24.11.16

Caminhada dos mais velhos exige NENHUM DIREITO A MENOS

Caminhar está sendo uma alegria para mim, apesar de ser uma espécie de prisão, condenação ou tratamento médico: caminho agora porque não posso correr, tenho o joelho machucado ferido e esboroado por uma fratura por estresse. Há outra forma de ver e viver este momento: caminho agora para poder correr mais tarde; ou, pelo menos, acreditando que os cuidados presentes resultarão em benefícios futuros.
O que será será, dizia a canção. Hoje, agora, já, o que importa é que a caminhada não é prisão, mas libertação. Deixa os pensamentos fluírem livres, permite à mente borboletear pelo espaço, oferece aos músculos um bocadinho de ação, solta o elemento do mundo próprio e particular que constrói enquanto circula pelas ruas e avenidas da cidade.
Ainda que tudo isso seja bem verdade, e eu consiga construir na caminhada momentos de paz e isolamento, não significa que esteja desatento ao mundo, ao Brasil, a São Paulo e às atribulações, problemas, dúvidas e desafios que envolvem ser velho e continuar no mundo.
Nos municípios e nos Estados, no país todo, vivemos um momento de ataque aos mais elementares direitos dos cidadãos em geral, agressões à democracia e ao Estado de Direito. Vai desde questões muito graves –entrega do pré-sal, invasões de casas, violência policial—até coisas do ramerrão cotidiano.
Cá em São Paulo, por exemplo, o prefeito eleito, João Dória –que muitos teimam em chamar de John Dollar--, tem se dedicado a estudar maneiras de dificultar a liberdade de ir e vir dos mais velhos e tornar ainda mais cara a existência dos maiores de sessenta anos.
Examina a possibilidade de cortar o passe gratuito ao povo da Terceira Idade no transporte público municipal. Esse é um benefício estabelecido em lei nacional, o Estatuto do Idoso, para maiores de 65 anos; em São Paulo, Estado e município já há alguns anos estenderam a liberação para o povo de 60+.
Texto publicado no jornal “Folha de S. Paulo” na última terça-feira (22 de novembro), diz o seguinte: “A equipe do prefeito eleito João Doria (PSDB) planeja que a gratuidade de ônibus para pessoas de 60 a 64 anos seja válida só a aposentados. Segundo Sérgio Avelleda, que assumirá a pasta dos Transportes no novo governo, pessoas dessa idade que ainda trabalham voltariam a pagar a passagem integral. "O benefício da gratuidade é destinado aos estudantes e aos idosos porque são dois grupos com renda baixa ou inexistente. Não faz sentido manter o benefício para quem está no mercado de trabalho", afirmou Avelleda”.
Como não, senhor Avelleda? Exatamente os velhos que estão no mercado de trabalho são os que provavelmente mais necessitam dessa pequena, mas importante, vantagem. Ganham pouco, como acontece com todos nós veteranos, e usam bastante o transporte público, precisam se deslocar a cada dia de casa para o trabalho, do trabalho para casa.
A desvairada ideia provoca revolta mesmo em quem votou no candidato tucano –que já por várias vezes desmentiu ou relativizou suas promessas de campanha.
O registro está na mesma reportagem da “Folha”: “"Eu não sou de reclamar, mas pela gratuidade eu seria a primeira a protestar lá na frente da prefeitura", afirma em voz alta a desempregada Maria Aparecida da Silva, 63, "Não lutei tanto para chegar agora, nessa idade, e tirarem meus benefícios", completa. No terminal Princesa Isabel, no centro de São Paulo, Maria Aparecida aguardava um ônibus, na manhã desta terça, para Santo Amaro (zona sul), onde faz tratamento contra um câncer. Na fila, outras pessoas concordavam com ela. "Um absurdo", "eles não podem fazer isso", eram algumas das frases. "É safadeza [a reanálise do benefício]. Se soubesse, não teria votado nele [Doria]. Se for preciso, vou para a rua também", afirma a pensionista Ana Maria Santos, 63, que pegava um ônibus para buscar remédios para uma amiga.
Indicado por dona Maria Aparecida, protestar é o caminho. Sindicatos e entidades que reúnem e representam aposentados e idosos estão discutindo o assunto, indo para a rua, respondendo a todos esses ataques com um grande e unificado grito nacional: “NENHUM DIREITO A MENOS!”.
Minhas caminhadas –e, quem sabe, no futuro, corridas--, seguirão acompanhando essas lutas.

Vamo que vamo!



600 aos 60 – etapa 10 – 2016 nov 24

3,11 km caminhados em 37min01

Quilometragem acumulada: 35,16 km


Tempo acumulado: 7h01min17

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