15.11.16

Segundo dia do resto de nossas vidas tem chuva e sol e dúvidas

Tem muita gente que diz –e a própria razão cartesiana apoia—que numa jornada o mais importante é o primeiro passo. Há que começar, tomar a iniciativa, sair da zona de conforto, tirar a bunda do sofá, se mexer, enfim.
Tudo bem, mas o que acontece depois do primeiro passo? Ou depois do primeiro dia de uma jornada que vai ter sei lá quantas manhãs? Ou depois do primeiro tiro de canhão? Ou da tomada revolucionária do poder?
Não basta começar, há que prosseguir. A palavra de ordem, espécie de lema de meus amigos do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), é muito educativa e esclarecedora sobre a ordem dos fatores e a imperiosa necessidade de que se sigam e combinem: “Ocupar, resistir, produzir”.
Nem é preciso chegar a tempo. Nos meus tempos de coral –sim, fui um esforçado, mas nem sempre afinado, cantor no naipe dos baixos--, a gente, os coralistas, estava sempre nervoso às vésperas de alguma estreia.
Era quando estudávamos mais, preparávamos com mais intensidade, fazíamos sessões extras de ensaio, testávamos voz e organizávamos o corpo para a sessão que viria. Havia que debutar, dar o primeiro passo, mostrar o mundo nosso filhote musical.


O maestro, no entanto, experiente e calejado por centenas de momentos como aquele, não relaxava ao final do espetáculo. Cobrava presença no ensaio seguinte, que se seguia mais exigente até que os anteriores.
Isso porque se sabe: no segundo dia é que dá merda, o povo desafina, o solista esquece o texto, a prima dona vai de vestido rasgado, os baixos parecem ter engolido giz, contraltos brigam com tenores, sopranos desembestam de vez do jeito delas...
Hoje foi o segundo dia de meu projeto de percorrer, na chegada de meus 60 anos, distância equivalente à de sessenta maratonas. Plano esse que tem um filhote, a intenção pouco recomendável de rodar, caminhando e correndo, 600 quilômetros até a data exata de meu aniversário, 14 de fevereiro.
A ideia inicial era começar tudo no dia primeiro de janeiro de 2017, marco do ano novo. Uma fratura por estresse no joelho esquerdo, porém, jogou minha vida e meus planos de pernas para o ar. Se esperasse até a data marcada, haveria grandes chances de não atingir o objetivo.

Então eu, que não sou obrigado, resolvi começar já, porque depois é mais tarde. Ontem abri os trabalhos com uma caminhada de três quilômetros –que é o tanto que o meu prezado amigo ortopedista considera adequado para o presente estado do meu bendito joelho.
E hoje, será que prosseguiria? Pretendia caminhar pelo menos três quilômetros a cada dia, todos os dias, até o final do ano. Isso já me daria uma boa quilometragem acumulada para tornar menos pesados os 45 dias de 2017 que me levariam até meu aniversário.
Acordei de má vontade, cansado da noite mal dormida –dores nos ombros me fazem acordar várias vezes ao longo da noite. Para completar, cá em São Paulo chovia uma aguinha fina, penetrante, pentelha, cenário ideal para preguiçar e deixar as coisas para depois.
A questão é que os velhos não têm muito tempo (eu ainda não sou velho, faltam para isso três meses menos um dia). Há que aproveitar cada minuto do dia, descansar e agir. Por isso,  me fui.
Desta vez, saí com a companhia de minha mulher e de minha filha mais velha –espero, ao longo dessa jornada, ter a participação e o apoio de muita gente, com quem possa conversar e de quem possa tirar ideias e compartilhar conceitos sobre o que nos espera nesse momento.
Descemos os três a avenida Sumaré, que está no feriado –assim como aos domingo—parcialmente fechada ao trânsito de veículos.
Aproveitamos. E vimos muitos velhos e muitos jovens, muitos adultos e muitas crianças aproveitando as nesgas de sol que chegavam ao planeta em meio à nebulosidade e á instabilidade do dia.
É o que precisamos fazer. Curtir o que temos. E seguir em frente.
Vamo que vamo!


600 aos 60 – etapa 2 – 2016 nov 15
4 km caminhados em 49min42
Quilometragem acumulada: 7,45 km
Tempo acumulado: 1h26min20



2 comments:

  1. Boa sorte Lucena! Você embarcando nos 60 e eu nos 50! Que nossas viagens sejão tops!

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  2. Vá em frente guerreiro. Por certo irá alcançar a meta proposta. Mas cuide-se, ouça seu corpo e seu médico....
    Edgard/Corpore

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