10.12.16

Religiões se unem em ato em defesa dos direitos humanos

Conheço muito pouco dos intestinos das religiões. Como qualquer um que leia jornais, acompanhe o noticiário e procure conversar com quem saiba mais sobre o mundo, tenho alguma noção dos caminhos e descaminhos políticos de cada uma e sou fã do papa Francisco.
Com esses parcos conhecimentos, minha impressão é de que, em grande parte de seu tempo útil, as diversas denominações religiosas têm entre si certa atitude beligerante, cada qual tentando cooptar para si a crença de mais fiéis.
Para usar uma palavra da moda, cada uma tem sua narrativa particular sobre origens do universo e existência de um ou mais seres superiores que comandam as engrenagens do sistema. E cada uma trata de tentar fazer com que sua narrativa seja a preponderante, a hegemônica.
Hoje não foi assim. Num belo exemplo de irmandade e fraternidade, representantes de diversas denominações religiosas participaram de um culto ecumênico para celebrar o Dia Universal dos Direitos Humanos.
A cerimônia, organizada pelo Coletivo Democracia Corintiana e pela Comissão de Justiça e Paz, foi realizada na catedral da Sé, destino de hoje de minha caminhada, que também homenageou o aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Direitos tão agredidos nos tempos em que vivemos, no mundo e no Brasil. Essa foi a denúncia presente nos depoimentos de todos os celebrantes do ato –representantes do catolicismo, do islamismo, do  judaísmo e de religiões de matriz africana; um pastor do grupo Evangélicos Pela Democracia também deveria participar, mas não conseguiu chegar a tempo.
O discurso do padre Jaime Crowe, que nesta segunda-feira recebe o Prêmio Dom Paulo Evaristo Arns de Direitos Humanos, foi o mais contundente. Denunciou as mortes da população de rua e os ataques da polícia à juventude, especialmente os jovens “pobre, pretos e periféricos”.
Também apontou que a “PEC da Morte” atenta contra os direitos mais elementares dos cidadãos brasileiros.
De fato, a proposta de emenda constitucional feita pelo governo golpista do Usurpador Michel Temer que congela investimentos em saúde e educação pelos próximos vinte anos já foi considerado crime até pela ONU.
Em nota distribuída ontem, o relator especial daa Nações Unidas para extrema pobreza e direitos humanos, Philip Alson, diz que o efeito “inevitável” da medida será o prejuízo aos mais pobres nas próximas décadas.
Afirma que, se adotada, “vai atingir com mais força os brasileiros mais pobres e mais vulneráveis, aumentando os níveis de desigualdade em uma sociedade já extremamente desigual e, definitivamente, assinala que para o Brasil os direitos sociais terão muito baixa prioridade nos próximos vinte anos”.
Para piorar as coisas, não há evidência de que as medidas venham a atingir os resultados desejados. Ao contrário, segundo diz Alson: “Estudos econômicos internacionais, incluindo pesquisas do Fundo Monetário internacional, mostram que a consolidação fiscal tipicamente tem efeitos de curto prazo, reduzindo a renda, aumentando o desemprego e a desigualdade de renda. A longo prazo, não existe evidência empírica que sugira que essas medidas alcançarão os objetivos sugeridos pelo Governo”.
O povo segue lutando. Enquanto isso, é bom sonhar.
A bela imagem de São Paulo depois da chuva ajuda, assim como a maravilhosa poesia de Thiago de Mello. O texto que reproduzo a seguir foi escrito no exílio, em Santiago do Chile, logo depois do golpe militar que, em 1964, atacou a democracia, a vida e a liberdade dos brasileiros.



ESTATUTO DO HOMEM

   (Ato Institucional Permanente)
 
                                          
 
    Artigo I
 
  
Fica decretado que 

agora vale a verdade,

agora vale a vida,

e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida 

verdadeira.
 
 
   Artigo II

   Fica decretado que todos os dias da 

semana,

   inclusive as terças-feiras mais cinzentas,

   têm direito a converter-se em manhãs 

de domingo.
 
 
   Artigo III
 
   Fica decretado que, a partir deste 

instante,

   haverá girassóis em todas as janelas,

   que os girassóis terão direito

   a abrir-se dentro da sombra;

   e que as janelas devem permanecer, o 

dia inteiro,

   abertas para o verde onde cresce a 

esperança.
 
 
   Artigo IV
 
   Fica decretado que o homem

   não precisará nunca mais

   duvidar do homem.

   Que o homem confiará no homem

   como a palmeira confia no vento,

   como o vento confia no ar,

   como o ar confia no campo azul do céu.


 
           Parágrafo único:
 
           O homem, confiará no homem

           como um menino confia em outro 

menino.
 
 
   Artigo V
 
   Fica decretado que os homens

   estão livres do jugo da mentira.

   Nunca mais será preciso usar

   a couraça do silêncio

   nem a armadura de palavras.

   O homem se sentará à mesa

   com seu olhar limpo

   porque a verdade passará a ser servida

   antes da sobremesa.
 
 
   Artigo VI
 
   Fica estabelecida, durante dez séculos,

   a prática sonhada pelo profeta Isaías,

   e o lobo e o cordeiro pastarão juntos

   e a comida de ambos terá o mesmo 

gosto de aurora.

 
 
   Artigo VII

   Por decreto irrevogável fica estabelecido

   o reinado permanente da justiça e da 

claridade,

   e a alegria será uma bandeira generosa

   para sempre desfraldada na alma do 

povo.
 
 
   Artigo VIII
 
   Fica decretado que a maior dor

   sempre foi e será sempre

   não poder dar-se amor a quem se ama

   e saber que é a água

   que dá à planta o milagre da flor.

 
 
   Artigo IX

   Fica permitido que o pão de cada dia

   tenha no homem o sinal de seu suor.

   Mas que sobretudo tenha

   sempre o quente sabor da ternura.
 
 
   Artigo X

   Fica permitido a qualquer pessoa,

   qualquer hora da vida,

   o uso do traje branco.
 
 
   Artigo XI
 
   Fica decretado, por definição,

   que o homem é um animal que ama

   e que por isso é belo,

   muito mais belo que a estrela da manhã.

 
 
   Artigo XII
 
   Decreta-se que nada será obrigado

   nem proibido,

   tudo será permitido,

   inclusive brincar com os rinocerontes

   e caminhar pelas tardes

   com uma imensa begônia na lapela.


 
           Parágrafo único:
 
           Só uma coisa fica proibida:

           amar sem amor.
 
 
   Artigo XIII
 
   Fica decretado que o dinheiro
   
   não poderá nunca mais comprar
   
   o sol das manhãs vindouras.
   
   Expulso do grande baú do medo,
   
   o dinheiro se transformará em uma 

espada fraternal

   para defender o direito de cantar

   e a festa do dia que chegou.
 
 
   Artigo Final. 
   
   Fica proibido o uso da palavra liberdade,

   a qual será suprimida dos dicionários

   e do pântano enganoso das bocas.

   A partir deste instante

   a liberdade será algo vivo e transparente

   como um fogo ou um rio,

   e a sua morada será sempre

   o coração do homem.



VAMO QUE VAMO!!!





600 aos 60 – etapa 26 – 2016 dez 10

6,36 km caminhados em 1h25min09

Quilometragem acumulada: 107,30 km

Tempo acumulado: 23h14min42



2 comments:

  1. Boa noite !! Sem opressão !! Esperança de um dia melhor !! Futuro ...

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  2. Boa noite !! Sem opressão !! Esperança de um dia melhor !! Futuro ...

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