Conheço muito pouco dos
intestinos das religiões. Como qualquer um que leia jornais, acompanhe o
noticiário e procure conversar com quem saiba mais sobre o mundo, tenho alguma
noção dos caminhos e descaminhos políticos de cada uma e sou fã do papa
Francisco.
Com esses parcos
conhecimentos, minha impressão é de que, em grande parte de seu tempo útil, as
diversas denominações religiosas têm entre si certa atitude beligerante, cada
qual tentando cooptar para si a crença de mais fiéis.
Para usar uma palavra da
moda, cada uma tem sua narrativa particular sobre origens do universo e existência
de um ou mais seres superiores que comandam as engrenagens do sistema. E cada
uma trata de tentar fazer com que sua narrativa seja a preponderante, a
hegemônica.
Hoje não foi assim. Num
belo exemplo de irmandade e fraternidade, representantes de diversas
denominações religiosas participaram de um culto ecumênico para celebrar o Dia
Universal dos Direitos Humanos.
A cerimônia, organizada
pelo Coletivo Democracia Corintiana e pela Comissão de Justiça e Paz, foi
realizada na catedral da Sé, destino de hoje de minha caminhada, que também
homenageou o aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Direitos tão agredidos nos
tempos em que vivemos, no mundo e no Brasil. Essa foi a denúncia presente nos
depoimentos de todos os celebrantes do ato –representantes do catolicismo, do
islamismo, do judaísmo e de religiões de
matriz africana; um pastor do grupo Evangélicos Pela Democracia também deveria
participar, mas não conseguiu chegar a tempo.
O discurso do padre Jaime
Crowe, que nesta segunda-feira recebe o Prêmio Dom Paulo Evaristo Arns de
Direitos Humanos, foi o mais contundente. Denunciou as mortes da população de
rua e os ataques da polícia à juventude, especialmente os jovens “pobre, pretos
e periféricos”.
Também apontou que a “PEC
da Morte” atenta contra os direitos mais elementares dos cidadãos brasileiros.
De fato, a proposta de
emenda constitucional feita pelo governo golpista do Usurpador Michel Temer que
congela investimentos em saúde e educação pelos próximos vinte anos já foi
considerado crime até pela ONU.
Em nota distribuída ontem,
o relator especial daa Nações Unidas para extrema pobreza e direitos humanos, Philip
Alson, diz que o efeito “inevitável” da medida será o prejuízo aos mais pobres
nas próximas décadas.
Afirma que, se adotada, “vai
atingir com mais força os brasileiros mais pobres e mais vulneráveis,
aumentando os níveis de desigualdade em uma sociedade já extremamente desigual
e, definitivamente, assinala que para o Brasil os direitos sociais terão muito
baixa prioridade nos próximos vinte anos”.
Para piorar as coisas, não
há evidência de que as medidas venham a atingir os resultados desejados. Ao
contrário, segundo diz Alson: “Estudos econômicos internacionais, incluindo
pesquisas do Fundo Monetário internacional, mostram que a consolidação fiscal
tipicamente tem efeitos de curto prazo, reduzindo a renda, aumentando o
desemprego e a desigualdade de renda. A longo prazo, não existe evidência
empírica que sugira que essas medidas alcançarão os objetivos sugeridos pelo
Governo”.
O povo segue lutando.
Enquanto isso, é bom sonhar.
A bela imagem de São Paulo depois da chuva ajuda,
assim como a maravilhosa poesia de Thiago de Mello. O texto que reproduzo a
seguir foi escrito no exílio, em Santiago do Chile, logo depois do golpe
militar que, em 1964, atacou a democracia, a vida e a liberdade dos brasileiros.
ESTATUTO DO HOMEM
(Ato Institucional Permanente)
Artigo I
Fica decretado que
agora vale a verdade,
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida
verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da
semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs
de
domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste
instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o
dia
inteiro,
abertas para o verde onde cresce a
esperança.
Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro
menino.
Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo
gosto de
aurora.
Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da
claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do
povo.
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
o uso do traje branco.
Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.
Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma
espada
fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.
VAMO
QUE VAMO!!!
600
aos 60 – etapa 26 – 2016 dez 10
6,36 km caminhados em 1h25min09
Quilometragem acumulada: 107,30 km
Tempo acumulado: 23h14min42
Boa noite !! Sem opressão !! Esperança de um dia melhor !! Futuro ...
ReplyDeleteBoa noite !! Sem opressão !! Esperança de um dia melhor !! Futuro ...
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