google indicar uma distância de cerca de cinco
quilômetros, resolvi encarar, mesmo sabendo dos riscos –meu ortopedista
recomenda que os trechos diários fiquem em torno de 3.500 metros, e eu estou
tentando obedecer para manter vivo o sonho de chegar aos 600 quilômetros
percorridos até o próximo dia 14 de fevereiro.
Inventei caminhos próprios, entrei por quebradas da Vila
Romana e passei pela praça Diogo do Amaral, onde fica a nascente do córrego Água Preta, um
dos tantos que irrigam as entranhas da cidade.
Fiquei sabendo isso porque há um grupo de ativistas
que percorre a cidade mapeando nascentes de rios e córregos hoje destruídos ou
semidestruídos, enterrados, cheios de cimento e aço. Esse grupo, com que
pretendo percorrer caminhos da cidade ao longo deste projeto, também faz a
revitalização da nascente, cria um pequeno laguinho, que já tem até peixes.
É muito bacana, um sopro de vida e alegria no asfalto
paulistano.
Cruzando por lá, segui para a Lapa até o imponente prédio do
mercado, umas construção que, na sua época, teve arquitetura inovadora –provavelmente
as limitações do terreno deram assas à imaginação do arquiteto, que projetou um
prédio triangular.
Segundo o portal da Prefeitura de São Paulo, o mercado tem uma
área construída de 4.840m². Quando da inauguração, só havia 40 boxes dos 160
planejados estavam prontos, a maior parte deles ocupados por comerciantes de um
extinto mercadinho da Rua Clélia, quase todos imigrantes recém-chegados da
Europa, principalmente da Itália.
A inauguração foi em data trágica para o Brasil: 24 de agosto
de 1954, dia do suicídio do presidente Getúlio Vargas. Por isso mesmo, pouco
depois das cerimônias de abertura tratou de cerrar as portas para acompanhar o
luto que cobriu a nação.
Hoje o mercado da Lapa é um mar de tentações para quem gosta
de comer, beber ou simplesmente desfrutar de cores e aromas. É limpo, bem
organizado e, se o cliente visitar o terreno fora dos horários de pico, até que
dá para caminhar com conforto pelas alamedas entre os boxes.
Na manhã
de hoje, estava uma beleza.
Consegui me conter para não comprar tudo o que via: queijos,
linguiças, embutidos vários, carne seca, bacalhau, peixes frescos, cernes,
verduras, salgadinhos, doces, guloseimas sem fim. Fiquei quase louco, mas me
contentei em a tudo comer com os olhos.
Estava em missão: comprar os ingredientes para eu mesmo
produzir minha mistura de desjejum.
A ideia não era fazer granola em casa. Não.
A coisa é mais simples, ainda que mais movimentada. Não há
receita. Sempre que eu fizer, será diferente, seja pela mudança de ingredientes
seja pelo efeito da combinação das porções.
Simplesmente comprei um monte de coisa de que gosto ou que
são saudáveis –pelo menos, supostamente—e juntei com aveia em flocos grossos e
aveia em flocos bem finos, quase farinha, mas sem ser farinha.
Chegando em caso, iniciei a combinação dos ingredientes:
chia, linhaça, quinoa, amendoim, bananinha desidrata, frutas desidratas, nozes
picadas e por aí vai.
O teste fica para amanhã. Vai ficar bom, tenho certeza. Quem
sabe esteja aí um filão para uma nova área de empreendimento?
Vamos a veire, como diria o portuga da esquina.
E nós?
Vamo que vamo!
600
aos 60 – etapa 17 – 2016 dez 01
4,81 km caminhados em 1h03min22
Quilometragem acumulada: 65,16 km
Tempo acumulado: 13h22min57
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