Perdão, leitores, mas hoje este seu blogueiro vai mudar de
assunto.
Deixo por instantes nossas queridas corridas e maratonas
para entrar nos campos sagrados do futebol e mandar minha saudação para Carlos
Alberto Torres, o capitão do Tri, que foi jogar em outras paragens.
Homenagem atrasada, por certo, devido a circunstâncias da
vida; mas não por isso feita com menor carinho.
Carlos Alberto, o gol de Carlos Alberto na final da Copa de
70, para ser mais exato, é uma das mais gloriosas memórias do início de minha
adolescência.
Mais tarde, com mais capacidade para compreender os meandros
da bola e as diabruras do esporte, entendi por que aquele momento foi tão
lindo, tão brilhante. Aquele gol guardava em si a essência do futebol, de tudo
o que há de bom no futebol: o engenho e a arte, a violência, a concatenação, o
espírito de grupo, as parcerias, a surpresa, o disparo final.
Carlos Alberto também achava isso, como ele me contou em uma
conversa que tivemos por telefone há mais de dez anos, quando ele estava meio
que encostado do esporte, desempregado depois de ter, como técnico, contribuído
para livrar o Flamengo do rebaixamento no Brasileirão.
A entrevista com o capitão foi parte de um especial que fiz
sobre os 40 anos da primeira edição dos Jogos Pan-Americanos realizada no
Brasil (São Paulo-1963). Tive a honra de conversar com quase todos os
brasileiros que conquistaram medalha de ouro naquele Pan –um dia isso acaba
virando livro.
Bom, enquanto esse dia não chega, deixo com você, como
homenagem ao grande Carlos Alberto Torres, a íntegra da entrevista que fiz com
ele.
Trata-se de um raro momento em que o capitão revisita a
juventude dele mesmo. O texto foi originalmente publicado na então Folha
Online, o braço internético da Folha.
RODOLFO LUCENA:
Carlos Alberto, como foi sua participação no Pan de 1963?
CARLOS ALBERTO
TORRES: Eu era jogador do Fluminense, já era titular do time profissional.
Tinha 18 anos. Em 1963 teve um fato que para mim marcou, eu não esqueço, porque
já naquela época eu era apontado como futuro titular da seleção brasileira. E a
seleção brasileira, na mesma época do Pan, teve uma excursão para a Europa. Foi
até uma excursão meio..., que não foi bem, não é? O time sofreu, perdeu da
Bélgica, parece que de 5 a 1 [exatamente], quer dizer, não foi bem a seleção,
mas eu estava cotadíssimo para jogar naquela seleção que foi para a Europa. Foi
o próprio João Havelange, que era presidente da CBD, na época, que não permitiu
que eu fosse. Ele falou que eu teria que jogar o Pan-Americano. Quer dizer, foi
bom para a minha carreira, primeiro porque eu não fui naquela excursão em que
os resultados foram péssimos, e segundo porque pude jogar o Pan-Americano e
ganhar o título, não é?
RODOLFO LUCENA: Como
foi sua carreira até chegar ao Pan? Como você começou?
CARLOS ALBERTO
TORRES: Ah, eu morava na Vila da Penha, que é o berço de vários jogadores:
Romário, Wanderley Luxemburgo, meu próprio filho Alexandre Torres também
começou lá, enfim, e outros jogadores, na época, porque era onde havia campos
de pelada. Dali eu fui para o Fluminense, com 15 anos, 15 para 16, jogar no
juvenil. E, com apenas dois anos, você veja, que isso aí foi no ano de 60, eu
tinha 15 para 16 anos, início de 60, antes de três anos, eu já era titular do
time do Fluminense, do juvenil até o time principal.
RODOLFO LUCENA: E daí
você já estava ganhando? Ou seja, estava vivendo do futebol?
CARLOS ALBERTO
TORRES: Já dava um pouquinho, não é? Comprar um carrinho usado, um
Volkswagen, não um carrinho importado como é hoje. Em 63, eu comprei um
Volkswagen 60.
RODOLFO LUCENA: Foi a
sua primeira compra com o que ganhava no futebol?
CARLOS ALBERTO
TORRES: É, foi a primeira coisa mesmo, porque eu tinha dificuldade, porque
eu morava na Vila da Penha e para chegar nas Laranjeiras, onde eu treinava, ou
ia de ônibus ou pegava carona, não é? Com quem morasse na Vila da Penha e
morasse na cidade. Eu levava mais de uma hora, uma hora e meia pelo menos, para
ir da minha casa até as Laranjeiras. Então, a compra do carro foi mais uma
questão de me facilitar a ida para as Laranjeiras, diariamente, não é.
RODOLFO LUCENA: E
como foi no Fluminense?
CARLOS ALBERTO
TORRES: Então, eu comecei no juvenil em 60. Em 62, eu comecei a ter as
primeiras oportunidades com Zezé Moreira, que era o técnico do time principal.
Ele me colocava sempre em alguns jogos do time principal. Depois, a minha
oportunidade real de me tornar titular do Fluminense foi num Torneio Rio-São
Paulo em 63. Aí o Jair Marinho era o titular, eu era do time juvenil e
aspirante. Naquela época, eles aproveitavam o time juvenil para jogar no
aspirante, porque naquela época não tinha categoria de juniores, então, até 18
anos mesmo era juvenil. Aí, o Jair Marinho, infelizmente, teve um lance no jogo
contra o Botafogo pelo Torneio Rio-São Paulo, fraturou a perna, num lance com o
Amarildo, e eles me pegaram no juvenil e me colocaram no titular e eu fiquei.
Isso foi no início de 63, fevereiro, março, alguma coisa assim, quer dizer,
ainda tinha 18 anos, ainda ia completar 19 naquele ano em julho e aí fiquei
como titular.
E ainda teve outro fato, que era o Torneio Rio-São Paulo
acontecendo enquanto tinha também o Pan, não é. Nós ficamos concentrados no
Morumbi. Naquela época, não tinha nada ali, tinha só o campo do São Paulo e
meia dúzia de casas, daquelas casas bonitas que tem hoje, não é? Então, nós
treinávamos lá e ficamos concentrados um mês, mais ou menos, nos preparando
para o Pan-Americano.
Eu me lembro que, naquela época, quando nós estávamos
concentrados, o Fluminense foi jogar no Pacaembu contra o Santos. Foi um puta
dum jogo. Aí eu fui convocado pelo Fluminense e fui liberado pela CBD, na
época, e eles me permitiram que eu jogasse esse jogo contra o Santos. Foi um
sábado à noite no Pacaembu, eu me lembro que nós ganhamos de 4 a 2 do Santos. O
grande Santos, e eu garoto... Rapaz, foi, eu lembro, uma emoção filha da mãe
para mim, eu joguei muito bem e o Fluminense ganhou de 4 a 2. Um detalhe
interessante que eu não consigo esquecer no decorrer do jogo, porque eu ia
muito para a frente e voltava, porque naquela época tinha o ponta para marcar.
Hoje, não, hoje o cara só vai, não é? Naquela época, a gente tinha que ir e
voltar para marcar o ponta. O ponta do Santos era o Pepe. O Pepe era um grande
jogador. E eu lembro que o Pelé falava para o Pepe: "Pepe, não volta, não,
que o garoto aí vai muito para a frente, vou meter a bola nas costas
dele". Mas só que eu era muito rápido, eu chegava muito junto no Pepe, não
é? Eu ia, eles metiam a bola lá, eu chegava e tomava a bola do Pepe. Foi um
jogo assim. Tive muitos jogos na carreira, mas esse em especial tem detalhes
que a gente não esquece. E, aí voltei depois do jogo para a concentração do
Morumbi.
RODOLFO LUCENA: E
como era a concentração?
CARLOS ALBERTO
TORRES: Veja bem, o técnico nosso era o Antoninho, não é? O Antoninho, que
depois viria a ser olheiro da seleção. Antoninho foi quem, praticamente,
descobriu os grandes jogadores aí hoje no futebol. Ele faleceu há uns dois ou
três anos, infelizmente. Bom, e o Antoninho era o técnico do Fluminense também,
mas ele estava se dedicando naquele momento a preparar a seleção. O Antoninho
era um cara bacana. Nós ficamos muito tempo lá concentrados, aproximadamente um
mês, eu não sei te dizer exatamente o tempo, mas foi mais ou menos um mês
porque existia um interesse muito grande da CBD em preparar um time para ser
campeão. A competição sendo disputada aqui no Brasil, então, eles queriam que a
gente, realmente, conseguisse alcançar o título, e o Antoninho era um cara
muito legal e pelo fato de a gente ficar lá no Morumbi que, naquela época, não
tinha nada. Tinha o campo do Morumbi e não tinha mais nada. O Palácio do
Governo naquela época já existia e não tinha absolutamente mais nada.
A gente ficava ali. A concentração do São Paulo, no estádio,
eu acho que ainda existe, os quartos. Então, era grande, sabe? Tinha umas salas
para assistir televisão e jogos e a garotada, todos nós éramos bastante jovens,
então, todo mundo animado com a perspectiva de ganhar a medalha de ouro nos
Jogos Pan-Americanos. Então, era um ambiente gostoso que a gente tinha.
RODOLFO LUCENA: De
quem você lembra mais? Quem se destacou no futebol?
CARLOS ALBERTO
TORRES: A gente não pode esquecer, por exemplo, o Nenê, que era do Santos e
foi para a Itália, não é? Jogou, acho que até hoje ele vive lá na Itália. O
outro, o Luís Henrique, que hoje é supervisor aí, não é? Aliás, por sinal, o
melhor supervisor que existe aí no futebol brasileiro. O Arlindo, que foi para
o México e continua morando no México até hoje.
RODOLFO LUCENA: Você
lembra de um Airton Baptista Santos, que marcou oito gols contra os Estados
Unidos?
CARLOS ALBERTO
TORRES: Ele foi centro-avante do Flamengo, jogou na seleção. Em 64, no ano
seguinte, teve a Copa das Nações, foi a seleção principal e aí eu já fui como
titular, o Airton foi como reserva. O Jairzinho foi nessa seleção também, em
64.
RODOLFO LUCENA: Você
lembra dos adversários do Pan?
CARLOS ALBERTO
TORRES: O único adversário que eu lembro, sinceramente, é os Estados
Unidos, que nós metemos uma goleada neles.
RODOLFO LUCENA: Bem, o
Pan foi sua primeira conquista com a seleção. Conte como seguiu sua carreira?
CARLOS ALBERTO
TORRES: Você veja, aí eu já era titular do Fluminense. No ano seguinte, com
19 anos, titular da seleção brasileira, pô, barrei o Djalma Santos. Na Copa das
Nações, fomos convocado eu e o Djalma e eu fui o titular. Mas o Brasil não
ganhou o título não, quem ganhou o título foi a Argentina. Nós ganhamos da
Inglaterra, no Maracanã, perdemos da Argentina em São Paulo e ganhamos de
Portugal no Maracanã. Nós ficamos com o segundo lugar na Copa das Nações. Mas
aí já como titular.
Aí no ano seguinte, me transferi para o Santos, no início do
ano de 65 e continuei sendo convocado para a seleção. Várias vezes, apesar de
não ter ido à Copa do Mundo de 66, que até hoje eu não sei por quê. E o pessoal
daquela época também não sabe o porquê de eu não ter ido, porque já na época eu
era cotado como o melhor lateral do Brasil, não é? Era titular da seleção em
todos os jogos de preparação aqui no Brasil, jogos amistosos, e uma semana antes
anunciaram que eu não iria para a Copa do Mundo.
Foi assim uma decepção grande. A própria imprensa, o
torcedor ninguém entendendo por que eu não fui. Por outro lado, foi até bom,
porque o Brasil fracassou na Copa de 66.
Depois, em 67, eu já voltei a ser convocado para a seleção e
aí até já como capitão da seleção. Apesar da pouca idade, eu tinha 23 anos de
idade, mas o fato de já em 67 eu ser capitão do Santos. Depois que o Zito
abandonou o futebol, eu fui guindado à função de capitão do time do Santos, do
timaço do Santos, não é? E, com certeza, o fato de eu ser, na época, capitão do
time do Santos, que era o melhor time do Brasil e do mundo, ajudou a que eu
fosse escolhido capitão da seleção. E eu fiquei capitão da seleção até quando
eu parei de jogar na seleção brasileira.
RODOLFO LUCENA:
Apesar de ser lateral, você marcou uma quantidade razoável de gols em sua
carreira?
CARLOS ALBERTO
TORRES: É, eu fiz bastante gols. Olha, segundo uma vez me foi dado, eu fiz
acho que cerca de 85 gols, porque eu fiz muitos gols também no Fluminense, na
seleção brasileira, não é? Acho que foi 85 gols. Isso que me foi dado, não é?
Eu nunca me interessei muito. Naquela época, também a gente tinha poucos
recursos de estatísticas, de ter dados, filmes.
Eu não tenho nada. Da época em que eu joguei aqui no Brasil
eu não tenho nada de coisas minhas. Tenho algumas coisinhas da Copa de 70,
tenho alguns jogos. Jogos, não é? Mas não tenho assim de mim fazendo gols. Eu
não tenho da época, mesmo na época de Santos e do próprio Fluminense de 76,
antes de eu ir para os Estados Unidos, eu não tenho quase nada aqui comigo
guardado.
Em alguma época aí deste ano e do ano que vem, vou pegar uns
seis meses assim para fazer um levantamento de coisas minhas nas televisões, em
arquivos de jornais. Eu estou pensando em escrever um livro daqui a uns dois ou
três anos, então eu vou precisar de muita coisa que tem guardada aí nos
arquivos.
RODOLFO LUCENA:
Falando nisso, qual foi o momento mais emocionante da sua carreira, foi o gol
lá contra a Itália?
CARLOS ALBERTO
TORRES: Ah, foi. O gol é o grande momento do futebol. E aquele gol no fim
do jogo liquidou definitivamente com qualquer dúvida ou esperança que a seleção
italiana ou a própria torcida pudesse ter, não é? Os 3 a 1 contra um puta de um
time contra os italianos, de repente os caras podem até empatar, e aí a gente
está devendo futebol, não é? Mas o quarto gol eliminou qualquer chance que a
seleção da Itália pudesse ter ainda no jogo. E a jogada do gol não é? Porque
não é só o gol. O gol que eu fiz, tudo bem, eu que dei o chute final, mas a
jogada que antecedeu o gol é que foi uma coisa.
RODOLFO LUCENA: O
passe do Pelé?
CARLOS ALBERTO
TORRES: Não, começou lá atrás, com o Clodoaldo, não é? Ele driblou quatro
italianos só com o corpo, aí dali para o Rivelino, do Rivelino para o
Jairzinho, do Jairzinho para o Pelé e o Pelé dando aquele passe para mim. Quer
dizer, a jogada do gol foi muito bonita, não é? Porque, às vezes, a gente vê aí
em jogos jogadas maravilhosas, mas que não resultam em gol. Agora, foi uma
jogada sensacional, que resultou num gol.
RODOLFO LUCENA: E
envolveu o time?
CARLOS ALBERTO
TORRES: A metade do time. Porque eu não lembro, não sei se foi o Piazza ou
o Gerson, alguém tirou a bola do jogador italiano e deu para o Clodoaldo. Quer
dizer: já é um jogador, ou Piazza ou Gerson, Clodoaldo, Rivelino, três,
Jairzinho, quarto, Pelé, cinco e eu seis, metade do time, sem que os caras
tocassem na bola.
RODOLFO LUCENA: Foi
mais legal do que erguer a taça?
CARLOS ALBERTO
TORRES: Ali liquidou, não é? Então, a emoção maior, porque aí você junta a
feitura do gol com a certeza da conquista do título. Quer dizer, duas emoções
numa só e que, po, eu lembro que todo o time correu, na hora que eu fiz o gol.
Todo o time correu para cima de mim e todos nós nos congratulando, nos
abraçando e alguns chorando, entendeu?... Eu chorando.
Foi um negócio, logo após a feitura do gol, a marcação do
gol foi um momento que eu não esqueço, a gente não consegue esquecer e,
principalmente, porque até hoje você veja, em todo mundo, esse gol que eu fiz é
considerado até hoje o terceiro gol mais bonito de todas as Copas. Então,
quando tem Copa do Mundo lá vem o gol. Então, a gente não consegue esquecer.
Você veja, muita gente você pergunta, quem fez o primeiro gol do Brasil? Muita
gente não lembra. Quem fez o segundo? Agora, quem fez o último gol da Copa de
70? A maioria das pessoas lembra, porque marcou muito, não é?
Não é pelo gol, porque eu cheguei ali e dei uma porrada, bom
um passe daquele Pelé. Não foi um passe que eu chutei, driblei, não. A feitura
da jogada, na minha opinião é que marcou aquele gol que eu fiz.
RODOLFO LUCENA: E
depois você jogou até que ano?
CARLOS ALBERTO
TORRES: Joguei até 82, depois eu terminei jogando lá fora. Foi no ano de
81, mas num campeonato em que eu fui emprestado pelo Cosmos, fui lá, depois
retornei já com a intenção de terminar minha carreira. Já estava com 37 anos
para 38, mas aí o Cosmos pediu que eu jogasse mais um ano, que eles queriam me
homenagear e fizeram um jogo de despedida contra o Flamengo lá em New York, uma
festa muito bonita, por sinal.
RODOLFO LUCENA: O
futebol te enriqueceu?
CARLOS ALBERTO
TORRES: É, olha, enriqueceu pelos conhecimentos, experiência, entendeu?
Agora, não, que na época, quando você diz, na época em que eu jogava, não é? Eu
apenas adquiri experiência, conhecimento, enfim, mas financeiramente aquela não
se ganhava. Eu? Eu tenho certeza que se eu jogasse futebol hoje ficaria
bilionário, não era milionário, não, ficaria bilionário. Ia ganhar muito
dinheiro. Comparando com aquilo que alguns jogadores ganham hoje. Alguns
jogadores que eu digo, alguns jogadores top, não é? Tem jogador aí que ganha
US$ 100 mil, US$ 200 mil, eu ia ganhar igual ao Ronaldinho. Isso sem falta
modéstia. Agora, eu sigo trabalhando no futebol como treinador, então não posso
deixar de reconhecer que toda vez que eu trabalho, eu ganho dinheiro.
Eu consegui me colocar pelo trabalho que eu fiz como campeão
brasileiro pelo Flamengo. Já fui campeão pelo Fluminense, pelo Botafogo, já
trabalhei no Corinthians duas vezes, Atlético-MG, enfim. No Flamengo... Isso aí
o que fez? Me colocou num nível não inferior à maioria dos treinadores. Eu não
posso dizer a você: não, estou no mesmo top do Wanderley Luxemburgo ou do
Zagalo ou do Carlos Alberto Parreira, não estou, porque, infelizmente, encontro
problema para fazer um prosseguimento da minha carreira, não sei por quê.
Você veja, eu estou sem trabalhar. Eu trabalhei no Flamengo
o ano passado, tirei o time do rebaixamento, levei o time para a final da Copa
Mercosul, mas, infelizmente, é um negócio, que eu não sei explicar, eu não
tenho reconhecido o meu trabalho. Senão, estaria preparando um time aí para o
campeonato brasileiro.
Mas, infelizmente, eu não consigo ter uma seqüência, por
exemplo, de pegar um time hoje e ficar até o final do ano que vem como alguns
treinadores ficam, conseguem ficar, infelizmente. Mas, eu consegui chegar num
patamar que, quando eu trabalho, eu ganho dinheiro. Não é contratinho de meia
dúzia de reais, é contrato bom. Então, aí eu consegui fazer minha vida, graças
a Deus, mas não como jogador. Como jogador, realmente, não.
RODOLFO LUCENA: E
como técnico qual foi sua maior conquista?
CARLOS ALBERTO
TORRES: Olha, eu já conquistei alguns títulos, um Campeonato Brasileiro é
um título importante. Poucos treinadores ganharam Campeonatos Nacionais. O
Minelli foi campeão três vezes, O Wanderlei Luxemburgo também. O Telê Santana
ganhou dois, mas eu ganhei um com o Flamengo. Mesmo assim, eu faço questão de
falar, a grande conquista que eu tive no futebol brasileiro, como técnico, foi
no ano retrasado ter tirado o Flamengo do rebaixamento. Para mim, foi uma
conquista. Imagine um clube da importância e da grandeza do Flamengo indo para
a segunda divisão.
RODOLFO LUCENA: É, e
ele já estava quase lá?
CARLOS ALBERTO
TORRES: Aí, quando me chamaram, eu consegui tirar o time do rebaixamento,
quer dizer, eu junto com todo mundo. Não fui eu sozinho, claro, mas eu no
comando do time. Fui lá e tirei o time do rebaixamento.
RODOLFO LUCENA: E a
que você atribui o fato de você não conseguir dar continuidade aos trabalhos?
CARLOS ALBERTO TORRES:
Juro por Deus que eu não sei. Eu gostaria muito de hoje estar preparando o
time. Por exemplo, eu estava agora recentemente fazendo, ainda estou, não vou
dizer que não estou, estou ligado ainda a um clube no Haiti.
RODOLFO LUCENA: No
Haiti?
CARLOS ALBERTO
TORRES: No Haiti, é. Eu fui lá em outubro de 2002, fui convidado para
participar de um evento, não é? Aí fui lá, me convidaram, cheguei lá, conversando
com o dono do time, Violetti. Fiquei hospedados na casa dele. É um cara muito
rico lá, sabe? Aí conversando com ele, trocando idéia, ele me convidou para
trabalhar com ele, mas não aquele convite de ficar lá o tempo todo, mas sim
para dar idéias. Aí ele me pagou uma quantia lá, pagou adiantado: "Olha,
você assume um compromisso comigo até o final de janeiro". Eu falei:
"Está legal. Depois, a gente conversa se você quiser continuar".
Fui lá, montei o Departamento de Futebol para o cara, montei
o Departamento Médico. Comprei o material aqui no Brasil, ultra-som, ondas
curtas, infravermelho, remédios, mandei dois baús de medicamentos para o time.
Hoje, temos tudo montado, mesa de massagem, porque não existia isso lá. Ao
mesmo tempo, ele pediu, em janeiro, para eu preparar o time para o campeonato
que está sendo disputado agora. Então, eu tenho orgulho de dizer que o trabalho
que eu, junto com algumas pessoas que eu levei, preparador físico, preparador
de goleiro, massagista, fisioterapeuta.
Hoje o nosso time é considerado o melhor do Haiti, por toda
a imprensa. Eles falam que é o único time que tem padrão de jogo e não sei o
quê. Ô, isso é legal, eu tive a chance de em outubro o cara falar comigo, me
convidar. Aí fui a um torneio na Jamaica. A repercussão da participação num
torneio da Jamaica, e nós ficamos em segundo lugar, perdendo no saldo de gols
para o Anet Garden, que é o melhor time da Jamaica, base da seleção da Jamaica,
que foi à Copa do Mundo de 1998, entendeu? E nós empatamos de 0 a 0 na decisão
contra esse time e dominando o jogo. Então, no Haiti, a repercussão, que foi
mostrado na televisão, eu hoje, graças a Deus, tenho um puta dum nome lá no
Haiti, entendeu?
RODOLFO LUCENA: Hoje
você mora onde??
CARLOS ALBERTO
TORRES: Eu estou morando na Barra da Tijuca. Meus filhos já estão grandes,
não é? Tenho uma filha, também, tenho quatro netos, apesar da pouca idade, eu
casei cedo, tive meus filhos cedo também. Nós temos uma família feliz.
E agradeça todo dia a Deus que você está vivo, que você pode
olhar, pode andar, pode comer. Seja agradecido a Deus. Não peça nada. Agradeça.
Essa é a minha mensagem.
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